Casa de Boamense

IPA.00023374
Portugal, Braga, Vila Nova de Famalicão, União das freguesias de Esmeriz e Cabeçudos
 
Quinta setecentista, oitocentista, revivalista e neoclássica, com casa e dependências agrícolas formando planta trapezoidal, com corpo rectangular projectado para a fachada principal, dispostas em torno de grande pátio. Casa formada por duas alas distintas, a ala E. correspondendo ao corpo primitivo setecentista, rectangular, e a ala O. correspondendo ao corpo oitocentista, em L, adossado sensivelmente a meio da primeira. Fachadas bastante simples, em alvenaria de granito, rasgadas regularmente por vãos de verga recta rematadas por beiral. Ala primitiva com acesso num dos topos por escada com alpendre. Ala oitocentista com alguns pormenores neogóticos, nomeadamente nas guardas das janelas de sacada com pequenos arcos quebrados e no balcão da fachada lateral. O acesso principal é feito por esta ala através de vestíbulo com escadaria de madeira que distribui para biblioteca, no primeiro piso e para salas e quartos, no segundo, todos com tectos de estuque. Na ala primitiva, no segundo piso situam-se quartos e salas com tectos de masseira e janelas com conversadeiras. A fachada posterior é voltada para o grande pátio, articulado com dependências agrícolas, com acesso para o exterior por portal lateral. O acesso à casa é feito por portal neoclássico com pilastras de pedra fendida, coroadas por urnas.
Número IPA Antigo: PT010312070089
 
Registo visualizado 3273 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Quinta    

Descrição

Planta trapezoidal, ligeiramente irregular, composta pela justaposição de vários corpos em torno de grande pátio interior, com corpo rectangular projectado para S.. Os vários corpos correspondem à casa, implantada no metade S. e às dependências agrícolas, implantadas na metade N.. O pátio possui lateralmente, a E., portão de acesso a caminho que atravessa a quinta. A CASA é composta por duas alas distintas, a ala primitiva, a E., e a ala do séc. 19, a O.. Fachadas de dois registos, em alvenaria de granito de aparelho isódomo na principal e rusticado na posterior, rasgadas regularmente por vãos de verga recta e rematadas por beiral. Fachada principal a S., marcada pela projecção do corpo rectangular, correspondendo à ala primitiva. Esta ala possui no topo escada de lanço recto com arranques formados por pilaretes com pináculos, de acesso a alpendre suportado por colunas de secção quadrangular, com ângulos chanfrados, entre guarda de ferro. O alpendre de acesso a salão é coberto por tecto de masseira e possui no pano lateral E. janela com conversadeira. O pano voltado a O. possui o registo inferior aberto por portas e janelas e o superior ritmado por janelas com grande sacada única que percorre todo o pano, com guarda de ferro, tapada por glicínia e arcos também de ferro, de separação da sacada. Ala do séc. 19 com pano parcialmente revestido a hera, com primeiro registo rasgado por portas e janelas, estas últimas com portadas exteriores venezianas e registo superior com janelas de peito e de sacada, com guardas de madeira ritmada por arcos angulares sobre estreitos balaústres. Fachada lateral O. rasgada regularmente por portas e janelas e no extremo direito balcão de granito formando a sacada de uma das janelas do segundo registo. Fachada posterior a N., envolvendo parte do pátio, com pano central percorrido por varanda alpendrada avançada, suportada por colunas de granito, com acesso por escadaria de dois lanços divergentes com patamar intermédio e guarda de ferro. No pano lateral esquerdo destaca-se acrescento de betão, ao nível do segundo registo ritmado por janelas de peito. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em soalho e tectos em estuque, na ala do séc. 19, e em masseira, na ala primitiva. Acesso principal pela ala do séc. 19, através de vestíbulo com escadaria de madeira, de acesso ao segundo piso, com guarda em balaustrada, de dois lanços divergentes com patamar intermédio. O vestíbulo possui pavimento em grés com xadrez a branco e vermelho. Neste primeiro piso o vestíbulo comunica, do lado esquerdo, com a biblioteca. No segundo piso, vários corredores distribuem para quartos, sala de jantar, copa e cozinha. Esta ultima, possui paredes em alvenaria de granito e na zona da grande chaminé com azulejos industriais de padrão, recentes. Sob a chaminé encontra-se lar e forno em pedra. Através desta ala tem-se ainda acesso ao sótão, por escadaria de madeira, e à ala primitiva, junto à escadaria, no segundo piso, com corredor longitudinal a acompanhar a varanda de sacada única e corrida, da fachada principal, dando acesso a diversos quartos, o de maiores dimensões no extremo N., com conversadeiras de madeira, e a salas, no extremo oposto. A garrafeira, tulhas, "loja dos gastos"e dependências para os caseiros, desenvolvem-se essencialmente no primeiro piso da casa, separadas das dependências dos proprietários, com cozinha separada, voltada ao pátio. DEPENDÊNCIAS AGRÍCOLAS em torno do pátio, constituídas por grande adega em alvenaria de granito, com porta voltada a N., aos campos agrícolas, casas de carvão e lenha, e carpintaria em tabique e capoeiras. JARDIM fronteiro à fachada principal constituído por latada de glicínia que parte do portão da entrada, enquadrada por camélias de porte notável, culminando em canteiro circular com grande palmeira. Na lateral SO. encontra-se poço e as ruínas das antigas cavalariças.

Acessos

Lugar de Boamense

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, rodeado por extensa área composta por campos agrícolas com vinha e milho, pomar e mata pertencentes à Quinta de Boamense. O acesso principal é feito através de largo arborizado, à face da estrada municipal, onde se implanta portal de cantaria de granito com portão de ferro enquadrado por par de pilastras coroadas por urnas, as dos extremos, unidas com o muro de delimitação da propriedade, de secção quadrangular, e as interiores de secção circular, em pedra fendida. Na pilastra do extremo direito encontra-se lápide de bronze com inscrição. A NE., nas imediaçãoes da estrada, encontra-se uma eira que confronta com um celeiro, o qual faz parte de um dos casais da quinta, o Casal de Boamense de Dentro.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Inscrição relevada em lápide existente no portal de acesso à casa; moldura simples; bronze; tipo de letra: capital quadrada; leitura: NESTA CASA VIVEU E TRABALHOU O HISTORIADOR ALBERTO SAMPAIO 1841 - 1908 1-12-88.

Utilização Inicial

Residencial: quinta

Utilização Actual

Residencial: quinta

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 (conjectural) / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Fernando Távora (1950, década de).

Cronologia

Séc. 3 / 4 - Provável existência no local de uma estalagem romana, junto à via entre Cale e Bracara Augusta (FARIA e MARTINS 2001) *1; séc. 17, final / séc. 18, início - André Sampaio é proprietário da Casa de Boamense; provável construção da ala primitiva da casa; 1733 / 1783 - é proprietário da Casa de Boamense Manuel de Sampaio Baptista, filho de André de Sampaio e de Ana Baptista; 1783 / 1829 - a casa é propriedade de Manuel Sampaio Araújo; 1833 / 1840 - a casa é propriedade de Ana Maria de Jesus; 1840 / 1842 - a casa é propriedade de Bernardino de Sampaio Araújo; 1840, Março - Bernardino de Sampaio Araújo casa com Emília Ermelinda da Cunha Sampaio, de quem tem dois filhos, José Bento da Cunha Sampaio e Alberto da Cunha Sampaio, nascidos ambos no ano a seguir, prematuros com nove meses de diferença entre eles; 1842 / 1876 - Emília Ermelinda assegura a gestão da quinta a seguir à morte prematura de seu marido e aumenta, por compra de terrenos, a área da propriedade; 1879, antes de - nos anos que antecedem a morte de Emília Ermelinda a quinta é gerida por José Bento da Cunha Sampaio, auxiliado pelo seu irmão, que entretanto escolhera Boamense para aí viver; 1842 / 1899 - provável construção da ala O. da casa; 1874, Junho - José Sampaio inicia contactos com a firma Monteiro & Santos, no Rio de Janeiro, para comercialização do vinho verde da Quinta de Boamense; Setembro - é exportada para o Brasil a 1ª remessa de vinha da quinta; inicia-se a exportação de vinho da Quinta de Boamense para o Brasil; 1876, 27 Setembro - medalha de cobre atribuída ao vinho da quinta pela ocasião da Exposição Internacional de Filadélfia; 1880 - medalha atribuída ao vinho da quinta pela ocasião da Exposição Vinícola realizada no Palácio de Cristal; 1884 - medalha atribuída ao vinho da quinta pela ocasião da Exposição Agrícola de Lisboa; 1888 - medalha atribuída ao vinho da quinta pela ocasião da Exposição de Vinhos Portugueses em Berlim; 1889, 29 Setembro - menção honrosa atribuída a José Sampaio pelo vinho da Casa de Boamense, por ocasião da Exposição Universal de Paris; 1899, 15 Setembro - morte de José Bento da Cunha Sampaio, em Guimarães; 1908, 1 Dezembro - Alberto Sampaio falece na Casa de Boamense, onde sempre viveu; 1924 / 1953 - a casa é propriedade de António Vicente Leal Sampaio, filho de José da Cunha Sampaio e de Maria José Leal Sampaio, após partilhas com a sua irmã Maria Henriqueta Leal Sampaio, ficando esta com a Casa do Mosteiro de Landim (v. PT010312210011), da mesma família; 1938- é descoberto um vaso com 1209 moedas romanas de liga de cobre *2, na Bouça dos Chãos, no lugar de Vila Meã, propriedade da Quinta de Boamense, quando se escavava em torno de um raizeiro, após o abate de uma árvore; 1953 / 1965 - a casa é propriedade de Emília Ermelinda Sequeira Leal Sampaio da Nóvoa, filha do anterior proprietário e de Augusta Sofia Sequeira Leal Sampaio; 1974 - os herdeiros de Emília Ermelinda Sequeira Leal Sampaio da Nóvoa e seu marido Francisco da Nóvoa fazem partilhas de parte das propriedades que constituíam a quinta, mantendo-se no entanto a casa e alguns dos terrenos anexos em património comum; 1988, 1 Dezembro - colocação de lápide comemorativa no portal, alusiva a Alberto Sampaio; 2005, Maio - a família Sampaio da Nóva doa a bilioteca de Alberto Sampaio ao Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura da casa, adega, ruínas das antigas cavalariças, portal principal, balcão, sacadas, forno e lareira, em granito; casas de carvão e lenha, e carpintaria em tabique; acrescento da fachada posterior em betão; portas, janelas, sacadas das janelas da fachada principal da ala oitocentista, tectos de masseira, pavimentos, escadaria principal, em madeira; cozinha com azulejos industriais recentes; tectos em estuque; guarda da sacada corrida da ala primitiva e da escada da fachada posterior da casa, em ferro; cobertura em telha de aba e canudo.

Bibliografia

FARIA, Emília Nóvoa, MARTINS, António A., Boamense na via romana de Cale a Bracara Augusta, in Boletim Cultural nº 18 - Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 2001; FARIA, Emília Nóvoa, MARTINS, António A., Um olhar sobre José Sampaio, in Boletim Cultural nº 18 - Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 2001; FARIA, Emília Nóvoa, MARTINS, António A., Bernardino de Sampaio Araújo, Um famalicense nas hostes liberais, resumo da comunicação apresentada no Congresso Histórico Vila Nova de Famalicão, Terra com História, Vila Nova de Famalicão, 2005; FARIA, Emília Nóvoa, MARTINS, António A., FRASCO, Alberto Faria, Casa de Boamense, 2005 (não publicado); Sociedade Martins Sarmento, Catálogo da Exposição Um olhar sobre José Sampaio, Exposição Bio-bilio-iconográfica, 1999, in www.csarmento.uminho.pt, 6 Janeiro 2006.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID / Arquivo Família Sampaio da Nóvoa

Documentação Administrativa

Arquivo Família Sampaio da Nóvoa

Intervenção Realizada

Proprietários: 1950, década de - Execução do tecto de masseira do quarto principal da ala primitiva, segundo desenho do arquitecto Fernando Távora; 1970, década de - execução de um aumento na fachada posterior, do lado E.; 1998, cerca de - demolição das cavalariças; 2000 - colocação de janelas em alumínio lacado.

Observações

*1 - O termo Boamense poderá possivelmente ser explicado pela associação de bona + mansione (estalagem romana) (FARIA e MARTINS 2001); *2 - As moedas são examinadas por António Sottomayor que apenas classifica 484 exemplares, devido ao mau estado das restantes. Com base nesse trabalho formou uma colecção de 149 moedas diferentes, cujas mais antigas datavam do tempo de Cláudio II (214 d.C. / 270 d.C.) e as mais recentes do tempo de Teodósio I (379 d.C. / 395 d.C.). Destas moedas apenas restam alguns exemplares na família Sampaio da Nóvoa, havendo referências que algumas moedas teriam sido oferecidas à Sociedade Martins Sarmento e ao Museu Machado de Castro (FARIA e MARTINS 2001).

Autor e Data

Joaquim Gonçalves 2006

Actualização

 
 
 
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