Jardins de Seteais

IPA.00022677
Portugal, Lisboa, Sintra, União das freguesias de Sintra (Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro de Penaferrim)
 
Espaço verde de recreio / Espaço verde de produção agrícola. Jardins com uma caracterização estilística romântica e jardins formais. Quinta de recreio definida por espaço com funções essencialmente recreativas mas também produtivas associado a uma antiga casa de habitação convertida em hotel e contendo antigos campos agrícolas, horta, mata e jardim. A mata apresenta construções harmoniosas em rochas salientes e uma complexa rede de caminhos curvilineos formando um cenário romântico, paradisíaco, insólito e enigmático reforçado pelo denso tecto vegetal de plantas exóticas e autóctones. Seteais é um marco de viragem na tipologia da arte paisagista surgindo, a par com Monserrate, como introdução ao romantismo. Este facto teve repercursões significativas a outros níveis, despertando o gosto pelos bons ares e boas vistas da serra de sintra aso habitantes da vila, aos estrangeiros e mesmo aos reis.
Número IPA Antigo: PT031111110136
 
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Registo

 
Espaço verde  Jardim        

Descrição

Planta aproximadamente rectangular levemente apertada ao meio. Murada a toda a volta exepto a SE., onde gradeamento de ferro com três portões acompanha a fachada principal do palácio. Nos extremos do gradeamento, mirantes com passagem sob o da esquerda pertencendo o da direita à quinta da alegria. Muros interiores separam a quinta em três faixas: a NE., campo de setais, palácio e jardim formal; ao meio, a zona de recreio activo (antigos campos agrícolas) e a SO., a mata. O CAMPO DE SETEAIS é o espaço entre o palácio e o gradeamento de ferro. No seguimento do portão central do gradeamento, escadaria com sete degraus dá acesso a extenso relvado ladeado por buxo talhado em formas geométricas e limitado, junto à fachada do edifício, por canteiro de buxo contínuo preenchido com rosa e berberis e por dois cedros alinhados com o arco triunfal. Paralelas ao relvado, alamedas com alinhamento de plátanos iniciam-se nos portões laterais do gradeamento; No palácio (v.IPA.00006094), CLAUSTRO rectangular com parterres de buxo em desenho geométrico em simetria quadripartida e e bicentrada (em canteiro e em poço, ambos circulares). Sobre a COBERTURA N. do palácio, terraço pavimentado com calçada, limitado por canteiro a toda a volta, termina em murete com vista sobre os jardins formais e toda a várzea de Sintra até ao mar. Centrado em taça octogonal com chafariz ao meio. No extremo N., grande penedo denominado penedo da saudade; JARDIM FORMAL estende-se a NO. do edifício acompanhando toda a fachada posterior. Dividido por muro rasgado por passagem e por janela com namoradeira, separando a zona do séc. 18 da do séc. 20. A primeira, limitada por muro com alegrete, apresenta desenho geométrico de canteiros de buxo preechidos com topiária em forma arredondada. A NO., namoradeiras no muro de onde se avista toda a várzea de Sintra até ao oceano. Tanque com taça de quatro bicas na base da escadaria que dá acesso ao palácio. A zona do séc. 20 apresenta desenho geométrico irregular de canteiros de buxo e termina na antiga vacaria e pombal. Entre muro com alegrete e muro que separa as duas zonas, corredor tem ao fundo, sob castanheiro, banco rectangular de costas elevadas e ornamentadas. A SO. pequeno terreiro também limitado por muro com alegrete serve de miradouro, sob cedro-do-buçaco; A ZONA DE RECREIO ACTIVO desenvolve-se em cinco patamares: zona junto ao muro NO, piscina, com grandes canteiros de buxo a NO, prado sob limoal, campo de ténis e picadeiro com cavalariça. Este espaço termina numa horta antes de iniciar a subida para a mata; A caminho da MATA, grande tanque separado da rampa por muro de suporte com namoradeira. A cota superior, grotto com frescos ainda visíveis na parte superior das paredes da alas. Surge o coberto vegetal denso com abundância de espécies exóticas, caminhos orgânicos, rochas salientes intercaladas com escadarias ou bancos. A NO. miradouro permite larga vistas sobre a envolvente. Adjacente ao muro de suporte da mata, escadaria com três lances faz ligação ao limoal. Junto ao muro NO., ZONA AGRÍCOLA ABANDONADA com portão para o caminho da fonte dos amores. Zonas de pomar em terraços e escadaria que acede ao canto E. do edifício passando por miradouro sob plátano.

Acessos

EN 375; Rua Barbosa du Bocage

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 36 383, DG, 1.ª série, n.º 147 de 28 junho 1947 *1 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. IPA.00022840)

Enquadramento

A quinta localiza-se no limite do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta N. da Serra de Sintra (v. IPA.00022840). Nesta encosta predominam os declives superiores a 15% verificando-se em Seteais suaves nas plataformas construídas, moderados e muito acentuados. A quinta apresenta exposições preferenciais a N. e O.. Esta vertente é rica em água, explorável através de minas, e que tem um movimento descente sendo recolhida pela ribeira de colares. A Serra de Sintra é constituída por um maciço eruptivo com abundância de granitos, sienitos, gabros e dioritos. localizando-se a Quinta de Seteais integralmente sobre o granito. O solo desta zona insere-se na família dos solos litólicos, húmicos, câmbicos, normais, de granito (Mng) que, em parte de fase delgada, apresenta afloramentos rochosos. O clima é caracterizado por temperaturas mais baixas e precipitação mais elevada que nas regiões circundantes devido à proximidade do oceano, ao relevo e à densa vegetação. A flora local é densa e diversificada com uma grande percentagem de exóticas introduzidas sobretudo no séc. 16 por D. João de Castro e no séc. 19 por D. Fernado II e Sir Francis Cook. Também a fauna se caracteriza por uma grande biodiversidade. Situada no centro histórico de Sintra (v.IPA.00000037), é limitada a SE. pela R. Barbosa do Bocage, que tem do outro lado a Quinta do Vale dos Anjos, a Quinta do Campo e a Quinta da Regaleira, a E. pela Quinta da Alegria a que se segue a Villa Roma , a Quinta do Relógio (v. IPA.00003115), e a Quinta dos Pisões. Muito perto situa-se ainda a Quinta da Penha Verde, a Quinta Velha e a Quinta do Biester. A Quinta de Seteais e outras propriedades locais funcionam como como ponto de atracção turística, actividade principal da zona.

Descrição Complementar

«a quinta do marquês de Marialva serve de ponto de encontro aos passeantes que aí se reúnem num relvado em frente à casa. Os prados e relvados são tão raros em Portugal que o seu encontro é um acontecimento delicioso...» (TOLLERANE, 1972).

Utilização Inicial

Produtiva: quinta / Recreativa: parque

Utilização Actual

Recreativa: jardim

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sociedade Hotel Tivoli

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1783 - Daniel Gildemeester *2, natural de Utrecht, cônsul da Holanda em Portugal, constitui a Quinta da Alegria, no fim do Campo de Seteais (também conhecido por Campo do Alardo) em terrenos cedidos pelo Marquês de Pombal e pelo Contador do Reino, Luís José de Brito; manda edificar uma casa de habitação e dependências de apoio e cocheiras, localizadas respectivamente nas alas direita e esquerda do actual palácio; manda demolir parte de um morro de granito existente a S. do Campo de Seteais e dois antigos redutos que também aí existiam, cuja pedra utilizou na construção do palácio; manda conduzir água da serra, plantar árvores e pomares, construir grutas, mirantes, um pequeno jardim a O. com lago central, alinhar e regularizar o Campo de Seteais, onde manda construir duas ruas paralelas e uma transversal; o Campo de Seteais encontrava-se separado da estrada por gradeamento de ferro com três portões e dois pavilhões abertos com passagem para a quinta, nos extremos; 1787, 25 de Julho - inauguração de casa, sendo William Beckford convidado especial; 1792 - Gildemeester requer e obtém da rainha D. Maria I autorização para estabelecer um fideicomisso sobre Seteais, vínculo segundo o qual, a quinta ficaria em usufruto à viúva e em propriedade de seus dois filhos, Daniel e Henrique, sem que nenhum deles a pudesse vender ou empenhar; 1793, 14 de Fevereiro - Gildemeester morre, sendo enterrado no Cemitério Inglês em Lisboa; 1794, 4 de Outubro - a quinta é avaliada em 30 000$00; 1797 - ignorando-se o fideicomisso, o 5º Marquês de Marialva, D. Diogo José de Vito Menezes Noronha Coutinho, Estribeiro-Mor da rainha, compra a quinta à viúva de Gildemeester, D. Joanna de Goran, pela quantia de 14 800$00; 1800, 6 de Julho - o Marquês de Marialva solicita à câmara o aforamento do Campo de Seteais, onde logo começa a plantar árvores, provocando a revolta da população, desconfiada da sua intenção em fechar o campo, até então de uso público; 1801 - a Câmara Municipal cede ao marquês o aforamento do Campo de Seteais, com a proibição de o fechar ao público e a obrigação de manter sempre duas portas abertas com serventia para o passeio público e de cuidar da manutenção das árvores e plantas. O não cumprimento das condições impostas implicaria a perda do domínio útil por parte do marquês; 1803, 14 de Agosto - morre o Marquês de Marialva; 1834, Agosto - por setença de partilha, sucede na posse de Seteais a filha mais nova do marquês, D. Joaquina de Menezes, Marquesa do Louriçal; 1846 - morre D. Joaquina sem herdeiros ascendentes e descendentes, pelo que toda a propriedade passa para o sobrinho, D. Nuno José de Moura Barreto, 1º Duque de Loulé e futuro Grão-Mestre da Maçonaria Portuguesa; 1913, 8 de Abril - autorização concedida ao grupo "Foot - Ball" de Sintra, para jogar no Campo de Seteais; 1914 - morre o Conde da Azambuja, sucedendo-lhe os herdeiros D. Pedro José Mendonça e sua esposa; 1915, Julho - a propriedade é inscrita a favor de António Rodrigues Formigal; 1918, 4 de Dezembro - data da escritura pública dando conta da venda do domínio directo da propriedade a José Rodrigues de Sucena e a António Augusto Carvalho Monteiro, conhecido por Monteiro dos Milhões; 1926 - o palácio é adquirido por D. Antónia de Mendonça e Melo e seu marido, José de Melo, que logo de seguida o vendem ao Conde de Sucena, (filho de José Rodrigues de Sucena) que no mês seguinte o hipoteca a favor de Mário Godinho dos Campos; 1932 - Mário Godinho dos Campos concede empréstimo de 130 000$00 ao Conde de Sucena; 1933, Março - o Conde de Sucena salda dívida contraída com Mário Godinho dos Campos, com dinheiro conseguido através de empréstimo da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, sobre hipoteca da propriedade de Seteais; 1934, 3 de Fevereiro - Conde de Sucena apresenta à câmara a remissão do foro e o pedido de ajardinamento do Campo de Seteais; 1934, 5 de abril - acta da câmara aprovando o pedido do conde, que, em crise financeira e sob pressão da população, acaba por desistir do projecto; Séc. 20, segundo quartel - realizam-se concursos hípicos no Campo de Seteais; 1939 - a propriedade é penhorada a favor da Fazenda Nacional; 1946, 15 de Outubro - aquisição da propriedade de Seteais, pelo Estado; 1950 - início da adaptação a hotel, pela Direcção dos Serviços dos Monumentos Nacionais;1954 - Inauguração do Hotel de Seteais.

Dados Técnicos

Na mata os declives acentuados são vencido por escadarias com degraus baixos e longos. Na zona de recreio activo o terreno está modelado e os terraços apoiados em muros de suporte. A rega e ornamentação das peças de água dos jardins é feita com água da companhia apesar do complexo sistema hidráulico, com minas, condutas e reservatórios que a propriedade apresenta.

Materiais

VEGETAL: árvores -árvore-do-incenso (Pittosporo undulatum). castanheiro (Aesculus hipocastanus), cedro-do-buçaco (Cupressus lusitânica), magnólia (Magnolia grandiflora), palmeira-das-vassouras (Chamaeropsis humilis), plátano (Platanus hybrida), teixo (Taxus bacatta); arbustos -aloé (Aloe vera), brincos-de-princesa (Fuchsia sp.), buxo (Buxus sempervirens).

Bibliografia

AZEVEDO, José Alfredo da Costa, Obras de José Alfredo da Costa Azevedo, vol II, Recantos e Espaços, Câmara Municipal de Sintra, Sintra, 1997; BECKFORD, William, Diário de William Beckford (em Portugal e Espanha), Lisboa, 1957; CÂMARA MUNICIPAL DE SINTRA, Sintra Património da Humanidade, Sintra, Dezembro de 1996; CARVALHO, Ayres de, D. João V e a arte no seu tempo, 1962; COSTA, Francisco, História do Palácio e Quinta de Seteais, Sintra, 1988; MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1950, Lisboa 1951; NOÉ, Paula, O Palácio de Seteais, J. H. A. FILL, 1989; SILVA, José M. de Bivar Cornélio da, Da Quinta da Alegria ao Palácio de Seteais, Moreira da Fundação e História, Sintra, 1988, SILVA, José Cornélio da e LUCKHURST, Sintra A Paisagem e as suas Quintas, Inapa, 1989; STOOP, Anne de, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Barcelos, 1986; TOLLERANE, Notes dominicales pendant une voyage en Portugal et au Brézil en 1816, 1817, 1818, F. C. G. , Paris, 1972;1980.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1953 - projecto de arranjo da piscina e campo de ténis; 1955 - obras em muro interior no campo; ajardinamento do campo de seteais; reparação da muralha da quinta; 1960 - obras de recuperação da muralha junto ao lago; 1968 / 1974 - Obras diversas de beneficiação e conservação.

Observações

1* - DOF: Palácio de Seteais, construções e terreiro vedado, jardins, terraços e quinta; Existem várias lendas a respeito do nome de Seteais mas provavelmente a sua origem provém do antigo uso daquele terreno para a produção de centeio - centeais.«Um manuscrito anónimo de 1851 diz-nos que Daniel Gildemeester «em 1783 comprou, no fim do Campo do Alardo (antiga denominação do Campo de Seteais), os ginjais e serrados que antigamente parece que produziram centeio (...)» (SILVA, 1989). *2 - (do manuscrito anónimo): «mandou demolir o grande morro de pedra e construir um palácio que hoje ali se encontra» e «construiu também da parte Norte do palácio um pequeno pombal e entre este e o jardim das cozinhas. Fez juntamente ao grande morro de pedra, a quinta a que chamou da alegria; para o que mandou quebrar muitos rochedos e conduzir de fora muita terra, fez um largo jardim, conduziu da serra água em abundância, semeou e plantou muitas árvores. Também povoou futuros bosques de grutas e mirantes, casa de banho, grandes tanques, pomares de espinho e pevide» (CARVALHO, 1962).

Autor e Data

Pereira de Lima 2005

Actualização

 
 
 
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