Palácio Valadares

IPA.00022146
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura residencial, setecentista. Palacete nobre pombalino de planta em U em redor de um pátio, com 3 pisos. Segundo José Augusto França, constitui-se como uma casa nobre pombalina de Lisboa, que transpõe as características dos casarões de seiscentos.
Número IPA Antigo: PT031106270598
 
Registo visualizado 5232 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

Planta em U composta pela articulação de corpos de planta rectangular em redor de um pátio rectangular, volumetria escalonada, e a cobertura efectuada por telhados diferenciados a 2 e 3 águas. Com pano de muro em reboco pintado e cunhais de cantaria. Alçado principal a SO., de 3 pisos, dos quais se demarca o embasamento, com revestimento em placagem de cantaria e de pé-direito crescente, no sentido NO-SE., dado o declive do terreno em que se encontra implantado. A fachada com 2 corpos separados por pilastras de cantaria, no corpo principal a NO., o portal nobre, de verga curva articulado lateralmente com emolduramento de cantaria em chanfro e mourões e superiormente, com janela de sacada - de bandeira curva sobrepujada por ática animada pela pedra de armas dos condes de Valadares (*1) - servida por varanda de guarda contracurvada em ferro forjado. A restante fachada apresenta superfície murária animada pela abertura de vãos de verga recta com emolduramento simples de cantaria a ritmo regular, registando-se embasamento rasgado por portas articuladas no seu extremo SE. com sobreloja assinalada pela presença de janelas de peito. Nos 2 pisos superiores, observam-se no andar intermédio janelas de peito de guilhotina, sendo o andar nobre definido por janelas de sacada de verga recta destacada servidas por varandins individuais, com base coincidente com friso de cantaria, que separa os 2 pisos, e guarda em ferro forjado. O alçado é superiormente rematado por cornija e beirado. No alçado posterior a NE., reconhecem-se panos de muro dos diferentes corpos rasgados por janelas de peito de verga recta (algumas cegas), excepto no corpo extremo a SE., que exibe 1º andar animado por janelas de sacada articuladas com varanda corrida, contígua a todo o corpo. Com acesso principal através do portal mencionado acede-se por meio de corredor transversal (com cobertura em abóbada de berço) a pátio de planta rectangular. (*2).

Acessos

Calçada do Sacramento, nº 34 - 54

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966), na Zona de Proteção do Elevador de Santa Justa (v. IPA.00003146) e na Incluído na Zona de Proteção da Igreja do Convento do Carmo (v. IPA.00006521)

Enquadramento

Urbano, incluíndo a frente urbana E. do Lg. do Chiado, na sua ligação à Cç. do Sacramento

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Educativa: escola básica / Política e administrativa: junta de freguesia / Comercial: loja / Comercial: estabelecimento de restauração

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 13 - no local onde posteriormente se ergueu o palácio Valadares, existiam no final do séc. 13 as casas do denominado Estudo Geral, ou seja, o embrião da Universidade de Lisboa, criada por D. Dinis em 1290; 1302 - tendo-se mudado o Estudo Geral para outro espaço, o rei D. Dinis, doa as casas aos judeus Navarros, de Beja; 1319 - por doação régia, as casas passam nesta data para o almirante genovês Manuel Pessanha, conservando-as os seus descendentes na sua posse (com algumas intermitências) durante todo o séc. 15; Séc. 16 - a casa era pertença dos senhores e depois marqueses de Vila Real; 1641 - por integração da conspiração regicida contra D. João IV, D. Luís de Meneses, marquês de vila Real e seu filho, o duque de Caminha, são justiciados; Séc. 17, meados - a casa estava na posse de D. Miguel Luís de Meneses, que recebe o título de conde de Valadares a 20 de Junho de 1702, e que aí habitava com sua esposa (desde 1654), D. Madalena de Lencastre (da casa de Abranches), cuja descendência terá como residência permanente o palácio até ao terramoto de 1755; 1714, 1 Fevereiro - morre no palácio D. Miguel, 1º conde de Valadares, que é sepultado no seu jazigo familiar do vizinho convento do Carmo, sucede na casa seu filho D. Carlos de Noronha (casado desde 1677 com D. Maria Teresa de Lencastre e residente no palácio); 1716, 11 Abril - é feito arcebispo de Évora o já bispo de Leiria D. Álvaro de Abranches e Noronha (filho do 1º conde de Valadares), frequentes vezes residente no palácio; 1731, 8 Fevereiro - falece no palácio o 2º conde de Valadares, sucedendo-lhe no título seu filho D. Miguel Luís (1680 - 1744); 1744, 11 Dezembro - morre no palácio o 3º conde de Valadares, D. Miguel Luís de Meneses Noronha e Abranches (sepultado no convento do Carmo); 1746, 5 Abril - falece no palácio o arcebispo de Évora D. Álvaro de Abranches e Noronha, que é sepultado na igreja de S. Roque; 1752, 27 Maio - morre no palácio o 5º conde de Valadares, D. Álvaro de Noronha e Abranches (sepultado no carneiro familiar da igreja do Sacramento); 1755 - o terramoto causa a ruína quase total do edifício, pelo que o 6º conde, D. José Luís de Meneses Castelo Branco e Abranches (1742 - 1792) se decide pela reedificação integral do mesmo; 1758, 9 Abril - feita a vistoria no terreno com vista às obras de reconstrução, constata-se que teria o conde que adquirir um pouco mais de 3.735 palmos de terreno, certamente para cumprir o projecto que teria para a reedificação, pelo que (a pedido do conde) se efectua um levantamento planimétrico, relativamente ao qual os religiosos do convento do Carmo se manifestam contrários (pela perda da serventia de uma porta travessa do convento), o que não impede todavia o conde de Valadares de concretizar os seus intentos e empreender a edificação do palácio que pretendia; 1785 - as obras estavam concluídas; 1792 - morte do 6º conde, deixando reedificado o seu palácio, no qual ficam a residir a condessa viúva, D. Luísa Josefa de Noronha (1748 - 1794), e seu filho e sucessor na casa D. Álvaro António de Noronha Abranches Castelo Branco (1775 - 1851), que se tornou no 1º marquês de Torres Novas; 1798, 7 Fevereiro - durante a noite deflagra um incêndio que reduz o palácio a ruínas (sendo então avaliado o prejuízo em 150.000 cruzados), reparando-se seguidamente o estrago maior e efectuando-se algumas obras, não se procedeu todavia a uma reconstrução, mudando-se os Valadares sucessivamente para uma casa na Rua dos Mouros e para um outro palácio sito no Campo de Santana, onde já residiam definitivamente em 1803 ou 1804; 1798, Outubro - numa parte do edifício instala-se uma fábrica de arame (pertencente a Jerónimo Pereira de Loureiro), que aí permanece até 1817; 1819 - o edifício é arrendado pelo seu proprietário a um grupo de clubistas, denominados a Assembleia Portuguesa, que efectuam obras de adaptação (no montante de 6 contos de reis), com vista à utilização de parte do edifício para festas e bailes; 1819, 28 Dezembro - 1º baile do clube Assembleia Portuguesa; 1822, 26 Janeiro - a festa dada neste dia pelo clube instalado no antigo palácio Valadares contou com a presença do rei D. João VI e dos infantes D. Isabel Maria, D. Miguel e D. Sebastião; 1826, 28 Novembro - no baile dado nesta noite esriveram presentes os oficiais ingleses Beresford e Castellane; 1829 - a Assembleia Portuguesa muda-se para o palácio do Manteigueiro; 1835 - criação e instalação no imóvel do Club Lisbonense ou Club do Carmo, realizando-se para o efeito nova campanha de obras; 1836 - 1850 - residem na sobreloja do palácio os primeiros condes de Paraty (irmão e cunhada do 1º marquês de Torres Novas); 1838 - celebra-se o Entrudo deste ano com grandes bailes no palácio; 1842 - as festas prosseguem, com grande sucesso, como atestam as memórias do marquês de Fronteira, que era um dos directores do Club Lisbonense; c. 1850 - instala-se na sobreloja do palácio um colégio feminino, do qual era directora D. Eusébia Gertrudes Guimarães, aí permanecendo até 1869; 1870 - instalação, na sobreloja, do Colégio de Nossa senhora do Carmo; 1871 - o estabelecimento de ensino em funcionamento na sobreloja do palácio passa a designar-se Colégio Milheiro, sendo directora Johane Stephan; 1874 - o colégio passa a designar-se Colégio Alemão e permanece naquela parte do palácio até 1882; 1880 - extingue-se o Club Lisbonense; 1881 - o andar nobre do palácio é arrendado à Direcção Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis, que aí permanece até 1887; 1888 - todo o edifício é arrendado a João Pedro Tavares Trigueiros (director da Companhia dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste) por 4 anos; c. 1892 - instalação no imóvel do Liceu Nacional (vindo do Palácio Regaleira, a S. Domingos), que passa a ser conhecido como Liceu do Carmo, que depois de ter sido um liceu feminino (designado inicialmente Maria Amália Vaz de Carvalho e depois Almeida Garrett) passou a ser uma secção do liceu Passos Manuel; 1906 - os descendentes do 9º conde de Valadares e da 4ª marquesa de Vagos (que haviam, pelo casamento, reunido as duas casas), efectuam partilhas de bens, entre os quais se conta o palácio, que vai à praça, sendo adquirido, por 41.300$000, pelo negociante Baltasar Rodrigues Castanheiro (a carta de arrematação data de 10 de Janeiro de 1907); 1941, Outubro - no imóvel instala-se a Escola Comercial Veiga Beirão; c. 1950 - o edifício era pertença dos 3 netos de Baltasar Rodrigues Castanheiro, Pedro, Rafael e Carlos Castanheiro Viana, encontrava-se então maioritariamente ocupado pela Escola Comercial Veiga Beirão, enquanto que numa das sobrelojas se instalava a Junta de Freguesia do Sacramento e nas restantes lojas e sobrelojas alguns estabelecimentos comerciais.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira

Bibliografia

PROENÇA, Raul, (dir. de), Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924 ; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, O Carmo e a Trindade, Vols. II e III, Lisboa, 1938 - 1941 ; ARAÚJO, Noberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. II, Lisboa, s.d. ; ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. VII, Lisboa, 1950 ; CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. Bairro Alto, 2ª ed., Vols. I e V, Lisboa, 1954 - 1966; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos Anos de 1959, 2º Volume, Lisboa, 1960; FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, Vol. I, Lisboa, 1966 ; COSTA, Mário, Chiado Pitoresco e Elegante, Lisboa, 1965 ; MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés-a-Lés, 2ª ed., Vol. IV, Lisboa, 1968 ; VALDEMAR, António, Chiado : o Peso da Memória, Lisboa, 1990 ; Valadares (Palácio), in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994 ; VALDEMAR, António, Chiado, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994

Documentação Gráfica

CML: Direcção Municipal de Planeamento e Gestão Urbanística

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGA/TT: Cartório do Convento do Carmo, Caixa 1, Maço 1; CML: Arquivo de Obras, Pº Nº 11130 (*3)

Intervenção Realizada

Observações

*1- cuja leitura heráldica é a seguinte : escudo esquartelado, ao 1º e 4º armas de Portugal, ao 2º e 3º armas de Castela, centrados pelo escudo dos Meneses de Tarouca, este repartido em seis, um com estoque, três com quatro barras, dois com dois lobos em campo e ainda centrado com o anel dos Meneses. *2 - aguarda-se autorização para ver o interior e proceder posteriormente à sua descrição. *3 - O processo do Arquivo de Obras da C.M.L. relativo ao imóvel encontrava-se requisitado por serviços municipais, pelo que a sua consulta não foi possível.

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001

Actualização

 
 
 
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