Casa Grande

IPA.00022033
Portugal, Coimbra, Montemor-o-Velho, União das freguesias de Abrunheira, Verride e Vila Nova da Barca
 
Palacete novecentista de planta quadrangular. Edifício em três andares, sendo o superior de menor altura, com os vãos são sequencialmente diferentes, maiores e curvos no primeiro e segundo pisos, menores e rectílneos no terceiro, a fachada principal, apresenta três panos delimitados por pilastras, sendo o central rematado por frontão curvo com falso óculo, apresentando uma composição arquitectónica de perfil neoclássico.
Número IPA Antigo: PT020610120048
 
Registo visualizado 123 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta quadrangular, simples regular, de disposição horizontal, cobertura homogénea em telhado de quatro águas. Fachadas rematadas por cornija, finalizadas por guarda gradeada, rebocadas e pintadas de cinzento com embasamento saliente, cunhais apilastrados em cantaria pintados de branco, em três pisos sendo os dois inferiores definidos por friso e os superiores por cornija, excepto o da fachada posterior onde os inferiores são definidos por um varanda a toda a largura da fachada; a modinatura dos vãos é toda em cantaria sendo nos dois pisos inferiores de verga curva e no superior de verga recta. Fachada principal voltada a E., com distribuição simétrica dos vãos, com três panos delimitados por pilastras, sendo os laterais, no piso inferior rasgados por quatro portas, duas delas são entaipadas no terço inferior, no segundo piso tem seis janelas sendo quatro de sacada, geminadas, todas têm guarda em ferro, no terceiro, correspondente às águas furtadas, abrem-se quatro janelas quadrangulares intercaladas por almofadas de cantaria; o pano central é aberto por porta no piso inferior, no segundo por duas janelas geminadas em sacada e no superior uma janela idêntica às duas anteriores, remate em frontão curvo com falso óculo. Fachada lateral esquerda virada a S., mantém a distribuição simétrica dos vãos. Fachada lateral direita virada a N., tem acesso ao segundo piso por uma escadaria de cantaria com guarda em ferro forjado que comunica com a varada da fachada posterior. INTERIOR, com divisões amplas e boas áreas de circulação, paredes rebocadas e pintadas com cores diferentes nas várias divisões. Na entrada do primeiro piso surge um vestíbulo com tecto em estuque trabalhado e pintura de marmoreados fingidos nas paredes, pintura idêntica na escadaria e outras zonas de circulação. No segundo piso tem a zona "nobre" habitacional, com quatro quartos confrontantes ao longo do corredor, com tectos em estuque decorado, dotados de canalização de água e iluminação*1, um deles com lareira alimentada a carvão, neste andar distribuem-se ainda as salas designadas, de fumo e de chá e o salão nobre com as paredes revestidas de apainelados de madeira, tecto pintado de verde com aplicações de formas geométricas em madeira ligadas entre si por falsos apainelados. No terceiro piso distribuem-se, os espaços destinados aos empregados da casa: quartos, zona de lazer, cozinha, casa de banho, gabinete de costura e arrumos.

Acessos

Rua da Igreja, n.º 3

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, integrado na malha urbana do centro histórico, com duas frentes para a via pública, comunicando a fachada principal com a Rua Direita e a fachada lateral esquerda com a Rua Nova. As fachadas posterior e lateral direita dão para um jardim.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Alfredo d'Ascenção Machado - arquitecto autor do projecto

Cronologia

Séc. 19, meados - Manuel Maria de Castro Guimarães, homem da zona de Braga, faz casal com Maria de Jesus Costa, oriunda da zona de Cantanhede, já estabelecida em Verride, senhora rural, proprietária de várias e significativas propriedades na freguesia, bem como, nas limítrofes, estendendo-se aos campos do Mondego. Séc. 19, final - Manuel Maria é o maior e mais próspero comerciante da zona, tendo bem multiplicado o património da casal*2; séc. 20, inícios - construção do edifício; 1906 - execução do projecto da autoria do Arquitecto Alfredo d'Ascenção Machado. É Joaquim Jerónimo de Oliveira que manda construir a casa ao gosto de Maria Eugénia de Castro Guimarães, pessoa de instrução e cultura elevadas ao tempo, bebedora dos acontecimentos da Europa, nomeadamente, da França, Inglaterra e Alemanha. A casa é edificada sobre outra preexistente, antecedente casa de morada da família Castro Guimarães*3; Joaquim Jerónimo de Oliveira dura pouco, restando Maria Eugénia precocemente viúva, senhora de enorme fortuna, desde sempre tão cobiçada e olhada, vindo a matrimoniar-se o Dr. António Pires Martinho de Brito, advogado da Abrunheira, do qual, também não teve descendência*4. A Casa Grande e tudo o que era riqueza neste concelho e no da Figueira, bem como tudo que comportava títulos nominais ou ao portador, computando-se em cerca de um terço da fortuna, ficou em testamento a Francisco Coelho Nunes, pai de Isabel Maria de Sousa Gonçalves Coelho Nunes, actual proprietária da Casa Grande.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Pedra (cunhais, pilastras, modinatura dos vãos, frisos, cornijas, escadas e varandas); azulejo; telha cerâmica; estuque pintado e trabalhado (paredes interiores e tectos); madeiras exóticas no interior (corrimões de escadas, pavimentos, portas e estrutura das coberturas); ferro (estrutura da garagem e varandim, guardas das varandas e escadaria exterior e remates das portas).

Bibliografia

CONCEIÇÃO, A. Santos, Terras de Montemor-o-Velho, Montemor-o-Velho, Câmara Municipal, 1992 (re-ed.); CORREIA, Vergílio e GONÇALVES, A. Nogueira, Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Coimbra, Lisboa, 1952; GÓIS, A. Correia, Concelho de Montemor-o-Velho. A terra e a gente, Montemor-o-Velho, 1995.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Inexistente

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Os equipamentos de que dispunha eram inovadores para a época, tinha rede de iluminação por querosene em todo o edifício; a água para as cozinhas e casas de banho, era alimentada por rede própria, sendo a sua recolha feita para uma cisterna de grandes dimensões situada abaixo da cota de implantação da casa, através de caleiras e tubagem escondida, depois bombeada para o sótão e acumulada em depósito para alimentação do sistema de depressão. *2 - Por esta altura, Manuel Maria, da zona de Braga, chama Joaquim Jerónimo de Oliveira para trabalhar com ele no comércio. Do casal, nasce Maria Eugénia de Castro Guimarães, de quem Jerónimo vem a ser padrinho de nascimento e logo lhe é prometida em casamento Maria Eugénia. A breve trecho, Joaquim Jerónimo de Oliveira, parte para Angola, com a promessa de voltar para casar, na busca de fortuna, o que alcança em pouco tempo, regressando senhor de fortuna colossal, directamente resultante dos diamantes, ao que se pensa, consorciando-se com Maria Eugénia, tinha então 18 anos, e, ele, em declínio de vida. Certo é que, Joaquim Jerónimo de Oliveira, dá a Maria Eugénia o que esta necessita para modernizar a casa agrícola, sendo pessoa de grande carácter, forte, determinada e "geniosa". A fortuna de Jerónimo de Oliveira, espalha-se ruralmente por Verride, Montemor, Maiorca, Vila Nova da Barca, Figueira e Lisboa, nestas em prédios, representando à época o africanista capitalista, que investe no mercado das acções, desde a Diamang, seguros Minerva, Coliseu da Figueira, etc. *3 - Maria Eugénia é percursora no concelho na introdução da indústria nascente na Europa, revolucionando os modos de produção na casa agrícola, industrializando-a. Na verdade, a fortuna do casal, tem notoriedade nacional. Maria Eugénia, é a primeira mulher em Portugal a adquirir um veículo automóvel - de marca Minerva, hoje num museu - revelando-se grande benemérita, quer, para o pessoal que a servia em casa - sete mulheres e um motorista -, quer, para os que, de fora, para a casa trabalhavam, ou, dela viviam. Benfazeja da Igreja, em Verride, é quem dá os espaços para a implantação dos fontanários públicos, bem como, quem cede as águas que as vêm a alimentar - do Brulho -, as quais, ainda hoje as abastecem, bem como à rede particular de águas que serve grande parte da freguesia a par da dos serviços municipalizados, captada no mesmo local. Cria hábitos de solidariedade e beneficência na zona, nomeadamente, instituindo na casa, a todas as quintas-feiras dar a sopa aos carentes, que, também se aprovisionavam para durante a semana a vencerem, bem como, em datas especiais, dar folga ao pessoal da casa. *4 - Na verdade, o Dr. Martinho de Brito impulsiona as águas, nomeadamente mandando analisar as características terapêuticas das águas do Brulho em laboratório francês, mais diligenciando no País análises, que as comparam com as famosas águas do Luso, melhores do que estas em certos aspectos, bem como, com outras existentes em França. D. Maria Eugénia subsiste ao esposo, acumulando as propriedades e bens deste na Abrunheira.

Autor e Data

Sandra Lopes 2003 / Margarida Silva 2004

Actualização

 
 
 
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