Igreja Paroquial do Monte da Caparica / Igreja de Nossa Senhora do Monte / Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Concórdia

IPA.00021953
Portugal, Setúbal, Almada, União das freguesias de Caparica e Trafaria
 
Arquitectura religiosa rococó e neoclássica. Igreja de 1 nave, com torre sineira lateral, de planta longitudinal, com fachada de frontão triangular, tipo palaciana com dois andares; exterior denotando grande simplicidade de linhas compositivas, bem como de estruturas simbólicas e decorativas, e pouca ornamentação; o interior é barroco, de profusa riqueza expressiva, com articulação das várias artes, talha, pintura e escultura, é de tipo contra-reformista de espaço único, imponente, com capela-mor profunda espaçosa, arco triunfal no meio de duas capelas laterais perpendiculares à nave que é coberta por abóbada de berço assente em largas pilastras, entre as quais se abrem capelas laterais com abóbadas de berço e arcadas, e sobre as quais se rompem galerias direitas com janelas, com 2 púlpitos fronteiros e coro alto de igual largura da nave. Barroca nos retábulos de talha dourada com ornamentação pomposa, no estuque das paredes e tecto com linhas onduladas; do barroco é também a ilusão de óptica de ampliação do espaço interior através da pintura do medalhão do tecto em "trompe l'oeil" e através de uma iluminação independente, vinda do coro-alto e das tribunas. Azulejos de tipologia barroca em azul e branco, em silhares, seriados de repetição linear, com albarradas, festões e grinaldas; silhares da época joanina de produção sumptuária, com grandes cenas historiadas que passam as cercaduras, sublinhadas por recortes contra as paredes lisas, com uso do roxo manganês e amarelo antimónio; rococó com imposição das assimetrias de formas isoladas na ornamentação e configuração de altares com anjinhos, grupos de esculturas independentes e ornatos delicados e naturalistas de estuque e madeira de cores pastel e dourado. Neoclassicismo nos silhares de azulejos da capela-mor, que revelam o gosto pelos contrastes cromáticos e pelos marmoreados, com aligeiramento dos motivos e da técnica de pintura, frescura ornamental dos motivos com tratamento linear e caligráfico com ligeiras sugestões volumétricas, numa composição onde se destaca um motivo ornamental ao centro, vaso florido, com enquadramento de leves grinaldas onduladas e faixas rectilíneas.
Número IPA Antigo: PT031503020045
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Igreja de planta longitudinal composta por capela-mor profunda, sacristia lateralizada, nave, baptistério, torre sineira e por outras divisões que se prolongam paralelamente à nave; é regular, com coincidência exterior / interior. Volumes articulados, com disposição das massas em horizontalidade. Cobertura exterior em telhados de duas águas sanqueadas na nave, na capela-mor e numa capela lateral, de três águas na capela lateral profunda e em cúpula bolbosa na torre. A fachada principal orientada a O., com embasamento, é delimitada lateralmente por cunhais de silhares dividida em dois panos separados por pilastra de silhar; o pano mais largo correspondendo ao corpo da nave apresenta dois registos definidos pelas duas séries de vãos sobrepostos; o pano estreito da torre tem três registos; os vãos de portas e janelas são enquadrados por vergas e ombreiras em cantaria, com sobreposição de cornijas, com 2 frontões triangulares nas portas laterais, frontão circular no portal e cornija linear nas 2 janelas laterais, superiores; o pano principal é simétrico mostrando o portal central e duas portas laterais de menores dimensões, e remata em cornija de coroamento, continuada, sobrepujada por frontão triangular, com cornija rampante, decorado com um medalhão centralizado e encimado por cruz e platibanda; um painel de azulejos alusivo ao orago está aposto em pano cego de remate em empena linear, simples, à esquerda. A torre é de um pano que acompanha a altura da edificação, o remate é em cornija continuada, sobrepujada por campanário de guarita aberto nos 4 lados por arcos de volta perfeita; sobressaem um mostrador de relógio em duas das faces, o remate de fogaréus no prolongamento dos cunhais e uma cruz no topo da cobertura. A fachada posterior é composta por um pano delimitado entre cunhais, com janela de arco rebaixado aberta no registo inferior e um óculo cego no superior, emoldurados a cantaria, sendo o remate em empena angular com beiral; à esquerda há um pano onde se rasgam, no registo inferior, duas janelas do tipo da descrita e uma horizontalizada e, no superior, três janelas também horizontalizadas; o pano remata em cornija de coroamento e beiral. Nas fachadas laterais adossam-se, de cada lado, os corpos de capelas laterais e os dos anexos que foram sendo acrescentados ao templo; nelas se abrem alguns vãos de janelas rectangulares emolduradas a cantaria, sendo o remate em cornija e platibanda. O INTERIOR é de espaço diferenciado em capela-mor, sacristia e anexos, nave, capelas e baptistério. A capela-mor é alongada, com quatro portas laterais, duas de cada banda, de acesso à sacristia e anexos; o altar-mor é de mesa quadrangular, com camarim e trono alto, escalonado, enquadrado por retábulo de talha, de forte policromia, com colunas em marmoreado; as paredes estão cobertas com lambril de azulejos e a cobertura é em abóbada de lunetas, estucada e pintada. A sacristia tem as paredes cobertas a cerca de um terço de altura por painéis de azulejos azuis e brancos, ostenta um lavabo de espaldar com bacia semicircular e uma pequena pia de água benta, em mármore. Um arco de triunfo de volta inteira separa a capela-mor da nave, abrindo-se de cada lado 2 capelas laterais, com mesas de sarcófago, com altares retabulares que atestam uma mesma orientação estilística, tal como a dos restantes altares da nave; ao longo desta, uma teia de madeira estabelece um espaço reservado ao culto particular das capelas; do lado do Evangelho abre-se a capela do Senhor dos Passos com portão em talha dourada e branca, ostentando um frontão em relevo do Pai Eterno ladeado por anjos de grande vulto; em frente, abre-se uma capela funda com porta para o exterior, com altar onde sobressai uma tela pintada, sendo a cobertura em abóbada de arestas, com símbolo eucarístico no fecho; duas portas dão acesso às escadas para os dois púlpitos de varanda que se defrontam; as restantes capelas quase rasas, ostentam imagens sacras esculpidas, sobre pequenos tronos ou dentro de nichos. Nos espaços entre os altares, destacam-se painéis de azulejos recortados. A capela baptismal ostenta ao centro uma pia de baptismo de cantaria oitavada, e na parede destaca-se um painel de azulejos, sendo a cobertura em abóbada de arestas. Sobre a entrada, sobressai o coro-alto com varanda de barriga e balaustrada simples em madeira, assente em duas colunas toscanas e em pequenas mísulas. Uma escadaria estreita de lanços opostos dá acesso ao campanário, onde ressalta um maquinismo de relógio assente em banqueta de metal, esculpida. A iluminação é dada pelas janelas do coro e pelas das galerias. A cobertura do espaço central e das capelas laterais é em abóbada de berço de volta perfeita, em estuque pintado. O pavimento é em madeira e mármore, sendo o da sacristia enxequetado em mosaico preto e branco.

Acessos

No antigo Casal do Facho; Travessa do Monte; Rua dos Trabalhadores Rurais; Rua Alfredo Cunha; Travessa da Igreja

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, com destaque no cimo de monte, em pleno centro antigo da localidade, onde desembocam ou por onde passam ruas apertadas, de passeios estreitos; isolado com adossamento de corpos de construção moderna pertencentes à casa paroquial, com pequeno jardim e amplo adro murado, constituindo-se um conjunto edificado no centro de um largo formado por fachadas de casas de habitação plurifamiliar baixas, que se organiza em rossio à volta do núcleo religioso.

Descrição Complementar

As capelas existentes do lado do Evangelho, partindo da entrada, são: Capela de Nossa Senhora da Concórdia, Capela do Sagrado Coração de Jesus, Capela do Senhor Crucificado dos Passos e Capela de Nossa Senhora das Chagas; as do lado da Epístola seguido a mesma ordem são: Capela de Santo António, Capela de Nossa Senhora de Fátima, Capela de São Miguel. Azulejos: a capela-mor apresenta silhares policromos; na sacristia as paredes estão em parte revestidas com silhar em azul e branco, de composição seriada em repetição linear, com albarradas formadas por vasos floridos envolvidos por ornatos de festões e separados por palmitos, sendo o conjunto contornado por barra de caracóis de folhagem estilizados; os painéis de azulejos da nave e do baptistério são historiados, aqueles representando cenas do "Cântico dos Cânticos" e este o Baptismo de Cristo, em azul sobre esmalte branco com moldura policroma. Destacam-se várias esculturas, imagens quase todas antigas, com importância artística; entre elas, a do orago Nossa Senhora do Monte de madeira, no altar-mor; na capela funda do lado da Epístola imagens dos Evangelistas, destacando-se do lado do Evangelho uma tela setecentista de Santa Ana e São Joaquim e uma imagem policroma da Imaculada Conceição; no altar oposto duas imagens de Santa Ana e São Joaquim.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Setúbal)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1442 - Construção de uma primitiva ermida*1 consagrada a Nossa Senhora, de menores dimensões que a actual igreja; 1472, 12 de Dezembro - fundação da paróquia do Monte da Caparica a partir da Paróquia de Santa Maria do Castelo de Almada, com elevação da ermida à categoria de paróquia, por Bula apostólica do Papa Sisto IV; logo a seguir à fundação da freguesia de Caparica, instituiu-se a Confraria de Nossa Senhora da Concórdia por Breve Pontifício de Sisto IV, a quem pertenceu a fábrica paroquial, pelo que se deu início às obras para a transformação em igreja, ampliando-a; 1482, 24 de Maio - sagração da igreja por D. Nuno Álvares de Aguiar, 1º Bispo de Tânger; 1577 - declaração feita por D. Sebastião, em alvará, que dava a igreja não pertencendo ao Padroado Real nem a outro Donatário que não fosse a Confraria da Concórdia; séc. 16 - sepultura na capela-mor de alguns descendentes de D. Gonçalo Coutinho, neto do Marechal do reino (ARCOS, 1972); 1579 - confirmação do Cardeal-Rei à mesma confraria de todos os seus antigos privilégios; 1627- pintura pelo retratista Domingos Vieira, o Escuro, para esta igreja de retábulos dos painéis de Nossa Senhora do Monte, de São Tomás de Aquino e de Duns Escoto; julgado herético, após admoestação do Tribunal do Santo Ofício, aquelas pinturas são mandadas destruir, não tendo nenhum dos restantes quadros subsistido; séc. 17 - 18 - sepultados na capela-mor, os filhos de D. Tomás de Noronha, 3º Conde dos Arcos, tio do Príncipe D. João e embaixador de D. Sebastião (ARCOS, 1972); séc. 18 - sepultados na capela-mor, a Condessa D. Madalena Bruna de Castro, filha dos 2ºs Condes de Assumar e primeira mulher do 5º Conde dos Arcos, e o padre-cura José António da Veiga, autor da monografia de Caparica que se acha no "Dicionário Geográfico" do Padre Luís Cardoso (ARCOS, 1972); 1755 - a igreja primitiva fica em grande ruína com o Terramoto, o que levou à mudança da matriz para uma outra capela, até à sua reconstrução; 1757 ou 60 - documentada a reconstrução da igreja; época dos azulejos do baptistério; 1840 - a confraria passa a designar-se por Irmandade do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Concórdia, tornando-se fabriqueira; 1898, Junho - início de importantes obras para a reconstrução e modernização da igreja, sob a direcção do mestre aparelhador António Francisco da Matosa; 1914 - a igreja sofre profanação; 1947 - restauro do maquinismo do relógio da torre.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Pedra: calcário, mármore branco; mármore rosa, entulho; cerâmica: tijolo, tijolo maciço, ladrilho, azulejo tradicional, telha; vidro; alvenaria pedra e cal, mista; estuque: pintado, esculpido; madeira: casquinha, talha dourada, outras; produtos sintéticos: alcatifa, acrílico; metal: ferro forjado, ferro fundido, bronze.

Bibliografia

ANTUNES, Luís Pequito, A Ordem de Santiago em Almada nos séculos XII a XV "in" Almadan, série II, n.º 2, 2 de Julho, 1993; ARCOS, Conde dos, Caparica através dos Séculos, vol. 1, s. l., 1972; IDEM, Caparica através dos Séculos - Roteiro, vol. 2, s. l.; BARROS, Luís, Em Almada - Um Exemplo a Seguir, entrevista com o pároco Domingos Luís Morais, "in" Almadan, n.º 4/5, Novembro de 1965; FARIA, António Machado de, Para a História de Caparica, "in" Estremadura, série II, n.º 20-32/34, 1947 - 1953; Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1982.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; Paróquia do Monte da Caparica: arquivo paroquial

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; Paróquia do Monte da Caparica: arquivo paroquial

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; Paróquia do Monte da Caparica: arquivo paroquial

Intervenção Realizada

DGEMN / Paróquia do Monte da Caparica: 1968 - obras de conservação geral e limpeza; Paróquia: 1982 - restauro do maquinismo do relógio da torre; 1989 - alguns arranjos exteriores com pintura; Paróquia: 1990 - pinturas gerais no exterior e interior; 2000 - restauro de decoração.

Observações

*1 - No local que se chamava "Casal de Pero Escacho" por ter sido onde, em 1316, Pero Escacho fora eleito Mestre da Ordem de Santiago.

Autor e Data

Albertina Belo 2001

Actualização

 
 
 
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