Igreja do Convento de Frades / Igreja de Santo António

IPA.00002150
Portugal, Setúbal, Alcácer do Sal, União das freguesias de Alcácer do Sal (Santa Maria do Castelo e Santiago) e Santa Susana
 
Arquitectura religiosa, renascentista, maneirista. Igreja conventual; capela lateral funerária (Onze Mil Virgens). Portal axial da igreja com relevos decorativos renascentistas semelhantes aos do claustro principal de Castilho, no convento de Cristo em Tomar; síntese harmoniosa entre o espaço longitudinal da nave e o espaço centralizado do cruzeiro, delicadeza no traçado de molduras e perfis, utilização do motivo de Serlio. Portal axial da capela, portais do altar e capela lateral N., galilé de proporções maneiristas. Capela sepulcral de grandes dimensões construída paralelamente à igreja conventual. A junção do corpo da galilé mais alto que a igreja e capela anexa veio adulterar o equilíbrio pré-existente.
Número IPA Antigo: PT041501030005
 
Registo visualizado 1263 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província dos Algarves)

Descrição

Planta longitudinal composta por 2 rectângulos de diferentes dimensões: a nave e a capela-mor; adossada à nave do lado N. uma capela rectangular; paralela à igreja do lado S. uma capela longitudinal composta, a S, também longitudinal e composta pela nave rectangular, cruzeiro de planta quadrada e ousia rectangular; pequena sacristia quadrangular adossada à nave, a S.; antecede a igreja e capela uma ampla galilé rectangular disposta transversalmente. Volumes articulados com coberturas diferenciadas, em telhados de 2 águas nas naves e capela-mor, de 4 sobre a galilé, em cúpula rematada por lanternim sobre o cruzeiro da capela. O corpo da galilé de 2 andares, para o qual abre a igreja e capela, é rasgado por 3 arcadas redondas a O., por 2 a S. e por janelas de sacada no 2º piso. No INTERIOR a nave da igreja coberta por abóbada de berço abre para a capela-mor, também abobadada, por arco triunfal a pleno centro sobre pilastras; a comunicação com a capela a S. faz-se por tripla arcada a pleno centro, com o motivo de Serlio na zona de comunicação entre as naves, repetindo-se em arcada cega no paramento interno da parede S; abóbada a berço sobre a nave da capela, cúpula em meia-laranja sobre pendentes no cruzeiro, esteira horizontal sobre a ousia.

Acessos

Largo de São Francisco

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto 43073, DG, 1.ª série, n.º 162 de 14 julho 1960 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 1.ª série, n.º 159 de 08 julho 1961

Enquadramento

Urbano. Adossada a S do primitivo convento de Sto. António, deitando a fachada principal para o Lg. de S. Francisco, a fachada lateral S para um terreiro amplo em terra batida.

Descrição Complementar

PORTAIS - igreja: vão rectangular, verga recta, pilastras com brutescos em baixo relevo; capela: vão rectangular, molduras lisas, frontão triangular. INTERIOR: fenestração: janelas quadradas rasgam o alçado S. da capela das Onze Mil Virgens, uma janela rectangular a capela-mor da igreja; um coro-alto situado no piso superior da galilé abre para a nave da igreja por arco rebaixado, com balaustrada; no alçado N da nave da igreja um púlpito quadrado em cantaria também com balaústres e um guarda-voz; um altar lateral e uma capela abrem para a nave por portais de frontão recto com pilastras toscanas. Na ousia da capela a zona destinada a relicário está separada por grade em ferro, fazendo-se o acesso por porta rasgada na capela-mor da igreja. DECORAÇÃO: um silhar de azulejos setecentistas de albarradas em azul e branco corre as paredes da nave; as paredes da capela-mor estão inteiramente revestidas a azulejos da mesma época, com painéis figurativos com cenas da vida de Sto. António; na abóbada uma cartela rocaille com as armas da Ordem de Santiago, em pintura a fresco. A abóbada da nave da capela e a cúpula do cruzeiro em mármore mostram caixotões com losangos e círculos; florões ornam os lacunários do tecto da ousia; o paramento S. e O. da nave está revestido a azulejos enxaquetados em verde e branco. 2 lápides tumulares lisas centram o pavimento em mármore do cruzeiro; na nave da igreja várias lápides funerárias, entre as quais se destaca uma com a figura de um guerreiro empunhando uma espada; pedra de armas dos Mascarenhas no alçado S. da galilé e sobre a porta da igreja.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Francisco de Holanda (Segurado: 1971); Filipe Terzi (Coelho: 1981 *1); António Rodrigues (Moreira: 1986).

Cronologia

1524 - D. Violante Henriques, mulher de D. Fernando Martins de Mascarenhas, alcaide-mor de Alcácer do Sal, manda construir o convento de Santo António, da Ordem de São Francisco, na zona alta de Alcácer; 1540, cerca - seu filho, D. Pedro de Mascarenhas (1483-1555), embaixador na Alemanha e junto da Santa Sé, Vice-rei da Índia entre 1554 e 1556, ordena a construção da capela das Onze Mil Virgens, paralela à igreja; 1554, fevereiro / março - instituição de morgado por D. Pedro de Mascarenhas, antes da sua partida para a Índia, a favor do sobrinho D. João de Mascarenhas; determina que "o sucessor do Morgado seja obrigado a dar vinte mil reis para a capela que deixão ordenada no mosteiro de Alcácer (...) e não a dando dentro de seis meses dará o dobro"; a capela não está ainda construída; 1555 - data do testamento de D. Pedro de Mascarenhas e sua esposa D. Helena de Mascarenhas declarando que "esta capela per fallecimento delles senhores Instituydores não ficar acabada, se acabe per sua Fazenda, pella traça e maneyra que sse em seu testamento contem e acabada a cappela, mandão que nella se ponhão as Relíquias das Bemaventuradas Virgens"; 16 junho - data da morte de D. Pedro de Mascarenhas; 1565 - Cardeal D. Henrique manda dar pedra para as obras do convento; 1581 - testamento de D. João de Mascarenhas determina "que se rezem missas na capela do conventod e Stº António por sua alma e da sua mulher e seu filho D. Pedro"; esta determinação parece indicar que a capela das Onze Mil Virgens está concluída; séc. 17 - construção do corpo da galilé e da capela e altar do lado N. da igreja, fundados por D. Leonor da Fonseca e pelo Dr. Diogo Lameira; séc. 18, 2ª metade - reconstrução da capela-mor da igreja, destruída pelo terramoto; 1969 - estragos provocados pelo sismo.

Dados Técnicos

Materiais

Alvenaria de pedra e de tijolo rebocada e caiada, cantaria em cunhais, molduras e pavimentos; mármore rosa de Estremoz na parede divisória entre a igreja e a capela das Onze Mil Virgens, no seu revestimento interno, na construção da cúpula (intradorso e extradorso) e nos enxalços das janelas; mármore vermelho e negro nos portais da capela e altar a N; azulejos, ferro, vidro, madeira, telha cerâmica.

Bibliografia

CARDOSO, Pe. Luís, Diccionário Geografico, I, Lisboa, 1767; PEREIRA, Esteves, RODRIGUES, Guilherme, Portugal Diccionario, I, Lisboa, 1904; SEGURADO, Jorge, Francisco d'Ollanda, Lisboa, 1970; CORREIA, Virgílio, Alcácer do Sal - esboço de uma monografia, in Obras, IV, Lisboa, 1971; COELHO, Maria da Conceição Pires, Dom Pedro de Mascarenhas e a Capela das Onze Mil Virgens, in Brotéria, 113, Lisboa, 1981; MOREIRA, Rafael, A Arquitectura Militar, in História da Arte, VII, Lisboa, 1986; CORREIA, José Eduardo Horta, A Arquitectura - maneirismo e estilo chão, Ibidem; MARKL, Dagoberto, A Arquitectura e o Urbanismo, História da Arte, VI, Lisboa, 1986; FARIA, João, Igreja e Convento de Santo António e capela das Onze Mil Virgens, in Voz do Sado, Junho de 1988; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73841 [consultado em 5 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DRML

Intervenção Realizada

1974 - reparação das coberturas; consolidação e conservação do coro-alto; 1981 - construção de escada em betão armado para aceso ao côro, guarda e pavimento; 1997 - recuperação e impermeabilização das coberturas da igreja e da capela das Onze Mil Virgens; limpeza, reparação e hidrofugação da cúpula; reparação dos rebocos e caiação do interior da nave; reparação da caixilharia e gradeamentos da igreja; consolidação do revestimento pétreo da capela lateral esquerda.

Observações

*1 - Maria da Conceição Pires Coelho põe a hipótese da autoria do projeto da capela das Onze Mil Virgens ser da autoria do arquiteto italiano "Jam Francisco de Solle, venezeano", devido aos documentos existentes na correspondência entre D. Pedro de Mascarenhas e o rei, ainda que esses apenas aludam à actividade daquele à arquitetura militar. Outra hipótese seriam os arquitetos, pedreiros e carpinteiros do Convento de Cristo em Tomar, devido à correspondência de D. Pedro com Frey António de Lisboa, Dom Prior do Convento e então à frente das obras do mesmo. A autora admite ainda a intervenção de João de Castilho na igreja do convento de Alcácer, ainda que a capela não caiba no estilo desse mestre, e a de Filipe Terzi nos acabamentos da capela. Não exclui Francisco de Holanda, mas aponta-o com reservas como provável autor do risco. *2 - Na capela sepulcral das Onze Mil Virgens guardaram-se relíquias trazidas por D. Pedro de Mascarenhas da Alemanha e Itália, entre outras a cabeça de Santa Responsa, uma das Onze Mil Virgens, um pelo da barba de Cristo, um retalho da sua túnica, partículas do Santo Lenho, um dos 30 dinheiros, gotas do leite da Virgem. Segundo Segurado (1970), o Crucifixo que aí se encontra seria um auto-retrato do artista, o próprio Francisco de Holanda.

Autor e Data

Isabel Mendonça 1992

Actualização

Ângelo Silveira 2001
 
 
 
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