Igreja Paroquial de Tancos / Igreja de Nossa Senhora da Conceição

IPA.00002058
Portugal, Santarém, Vila Nova da Barquinha, Tancos
 
Igreja paroquial construída no séc. 16, de que subsiste a estrutura da capela-mor, com cobertura em abóbada estrelada, profusamente ornada com atributos cristológicos, remodelada no séc. 17, com a feitura da nave, de estilo maneirista, ampla e com cobertura em abóbada de caixotões de pedra, sustentada por paredes laterais em talude e de grande espessura. É de planta retangular composta por nave, capela-mor, anexos laterais, formando duas sacristias, e torre sineira no lado esquerdo, escassamente iluminada por janelas em capialço, jacentes, rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal rematada em empena, com os vãos rasgados em eixo, composto por portal e janelão, envolvidos por estrutura arquitetónica maneirista, de final de seiscentos, composta por colunas e remate em tabela, contendo nichos com imagens em cantaria, muito deterioradas, integrando uma Senhora da Conceição, colocada no local em data mais recente. Fachadas com cunhais de cantaria, as laterais rasgadas por portas travessas, a do lado esquerdo desativada e transformada em capela votiva. O interior está dividido em tramos por colunas embebidas na espessura do muro, o primeiro marcado por amplo coro-alto, assente sobre colunas toscanas e com acesso pela sineira, que irrompe pelo interior do edifício. Tem batistério no sub-coro, no lado do Evangelho, púlpito seiscentista, semicircular e com guarda pleno, situado no mesmo lado e adossado ao muro e com acesso pelo anexo. Arco triunfal amplo, de dupla arquivolta, assente em pilastras toscanas, ladeado por capelas laterais, de onde desapareceram as estruturas retabulares. Capela-mor com interessante retábulo de talha dourada, do estilo barroco nacional. As paredes encontram-se revestidas a azulejo de padrão seiscentista, com o nível inferior da nave marcado por enxaquetado e o superior com padrões policromos variados, interrompidos por painéis figurativos, hagiográficos, estes realizados em diferentes épocas, com um claro domínio das figuras a azul e branco, sobre fundos neutros, brancos. No exterior, ostenta as cruzes dos Passos da Via Sacra, em azulejo. Possui interessante retábulo lateral da segunda metade de seiscentos, de esquema maneirista, composto por três eixos e remate em tabela, integrando telas pintadas.
Número IPA Antigo: PT031420030004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta por nave, capela-mor, anexos adossados a ambos os lados e torre sineira no lado direito, de volumes articulados e escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas, rematadas em beiradas duplas, sendo em coruchéu piramidal, rebocado e pintada, sobre a torre sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com as faixas e elementos estruturais pintadas de ocre, rematadas em cornijas e platibandas vazadas nas fachadas laterais da nave, estas em ligeiro talude, para sustentação da abóbada. Fachada principal virada a sudoeste, rematada em empena com cruz latina no vértice, marcada por estrutura arquitetónica em cantaria de calcário que emoldura o portal axial, em arco de volta perfeita, assente em pilares, e o janelão retilíneo. A estrutura é formada por três eixos definidos por quatro colunas de fustes lisos, assentes em plintos paralelepipédicos almofadados em ponta de diamante, tendo, nos intercolúnios painel almofadado em losango; sobre a coluna exterior do lado direito, pináculo do tipo balaústre. Os eixos laterais possuem duas ordens de nichos de volta perfeita, os superiores com escultura de vulto, num dos lados a imagem de Nossa Senhora da Conceição e, no lado oposto, imagem desgastada, representando, possivelmente, São João Evangelista. A estrutura remata em entablamento, encimado por tabela, vazada pelo janelão protegido por grades, ladeado por pilastras e aletas volutadas, rematando em frontão triangular com cruz latina no vértice. No lado direito, a torre sineira integrada no muro, com as faces definidas por quarteirões, rematada em entablamento e rasgada por quatro ventanas de volta perfeita, assentes em pilastras. As fachadas laterais são semelhantes no corpo da nave, rasgadas por portas travessas escavadas na espessura do muro, de verga reta e rematadas por frisos e cornijas, encimadas por janelas em capialço. A fachada lateral direita é marcada pelo corpo anexo, de dois pisos, com porta emoldurada por entrelaçados e janela de peitoril, ambos retilíneos, tendo adossado um corpo menos elevado, com pequeno vão, sendo visível, no corpo da capela-mor, pequena janela jacente em capialço. A fachada lateral direita tem, no corpo anexo, de dois pisos, porta de verga reta, pequena janela e janela de sacada, com bacia em cantaria e guarda vazada, para onde abre porta janela retilínea, rematada por friso e cornija. No topo, pequena sineta de volta perfeita e remate contracurvo. Fachada posterior com a capela-mor rematada em empena com cruz no vértice, rasgada por duas frestas sobrepostas. Os corpos dos anexos têm remates retos, o do lado esquerdo com janela de peitoril no segundo piso, surgindo, no lado oposto, fresta. O INTERIOR da nave está seccionado em cinco tramos, definidos pelos arcos torais suportados por colunas de cantaria embebidas nas paredes laterais, totalmente revestidas a azulejo de padrão policromo, em dois registos, o inferior de enxaquetados e o superior de padrões vários, colocados em esquadria, integrando painéis figurativos. A cobertura é em abóbada de berço de caixotões, com vestígios de policromia, assente em cornijas e mísulas equidistantes, e pavimento em lajeado e estrados de madeira, integrando algumas sepulturas epigrafadas. O coro-alto ocupa parte do primeiro tramo, assente em três arcos de volta perfeita, assentes em duas colunas toscanas e mísulas, com acesso pelo corpo da torre, que irrompe pelo interior, ao qual se acede por porta de verga reta, no sub-coro; tem guarda de madeira torneada. No lado do Evangelho, o batistério, com acesso por arco de volta perfeita assente em pilares e com fecho saliente, contendo a pia, em cantaria, composta por coluna e taça hemisférica. Junto a uma das colunas do coro, surge uma pia de água benta e a ladear a porta travessa surge uma segunda pia embutida no muro, de bordo boleado. No lado do Evangelho, surge o pequeno altar do Senhor dos Passos, na antiga porta travessa, o altar do Sagrado Coração de Jesus e, no quarto tramo, um nicho de perfil abatido com altar paralelepipédico pintado, dedicado a São Pedro. Ainda no mesmo tramo, o púlpito em cantaria, semicircular e embutido no muro, assente em mísula estriada e com guarda plena, de bordo saliente; tem acesso por porta de verga reta, encimado por cornija. No lado oposto, a capela retabular de São Tomás de Aquino. Arco triunfal de volta perfeita, assente em duplas pilastras e com fecho saliente; está ladeado por capelas colaterais, inseridas em vãos de volta perfeita, assentes em pilastras toscanas e de fechos salientes, a do lado do Evangelho dedicada ao Crucificado, sendo a do lado oposto de Nossa Senhora de Fátima. Está encimado por nicho emoldurado e rematado em frontão triangular, com o fundo pintado, ornado por estrelas, resplendor e uma cidade de pano de fundo, que albergaria o Crucificado. Capela-mor com as paredes revestidas a azulejos e cobertura em abóbada estrelada, assente em mísulas e com bocetes marcados pelos símbolos da Paixão, tendo, no fecho, as iniciais "IHS"; os panos da abóbada estão pintados a grotesco, tendo as nervuras vestígios de policromia. Possui a mesa de altar, paralelepipédica e, na parede testeira, o retábulo-mor de talha dourada, muito degradada e com a folha de ouro em destaque, com corpo côncavo e um eixo definido por quatro colunas torsas ornadas por pâmpanos e quatro pilastras com os fustes decorados por acantos, sustentadas por consolas e que se prolongam em quatro arquivoltas, também torsas e unidas por aduelas no sentido do raio, formando o remate. Ao centro, tribuna de volta perfeita, com o interior ornado por apainelados de acantos, contendo trono expositivo. Altar paralelepipédico, encimado pelo antigo sacrário embutido na estrutura e de perfil facetado, a que se adossa o atual, composto por apainelados de acantos e enrolamentos.

Acessos

Tancos, Largo da Igreja

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 2/96, DR, 1.ª série-B, n.º 56 de 06 março 1996 *1

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no Aldo da vila, a meia encosta que desce até ao rio Tejo, junto à via férrea e à EN 3 de que se separa por ampla plataforma artificial, criando um adro, parcialmente fechado por muro em alvenaria rebocada e pintada de branco, capeado a cantaria e encimado por pequeno gradeamento. Fora do adro, junto à fachada principal, um escadório liga à zona ribeirinha. O adro é amplo, pavimentado a calçada, pontuado por floreiras de cantaria, árvores e candeeiros de iluminação pública. O portal axial tem acesso por escada de três degraus.

Descrição Complementar

Nas fachadas. Surgem CRUZES em azulejo, com bases em roxo manganês e cruz a azul e branco, representando os Passos da Via Sacra, tendo a marcação de três cravos e a coroa de espinhos em cada um deles. No plinto da imagem da Virgem da FACHADA PRINCIPAL, a data "1585". Na verga da PORTA DA SACRISTIA, a data "1685". As PAREDES DA NAVE possuem azulejo de padrões vários, integrando painéis figurativos, a representar "São Miguel e Almas", este policromo e rodeado por friso de acantos, sendo os demais sobre azulejo branco, com as figuras a azul ou manganês, representando São Tiago Maior, Santo António, São Pedro, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Rosário e o "Santíssimo Sacramento", este painel com a inscrição "LOVADO SEIA O SANTISIMO SACRAMENTO". Junto ao PORTAL AXIAL, as sepulturas com as seguintes inscrições: "S(epultur)a DE TOMAS / DA SILVEIRA / E DE SVA MOLHER / CATERINA VAS / E SEVS ERD(ei)ROS / 1661" e "S(epultura) DE L(ourenç)o C. DE GOIS DE VASC / OMSELOS FIDALGO DE / CO… D ARMAS E DE SVA / MOLHER BRA(n)QVA LO / PES…". No centro da nave, sepultura com a inscrição: "S(epultura) DE D(omingos) G(onça)I(vez)Z REGO / E DE SVA MOLHER / M(Ari)a DIAS I ER(de)/ IRO". Debaixo do púlpito, a inscrição: "AQVI JAZ INES / F(e)R(nande)Z MOLHER QVE FOY DE SIMAM / F(e)R(nande)Z FALECEV NA ERA / DE 1538". Junto ao arco triunfal, as sepulturas com inscrições de: "S(epultur)a DE Ã(n)T(ão) D(in)IZ HOVE / LHO E DE SVA MOLHER DOMINGAS D(in)IZ / E DE SEVS ERD(eir)OS / D(e) 1570" e "S(epultura) DE ANT(onio) VICENTE / E DE SVA MOLHER ER / DEIROS FALECEV DIA / DE SANTA BARBORQA DE / 1578". O RETÁBULO DE SÃO TOMÁS DE AQUINO é de talha dourada, de corpo reto e três eixos definidos por quatro colunas jónicas, assentes em plintos paralelepipédicos, almofadados. Ao centro, pequeno nicho em abóbada, contendo a imagem do orago, encimado por painel pintado a representar a Virgem com o Menino. Os eixos laterais possuem dois níveis de pinturas, a representar episódios da vida do orago. A estrutura remata em entablamento pontuado por querubins, encimado por tabela retangular vertical, flanqueada por colunas jónicas, que sustentam frontão triangular, pintado com a pomba do Espírito Santo; a tabela tem painel com a "Crucificação", ladeado por duas aletas em quarto de lua, com glórias de anjos. Altar paralelepipédico com o frontal ornado por apainelados pintados. No ARCO TRIUNFAL, a data "1702". Sobre o RETÁBULO-MOR, as armas da família Manuel, senhores de Tancos e Atalaia: "Esquartelado: o primeiro e o quarto de vermelho, com uma asa aberta de ouro, terminada por uma mão de carnação, empunhando uma espada de prata, guarnecida de ouro; o segundo e o terceiro de prata, com um leão de púrpura, armado e lampassado de azul" (Armorial: 340).

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Santarém)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADOR: José Ramalho (1696).

Cronologia

Séc. 16, início - construção do templo, talvez sobre uma pré-existência; 1538 - é sepultada na igreja Inês Fernandes; 1570 - sepultura no local de António Dinis Ovelho; 1578 - é sepultado na igreja António Vicente; 1585 - data no plinto da imagem da Virgem da fachada principal; 1661 - é sepultado na entrada da nave Tomás da Silveira, em sepultura própria, onde se encontra a sua mulher, Catarina Vaz; provável feitura do retábulo da capela de São Tomás de Aquino; 1685 - data na verga da porta da sacristia, indiciando uma obra, que corresponderá à colocação dos painéis do azulejo e pintura do teto da sacristia; 1696, 20 julho - Vicente Lourenço de Carvalho, morador na vila, contrata o entalhador José Ramalho para a execução do retábulo-mor (FERREIRA, vol. II, p. 525); 1702 - data no arco triunfal indicará o final das obras iniciadas em Seiscentos; 1758, 06 abril - nas Memórias Paroquiais, é referida a povoação como sendo de donatário, do Marquês de Tancos, com 270 fogos; a igreja está no meio da povoação, em posição elevada, e temo por orago Nossa Senhora da Conceição, com cinco altares, o mor, tendo o tabernáculo do Santíssimo, a imagem do orago, ladeada pelas de São Pedro, São Sebastião, São José e São Vicente Ferrer; no lado do Evangelho, o altar de Santo António, com as imagens de São Francisco e Santo Amaro, tendo, mais abaixo, no corpo da igreja, o altar das Almas com pintura antiga e uma cruz com o Crucificado; no lado oposto, o altar de Nossa Senhora do Rosário, ladeada por Santa Marta e Santa Luzia, com tribuna dourada e, mais abaixo, no corpo da igreja, a de São Tomás, arcebispo da Cantuária, com excelente pintura com episódios da vida do Santo, tendo no meio a imagem de vulto do mesmo; a igreja é de uma nave, com abóbada antiga, mandada fazer por D. Manuel; tem três irmandades, a de Santa Catarina, a de Nossa Senhora da Conceição e a das Almas; o pároco é prior, apresentado pelo Marquês de Tancos e com o rendimento de 125$000 e o pé de altar pode render cerca de 100$000; séc. 20 - colocação das tábuas provenientes da Igreja da Misericórdia, executadas nos sécs. 16 - 17, relacionáveis com a oficina de Simão Rodrigues; 1940 - o pároco pede ajuda para a reparação da igreja, encerrada há muitos anos ao culto e em estado de ruína, o que foi negado pela DGEMN pelo facto do imóvel não se encontrar classificado; 1949 - nesta data, apenas um dos nichos da fachada principal tem uma imagem muito degradada, não se percebendo o que representa; 1996, 13 maio - retificação da Designação de classificação, Declaração de Retificação n.º 10-E/96, DR, 1.ª série-B, n.º 127.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria, rebocada e pintada; modinaturas, colunas, pilastras, púlpito, pias de água benta, pia batismal, arcos, cunhais, cruz da fachada posterior, esculturas, coberturas e pavimentos em cantaria de calcário; portas, guarda do coro-alto e mobiliário de madeira; pavimento da nave com estrados de madeira; retábulos de talha dourada; azulejos tradicionais; coberturas em telha cerâmica.

Bibliografia

Armorial Lusitano. Genealogia e Heráldica. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Lda, 1961, p. 640; CARVALHO, Ayres de - «Documentário Artístico do Primeiro Quartel de Setecentos, Exarado nas Notas dos Tabeliães de Lisboa» in Separata da Revista Bracara Augusta. Braga: 1973, vol. XXVII, fasc. 63 (75), p. 18; FERREIRA, Sílvia Maria Cabrita Nogueira Amaral da Silva - A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras. Lisboa: s.n., 2009, 3 vols.. Texto policopiado. Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1949.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; Diocese de Santarém: Comissão Diocesana para os Bens Culturais

Documentação Administrativa

IHRU: PT DGEMN:DSARH-010/043-0020; DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, 1758, vol. 36, n.º 18, fls. 85 - 88

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 21 - revisão dos rebocos e pinturas exteriores.

Observações

*1 - DOF: Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Matriz de Tancos, incluindo o seu recheio, nomeadamente os azulejos e os retábulos de talha com pintura que revestem o seu interior, esculturas e pinturas ainda existentes.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2015 (no âmbito da parceria IHRU / Diocese de Santarém)

Actualização

 
 
 
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