Capela de São Lourenço

IPA.00002029
Portugal, Santarém, Tomar, União das freguesias de Tomar (São João Baptista) e Santa Maria dos Olivais
 
Capela construída no início do séc. 16, a assinalar o local onde se encontraram as tropas de D. João I e as do Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, a caminho do confronto decisivo em Aljubarrota, no dia 10 de agosto de 1385, dia de São Lourenço, quatro dias antes da batalha. Foi implantada num terreno onde Aires de Quental, promotor da obra, onde existiam as ferrarias régias e uma ponte de ligação à outra margem do rio Nabão, ainda referida em 1903 (SOUSA, 12). Trata-se de uma capela com elementos decorativos tardo-góticos ou manuelinos, bem visíveis no portal, de aresta biselada e com decoração recortada na jamba, formando um pequeno arco canopial, e na pia de água benta com decoração na mísula da base e inscrição delida no friso. No interior, mantém alguns azulejos hispano-mouriscos, de padrão de aresta, formando elementos geométricos e vegetalistas, a revestir a parede e a mesa de altar. É possível que os azulejos que revestem a nave sejam deste período ou mesmo mais tardio, já do séc. 17, altura em que o templo terá sofrido obras de remodelação, com a colocação do nicho e dos azulejos enxaquetados, na capela-mor. O arco triunfal apresenta uma estrutura semelhante ao existente na Capela de Santo António (v. IPA.00036163), revelando a sua contemporaneidade. No séc. 20, após longo período de ruína, foi reedificada por iniciativa do Ministério da Guerra, na ocasião das comemorações da Batalha de Aljubarrota, tendo sido colocado, em 1948, o azulejo na fachada exterior. ampliação do arco triunfal, de aresta em meia cana.
Número IPA Antigo: PT031418110010
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta poligonal composta por nave, antecedida por alpendre, e capela-mor semicircular, com sacristia adossada ao lado direito, de volumes articulados e escalonados, tendo coberturas diferenciada em telhados de uma (sacristia e capela-mor), duas (nave) e três (alpendre) águas, rematadas em beiradas simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, rematadas em friso. Fachada principal virada a sudoeste, antecedida por alpendre fechado por muros de alvenaria rebocada e pintada de branco, capeados a cantaria, onde assentam quatro pilares, que sustentam a estrutura de madeira do telhado, tendo pavimento em lajeado. Encontra-se elevado, com acesso por dois degraus frontais. A fachada remata em empena, truncada por cruz latina no vértice, tendo, no lado direito, sineira em cantaria, de volta perfeita. É rasgada por portal em arco de querena, de arestas biseladas e recortes internos; está ladeado por postigo quadrangular, protegido por grades de ferro. Fachada lateral esquerda cega, marcada, na nave, por banco de cantaria adossado. Fachada lateral direita marcada pelo corpo da sacristia, em esbarro, com porta elevada e de verga reta, rasgada na face sudoeste. Fachada posterior cega. INTERIOR com as fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por altos silhares de azulejo enxaquetado verde e branco, colocados em esquadria, tendo cobertura de madeira e pavimento em tijoleira. Arco triunfal de volta perfeita, em meia-cana, sobre impostas salientes e tendo, na base, pequenos elementos decorativos. Capela-mor de pequenas dimensões, em meia esfera, com as paredes revestidas a azulejo com dois níveis, o inferior com azulejos de padrão hispano-mourisco, de aresta, e o superior com azulejo enxaquetado, branco e azul, tendo cobertura em abóbada em quarto de esfera. Na parede testeira, nicho em cantaria, em abóbada de concha, assente em pilastras e remate em cornija. Altar paralelepipédico revestido a azulejos hispano-mouriscos, de aresta. No lado da Epístola, nicho de alfaias quadrangular, com o interior revestido a azulejos hispano-mouriscos *2.

Acessos

Tomar, Lugar de São Lourenço, Avenida Condestável D. Nuno Álvares Pereira. WGS84 (graus decimais): lat.: 39,591730; long.: -8,406127

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto 7 621, DG n.º 154 de 29 julho 1921 *1 / Abrangido pela Zona Geral de Proteção da Fonte de São Lourenço (IPA.00003405)

Enquadramento

Periurbano, isolado, implantado na margem direita do Rio Nabão, junta à estrada que liga Tomar a Lisboa, à saída da cidade, no denominado Lugar de São Lourenço. Situa-se num largo, situado entre a Estrada Nacional e o rio, criando um adro aberto, protegido por frades de cantaria, evitando o estacionamento desordenado no local, sendo pavimentado, junto à fachada lateral esquerda, por calçada. Na fachada posterior, o adro é seccionado por muro em alvenaria rebocada e pintada de branco, onde assentam candeeiros de iluminação pública e que o separa do Padrão de D. João I (v. IPA.00001965). O espaço é pontuado por árvores de grande porte, nomeadamente ciprestes. No lado oposto da via, situa-se a Fonte de São Lourenço (v. IPA.00003405).

Descrição Complementar

BANCO DE CANTARIA assente em consolas, com braços volutados e falso espaldar formado por azulejo de padrão camélia, azul e branco, encimado por painel de azulejo figurativo azul e branco, com moldura exterior recortada, formada por quartelões com urnas, enrolamentos, festões, encanastrados e rocalhas, que envolvem a cena da chegada das hostes de D. João I junto ao Condestável que o aguarda. Na base, cartela com a inscrição: "ENCONTRO / DO / MESTRE DE AVIZ / E D. NUNO ÁLVARES PEREIRA". No canto inferior direito, a inscrição: "Imaginou e dirigiu / Coronel Figueiredo Valente / Ex(ecutad)o na FÁBRICA VIUVA LAMEGO / Por Americo dos Santos / 10 de AGOSTO 1948". Junto a este, LÁPIDE com inscrição incisa e avivada a negro: "ESTA CAPELA E O PADRÃO JUNTO COMEMORAM / A JUNÇÃO DOS EXÉRCITOS DE D. JOÃO I / E DO CONDESTÁVEL D. NUNO ÁLVARES PEREIRA / NESTE LOCAL, DONDE PARTIRAM A 11 DE AGOSTO DE / 1385 AO ENCONTRO DO EXÉRCITO CASTELHANO QUE, / NO DIA 14 DO DITO MÊS, DERROTARAM / EM ALJUBARROTA. / ESTA LÁPIDE FOI COLOCADA EM 10 - VIII - 1918 / POR SUBSCRIÇÃO". No INTERIO DA NAVE, lápide retangular com inscrição incisa: "ESTA CAPELA FOI / REEDIFICADA PELO / MINIST(er)IO DA GVERRA / NO ANO DE 1925".

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Ministério da Guerra, Despacho do Ministro das Finanças, 08 novembro 1947 (SIPA: TXT.01825052) [não foi possível confirmar]

Época Construção

Séc. 15 / 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIROS: Anselmo Costa, Lda. (1984); Raul Marques da Graça (1944). OFICINA DE PINTURA DE AZULEJO: Viúva Lamego (1948). PINTOR DE AZULEJO: Américo dos Santos (1948).

Cronologia

Séc. 16, 1.º quartel - construção da capela encomendada, segundo a tradição, por Aires de Quental, feitor-mor de D. Manuel, no local onde existiam as ferrarias, desde 1518 (FRANÇA, 87); 1837, 19 junho - anúncio de ida à praça da Capela, então arruinada e sem culto, avaliada em 24$000 (ROSA, II, 458); 1842, 24 maio- no Diário de Governo é publicado um anúncio de venda da capela, então algo arruinada, por 24$000 (GUIMARÃES, 42); 1845, 08 julho - obras na capela sob a direção do vigário Francisco Antunes (ROSA, I, 79); 1862, 14 novembro -.José Maria Nunes requere à Câmara madeira para consertar o alpendre da capela, em total ruína, o que é diferido (ROSA, I, 230); 1863, 13 novembro - João de Campos Henriques requere à Câmara, a entidade responsável pela administração da capela, cal e madeira para o arranjo do alpendre, a que a edilidade acede doando a quantia de 10$000 (ROSA, I, 237); 1918, 08 julho - o Presidente da Comissão Executiva da Câmara recebe um ofício do tenente-coronel Garcês Teixeira a informar que seria necessário levar a cabo obras na capela, para esta se encontrar condigna no momento em que ocorressem as comemorações do encontro do exército de D. João I no local, pelo que pedia a ajuda da Câmara para o efeito, o que foi diferido (ROSA, IX, 447); 10 agosto - colocação de lápide na fachada lateral esquerda da capela; 1922 - reedificação da capela por iniciativa do Ministério da Guerra; 1928 - o alpendre está arruinado (A Cidade, 15-07-1928); 1947, 08 novembro - por Despacho do Ministro das Finanças, a capela terá sido cedida ao Ministério da Guerra (SIPA: TXT.01825052); 1948 - colocação do painel de azulejos e banco na parede norte pelo Ministério da Guerra, a comemorar a estada das tropas de D. João I antes da Batalha de Aljubarrota; o azulejo é pintado por Américo dos Santos, na Fábrica Viúva Lamego; 15 abril - data do auto de cedência do edifício pelo Ministério das Finanças ao Ministério de Guerra *3 (SIPA: TXT.01825052); 05 novembro - a DGEMN protesta com a Câmara pela colocação de um painel de azulejos de qualidade duvidosa, segundo o arquiteto chefe dos Monumentos Nacionais, sem ter sido consultada (SIPA: TXT.01825049); 22 novembro - a Câmara responde que não pode ser responsabilizada, pois o edifício pertence ao Ministério de Guerra (SIPA: TXT.01825052); 1965, 21 setembro - a Câmara pede licença para colocar mesas para piqueniques no local, respondendo a DGEMN que não tem qualquer inconveniente, mas a Junta Autónomo das Estradas, autoriza apenas três, devido à estrada ser estreita e não haver espaço para estacionamento no local (SIPA: TXT.01828213, TXT.01828214); 1982, 09 março - a CMTomar oficia a DGEMN referindo que a sacristia ameaça ruir a qualquer momento e existe uma infiltração na zona da nave, sendo a obra no valor de 50000$00 (SIP: TXT.01828403); séc. 20, anos 80 - desaparecimento de várias imagens e alfaias litúrgicas.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria, rebocada e pintada; modinaturas, pavimento do alpendre, nicho, lápide, banco, pilares e cruz em cantaria de calcário; estrutura dos tetos de madeira; silhares interiores, espaldar do banco exterior e painel de azulejo tradicional; cobertura em telha cerâmica; pavimentos em tijoleira.

Bibliografia

FRANÇA, José-Augusto - Tomar. Lisboa: Editorial Presença, 1994; GUIMARÃES, Vieira - Thomar Santa Iria. Lisboa: Livraria Coelho, 1927; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1949; SOUSA, J.M. - Thomar. Tomar: Typographia Silva Magalhães, 1903; ROSA, Amorim - História de Tomar. Santarém: Junta Distrital de Santarém???, 1965, vol, 1; ROSA, Alberto de Sousa Amorim - Anais do Município de Tomar… Tomar: Câmara Municipal, 1940, 1966, 1974, vols. I, II e IX; SOUSA, João Maria de - Noticia descriptiva e historica da cidade de Thomar. Rio Maior: Litografia Antunes, 1991, 2.ª ed. [1.ª ed. de 1903]; VELOSO, Carlos - «Azulejos de Tomar e arredores do séc. XVI ao XVIII» in Boletim Cultural e Informativo da Câmara Municipal de Tomar. Tomar: Câmara Municipal de Tomar, março 1991, n.º 14, pp. 203-223.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DRMLisboa

Documentação Administrativa

PT DGEMN:DRML-004-0973/4, PT DGEMN:DSARH-010/264-0134, PT DGEMN:DSARH-010/264-0196, PT DGEMN:DSARH-010/264-0207

Intervenção Realizada

DGEMN: 1944 - reconstrução da galilé, armação e cobertura do telhado, incluíndo cintas em betão, reparação de rebocos interiores e exteriores; obra adjudicadas a Raúl Marques da Graça por 20000$00; 1984 - obras de conservação: revisão da cobertura; construção de laje maciça sobre a sacristia para assentar o telhado; reparação de rebocos externos; obras adjudicadas a Anselmo Costa Lda. por 500000$00; 2001 - reparação das coberturas, rebocos exteriores e caiações; pinturas de caixilharia.

Observações

*1 - DOF: Monumentos comemorativos da passagem das tropas portuguesas para a Batalha de Aljubarrota, alargando a classificação do Padrão de D. João I, em 1910, a este edifício. *2 - os azulejos hispano-mouriscos são provenientes da demolida Capela de São Miguel de Tomar (VELOSO, 220). *3 - PM7 de Tomar.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2019

Actualização

 
 
 
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