Edifício da Livraria Bertrand

IPA.00020277
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Edifício de rendimento e estabelecimento comercial pombalino, com organização da fachada segundo os esquemas habituais para esta tipologia arquitectónica, aqui conciliados com a aplicação, nas 2 frentes do edifício, de azulejos monócromos de fabrico industrial. Além de se assumir como exemplo dos prédios de rendimento pombalinos revestidos a azulejo oitocentista, o edifício integra no seu piso térreo uma das mais antigas livrarias do país, contemporânea da data de construção do imóvel.
Número IPA Antigo: PT031106200628
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício        

Descrição

Planta rectangular, volume simples paralelepipédico, e cobertura efectuada por telhado a 3 águas. De 5 pisos, tem cunhais e soco com placagem de cantaria, e superfície murária integralmente revestida a azulejo monócromo padronado de produção industrial (excepto no que respeita ao piso térreo do alçado principal, em cantaria), animada pela abertura de vãos rectangulares com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal, a N., com piso térreo rasgado por montras de estabelecimentos comerciais *1 e respectivos acessos - estes vãos apresentam-se interligados, ao nível das vergas, por meio de filete esculpido com temática vegetalista. O 1º e 2º pisos definem-se pela presença de fenestrações de sacada com bandeira servidas por varandins de guarda em ferro fundido, com pinhas nos extremos, diferenciando-se, deste modo, do 3º andar apenas assinalado com janelas de peito. Reconhece-se um último piso separado dos anteriores por cornija, acima da qual se observam janelas de sacada servidas por varanda corrida - de base coincidente com a cornija e guarda metálica - que se estende ao alçado lateral O.. O edifício é superiormente rematado por platibanda em balaustrada ritmada por plintos e com urna no ângulo NO.. Quanto ao alçado lateral O., além do último piso assinalado pela presença de janelas de sacada, os restantes andares apresentam janelas rectangulares de peito, separadas do piso térreo - rasgado por montras - por friso de cantaria. INTERIOR: no piso térreo a livraria Bertrand com espaço definido pela sucessão, segundo um eixo longitudinal, de 7 salas rectangulares com cobertura em abóbada de aresta interligadas por corredor com cobertura em abóbada de berço *2. Destas diferencia-se a 1ª sala com mobiliário expositor de livros em madeira ainda original

Acessos

Rua Garrett, n.º 71 a 75; Rua Anchieta, n.º 31

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966) / Incluído na Zona de Proteção da Igreja de Nossa Senhora dos Mártires (v. IPA.00003141)

Enquadramento

Urbano. Incluído na malha urbana do Chiado, em quarteirão fazendo gaveto, dando para a Rua Garrett e para a Rua Anchieta. Na proximidade da igreja de Nossa Senhora dos Mártires (v. PT031106200085), em posição fronteira à Loja Gardénia (v. PT031106270164).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: edifício de rendimento / Comercial: loja

Utilização Actual

Residencial: edifício de rendimento / Comercial: loja

Propriedade

Privada: colectiva

Afectação

Sem afectacção

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: António do Couto Martins (1938). CONSTRUTOR CIVIL: Júlio dos Santos Roque (1938); René Touzet (1958-1964).

Cronologia

1732 - fundação da livraria, por dois livreiros franceses, os irmãos João José e Pedro Bertrand (amigos de Jacome Ratton), com o apoio de Pedro Faure (sogro do primeiro), no mesmo local onde ainda hoje se encontra, a então designada Rua da Figueira; 1747 - os irmãos Bertrand haviam mudado a localização da sua livraria, encontrando-se estabelecidos na esquina da Rua Direita do Loreto com a Rua do Norte; 1773 - encontrava-se a livraria de volta ao local inicial e onde ainda hoje se observa, em terreno que lhe havia cedido o marquês de Pombal (uma vez que o primitivo edifício desse lote havia ruido com o terramoto de 1755), sob a designação de Bertrand & Filhos; 1775 - a livraria passa a ter a designação de Viúva Bertrand & Filhos; 1875 - os Bertrand haviam-se ligado a outras famílias de livreiros, como os Rey, Borel e Martin e é um elemento desta última família, João Augusto Martin, que nesta data cede por trespasse a livraria a Augusto Saraiva de Carvalho; 1876 - o estabelecimento era de Carvalho & Cia. (sociedade constituída pelo estadista Saraiva de Carvalho, José Fontana, Nobre França, José Bastos, etc.); 1882 - finda a sociedade Carvalho & Cia., por morte do estadista, passando a livraria para o Dr. Mendonça Cortês; 1893 - aquisição da casa comercial por José Bastos; 1900 - reabertura da livraria sob a designação de José Bastos & Cia.; 1910 - aquisição da casa por Júlio Monteiro (conhecido também pelo apelido de Aillaud, que pertencia a um padrinho), depois associado a Francisco Alves (livreiro do Rio de Janeiro), formando-se a Aillaud & Alves Lda., a que sucedeu a Aillaud & Cia.; 1914 - residem no edifício Maria Emilia Martin e Maria Amélia Martin; 1919 - encontar-se instalada no edifício a firma Aillant, Alves & C.ª; 1925-1930 - é proprietário do n.º 31 da Rua Anchieta José Maria da Silva Pessanha; 1928-1949 - é inquilino do 2.º andar n.º 31 da Rua Anchieta Octavio Meneses de Sampaio; 1931, 26 Março - reorganização da Livraria Bertrand Lda. com elementos da Portugal Brasil; 1933, 26 Janeiro - a firma passa a ter a designação de Livraria Bertrand Lda.; 1938 - o lado do edifício voltado para a Rua Anchieta é ocupado pelo consultório médico de Tibério Maia Mendes; 1938, Maio - campanha de obras segundo projecto da responsabilidade do arquitecto António Couto Martins e do construtor civil Júlio dos Santos Roque; 1938-1969 - é proprietário do edifício compreendido entre a Rua da Anchieta, n.º 31, tornejando para a Rua Garret, n.º 69 a 75 a Companhia de Seguros Luso-Brasileira Sagres; 1958 - campanha de obras da responsabilidade do construtor civil René Touzet, com a abertura de vão em arco de volta perfeita entre a livraria e o armazém; 1964 - campanha de obras da responsabilidade do construtor civil René Touzet; 1979 - a companhia de Seguros Império é proprietária do edifício compreendido entre a Rua da Anchieta, nº. 31, tornejando para a Rua Garret, n.º 67 a 73; 2012, 17 outubro - publicação da abertura do procedimento de classificação do edifício, em Anúncio n.º 13585/2012, DR, 2.ª série, n.º 201; 2015, 16 abril - arquivamento do processo de classificação do edifício, publicado em Anúncio n.º 65/2015, DR, 2.ª série, n.º 74.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livro XII, Lisboa, s.d. ; CARVALHO, Pinto de (TINOP), Lisboa de Outrora, Lisboa, 1938 - 1939 ; COSTA, Mário, O Chiado Pitoresco e Elegante, Lisboa, 1965.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 170

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1907 - obras gerais de beneficiação; 1915 - lavagem e pintura de paramentos exteriores; 1919, Maio - projecto de alterações na fachada do edifício, alargamento de uma porta e reforço estrutural; 1925, Dezembro - colocação de duas vitrines; 1926, Março - reparações interiores, exteriores e dos telhados; 1926, Dezembro - reparações exteriores; INQUILINO: 1928, Julho - limpezas e reparações interiores e exteriores; 1928, Dezembro - abertura de porta interior no 2.º andar e reforço estrutural; PROPRIETÁRIO: 1930, Outubro - instalação de loiças sanitárias no 3º andar; 1931, Junho - substituição dos arcos de madeira de uma montra por outros em metal niquelado; INQUILINO: 1931, Jullho - alargamento de dois vãos interiores; 1938, Janeiro - colocação de letreiro; PROPRIETÁRIO: 1937, Dezembro - revestimento do cunhal que torneja para a Rua Anchieta com cantaria de mármore, substituição da vitrine existente por outra com caixilhos em metal cromado, gravação nas duas faces do cunhal e sobre a vitrine as palavras: "LIVRARIA BERTRAND, FUNDADA EM 1732"; INQUILINO: 1938, Maio - colocação de tabuleta na Rua da Anchieta com a indicação de consultório médico; PROPRIETÁRIO: 1938, Maio - alterações no cunhal que torneja para a Rua da Anchieta, construção de vitrines, fixação de letreiros em latão fundido, revestimento interior em madeira contraplacada, construção de prateleiras para exposição de livros e revistas, pinturas interiores; 1938, Dezembro - uniformização das fachadas da Rua Anchieta com revestimento azulejar; 1939, Março - tranformação de vão de porta em montra, obras gerais de beneficiação; 1939, Abril - abertura de vão de janela e transformação de porta em montra; INQUILINO: 1941, Agosto - reparações gerais e pinturas; PROPRIETÁRIO: 1943, Janeiro - reparações gerais e pinturas; 1943, Junho - reparações interiores; 1944, Novembro - reparações interiores; 1946, Fevereiro - reparação de canalizações; 1946, Julho - limpezas e beneficiações gerais; 1946, Dezembro - limpeza e arranjo de montras; 1948, Setembro - obras de limpeza e conservação geral; INQUILINO: 1949, Novembro - reparação e pintura de interiores do 2.º andar da Rua Anchieta; PROPRIETÁRIO: 1958, Outubro - obras de limpeza, pintura e beneficiações gerais; 1960, Julho - deslocação de dois vãos de comunicação entre os armazéns, instalação de um monta-cargas num pavilhão anexo às instalações; 1962, Setembro - obras exteriores de limpeza de mármores e envernizamento das madeiras das montras; 1964, Março - campanha de obras da responsabilidade do construtor civil René Touzet e reparação da chaminé; 1969, Junho - lavagem dos mármores polidos; 1979, Maio - substituição da telha à portuguesa por telha tipo lusa; 1995, Março - alterações interiores e exteriores, abertura de três vãos interiores de comunicação, deslocação da rampa existente no interior, transformação de dois vãos de porta em montras; 1999 - medidas de segurança contra incêndios.

Observações

*1 - Loja Picadilly e Livraria Bertrand. *2 - que se prolongam além do espaço definido pelo edifício em que se integram, afectando o piso térreo do edifício colateral a S..

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001

Actualização

 
 
 
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