Quinta do Campo / Granja do Campo

IPA.00020171
Portugal, Leiria, Nazaré, Valado dos Frades
 
Antiga granja cisterciense cujos espaços de apoio à actividade agrícola (adega, celeiros, cavalariças etc.), de planta em "U", mantendo, tanto quanto possível, a traça original sem alterações significativas a nível de dimensões e implantação, sobrevivendo com as suas características próprias às várias intervenções de que foram alvo. Palacete construído na década de 60 do séc. 19, está implantada numa área onde anteriormente se localizavam uma capela e a casa principal para a comunidade cisterciense ali fixada e que estariam em ruínas após o abandono do Mosteiro de Alcobaça. O palacete de traça oitocentista regular, equilibrada, simétrica e funcional possui coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas e dois pisos e é marcado por fenestração regular. Trata-se de uma das antigas granjas cistercienses dos Antigos Coutos do Mosteiro de Alcobaça, com construções desse período que ainda se encontram preservadas e uma das únicas antigas granjas que se encontra aberta ao público.
Número IPA Antigo: PT031011030031
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta    

Descrição

Conjunto constituído por palacete e antigos anexos agrícolas. Fachadas rebocadas e pintadas de amarelo e branco; caixilhos e portas pintados a azul e branco. Coberturas diferenciadas em telhados de 2 e 4 águas. PALACETE: planta longitudinal, simples, regular, de dois pisos, com coberturas homogéneas em telhados de quatro águas pontuados por chaminés e abertas por duas águas furtadas, com telhados de duas águas, uma na fachada principal (Norte) e a outra na posterior (Sul); as fachadas contornadas por passeio com pavimento em calçada à portuguesa, à excepção da fachada lateral direita, são delimitadas por cunhais em cantaria e pisos marcados por friso, percorridas por embasamento em cantaria; remate em cornija e beiral. O edifício possui fenestração regular, com vãos de moldura rectilínea. Fachada principal rasgada no 1º piso por 8 janelas e três portas tendo cada uma 2 degraus de acesso ao interior, sendo a do centro ladeada por 2 candeeiros; 2º piso com 11 janelas colocadas a eixo; na fachada posterior repete-se o padrão da principal com nove janelas no piso inferior, e 2 portas de acesso ao interior tendo a da direita um alpendre com cobertura em telhado de 3 águas; piso superior com onze janelas a eixo. Fachadas laterais com 4 janelas em cada um dos pisos. INTERIOR: as várias dependências do edifício desenvolvem-se a partir de um corredor central que atravessa longitudinalmente o imóvel. Possui pavimento de madeira no piso térreo, 8 quartos duplos com casa de banho privativa e três amplas salas, duas delas com fogões de sala em madeira ricamente trabalhados; a biblioteca apresenta tecto em estuque relevado a branco tendo os cantos enrolamentos de decoração vazada com elementos geométricos e fitomórficos; ao centro um medalhão ovalado rodeado por quatro mascarões que fazem ligação com 4 círculos com igual decoração vazada; sala de jantar apresenta decoração em grilhagem formando cruz em aspa e ao centro reserva tripartida com elementos vegetalistas e florão central; sala de pequenos almoços tem tecto em madeira decorado com elementos geométricos rectilíneos e circulares, estes com florão ao centro. ANTIGOS ANEXOS AGRÍCOLAS: planta longitudinal, simples e regular, disposta em U, de um e dois pisos. Coberturas diferenciadas com telhados de duas e três águas. Possui fenestração regular com vãos de verga curva, com fecho, e outros de moldura rectilínea e possui na fachada principal de antigo armazém, estábulo, prisão e pombal um óculo que corresponde ao antigo pombal As Janelas, de reduzidas dimensões e visíveis exteriormente no vão do antiga Cavalariça, marcam o espaço do antigo cárcere. Possui na fachada lateral de antigo estábulo e palheiro (O.) um alpendre metálico e apresenta escadas pétreas, adossadas, que ligam os dois pisos nas fachadas: lateral de antigo estábulo e palheiro (E.), lateral da adega (O.) e lateral da adega (E.). Nesta última encontra-se adossado um alpendre de madeira e telhado de três águas. Fachada principal relógio INTERIOR (ADEGA): os pisos são espaços amplos, com colunas metálicas, pintadas de vermelho, no piso térreo que suportam vigamento de madeira que corresponde ao pavimento no piso superior. O pavimento do piso térreo de lajes é interrompido por calçada. Possui dois tanques líticos de lagar, com as respectivas pias. ANTIGAS OFICINAS: planta longitudinal, simples e regular e encontra-se adossado à fachada lateral da Adega (Este) e à fachada principal do antigo lagar, actual escritório / recepção (oeste). Possui com telhados de duas águas, beiral e vãos de verga curva, com fecho, na fachada principal e posterior, que nesta última se articulam com janelas de moldura rectilínea. Um vão, de lintel recto e servido por escadas, permite a ligação entre o logradouro da fachada principal e o da posterior / parque de estacionamento. ANTIGO LAGAR: planta quadrangular, simples, adossado às antigas oficinas e antigo armazém. Coberturas homogéneas em telhados de 2 águas. Na fachada principal um friso ressaltado faz a demarcação dos dois pisos, com correspondência no interior. Possui vãos de verga curva, com fecho, e de perfil rectilíneo e duas aberturas circulares nas fachadas principal e posterior, esta última marcada por friso pétreos ressaltados. INTERIOR: no piso térreo possui quatro divisões e escada de acesso ao piso superior. ANTIGA CASA DO FEITOR: planta longitudinal, simples e regular, adossada a antigo armazém. Cobertura homogénea em telhados de 3 águas com remate em beiral. Foi construída no imóvel uma cave, para aproveitamento do desnível do terreno neste local. O edifício é marcado por vãos com lintel e peitoril ressaltado, ambos pétreos, com correspondência ao rés-do-chão, e com moldura rectilínea e lítica correspondendo à cave. Na fachada principal a porta de acesso ao interior é servida por um alpendre e por escadas de pedra. INTERIOR não observado.

Acessos

EM 551; Rua Carlos O'Neil, n.º 20

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Portaria n.º 1276/2005, DR, 2.ª série, n.º 243 de 21 dezembro 2005

Enquadramento

Rural, isolado, destacado. Implantado nos campos do Valado, na margem direita do rio Alcoa, fez parte integrante dos Coutos de Alcobaça. Encontra-se nas proximidades do monte de São Brás e das antigas margem da lagoa da Pederneira, drenada pelos Monges de Cister, a partir da Escola de Hidráulica Agrícola instalada na Granja. Parte do perímetro urbano de Valado de Frades encontra-se actualmente localizada no que foi outrora os limites da quinta, que se encontra demarcada por muros de alvenaria, rebocados e pintados de amarelo, com três portões de acesso, tendo 2 deles, a N. e a SE., um painel de azulejos com a inscrição QUINTA DO CAMPO; o de N. é policromo com moldura recortada e decoração vegetalista, datado e assinado, e o de SE., também recortado, é azul e branco. As dependências agrícolas da casa, adega, celeiros e cavalariças encontram-se dispostas em U circundando o pátio fronteiro da casa de habitação que tem a fachada posterior voltada para um jardim de forma triangular, contendo uma fonte e pequeno lago, que converge para uma construção circular, funcionando como miradouro sobre a várzea.

Descrição Complementar

AZULEJO: Painel azulejar, azul e branco, que apresenta a legenda "QUINTA DO CAMPO", moldurada por ornatos vegetalistas; Painel azulejar policromo com as legendas "QUINTA DO CAMPO", "G.Q. STA ANNA 1944" e "LISBOA R.S.". Possui moldura de concheados, grinaldas e motivos acantianos; ESTUQUES: o palacete possui várias salas com tectos de estuques, vegetalistas frutíferos e geométricos FONTE: fonte curvilínea, de pedra e com morfologia de concha, decorada com tritão que também servia de bica. MARCO: marco pétreo de delimitação territorial da Quinta do Campo, possui forma rectangular e apresenta a inscrição "Mco qta CPO 4"; RELÓGIO DE SOL: relógio de sol lítico que possui campo quadrangular, marcado pela respectiva numeração e por incisões diagonais, encimado por aletas convergentes.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: Pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Época moderna / Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 12 - 13 - Foi uma das dez granjas agrícolas a ser fundada pelos Cistercienses, durante o período de construção da Abadia de Alcobaça; 1296 - a Granja do Valado aparece referenciada no Auto de Demarcação das Igrejas dos Coutos de Alcobaça; 1291- terá sido criada uma escola de hidráulica agrícola a pedido do Rei D. Dinis; Séc. 14 - a granja do valado era uma escola agrícola, uma das melhores do coutos; Séc. 18 - O abade F. Manuel de Mendonça, primo do Marquês de Pombal, foi o principal impulsionador do enxugo dos campos do Valado; 1782 - foi efectuada a medida e demarcação da Quinta do Campo; 1833 - abandono do Abadia de Alcobaça por parte dos monges - neste período estavam trezentas carradas de palha vários alqueires de cereais (600 de milho, 117 de cevada - cerca de 225 moios de cereais e legumes), uma vez que foram recuperados, após o roubo, pelo Corregedor de Alcobaça António Luís Seabra. O milho foi vendido por 440 reis; 1836, 12 de Abril - termo de arrematação da Quinta do Campo do Valado, pelo Conde de Vila Real, feita perante a Comissão Interina da Junta de Crédito Público, esta aquisição terá sido realizada com compensação de prejuízos de guerra no valor de 100:000$000. Nesse termo estava especificado que este assumia a responsabilidade de abrir a Foz tantas quantas vezes o mar a assoreasse; 1840 / 1850 - a antiga Granja do Campo foi adquirida por Manuel Iglésias, um cidadão espanhol, que posteriormente começou a construção do actual palacete sobre as ruínas de uma antiga igreja e da casa principal que servia de alojamento à comunidade monástica ali residente. Nesta altura estes edifícios já se encontrariam em ruínas; 1862 - na Sessão Camarária (de Alcobaça) ficou registado o envio de um ofício da 1ª Repartição, 1ª Secção, n.º 161 enviado para a Câmara Municipal uma cópia do termo de arrematação da Quinta do Campo de Valado em 1836; 1864 - na sessão Camarária (Alcobaça) de 28 de Novembro deste ano é registado que foi feita a desobstrução da Foz do rio da Barca (um dos canais que atravessa a quinta do campo. O Governador Civil determinou que o Administrado do Concelho, com o acordo da Câmara, auxiliasse o Director das Obras Públicas no desempenho desta função. A Câmara nega essa responsabilidade, uma vez que antes da extinção das ordens religiosas os possuidores da Quinta tinham essa missão. Essa obrigação tinha sido garantida e realizada durante a posse do Conde de Vila Real, que tinha inclusive encarregado Porfírio José Caiado, da Praia, de conservar sempre aberta a Foz, recebendo como remuneração a exploração de uma extensa folha de campo ali contígua. Foi referido também que esse contrato tinha sido garantido por Manuel Iglésias, até Outubro de 1862, altura em que se deu a obstrução da Foz e a consequente inundação, motivo de queixas para os habitantes da Praia; 1866 - na sessão Camarária de 5 de Novembro deste ano tomou-se conhecimento da sentença do Tribunal da Relação de Lisboa, em que dispensava Manuel Iglésias e sua Mulher, enquanto possuidores da Quinta do Campo do Valado, da responsabilidade de desobstrução da Foz do ria da Barca; séc. 19 - os proprietários negoceiam a instalação no Valado da Estação de Caminhos de Ferro, segundo esse acordo a estação de Alcobaça, da Linha do Oeste, que então se encontrava em construção, seria instalada no Valado dos Frades. 1944 - foi colocada numa das entradas o painel azulejar com a legenda quinta do campo; 1946 - construção da antiga Casa do Feitor; 1989 / 1990 - obras de conservação no palacete; 1990 - inicio da exploração como turismo de habitação; 1993 - adaptação de antigos espaços agrícolas (antigos estábulos) em apartamentos; 1995 - nova adaptação de antigos espaços (antigos estábulos e viteleiros) agrícolas em apartamentos; 2003, 26 maio - despacho de homologação como Imóvel de Interesse Público do Ministro da Cultura.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Pedra; telha cerâmica: de telha de canudo e aba - com excepção das antigas oficinas que têm telha marselha; ladrilho cerâmico e azulejo industrial; vidro simples; estuque trabalhado e pintado; ferro forjado e fundido; alvenaria, tijolo, laje e madeira

Bibliografia

Autos do Tombo da Quinta do Campo, Treslado em Pública Forma dos Autos de Demarcação e Medição da Quinta do Campo, e mais cinco Justificações a ellas Juntas por Linhas, 1782; SEABRA, António Luiz, Observações do Ex-Corregedor de Alcobaça Sobres um Papel Enviado à Câmara dos Senhores Deputados Acerca da Arrecadação dos Bens do Mosteiro Daquella Villa, Lisboa, 1835; Alcobaça. Melhoramentos Industriais, Lisboa, 1861; BAPTISTA, João Maria, BAPTISTA DE OLIVEIRA, João Justino, Chorographia Moderna do Reino de Portugal, vol. IV, Lisboa, 1876, p. 27; NATIVIDADE, Manuel Vieira, O Mosteiro de Alcobaça. Notas Históricas, Coimbra, 1885; NATIVIDADE, Manuel Vieira, Alcobaça D'Outro Tempo. Notas Sobre a Indústria e Agricultura, Alcobaça, 1906; VALENÇA, Licínio, Um problema de hidráulica agrícola, Revista Agros, Série II, 4º ano, n.º 7/8, 1928, pp. 170 - 175; OLIVEIRA E SOUSA, José Pedro Saldanha, Coutos de Alcobaça. As Cartas de Povoação. Subsídios para a História da Agricultura em Portugal, Lisboa, 1929; VILLA NOVA, Bernardo, Alcobaça Através do Arquivo da sua Câmara Municipal (1836-1902), Alcobaça, 1940, pp. 32-34; NATIVIDADE, Manuel Vieira, Mosteiro e Coutos de Alcobaça. Alguns Capítulos Extraídos dos Manuscritos Inéditos do Autor e Publicados no Centenário do seu Nascimento, Alcobaça, 1960; SILVA, Carlos da, ALARCÃO, Alberto, CARDOSO, António Poppe Lopes, A Região a Oeste da Serra dos Candeeiros. Estudo económico-agrícola dos concelhos de Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha, Óbidos e Peniche, Lisboa, 1961; NATIVIDADE, Joaquim Vieira, As Granjas do Mosteiro de Alcobaça, in Obras Várias II, Alcobaça, 1969, pp. 59 - 79; NATIVIDADE, Joaquim Vieira, Os Monges Agrónomos do Mosteiro de Alcobaça, in Obras Várias II, Alcobaça, 1969, p. 44; SOUSA, Aurélio José Rodrigues de, PEDRO, Sérgio Leal, Valados dos Frades do Séc. XII ao Séc. XX, Valados dos Frades, 1988; GONÇALVES, Iria, O Património do Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, Lisboa, 1989; BARBOSA, Pedro Gomes, Povoamento e Estrutura Agrícola na Estremadura Central. Séc. XII a 1325, Lisboa, 1992; Maria Zulmira Albuquerque Furtado, Por Terras dos Antigos Coutos de Alcobaça. História, Arte e Tradição, Alcobaça, 1994, p. 192; REBELO, Domingos José Soares, Valados dos Frades: da 1ª Carta de Povoação (1259) ao Final do Século XX, Valado dos Frades, 1997; LAMEIRAS - CAMPAGNOLO, Maria Olímpia, CAMPAGNOLO, Henri, BRANCO, António Sanches, MONTEIRO, João Oliva, Marcas e Sinais de Cister in Actas Cister Espaços, Territórios, Paisagens, vol. II, Lisboa, Dezembro de 2000, p. 586; MARQUES, Maria Zulmira Albuquerque Furtadado, Rota dos Antigos Coutos de Alcobaça, Alcobaça, 2004; TERENO, Maria do Céu Simões, Architettura delle grange cistercensi del Monastero di Alcobaça: Quinta do Campo - Antica Grangia di Valado dos Frades, Revista Cistercense, ano XXI - n.º 21, 2004, pp. 221-238

Documentação Gráfica

CMN; Quinta do Campo

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; Quinta do Campo

Documentação Administrativa

ANTT; CMN; IPPAR

Intervenção Realizada

Proprietário: 1840 / 1850 - começou a construção do actual palacete sobre as ruínas de uma antiga igreja e um edifício que servia de alojamento à comunidade monástica ali residente; 1989 / 1990 - obras de conservação no palacete; 1993 - adaptação de antigos espaços agrícolas (antigos estábulos) em apartamentos; 1995 - nova adaptação de antigos espaços (antigos estábulos e viteleiros) agrícolas em apartamentos.

Observações

*1 - Inicialmente a palacete funcionava como duas casas independentes, tipo apartamentos, um piso para residência de Manuel Iglesias e sua família e o outro para residência de Eng. Amável Granjer e sua família; *2 - Relógio de sol será do período dos monges; *3 - A traça do edifício terá sido efectuada por Manuel Iglesias e terá contado com o apoio de uma técnico francês (SOUSA e PEDRO, 1988, p. 7); *4 - Terreno primitivo e os terrenos anexos do Centro de Assistência Social foram legados, à ordem de Nossa Senhora de Fátima, por D. Dolores e Guilhermina Iglesias (SOUSA e PEDRO, 1988, p. 19); *5 consta na lista de Composição e Identificação dos Espaços Culturais do Concelho da Nazaré, publicada no DR, Resolução do Conselho de Ministros n.º 7/97, de 16-01-1997; *6 - Em reunião do Conselho Consultivo do IPPAR foi aprovada a eventual classificação da Quinta do Campo

Autor e Data

Cecília Matias, Sónia Vazão 2005

Actualização

 
 
 
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