Palacete Fontes Pereira de Melo / Palacete Braancamp

IPA.00020082
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Palacete eclético de planta rectangular pouco pronunciada. Edifício de 4 pisos (um deles ao nível da cobertura e outro parcialmente enterrado), com superfície murária revestida, ao nível do embasamento, por placagem de cantaria de aparelho fendido, e em reboco pintado. Fachada principal dominada por um eixo central parcialmente separado por pilastras de cantaria e animado pelo rasgamento de janelas-portas, encimado por janelas de sacada servidas por varanda comum, sendo o conjunto sobrepujado, acima do remate em cornija, por pano de muro superiormente rematado por frontão curvo. Interior completamente dominado por amplo vestíbulo que se destaca como principal elemento de aparato e de organização da compartimentação interna, desenvolvida ao longo dos 4 alçados. A solução adoptada para o vestíbulo, sugere ao visitante um edifício de muito maior dimensão e aparato que aquele que, efectivamente, se reconhece nos restantes espaços. Destaca-se ainda o trabalho em madeira esculpida (atribuído ao entalhador Leandro Braga, 1839 - 1897), observado num dos principais espaços interiores, pela opção plástica adoptada e pela qualidade técnica de execução.
Número IPA Antigo: PT031106281027
 
Registo visualizado 549 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício        

Descrição

Planta rectangular compacta, volumetria paralelepipédica, cobertura efectuada por telhados a 4 águas perfuradas por clarabóia. De 4 pisos (um deles parcialmente enterrado e apenas visível do lado S. e outro, ao nível da cobertura), com cunhais em silharia fendida, embasamento revestido, com placagem de cantaria (também de silharia fendida, no alçado principal) e restante superfície murária, em reboco pintado. A mesma apresenta abertura de vãos com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a O., composto por 3 panos ritmados por pilastras de cantaria (de tratamento análogo ao dos cunhais), ao nível do 1º andar. Piso térreo separado por friso de cantaria, rasgado por 4 janelas-portas de verga ligeiramente curva, encimadas por janelas de sacada que assinalam o andar nobre: as 2 janelas centrais destacam-se pela verga curva destacada que ostentam e pela varanda comum com que se articulam (com base em cantaria e guarda em ferro fundido), relativamente às janelas dos extremos, servidas por varandim com guarda metálica idêntica. O alçado é superiormente rematado por cornija articulada com pequena platibanda em muro interrompida, ao centro, por pano de muro rasgado por 3 janelas de peito e sobrepujado de frontão curvo vazado por óculo. No lado E., regista-se corpo em madeira e vidro(*1) adossado ao alçado posterior (articulado com pequeno jardim). Alçado lateral S., a acompanhar o declive do terreno em que o edifício se encontra implantado, marcado pela abertura de 4 vãos - de verga recta com os ângulos boleados e molduramento ligeiramente saliente - por piso e por acesso secundário ao interior. INTERIOR: amplo vestíbulo de duplo pé-direito iluminado por clarabóia, superiormente articulado com galeria (delimitada por guarda metálica em ferro fundido), à qual se acede pelo lado N., através de escadaria de madeira de lanço curvo. Os compartimentos, dispõem-se ao longo dos 4 alçados e de forma directamente comunicante entre si, ao nível do andar nobre. Do lado E., escada de serviço conducente ao último piso (com compartimentos distribuídos em redor de caixa de luz) e ao andar, parcialmente enterrado que, desenvolvido ao longo do alçado lateral S., corresponde a zona de serviços.

Acessos

Pátio do Tijolo, n.º 25; Travessa do Conde de Soure, n.º 22

Protecção

Categoria: IIM - Imóvel de Interesse Municipal, Edital n.º 10/2013 da Câmara Municipal de Lisboa, Boletim Municipal n.º 995 (1.º Suplemento) de 14 março 2013 / Incluído na classificação do Bairro Alto (v. IPA.00005019)

Enquadramento

Urbano, adossado, destacado, em posição altimétrica dominante. Implantado em zona de confluência entre a malha urbana do Bairro Alto e a do Príncipe Real. O alçado principal do imóvel articula-se com um pátio de planta rectangular, parcialmente delimitado por muro e muito sobrelevado, relativamente à Tv. do Conde de Soure, com a qual a articula o alçado lateral

Descrição Complementar

ESTUQUE: o interior apresenta tectos, paredes e sobreportas animados com trabalhos decorativos escultóricos em estuque aos quais, ao nível do piso térreo, se aplicaram marmoreados; MADEIRA: merece atenção o trabalho em madeira entalhada atribuído ao entalhador oitocentista Leandro Braga, que preenche uma das paredes de um dos compartimentos do piso térreo (*2) - composto por camarim, ladeado por 2 painéis esculpidos com motivos vegetalistas e superiormente rematado por uma espécie de arquitrave animada ao centro, por 2 anjos tenentes

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Assistencial: organismo público de acção social

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 19, início - os terrenos do então denominado sítio do Moínho, são pertença dos condes de Soure que os aforam sucessivamente, sendo que um João Antunes vai adquirindo algumas parcelas, depois passadas, por sua morte, a um António Trancoso; 1804 - parte dos terrenos é vendida a Manuel Inocêncio Borges e é a este último, ao mencionado António Trancoso e aos herdeiros de um marceneiro Vidal que o conselheiro Anselmo Braancamp Freire (1817 - 1885) adquire os terrenos para edificação de um palácio para sua residência; 1878 - residia no palácio (no qual empreendera uma campanha de obras de remodelação e beneficiação, responsável designadamente pelo acrescento de um piso) o conselheiro Anselmo Braancamp Freire; 1885, 13 Novembro - falece no palácio Anselmo Braancamp, sendo o edifício arrendado ao também político Fontes Pereira de Melo (1819 - 1887); 1887, Janeiro - falece no palácio Fontes Pereira de Melo; 1917 - funciona no imóvel a Societé de l'École Française de Lisbonne, tendo o edifício sido para o efeito adquirido pelo Governo Francês aos herdeiros de Braancamp Freire; década de 30 - a École Française continuava a funcionar no edifício; 1945, 8 Maio - expropriação do imóvel pela Câmara Municipal de Lisboa, invocando como motivo o facto do mesmo estar abrangido pelos melhoramentos projectados para a zona compreendida entre as ruas do Século, D. Pedro V, da Rosa e Travessa do Conde de Soure), o Município, que adquire o imóvel por 512.200$00, permite a continuação do funcionamento da escola mediante o pagamento de uma renda mensal, enquanto não se concluísse o novo edifício da mesma, a construir em parcela de terreno cedido pela C.M.L. na Avenida Duarte Pacheco; 1952 - a Escola Francesa passa para as suas novas instalações, não deixando todavia o palácio pois continuam a decorrer aí os cursos nocturnos; 1962 - instalam-se no edifício serviços da Caixa de Previdência da Câmara Municipal de Lisboa; 2009 - projecto de alienação do edifício por parte da CML, para o transformar em Hotel de Charme, que foi chumbado pela Comissão Municipal de Habitação, tendo-se decidido reformular o projecto para utilização do imóvel.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro, azulejos, pintura de marmoreados

Bibliografia

CARVALHO, Filipe de, As Memórias de António Maria Fontes Pereira de Mello : Resenha Succinta dos seus Meritos e Serviços ao Paiz, Testemunhados Unanimemente por toda a Imprensa de Lisboa, Lisboa, 1887 ; CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga. O Bairro Alto, Vol. IV, Lisboa, 1903 ; ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, Lisboa, 1943 ; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livros V e VI, Lisboa, s.d. ; CARITA, Hélder, Bairro Alto - Tipologias e Modos Arquitectónicos, Lisboa, 1990 ; BRAGA, Pedro Bebiano, A Propósito da Cor do Palacete Braancamp, Lisboa, 1992 (texto policopiado, G.E.O.) ; BRAGA, Pedro Bebiano, Leando Braga e as Arttes Decorativas 1839 - 1897, Lisboa, 1997 ; GALANTE, Zaida, Os Palácios de Lisboa : da oropriedade privada ao edifício municipal, in Cadernos do Arquivo Municipal, Nº 3, Lisboa, 1999 ; FRANÇA, José-Augusto, Monte Olivete Minha Aldeia, Lisboa, 2001 ; TRIGO, Jorge, O Palácio Braancamp e os seus Proprietários, Lisboa, 2002

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo de Obras, Procº nº 16.008

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 16.008

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1917 - construção de instalações sanitárias (com vista ao funcionamento da École Française); 1918 - construção de um anexo, destinado a funcionar como refeitório e de um hangar de abrigo no pátio; 1933 - obras de conservação e beneficiação geral; 1937 - construção de uma pérgula; 1938 - obras de conservação e beneficiação geral, reparação da cobertura; 1941 - obras de conservação e beneficiação geral (interior e exterior); 1949 - obras de conservação e beneficiação geral; 2000 - colocação de tecto falso na estufa; 2001 - campanha de obras de beneficiação geral (interior e exterior).

Observações

*1 - denominado como estufa, mantém sob o tecto falso, recentemente, aplicado, estrutura da cobertura original, em madeira, vasada por clarabóia. *2 - correspondente ao quarto de Fontes Pereira de Melo, onde o mesmo viria a falecer.

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 2002

Actualização

 
 
 
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