Paço dos Duques de Bragança / Paço dos Condes de Barcelos

IPA.00001925
Portugal, Braga, Barcelos, União das freguesias de Barcelos, Vila Boa e Vila Frescainha (São Martinho e São Pedro)
 
Arquitectura civil residencial, gótica. Paço condal e ducal fortificado, de planta irregular, com a forma predominante de um L, composta actualmente por três corpos rectangulares, de diferentes tamanhos, dois deles dispostos em eixo, assente em plataforma poligonal de granito. Do paço apenas restam parte das fachadas e algumas paredes interiores, assim como três dos cinco corpos que o formariam, e que se uniriam, à torre que se erguia sobre a ponte. Apresenta claramente um marcada influência militar, que se insere bem nas soluções da Idade Média tardia em que a arquitectura militar e a palaciana se tenderam a miscigenar (ALMEIDA, 1990), originalmente com remates em merlões, ligado a uma das torres da muralha que o envolvia, assente sobre plataforma de feições também militares, com panos em talude, remate em cordão e parapeito, assentuadas no séc. 19 com a colocação de merlões e bases para guaritas, que hoje em dia já não existem. As fachadas, em aparelho de granito, de dois registos, são rasgadas por portais em arco quebrado e angular e por janelas de verga recta, algumas com cruzeta e conversadeiras interiormente. No interior subsistem ainda alguns fogões de sala em granito com altas chaminés circulares. Estas características são em tudo semelhantes ao Paço Ducal de Guimarães (v. PT010308340013), também ele construído por volta da mesma altura por D. Afonso, também com inspiração em modelos do Norte da Europa, nomeadamente de França, nos remates em merlões e na forma dos altos e agudos telhados que também existiriam no paço de Barcelos e que coroariam as chamadas "casas torres". O recurso às janelas cruzetadas é uma influência claramente francesa, difundida em diversos palácios a partir do séc. 14. Esta influência poder-se-á explicar pelas viagens de D. Afonso à Europa e aos lugares santos que este havia efectuado antes de iniciar a construção do paço. O seu lugar de implantação privilegiado, que seria originalmente completamente cercado pelas muralhas, assim como o seu carácter marcadamente militar, aproveitando o morro granítico em frente à ponte e uma das principais entradas na antiga vila, levaram a que fosse considerado ao longo do tempo como "o castelo" ou "o paço fortaleza" de Barcelos, apesar desta vila nunca ter tido castelo para residência do alcaide. O Paço de Barcelos é juntamente com o Paço de Guimarães dos poucos exemplos em Portugal de arquitectura residencial do final da Idade Média, chegado até nós, com influência bastante marcada por modelos do norte da Europa. O Paço de Barcelos devido ao local onde se implanta, limitado a S. pelo rio, e a N. pela Colegiada, nunca terá tido oportunidade para se desenvolver, razão pelo qual teria ficado inacabado do lado da Colegiada e progressivamente abandonado pela Casa de Bragança, em detrimento dos seus grandes Paços em Guimarães e posteriormente em Vila Viçosa (v. PT040714030009).
Número IPA Antigo: PT010302140002
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial senhorial  Paço senhorial    

Descrição

Plataforma de planta poligonal, onde se erguem ao centro as ruínas do paço, de planta irregular, com a forma predominante de um L, composta por três corpos rectangulares, de diferentes tamanhos, dois deles dispostos em eixo, no sentido E. / O., no mais longo já não existem as paredes que formavam o ângulo SE., adossando-se ao extremo deste, e em parte ao outro corpo, um outro mais pequeno. Estes corpos apenas conservam as paredes até ao nível do arranque dos telhados, sendo ainda visíveis os vestígios de outros dois corpos, também rectangulares, que se adossavam a N. e a S., entre os ainda hoje existentes. Plataforma de panos em talude, de granito de aparelho rusticado, cunhais com alhetas, com porta em arco quebrado ladeada por frestas, de acesso a espaço ocupado pela Junta de Freguesia, no lado E. e lápide com inscrição, no pano S., virado ao rio. Remate com cordão e parapeitos. Paço com fachadas em granito, de aparelho isódomo, já sem remates, parcialmente destruídas, com dois registos. Fachada N. de três panos, o central com demarcação de um outro corpo já destruído, rasgada ao nível do primeiro registo, no pano do corpo destruído, por duas portas uma em arco abatido e outra mais pequena em arco angular, possuindo entre estas painel de azulejos figurativos, monocromos a azul, e no pano do extremo esquerdo por porta em arco quebrado, ladeada superiormente, pela esquerda, por outro painel de azulejos figurativos, monocromos a azul. Segundo registo com pano do extremo direito com janelão de cruzeta, pano central com três portas de verga recta, desalinhadas, e pano do extremo esquerdo com pequena janela em capialço, e três janelas, a central, desalinhada, e as laterais com cruzeta. O pano central corresponderia outrora a uma parede interior, sendo ainda visíveis os sulcos onde encaixariam as traves de suporte do soalho. Fachada O. com porta em arco angular, ladeada pela esquerda por par de janelas de verga recta, e elevado ao centro, acima destas, pano de chaminé, terminado em alto canudo em granito. A ladear a chaminé, ao nível do segundo registo, dois janelões em cruzeta. Fachada S. marcada por corpo central avançado, ladeado do lado esquerdo por pano que corresponderia a parede interior de corpo já desaparecido, também com sulcos de travejamento do soalho entre pisos, possuindo no primeiro registo porta em arco angular e mísula com carranca de guerreiro, representando o fundador mítico de Barcelos, e no segundo porta em arco em arco abatido, e do lado direito apenas vestígios do que seria outro pano, com arranque de arco quebrado junto ao corpo central. Este último apresenta no pano lateral esquerdo duas portas de verga recta em cada uma dos registos, e no pano frontal e lateral oposto, arco quebrado no primeiro registo e janela rectangular jacente no segundo, junto ao cunhal. Da fachada exterior E., já nada resta, sendo apenas visíveis as paredes que seria interiores, do corpo mais longo, com portas em arco abatido e quebrado, no primeiro piso, e os vãos das janelas, as de cruzeta, com conversadeiras, e fogão de sala, no segundo. No interior do corpo do extremo O. são ainda visíveis os sulcos de encaixe do travejamento do soalho, assim como as mísulas de suporte do mesmo e ao nível do que seria o segundo piso as conversadeiras dos janelões de cruzeta e o fogão de sala embutido na parede, com boca da lareira em arco abatido.

Acessos

Rua Dr. Miguel Fonseca, Largo do Munícipio

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto 16-06-1910, DG nº 136 de 23 Junho 1910 *1 / ZEP, Portaria, DG 2ª série, nº 8 de 11 Janeiro 1954

Enquadramento

Urbano, isolado, em pleno centro histórico de Barcelos, ribeirinho, implantado em plataforma elevada, na margem N. do rio Cávado, em terreno de acentuado declive. É rodeado, a N. pela Igreja Matriz de Barcelos (v. PT010302140007), e em quota mais baixa, a NO., pelo Pelourinho e Solar dos Pinheiros (v. PT010302140009 e PT010302140003), a S. pela Ponte de Barcelos e Azenha da Ponte (v. PT010302130004 e PT010302140134) e a SE. pela Casa de Felgueiras Gayo. Na proximidade, a N. o edifício da Câmara Municipal de Barcelos (v. PT010302140112). Acesso ao terreiro que circunda o paço junto ao ângulo NO. da plataforma onde este assenta, por escadaria que culmina em pequeno portão de ferro entre plintos de granito, com gradeamento lateral.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: Duas inscrições comemorativas gravadas em lápide rectangular disposta na vertical, existente no pano da plataforma do paço; inscrição superior em latim com moldura de traço simples; granito; tipo de letra: capital quadrada; leitura: (inscrição superior) AETERNIT. SACR. IMMA=CULATISSIMAE CONCEPTIONI MARIAE JOAN. IV. PORTUGALL. REX. UNA CUM GENERAL COMITIIS SEET REGNA SUA SUBANNUO CENSU TRIBUTARIA PUBLICE VOVIT. AT QUE DEIPARAM IN IMPERII TUTELAREM ELECTAM ALABE ORI=GINALI PRAESERVATA PERPETUO DEFENSURU IURAMENTO FIRMAVIT VIVERET UT PIETAS LUSITAN. HOC VIVO LAPIDE MEMORIALE PERENNE EXARARI IUSSIT ANN. CHRISTI MDCXLXI IMPERII SUI VI ANNO 1654; tradução: D. João IV, rei de Portugal, juntamente com suas Cortes Gerais prometeu em voto público à Imaculada Conceição de Maria, a si e aos seus reinos tributários com tributo anual. E confirmou com juramento perpétuo que havia de defender a Mãe de Deus, eleita para tutelar o império, preservada da mancha original. Vivessem de sorte, que a piedade lusitana mandou gravar em viva pedra este memorial eterno no ano 1646 do nascimento de Jesus Cristo, sexto do seu império. Ano de 1654; leitura (inscrição inferior) RESTAURADA NO ANO DAS COMEMORAÇÕES CENTENÁRIAS 1940.

Utilização Inicial

Residencial: paço senhorial

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: Municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: Alberto Monteiro (1890).

Cronologia

1370 / 1371 - Nascimento de D. Afonso, 8º Conde de Barcelos, e 1º Duque de Bragança, filho bastardo de D. João I, Mestre de Avis, e de Inês Pires, filha de Pedro Esteves, o "Barbadão" e de Maria Anes; D. Afonso é criado em Leiria por Gomes Martins de Lemos e sua mulher Mécia Vasques de Góis; posteriormente o seu pai manda-o para o estrangeiro, para parte incerta; 1383 - quando D. João I sobe ao trono traz para Portugal o seu filho D. Afonso; 1398, 26 Julho - D. João I arma cavaleiro o seu filho D. Afonso; 1401, 20 Outubro - o rei legitima o seu filho; 1 Novembro - contrato de casamento de D. Afonso com D. Beatriz Pereira de Alvim, filha de D. Nuno Álvares Pereira, em que este lhe doa a vila e o Castelo de Chaves (v. PT011703510004) e a terra de Barcelos; 8 Novembro - celebração do casamento entre D. Afonso e D. Beatriz Alvim; D. Afonso resolve mandar construir um paço em Barcelos e uma cerca defensiva em redor da vila, da qual Tristão Gomes Pinheiro é inspector de obras; por carta de D. João I a região de Entre Douro e Minho é obrigada a fornecer "talha" para as obras do paço; 1406 - os habitantes de Azurara queixam-se de pagarem taxas para a construção dos muros e torres de Barcelos, obras iniciadas pelo conde D. Afonso; 1413, 10 Agosto - por carta régia são isentos os moradores de Azurara se servirem nas obras do paço; Martim Gomes era ouvidor das obras do paço; 1414 / 1415 - D. Beatriz Pereira Alvim morre em Chaves, segundo alguns autores de parto, sendo sepultada na Igreja de Santa Clara em Vila do Conde (v. PT01316280004); 1415 - aquando da conquista de Ceuta, o conde D. Afonso trouxe muitos despojos do Palácio de Zalabenzala para servirem na obra do seu paço em Barcelos, nomeadamente um tecto de uma sala, diversas colunas de alabastro, duas mesas de mármore e uma mesa de jaspe que foi para a Ermida de Nossa Senhora da Franqueira (v. 0302590015); 1425 - os paços estariam já concluídos, pois segundo um documento de 1450 do arquivo da Câmara Municipal de Ponte de Lima, as obras estariam concluídas à mais de 25 anos; 1442 - D. Afonso V concede a D. Afonso o ducado de Bragança, tornando-se o 1º Duque de Bragança; 1450 - segundo mesmo documento do arquivo da Câmara Municipal de Ponte de Lima, o futuro 2º Duque de Bragança, D. Fernando I, havia mandado fazer grandes obras no paço, construído o primeiro piso da Torre da Ponte, assim como nos obras nos muros que a circundam, ainda em vida de seu Pai, D. Afonso; segundo o mesmo documento as acomodações do paço eram tão boas que "vossa mercê e a Srª. Rª. poderam pousar e o duque e sua mulher serem bem aposentados"; 1458, 30 Agosto - por carta passada em Évora, D. Afonso, Duque de Bragança torna-se Regente durante a ausência de D. Afonso V em África; 1461 - D. Afonso, Duque de Bragança, morre no Castelo de Chaves, sendo sepultado em campa rasa na Igreja Matriz da vila (v. PT011703500021); sucede-lhe o seu filho D. Fernando I como 9º Conde de Barcelos e 2º Duque de Bragança, casado com D. Joana de Castro, filha de D. João de Castro, Senhor de Cadaval e de D. Leonor de Acuña Giron; 1478 - falecimento de D. Fernando I, sucedendo-lhe o seu filho D. Fernando II, já Marquês de Vila Viçosa, como 10º Conde de Barcelos e 3º Duque de Bragança, casado com em segundas núpcias com D. Isabel, infanta de Portugal, filha de D. Fernando, 2º Duque de Viseu e filho do rei D. Duarte, e D. Beatriz, infanta de Portugal e neta de D. João I; 1481 - D. Fernando II manda fazer obras nas casas inacabadas do paço, a N., e acrescenta o último piso na Torre da Ponte; estas obras são feitas com dinheiro cobrado por D. Fernando II com autorização régia de D. Afonso V; 1482, 1 Maio - queixa do Procurador de Ponte de Lima nas Cortes de Évora, alegando que o dinheiro cobrado para as obras de Barcelos chegava para construir 3 cercas e que a residência ducal mais parecia um fortaleza; 1484, 28 Agosto - com a morte de D. Fernando, 10º Conde de Barcelos e 3º Duque de Bragança, degolado em Évora, por ordem de D. João II, todos os bens da Casa de Bragança são confiscados e integrados nos bens da Coroa; 1491, 2 Setembro - por carta de D. João II, o paço é dado para a residência do Alcaide-mor de Barcelos e Capitão-Fronteiro, Francisco de Mendanha, excepto as casas e curral que também pertenciam ao paço, mas estavam aforadas; 1496 - após a morte de D. João II, o rei D. Manuel manda regressar os herdeiros da Casa de Bragança, exilados em Espanha, e restitui da D. Jaime, 4º Duque de Bragança, todas as terras, honras e regalias que os reis anteriores já haviam dado, à excepção de Guimarães que havia sido dado ao seu filho, o Infante D. Duarte; D. Jaime pede que sejam incluídas nas terras restituídas as que haviam sido dados por D. Nuno Álvares Pereira, Barcelos inclusive; 18 Junho - carta feita em Setúbal, de D. Manuel deferindo este requerimento de D. Jaime; 1527 - Censo dando conta que Barcelos "tem por fortaleza os paços do Duque"; 1530 - D. Jaime tendo em vista, provavelmente, a ampliação do paço, para N., pede autorização ao Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa para que seja demolida a Igreja Matriz e transferida para fora das muralhas, alegando falta de segurança desta, na medida em que se encontrava demasiado perto das muralhas e que em tempo de guerra poderia ser derrubada; 1562, 5 Agosto - o rei D. Sebastião concede o título de Duque de Barcelos a D. João I, 13º Conde de Barcelos e 6º Duque de Bragança; 1601, 13 Abril - por provisão de Filipe II é feito o Tombo dos bens da Casa de Bragança; 1609, 15 Setembro - é feita a medição do Paço de Barcelos para constar do referido Tombo; o paço que já estava abandonado é descrito como "seis casas torres de que uma delas que é a que cabe sobre a ponte não tem sobrado nem tecto e é a mais alta de todas, e pela banda de fora tem uma varanda estreita de pedra ao redor dela quase pelo meio e as três casas torres que se seguem atrás desta tem seus tectos telhados de telhões grandes sem nenhum sobrado, e as duas casas mais que estão para a banda do norte e nascente, não telhados nem sobrados e a que está para a banda da Rua do Priol serve de quintal e outras que se não acabaram que estão para a banda do norte servem de quintal e partem do norte com a Igreja Colegiada e do sul com a dita ponte e do nascente com o Rossio e Rua chamada do Priol e do poente com as casas reguengas de B. Machado, por serventia da escada de pedra no meio que vai da igreja para a ponte e postigo da dita vila esta obra é de pedra lavrada de esquadria grande e formosa"; 1630 / 1631 - a Câmara Municipal por ocasião das obras da ponte manda colocar na Torre da Ponte a Fonte de Santa Mónica; 1631, 4 Janeiro - em sessão da Câmara Municipal é resolvido mandar prender Diogo de Mendanha, no Paço de Barcelos, por este não querer tomar posse do cargo de Almotacé, para que fora eleito; 1640 - com a ascensão ao trono de D. João IV, 15º Conde de Barcelos, 3º Duque de Barcelos e 8º Duque de Bragança, o paço passa a fazer parte dos bens da Casa Real; 1654, 30 Junho - por ordem de D. João IV foi colocada na torre da ponte uma lápide com inscrição, alusiva à consagração do reino à Imaculada Conceição de Maria; 1704, 14 Junho - D. Catarina de Bragança, Rainha de Inglaterra e Regente de Portugal, na ausência de seu irmão D. Pedro II, a pedido dos cónegos da Colegiada, dá a pedra do paço para as obras da torre sineira; 1706, 2 Fevereiro - é feita uma nova medição do paço, descrevendo-o da seguinte forma "tem o Duque nosso Senhor nesta Vila de Barcelos uns Paços dentro dela que estão sobre a ponte (...) que medidos de nascente ao poente tem 47 varas partindo pelo sul com a Rua por onde se entra na dita ponte para esta vila e pelo nascente tem de largo 15 varas testando na dita Rua e penedos junto dos ditos paços e pelo norte tem de comprido 39 varas partindo com o adro, e Igreja Matriz da Colegiada desta mesma vila e pelo poente tem de largo 35 varas até topar no muro, testando na serventia que desse da dita igreja para a mesma ponte; e constam os ditos paços de seis casas e alguma terra junto delas a modo de quintal para a parte do sul, e todas as ditas casa estão descobertas sem telhados nem sobrados, e uma das ditas casa é a mais alta de todas elas e cai sobre a dita ponte, com sua varanda estreita à roda da dita casa, e todas elas são de pedra de esquadria e tem suas portas e janelas e chaminés, e algumas ameias por cima das paredes"; 1718 - por não se ter feito a obra da torre sineira, o D. Prior a instâncias da Câmara e dos administradores da fábrica da Colegiada faz uma exposição a D. João V para pedir a pedra que havia sido prometida; 12 Agosto - provisão de D. João V para se proceder a inquirição; 7 Outubro - procede-se à inquirição para se retirar pedra do paço para a obra da torre da Colegiada; 1730 / 1733 - colocação da estátua representando Barcelos *2 sobre a porta S. da Torre da Ponte; 1758 - segundo as memórias paroquiais feitas após o terramoto de 1755, o Reverendo Pedro Ribeiro de Gouveia, pároco coadjutor na Colegiada, apenas refere alguns estragos nas ameias da muralha, não fazendo qualquer alusão a estragos no paço; o paço é descrito da seguinte forma "palácio dos Duques de Bragança da Sereníssima Casa de Bragança, o qual tem uma soberba e muito levantada torre com esta unida à formosa ponte, que dá entrada pela porta principal da dita vila (...) no interior desta torre que de norte a sul tem 75 palmos e de nascente a poente 33 está um tanque com uma milagrosa imagem de Santa Mónica esculpida em pedra..."; 1785 - segundo um viajante havia ainda à entrada da vila, sobre a ponte um grande torreão (Torre da Ponte) que fazia parte dos paços da vila; 1800, 24 Janeiro - pelas 6 da manhã a Torre da Ponte e parte do paço que estava a ela ligado desmoronam-se; em sessão camarária é chamado o capitão de engenharia Custódio José Gomes de Vilas Boas para vir a Barcelos para se decidir o que se haveria de fazer com as ruínas do paço e da torre da ponte; a passagem na ponte é feita provisoriamente por uma barca, pois os destroços da torre obstruíram completamente a passagem; 26 Janeiro - em sessão camarária, na qual estava presente o engenheiro Custódio José Gomes de Vilas Boas, a vereação e o provedor da Casa de Bragança, é decidido desobstruir a ponte e deitar abaixo o resto das paredes da torre que ficaram de pé, assim como dois panos de paredes do paço que ameaçavam ruína; a causa do desmoronamento foi atribuída ao mau estado dos telhados ou à ausência deles que permitiu a entrada e infiltrações da água das chuvas; 1802 - é encarregado o Corregedor da comarca de informar o rei se valeria a pena a reedificação da Torre da Ponte e quais as obras que se necessitava de fazer para esse fim; 3 Março - em sessão camarária refere-se a necessidade de apear os restos da torre e que quanto às obras a fazer era preciso primeiramente um projecto; 1808, 13 Agosto - em sessão a Câmara decide consultar o Príncipe Regente sobre a possibilidade de se deitar abaixo uma parede da fachada S. que ameaçava ruína; 1820 / 1822 - durante as funções de procurador da Câmara, José Simões Gomes autoriza a demolição de várias paredes do paço e a venda da pedra para diversas construções; é demolido parte do muro voltado à Colegiada e todo o muro E. até a torre do lado S., assim como várias chaminés e varandas do lado O.; 1825, 7 Maio - após a aprovação régia é decidido apear o que restava da Torre da Ponte e fazer um paredão que ia deste o arco do muro da torre até à casa do Sr. José de Magalhães e Meneses; é reedificada a parede S. da ala E. e coberto com telhado para ser instalado um teatro; 1829, 14 Novembro - o procurador Domingos Martins Ribeiro de Sousa Costa apresenta um requerimento para que seja exigido à viúva de José Simões Gomes uma indemnização pela demolição e venda das pedras do paço; o requerimento refere que haviam sido retirados 10 000 carros de pedra do paço; é decidida dar execução à ordem régia de 1820 para demolir o corpo voltado à Colegiada; 1838 - é instalado na ala E. um pequeno teatro que veio a ser destruído por um incêndio; 1852 - o matadouro e uma habitação em Barcelinhos recebem pedra do paço para integração na sua construção; 1857, 2 Setembro - a Câmara Municipal aprova a demolição da muralha; 1867 - segundo a descrição feita pelo Abade do Louro a Torre da Ponte tinha 3 portas, a S. voltada à ponte, a E. voltada à Rua das Flores, actual Rua Faria Barbosa, e a O. voltada à Rua do Terreiro e Pelames, actual Rua dos Duques de Bragança. Dentro da torre havia um tanque com uma imagem de Santa Mónica gravada por cima da bica. A água da fonte vinha do chafariz da Praça Municipal (v. PT010302140075). Sobre a porta S. estava uma estátua de Barcelos e por debaixo dela uma lápide com inscrição; 1870 - foi demolido por um particular o cunhal SO., para que este pudesse ver a sua quinta em Barcelinhos; a Casa de Bragança compra umas casas junto ao paço na antiga Rua das Flores; 1871, 4 Março - a Câmara requere autorização para demolir o que restava do paço para aí ser feito um jardim público; o requerimento é entregue ao deputado Joaquim António Pais de Vilas Boas, para que este o fizesse chegar ao rei D. Luís, mas o deputado não o entrega; 1874, 30 Junho - por escritura o príncipe D. Carlos, futuro rei, doa o que restava do paço à Câmara Municipal, ficando esta obrigada a conservar as ruínas, a dar-lhe utilidade e a ajardinar os terrenos em redor destas; a Casa de Bragança autoriza o administrador geral a vender à Câmara Municipal umas casas que a Casa de Bragança havia comprado na Rua das Flores, para que a Câmara as demolisse e pudesse ser melhorado o aspecto em redor do paço; 1876, 8 Dezembro - em sessão a Câmara decide encarregar o arquitecto da Câmara Municipal do Porto, Gallo Júnior da execução de um projecto de restauro do paço; 1886, 4 Junho - António Augusto Vieira é encarregado pela Câmara da elaboração de um novo projecto de restauro; 1890, 1 Junho - segundo o jornal "Comércio de Barcelos" o Governo concedeu a pedido da Câmara um subsídio de 3 contos de réis para a reconstrução do paço, vulgarmente conhecido por "Torres"; 28 Novembro - o Capitão de Engenharia Alberto Monteiro é encarregado da elaboração de novo projecto pela Câmara Municipal; do seu projecto são apenas feitos os muros com merlões que envolvem as ruínas; posteriormente os merlões são retirados e usados nas obras da Igreja Matriz; o Presidente da Câmara, Dr. José Novais manda demolir as casas que se haviam pertencido à Casa de Bragança e que situavam junto ao paço; é construído um paredão para proteger o morro; 1891, 23 Fevereiro - começam as obras dos muros do paço; 1903, 9 Fevereiro - novo projecto de restauro do Arquitecto Ernest Korrodi que previa a adaptação do edifício a biblioteca e museu; este projecto resultava numa reconstrução revivalista, alterando bastante a traça primitiva, abrindo novos vãos e unido telhados; o Ministro das Obras Públicas, Conde de Paço Vieira dá a quantia de 500 000 réis paras as obras; o projecto é muito apreciado pelo rei D. Carlos e pela rainha D. Amélia; 28 Março - aprovação do projecto; 1903, 29 Agosto - a obra de reconstrução é adjudicada ao empreiteiro António Miranda pela quantia de 2850 réis; o projecto não é concretizado apesar da adjudicação da obra; 1920 - por iniciativa do Dr. Miguel da Fonseca, é instalado um museu arqueológico municipal nas ruínas do paço, com o nome de Museu Lapidar de Barcelos, com o objectivo de guardar as peças recolhidas por todo o concelho; séc. 20, anos 40 - o museu passa a chamar-se "Museu Arqueológico Municipal de Barcelos"; o grupo Alcaides Faria coloca painéis informativos, de azulejos junto das peças recolhidas no museu; 1; 1940, 1 Dezembro - descerramento da lápide comemorativa do seu restauro, colocada na plataforma no pano virado à ponte; 1946, 5 Fevereiro - a Fundação da Casa de Bragança sugere à DGEMN a possibilidade de ser reconstruído o paço e instalar uma pousada; 23 Fevereiro - a DGEMN recusa a proposta alegando que as ruínas não dispoêm de condições para esse fim; 1949 / 1950 - o museu é alargado; 1954 - novo projecto de restauro do Arquitecto Francisco de Azeredo, não foi efectivado; 1958 - na dependência da plataforma do paço, do lado E. encontrava-se instalado o museu de Cerâmica Regional; 1960, 20 Abril - carta da Câmara Municipal ao Ministro das Obras Públicas pedindo a reconstrução do paço.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID, DREMN

Documentação Administrativa

DGEMN: DSID, DSARH

Intervenção Realizada

CMB: 1891- Construção de muros em redor do paço; DGEMN: 1930 - reconstrução completa do cunhal voltado SO. em cantaria lavrada, incluindo a conclusão de uma porta e de uma janela, de acordo com o traço das existentes; reconstrução e consolidação de duas paredes incluindo a substituição de silharia mutilada; 1931 - reconstrução de duas janelas; reparação do parapeito do terreiro; reconstrução de muros de guarda; construção de escadas em cantaria; 1936 - limpeza de paramentos de cantaria, incluindo tomada de juntas com argamassa de cal hidráulica; reconstrução de paredes, incluindo a substituição de diversas cantarias; 1940 - restauro da lápide existente no pano S. da plataforma, virada à ponte; 1949 - reajustamento de cantarias emolduradas de um dos portais e consolidação da respectiva parede e do alicerce, com argamassa hidráulica; refechamento de juntas com argamassa hidráulica; consolidação de paredes e de panos da plataforma, com aproveitamento da pedra existente; respaldo das juntas e regularização de cantarias no remate das paredes; limpeza e tomada de juntas das paredes do paço e plataforma; arranjo dos degraus da entrada; pintura das grades de ferro do muro de vedação; plantação de arbustos e regularização do terreno; 1957 - restauro de cantarias mutiladas; remoção das paredes dos azulejos com inscrições relativas às peças do museu; deslocação dos restos do arranque de uma abóbada de uma capela que se encontrava exposta no centro de uma sala principal do paço, para o terreiro do mesmo.

Observações

Numa reconstituição que a Dra. Clara Pimentel do Vale tenta fazer do paço, descreve-o da seguinte forma: Era provavelmente constituído por três zonas distintas, uma área de entrada, uma de habitação, com 10 câmaras intercomunicantes, e outra de serviço. A entrada principal era feita no corpo virado a S. por uma porta maior em arco quebrado. Neste corpo encontravam-se para além da entrada, a adega, salgadeira e armazém de géneros. Seguia-se a Sala de Armas com saída para o exterior, com acesso à zona de serviço e ao piso superior, através de uma escada com ligação para uma antecâmara que por sua vez comunicava com o passadiço que ligava à Igreja Matriz e ao Salão Nobre. O Salão nobre, o maior das 5 salas que existiriam, possuía fogão de sala, 3 janelas com conversadeiras e uma pequena janela que encimava a porta principal. Seguia-se a antecâmara que servia de quarto de vestir do Conde e de dormir dos filhos adolescentes e escudeiros. Tinha 2 janelas com conversadeiras e uma janela interior de comunicação com a câmara da dama, que tinha acesso também pela antecâmara. A câmara do Conde, mais pequena do que a da dama, era virada a S. / O., e tinha aberturas a S., pequeno balcão que confrontava com o da Torre da Ponte e 1 janela com conversadeira. A câmara da dama, que seria virada a O., possuía 3 janelas com conversadeiras e um fogão de sala. Era destinada à dama, aias e filhos menores, comunicando apenas com a câmara do Conde. A zona de serviço era constituída por três câmaras no piso inferior, nomeadamente a cozinha, que se localizava mais a S., onde se podia encontrar uma lareira. Lateralmente à cozinha estava uma outra câmara com abertura para o exterior, destinada ao armazenamento de lenha. Entre as duas câmaras encontrava-se uma dependência para os criados com comunicação com o exterior e acesso ao piso superior (VALE, 1991); *1 - DOF: Paço dos Duques de Bragança (ruínas) / Paço dos Condes de Barcelos (ruínas); *2 - a cabeça da estátua de Barcelos encontra-se exposta numa mísula colocada na fachada S. do paço.

Autor e Data

Isabel Sereno / Paulo Dordio 1994 / Joaquim Gonçalves 2005

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