Santuário de Nossa Senhora do Naso

IPA.00019038
Portugal, Bragança, Miranda do Douro, Póvoa
 
Santuário construído num dos locais de culto à Virgem mais antigos do distrito de Bragança, onde se misturam componentes agro-pastoris e militares, e nas imediações de uma estrada romana. É formado por igreja que deve datar do séc. 16, mas que sofreu sucessivas reformas, que a foram alterando, nomeadamente no séc. 17, altura em que se deve ter construído ou reformado a capela-mor e aberto a janela de capialço da nave. Tem planta retangular composta por nave e capela-mor, mais estreita e mais alta, interiormente com iluminação axial e unilateral. Fachada principal em cantaria aparente, terminada em empena truncada por dupla sineira e rasgada por portal em arco abatido, de moldura recortada, entre duas frestas. A modinatura do portal axial, bem como o remate da sineira com empena contendo um outro vão mais pequeno deve ter resultado de uma alteração de finais do séc. 18 / 19, pois nas Memórias Paroquiais, de 1758, alude-se à frontaria já toda em cantaria, com dois sinos, e a porta virada a S. com alpendre, mas com três arcos e não uma arquitrave, como tem atualmente. A fachada lateral direita é rasgada por porta travessa, quinhentista, em arco de volta perfeita de aduelas largas, protegido por alpendre, e fresta de capialço no topo da nave e capela-mor, a qual tem a fachada posterior terminada em empena. No interior possui dois retábulos laterais e o retábulo-mor, este em barroco nacional, de planta reta e corpo côncavo, e três eixos, enquadrando nicho em cantaria, saliente na fachada posterior, mas o seu remate foi bastante alterado no restauro após 1984, tal como as pinturas da cobertura da capela-mor, que nessa data ainda conservavam pinturas antigas com quadraturas. O sacrário é de estilo joanino. Por volta de 1716, Frei Agostinho de Santa Maria refere o arco triunfal fechado por guarda de madeira e como estando "quasi toda (...) calçada de ossos, com pedras entremetidas, & com lavores que a fazem curiosa, & vistosa", devendo assim integrar-se na tipologia das capelas de ossos. Contudo, nas Memórias Paroquiais este aspeto pouco comum já não é referido, possivelmente devido a uma reforma que entretanto sofreu. No terreiro existem cinco capelas construídas no séc. 20, com mistérios gozosos da Virgem, albergando imagens em tamanho natural, e nas imediações duas alas de lojas, casa da Confraria e loja de recordações.
Número IPA Antigo: PT010406120083
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Santuário  

Descrição

O Santuário de Nossa Senhora do Naso é constituído pela igreja, cinco capelas, três a E. e duas a S., um cruzeiro, um altar de missa campal, dois alpendres de feira e casa da Confraria. IGREJA de planta retangular composta por nave e capela-mor, mais alta e mais estreita, tendo adossado à fachada lateral esquerda dois corpos retangulares dispostos em eixo e à lateral direita alpendre retangular. Volumes escalonados com coberturas em telhados de duas águas na igreja e na capela-mor e de uma nos corpos adossados, estas na continuidade da nave, rematados em beirada dupla. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, exceto a da fachada principal, que é em cantaria aparente, as da igreja com pilastras toscanas nos cunhais, na capela-mor coroados por pináculos tipo pera sobre acrotérios, a qual também é percorrida por soco de cantaria, terminada em duplo friso e cornija e com as empenas coroadas por cruzes latinas sobre acrotérios. Fachada principal virada a O., terminada em empena curva, com cornija, truncada por dupla sineira, em arco de volta perfeita, sobre pilares, albergando sino, rematada em cornija sobreposta por empena vazada por pequena sineira, também com sino, coroada por cruz latina e pináculos tipo pera sobre acrotérios. Na face posterior, as sineiras têm balcão sobre consolas acedido por escada, com guarda em ferro. É rasgada por portal de verga abatida, com moldura terminada em cornija recortada e de chave saliente, contendo porta de ferro, e duas pequenas frestas laterais. Fachada lateral esquerda com corpo adossado rasgado por duas portas de verga reta e três vãos jacentes, moldurados, abrindo-se ainda a O. uma fresta. Fachada lateral direita com gárgula no cunhal da nave, que é rasgada por porta travessa, em arco de volta perfeita, de aduelas largas, e decoradas com moldura em cortina, protegido por alpendre, fechado lateralmente e frontalmente apoiado em dois pilares e duas colunas, assentes em murete rebocado, pintado de branco e capeado a cantaria, sustentando arquitrave; no interior o alpendre possui pavimento de lajes e um banco corrido lateral. No topo da nave abre-se ainda janela de capialço e, na capela-mor, uma outra igual. Fachada posterior com a capela-mor terminada em empena, com friso e cornija, que nos ângulos dos cunhais é curva, possuindo corpo do nicho saliente, de perfil curvo, cunhais em falsas alhetas e rasgado por óculo. O corpo adossado é rasgado por fresta de capialço. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, a nave com pavimento em seixos rolados e cobertura de madeira, de duas águas, sobre travejamento. Lateralmente surgem cinco confessionários embutidos, em arco abatido, de moldura terminada em cornija, encimados por silhar de cantaria com cruz latina relevada. No lado do Evangelho dispõe-se púlpito de cantaria, de bacia cilíndrica e guarda plena, de painéis almofadados, sobre mísula, e capela lateral, em arco de volta perfeita, contendo estrutura retabular, em talha dourada, contendo imaginária; no lado oposto, a porta travessa é ladeada por pia de água benta. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas. Na capela-mor, sobre supedâneo, dispõe-se o retábulo-mor em talha dourada, de corpo reto e três eixos, o central de perfil côncavo, definidos por quatro pilastras ornadas de acantos, e por seis colunas de fuste torso, decorado com pâmpanos e anjos, assentes em plintos paralelepipédicos com acantos ou mísulas com anjos atlantes, e as colunas de capitel coríntio. Ao centro abre-se nicho de cantaria, em arco de volta perfeita, albergando imaginária e nos eixos laterais surgem apainelados, com pintura fitomórfica, sobrepostos por mísulas com imaginária. O retábulo remata em estrutura semicircular, integrando três arquivoltas que prolongam as colunas e as pilastras centrais, unidas por aduelas no sentido do raio, a do fecho encimado por escudo com coroa, envolvida por elementos vegetalistas reaproveitados. Sacrário tipo templete rematado por baldaquino com drapeados a abrir em boca de cena, seguros por anjos. Banco com apainelados de acantos. A capela-mor tem pavimento em lajes de cantaria e é coberta por falsa abóbada de berço abatido, sobre cornija de cantaria, pintada com almofadados laterais, encimado por albarradas de flores e, ao centro, por ampla cartela polilobada contendo a Assunção da Virgem. CAPELAS DOS MISTÉRIOS GOZOSOS DO ROSÁRIO: de planta retangular, simples, com cobertura homogénea em telhados de duas águas, rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com soco de cantaria e fachada principal terminada em empena coroada por cruz sobre acrotério. As da Anunciação e Visitação são rasgadas por amplo portal, em arco de volta perfeita, com chave relevada e friso horizontal ao nível das impostas. A do Nascimento de Jesus é rasgada por portal de verga reta e duas frestas laterais e a da Apresentação de Jesus no Templo e a de Jesus entre os Doutores por portal em arco de volta perfeita, com chave relevada e friso horizontal no alinhamento das impostas, na primeira ladeado por dois óculos circulares e na segunda por frestas. As capelas têm as fachadas laterais cegas, tal como a posterior, que termina em empena. No INTERIOR possuem as paredes rebocadas e pintadas de branco, com cobertura em falsa abóbada de berço. Sobre plataforma sobrelevada de cantaria com estrado de madeira, albergam imagens alusivas ao orago. CRUZEIRO composto por plataforma de planta circular, constituído por três degraus, coluna cilíndrica, com anel marcando a base e o topo, e cruz atarracada, de braço vertical quadrangular e braços horizontais cilíndricos. No terreiro existem ainda vários elementos: púlpito quadrangular, com guarda em ferro, acedido por três degraus de cantaria; um relevo representando um guerreiro segurando uma lança e um escudo, assente em silhar, e a imagem da Imaculada Conceição de Maria, sobre alto plinto ligeiramente piramidal, assente em plataforma quadrangular de dois degraus. O altar de missa campal implanta-se sobre plataforma sobrelevada retangular, assente sobre pilares, com guarda em ferro e escada de oito degraus, coberto por alpendre de betão, com pala de perfil oblíquo. Para S. do terreiro murado, desenvolve-se um outro terreiro, delimitado por dois alpendres de feira e pelo edifício da confraria, com bar e loja de recordações. EDIFÍCIO DA CONFRARIA: de planta retangular, composta por dois corpos escalonados, com coberturas em telhados, o principal de quatro águas, coroado por pináculo cerâmico, e o mais baixo, alpendrado, de três águas, rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, terminadas em cornija de betão. O corpo principal apresenta dois pisos e os cunhais de cantaria, sendo rasgado na fachada principal, virada a E., por dois portais e duas janelas de peitoril, com moldura terminada em cornija e ligeiros recortes nos ângulos; a fachada lateral esquerda é rasgada por porta de verga reta e fresta jacente e, ao nível do segundo piso, por porta precedida por escada de pedra, com guarda em ferro. Na fachada lateral direita possui bífora central, com moldura igual às janelas da frontaria, e corpo alpendrado, revestido a cantaria, com dois amplos vãos retilíneos. Na fachada posterior abrem-se duas janelas jacentes e duas janelas de peitoril, iguais às da frontaria. Os ALPENDRES DE FEIRA têm planta retangular, simples, e cobertura em telhado de duas águas. Têm fachadas em alvenaria rebocada, o disposto a O. de fachada principal virada a E., com murete capeado a cantaria, interrompido por dois vãos de acesso, sobre o qual assentam dez pilares quadrangulares monolíticos, ritmando a fachada, e suportando o beiral da cobertura; no interior possui em cada um dos extremos lareira com chaminé. O alpendre disposto a E. é semelhante, mas maior, com doze pilares, interiormente seccionado em três, com igual número de vãos de acesso, prolongado por corpo retangular, com a mesma volumetria, mas fechado, sendo rasgado por dois portais e dois vãos jacentes, com caixilharia de alumínio. No terreiro existe ainda um PALCO, de planta quadrangular, e cobertura em telhado de quatro águas. Tem plataforma sobre soco de alvenaria de pedra, acedido por escada, com guarda em pilaretes de cantaria e cobertura de betão, sobre quatro pilares do mesmo material, dispostos nos ângulos, e quatro outros intermédios, de cantaria.

Acessos

Póvoa; Lugar Cruz das Lobadas; Rua do Nazo; EN 1200, EN 544

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, no vasto planalto do Cerro do Naso *1, num ponto de interceção de estradas que conduzem a várias aldeias e no limite O. da freguesia da Póvoa, distando dessa aldeia cerca de 4 km, e da aldeia de Especiosa, já da freguesia de Genísio, cerca de 1 km. Implanta-se num amplo terreiro poligonal, delimitado por muro, em alvenaria de pedra, capeado a cantaria, com vários portões de acesso, o frontal contendo o monograma "N S N"; o muro é interrompido a E. por poço antigo, de grande profundidade, de boca circular, em cantaria, e com tampa e armação sustentando a roldana, em ferro. À volta da igreja existe faixa pavimentada a paralelos com corredor de acesso frontal e na fachada lateral direita. O terreiro possui várias árvores, bancos de pedra e, junto à fachada posterior, um lago circular, no local onde existia uma lagoa natural. No limite NE. do terreiro, dispõem-se em cada um dos seus três ângulos uma capela, existindo duas outras no ângulo S. do mesmo. No limite S. do terreiro, a cerca de 230 m da igreja e junto à estrada de acesso, ergue-se amplo cruzeiro assinalando o Santuário.

Descrição Complementar

Na fachada principal da igreja existe lápide, em mármore, com inscrição alusiva à visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima: "EM COMEMORAÇÃO DO 50º DE FATIMA / PEREGRINAÇÃO REGIONAL AO SANTUARIO / DE N.ª S.ª DO NASO PRESIDIDA PELO / SENHOR BISPO DE BRAGANÇA / D. MANUEL DE JESUS PEREIRA / NO DIA 22 - 10 - 1967". O portal axial em ferro tem a inscrição relevada "C N S N / 1952". Num dos contrafortes exteriores que reforçam o arco triunfal, na fachada E., e integrado no anexo que servia de tulha para recolha do cereal das ofertas, tem relevo tosco de um homem, em tamanho natural, com túnica até aos joelhos, bigode e gorro tricorne na cabeça, segurando uma varapau nodoso numa das mãos, esculpido num bloco monolítico. Na nave e capela-mor as paredes apresentam painéis de azulejos policromos recentes, com representação de várias cenas, nomeadamente a Ressurreição de Cristo, Ascensão de Cristo, Pentecostes e Coroação da Virgem pela Santíssima Trindade. As Capelas dos Mistérios Gozosos do Rosário têm na fachada principal lápide com inscrição alusiva ao seu orago; na da Anunciação a inscrição diz: "MANDADA FA- / ZER POR ALVA- / RO AUGUSTO / DIAS DE VIMIO- / SO EM 1906"; a capela da Visitação tem a inscrição: "VISITAÇÃO / A STª ISABEL"; a do Nascimento tem a inscrição "NASCIMENTO / DE JESUS"; a capela da Apresentação tem a inscrição "APRESENTA / ÇÃO DE JESUS / NO TEMPLO / 1956"; e a de Jesus entre os Doutores "JESUS / ENTRE OS DOUTORES / 1960". O plinto da imagem da Imaculada Conceição de Maria tem a lápide com a inscrição metálica "ESTA IMAGEM DE NOSSA / SENHORA IMACULADA / CONCEIÇÃO É A QUE / ESTEVE NO RECINTO DO / SEU SANTUÁRIO MARIANO / DO PICÃO DESDE / 1910-1960". No terreiro existe obelisco sobre dupla plataforma quadrangular, contendo livro aberto com a inscrição "NOS 2000 ANOS DA / NATIVIDADE / DA VIRGEM / STA MARIA / AVE-MARIA / 8 SET. 1985". O edifício da loja tem na fachada principal lápide com a inscrição: "A MEZA DA CONFRARIA DE N.A S.A DO NAZO / MANDOU REEDEFICAR ESTA ANTIGA CASA EM 1909 SEN- / DO JUIZ. O SNR DOMINGOS JOSÉ FALCÃO E MEZÁRIOS. P.E / FELIZ FRANC.CO PIRES. MANIEL IGNACIO MONTEIRO E MA- / NUEL JOÃO DAS EIRAS. A SEU ROGO CONC.U SUA EXA. RV.MA / OIO CAPELLÃO A ESTA ER.DA (O MESTRE JOSÉ MARIA M)".

Utilização Inicial

Religiosa: santuário

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Bragança - Miranda)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

MESTRE: José Maria M (1909).

Cronologia

Idade Média - origem do culto a Nossa Senhora do Naso que, provavelmente, remonta ao período da Reconquista, conforme apontam as várias lendas e tradições populares, que aludem a conflitos entre mouros e cristãos, e ao facto do Santuário se implantar nas proximidades de um denominado caminho mourisco *2; séc. 16 - época provável da construção da nave, conforme aponta a modinatura da porta travessa; séc. 17 - época provável da reforma da capela-mor; 1676 - institui-se na igreja uma Irmandade sob a proteção da Senhora do Naso, mas dura pouco tempo; 1700, cerca - segundo João Vasconcelos, ainda existe o templo medieval, com as paredes forradas de ossos e pedra (VASCONCELOS: p.133), um conjunto de terras de cultivo, as terras da Senhora, que são arrendadas, e a administração passa do pároco da Póvoa para uma Irmandade, na qual cada irmão contribui com meio alqueire de cereal por ano; numa sala anexa vive um ermitão apresentado pelo cabido da Sé de Miranda; 1701- instituição de nova Irmandade da Senhora do Naso; 1716 - Frei Agostinho refere que a capela ou casa desta Senhora "quasi toda he calçada de ossos, com pedras entremetidas, & com lavores que a fazem curiosa, & vistosa. Tem Tribuna, ou Coro, portico, ou alpendre de columnas, & a Capella mór he fechada com grades de madeira, & toda a Igreja terá de comprido cõ a Capela, & portico vinte & sete braços, que fazem 250 palmos; & a largura he proporcionada ao comprimento"; possui "algumas herdades em vários sítios, e lugares daquela terra, cujos rendimentos se gastão na fábrica, concertos e reparos do mesmo templo"; a imagem é de roca, com cinco palmos de altura, o rosto "tão bello, & resplandecente, como se fosse encarnado de pouco tempo: & não há lembrança de que se tocasse para a haverem de renovar"; tem nos braços o Menino Jesus; celebra-se a sua festa na segunda oitava da Páscoa, em que há um grande sermão e grande concurso de gente, e tem uma outra festa a 8 de setembro, dia da sua Natividade; não tem Irmandade, mas apenas um tesoureiro ou procurador, que cobra as rendas e as esmolas, sendo a maioria destas em trigo e centeio, que trazem os que se pesam nas balanças que há na mesma igreja; diz-se ainda missa todos os sábados do ano; ta ainda um ermitão, de apresentação do Cabido de Miranda, com casas onde vive; Frei Agostinho de Santa Maria refere ainda o poço e as lagoas, que se enchem no inverno e se conservam grande parte do verão, visto que "o mesmo sítio em si hé arido e agreste, e tão falto de agoa, que para a terem aquelles Aldeoens para os seus gados, que nelle pastão, se abrem fossos, ou lagoas em a terra"; 1749 - como juiz da Irmandade de Nossa Senhora do Naso, o tesoureiro-mor da Sé de Miranda solicita ao papa para os Irmãos da Irmandade terem privilégio perpétuo para todos os dias da semana e para todos os altares, quer da Capela da Senhora do Naso, quer da Igreja e ermidas do lugar da Póvoa; 1758, 01 maio - referência à capela de Nossa Senhora do Naso ou Nardo pelo padre Domingos Martim nas Memórias Paroquiais da freguesia, no alto de uma pequena serra, a que chamam o Serro do Naso; a capela é maior que a Igreja Matriz de São Sebastião, tem uma só nave e três altares: o altar-mor, em que está a Senhora do Naso, imagem muito milagrosa, e outras duas imagens da mesma Senhora, e dois colaterais; tem duas portas, uma para S. e outra para O., com um alpendre sobre três arcos de cantaria bem lavrada, e da mesma é o frontispício e o campanário em que há dois sinos; a festa principal desta Senhora é no dia da sua Natividade, a 8 de setembro, em cujo dia vai muita gente em romaria à mesma Senhora de todos os lugares circunvizinhos e ainda de alguns de Castela, cantando-se neste dia missa solene; na terceira oitava da Páscoa há igual concurso de gente à capela, onde se juntam doze procissões dos lugares de Ifanes, Constatim, Cicouro, São Martinho, Avelanoso, Angueira, Especiosa, Caçarelhos, Genísio, Vilar Seco, Malhadas e Póvoa, tendo cada uma delas uma imagem da Senhora; a capela tem alguns bens de raiz de que cobra rendimentos, e um ermitão colocado pelo Cabido de Miranda; a Irmandade de Nossa Senhora do Naso tem entre oitocentos a novecentos irmãos, eclesiásticos e seculares e de ambos os sexos *3; ao pé da capela há uma lagoa, que se atravessa com um tiro de pedrada *4, e um poço, muito útil para o ermitão beber água, bem como todos os que ali vão em romaria, visto não haver outra fonte perto da capela; séc. 18, finais - séc. 19 - reforma da igreja; 1906 - construção da capela da Anunciação por Álvaro Augusto Dias, de Vimioso, conforme inscrição na fachada principal e, possivelmente, também as da Visitação e Nascimento de Jesus; Álvaro Dias propunha-se fazer mais quatro capelas, mas entretanto morre; 1909 - sendo juiz Domingos José Falcão, a Mesa da Confraria de Nossa Senhora do Naso manda re-edificar o antigo edifício da confraria, pelo mestre José Maria M.; 1952 - data do portal axial, em ferro, da igreja; 1956 - data da construção da capela da Apresentação de Jesus no Templo; 1960 - data da construção da Capela de Jesus entre os Doutores; 1967, 22 outubro - visita da imagem peregrina Nossa Senhora de Fátima, presidida pelo bispo de Bragança, D. Manuel de Jesus Pereira; 1984, depois - colocação dos painéis de azulejos nas paredes laterais da igreja e feitura da atual pintura da cobertura da capela-mor; 1985, 08 setembro - colocação de obelisco no terreiro; 2003 - construção do grande cruzeiro no limite S. do terreiro.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra rebocada e pintada; fachada principal, colunas, pilastras, soco, frisos, cornijas, pináculos, cruzes, e outros elementos em cantaria de granito; portas de madeira, ferro ou de alumínio; vidros simples, martelados ou policromos; retábulos em talha pintada e dourada; painéis de azulejos policromos; lápide em mármore; pavimento em calhau rolado, cantaria de granito, cerâmico ou em cimento; cobertura em telha; alpendre de missa campal e cornijas das capelas em betão.

Bibliografia

CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique - As Freguesias do Distrito de Bragança nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património. Braga: José Viriato Capela, 2007; FEIO, Rui Alberto Lopes - "Roteiro de oito dos Santuários Marianos em Trás-os-Montes e Castela". In Brigantia. Bragança: Assembleia Distrital, 2006, vol. XXVI, nº. 1/2/3/4, pp. 975-996; MOURINHO, António Maria - Nossa Senhora do Naso Rainha dos Mirandeses. Bragança: Escola Tipográfica, 1984; MOURINHO JÚNIOR, António Rodrigues - A Talha nos Concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso nos Séculos XVII e XVIII. Miranda do Douro: Associação de Municípios do Planalto Mirandês, 1984; PARAFITA, Alexandre - A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros. Vila Nova de Gaia: Gailivro, 2006, pp. 262-263; SANTA MARIA, Frei Agostinho - Santuário Mariano. Lisboa: Oficina de António Pedrozo Galram, 1716, tomo V; VAZ, Francisco - Contributo para o estudo do culto Mariano no distrito de Bragança: A Nossa Senhora do Naso. Sep. CULTURA - Revista de História e Teoria das Ideias. Lisboa: s.e., 1995; VASCONCELOS, João - Romarias. Um Inventário dos Santuários de Portugal. Lisboa: OLHAPIM, 1998, vol. 1.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1984, depois - obras de restauro da igreja.

Observações

EM ESTUDO. *1 - A etimologia do nome Naso, segundo uma tradição local, provirá do latim "nasus", devido à configuração do terreno em que assenta o Santuário. Contudo, a charneca plana e descampada, de 1 km de comprimento, que abrange o terreno do Santuário, não se assemelha a um nariz. Por isso, a denominação de raiz latina deverá provir de um nome pessoal romano, proprietário daquele local. Na verdade, perto do serro do Naso passava a via romana, com o nome de "estrada Mourisca", em mirandês "Vereia", que se cruzava com a estrada romana entre Braga e Astorga em Ferreros de Arriba, entrava em Portugal por Aliste e continuava sem passar por qualquer povoação até À Beira Alta. *2 - Segundo a tradição referida pelo padre Domingos Martim, nas Memórias Paroquiais da freguesia, em 1758, estando um homem a guardar umas vacas no sítio onde se ergue atualmente a capela da Senhora do Naso, aparece-lhe Nossa Senhora, que lhe pede para naquele local fazer uma capela, ao que o homem responde que sua mulher, por ser de génio e condição terrível, não havia de querer dar-lhe crédito, nem que fizesse a capela. A Senhora garante-lhe que ela haveria de querer e, para que não duvidassem, na noite seguinte lhe mostraria o sítio onde deveriam fazer a capela. Nessa noite, olhando ambos de sua casa para a Serra do Naso, viram que ali andavam em procissão, com muitas luzes, demarcando o sítio de implantação da futura capela. Apesar disso, a mulher não quis que o homem fizesse a capela pelo que, como castigo, fica com a cara desfigurada e a boca torta. É então que a mulher promete fazer a capela, logo sarando. Pondo em execução a promessa, acarretam a pedra para a obra com as suas vacas, as quais, por mais que as carregassem, nunca deixaram de levar o carro, sem mostrarem sentir grande peso, nem sendo necessário conduzi-las, pois elas mesmas conduziam o carro para o sítio da capela e regressavam onde as haviam de voltar a carregar; quanto mais trabalhavam nesta obra, mais engordavam. A tradição era considerada tão verosímil, que ainda nesta data, não havendo ermitão na capela, eram os descendentes desta família que ficam com o encargo da capela ou em encontrarem um ermitão para junto dela viver. Existem outras lendas à volta da Senhora do Naso, sendo a mais conhecida a do mouro e do cristão, alternadamente prisioneiros um do outro e o último salvo por intercessão da Virgem, a quem prometeu fazer um poço junto à sua capela. A atestar esta lenda apontam o poço profundo existente no santuário e dois pares de algemas de ferro batido penduradas na capela. Frei Agostinho de Santa Maria também transcreve esta lenda: "E he tradição, que estando em Argel captivo hum homem daquelas partes, se encomendara com grande fé em huma noite à mesma Senhora, e que na madrugada seguinte se achara às portas da sua Igreja, de que ainda hoje existem nella por memória os grilhões do mesmo captivo. (...). Também hé tradição, que nos dias em que este homem se deteve na mesma Igreja em dar à Senhora as graças na sua presença pelo benefício qe lhe fizera, abrira um poço junto da mesma Igreja, aonde a poucos estádios achou água doce em tanta abundância, que em nenhum tempo do anno, nem de concursos falta; o que se avalia por um continuo milagre, por estar o referido povo e Igreja em uma coroa de terra que se levanta sobre o terreno de toda a vizinhança" (SANTA MARIA: pp. 631-632). *3 - Em 1758 a Irmandade de Nossa Senhora do Naso era regida por um juiz, que alternava anualmente entre um eclesiástico e um secular, quatro deputados, dois eclesiásticos e dois seculares, um escrivão, que era sempre eclesiástico, e um tesoureiro, que era sempre secular. Todos os membros eram anualmente eleitos em mesa no dia da Geral. Cada irmão dava em vida meio alqueire de centeio e, por morte, $200. Quando morria um irmão dizia-se uma missa, que chamavam de "notícia" e fazia-se um ofício a que assistiam nove sacerdotes, todos dizendo missa pelo irmão defunto e eram de altar privilegiado. Ao longo do ano faziam-se alguns ofícios pelos irmãos vivos e defuntos e benfeitores da Irmandade, e no primeiro sábado, depois do dia de São Bartolomeu, fazia-se um ofício geral, a que assistiam todos os clérigos que se possuíam juntar. Neste dia havia também um sermão, correndo toda a despesa pela Irmandade. Todos os sábados, desde o dia de São Pedro até ao dia da Natividade da Senhora, juntavam-se na capela os pastores dos lugares circunvizinhos, que elegiam três dos mais capazes, dois para alcaides e um para juiz, a que chamavam alcaides do Naso e juiz do Naso. Os alcaides e juízes de cada lugar estavam sujeitos ao juiz do Naso, o qual mandava que cada um, no distrito do seu lugar, tomasse conta dos gados que se achassem perdidos e não lhes aparecendo seus donos, os levassem ao Naso no dia da Natividade da Senhora onde eram colocados em pregão e vendidos, sendo depois o dinheiro dado por eles aproveitado em missas, que mandavam dizer pelas Almas do Purgatório. Os pastores tinham um livro onde registavam todos os recibos e despesas e que apresentavam ao Bispo. Em meados do séc. 20, durante a romaria, destacavam-se as "loas", cantadas em mirandês pelos romeiros à entrada do Santuário, quer à chegada, quer à partida, com pedidos vários de proteção à Senhora do Naso ou de agradecimento por curas milagrosas de pessoas e animais. Atualmente, o Santuário é regido por uma confraria com cerca de 2000 irmãos, espalhados pelas aldeias dos concelhos de Miranda, Mogadouro e Vimioso. São dias jubilares da confraria, o dia 8 setembro, dia 25 de março, o 3º domingo da quaresma, o domingo de Pascoela, o último sábado de agosto, entre outros. *4 - Ao longo da Estrada Mourisca existiam várias lagoas artificiais, sendo a maior a que ficava nas imediações da capela, certamente construídas para armazenar as águas das chuvas e utilizadas pelos pastores da região para dar de beber aos animais.

Autor e Data

Paula Noé 2014 (no âmbito da parceria IHRU / Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja)

Actualização

 
 
 
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