Câmara Municipal de Borba

IPA.00017532
Portugal, Évora, Borba, Borba (Matriz)
 
Arquitectura político-admnistrativa, barroca. Paços Municipais de planta em U característica dos palácios do Séc. 17 e 18; pertence a uma tipologia comum no Alentejo cuja finalidade visava dignificar o poder municipal enquanto representante mais próximo das populações do Estado, numa época em que o poder do Estado se sobrepunha aos poderes individuais e corporativos; no seguimento desta filosofia construíram-se, nos finais do Séc. 18, vários edifícios com perfil palaciano que passaram a desempenhar as funções de Paços do Concelho como os de Vila Viçosa (v. PT040714050037), Redondo e Fronteira (V. PT041208020019) e muitos outros na região. Interior organizado em salas passíveis de se unirem ou autonomizarem para melhor se adaptarem às exigências dos serviços; possui conjunto azulejar típico do Estado Novo onde se optou por executar molduras decorativas decalcadas dos painéis do barroco e representações com monumentos e cenas que evocam o episódio mais marcante para a História de Portugal ocorrido em Borba: a Batalha de Montes Claros; nos monumentos evocativos deste episódio histórico optou-se por representar cenas rústicas com agricultores já que este setor era o mais favorecido pelo regime. Pinturas murais de finais do Séc. 18 que advogam os valores do Iluminismo e do Despotismo Esclarecido. Notável exemplo da arquitetura barroca, é parte integrante de um ambicioso projeto de urbanização iluminista que marcou a vila de Borba testemunhando uma época de riqueza da povoação; o corrimão da escadaria central atribuível a Angélico Velez, é uma das mais belas peças conhecidas em mármore de Borba e Vila Viçosa sendo da mesma lavra que os corrimãos do Palácio dos Melos (v. IPA.00025335), do Palácio dos Morgados Cardosos (v. IPA.00026221) e da guarda da Capela das Almas da Igreja Matriz (v. IPA.00025136). As pinturas murais do interior constituem a última obra de José de Sousa de Carvalho.
Número IPA Antigo: PT040703010020
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Político e administrativo regional e local  Câmara municipal  Casa da câmara  

Descrição

Planta em U disposta em dois pisos com cobertura em telhados de 2 águas no corpo central e 3 águas nos corpos laterais, em telha de canudo. Alçado principal a NE., de 2 registos e pano único delimitado por grandes cunhais em mármore branco que apresentam no vértice dois cubos salientes*1; os cunhais são suplantados por capitéis que acompanham o beirado e são coroados por fogaréus em mármore branco com urna quadrangular bojuda; embasamento em lajes de mármore branco; portal principal axial de verga reta, de moldura dupla em mármore, com gola composta; portadas em madeira com bandeira e duas asas decoradas com três almofadas cada; a ladear o portal, de cada lado, porta de verga reta, com moldura de mármore, com portadas de madeira castanha envernizada com bandeira e duas asas, decoradas com almofadas e rebites de ferro; lateralmente a cada uma destas portas, janela de verga reta de molduras idênticas e caixilharias de madeira pintadas de branco; no segundo registo, axial ao portal, desenvolve-se sacada guarnecida de molduras e janelas em tudo idênticas às do piso inferior, munida de guardas em ferro forjado profusamente decoradas com fino desenho de volutas e laços; lateralmente, dois candeeiros decorativos, em ferro, com lâmpadas amarelas e ao centro três mastros de bandeiras em metal; ladeando a varanda, desenvolvem-se, em cada um dos lados, três varandas, idênticas à central, mas mais pequenas e sem mastros de bandeiras; remate em beirado saliente pintado com lista azul, existindo no eixo de cada uma das portas, uma mansarda, sendo a central ligeiramente maior que as duas laterais; cada mansarda tem verga de volta perfeita, janela em madeira pintada de verde com vidros batidos; o corpo, de alvenaria caiada de branco, possui desenho decorativo com a base ornamentada com volutas e um frontão triangular ondulado e arrebitado. Alçado lateral NO., de dois pisos e pano único delimitado por cunhais de mármore branco suplantados por fogaréus; embasamento em lajes de mármore; ao centro três portais idênticos aos laterais do alçado principal, com portadas de madeira almofadadas e bandeira; o portal central *2 possui 2 conjuntos de portadas, uma exterior, em madeira pintada de amarelo-torrado, com caixilhos, e uma interior de madeira pintada de verde e com grades em ferro; o portal direito abre para escada de acesso ao segundo piso; lateralmente aos portais, de cada lado, 2 conjunto de 2 janelas, idênticas às do alçado principal, sendo em cada conjunto, uma janela falsa, em alvenaria pintada de verde, imitando janela de madeira onde foi aberto pequeno vão retangular para respiração; a outra janela possui 2 conjuntos de portadas como a porta central; no registo superior rasgam-se 7 janelas idênticas às do alçado principal, apresentando a janela do extremo direito diversas perfurações denunciando uma reutilização ou apliques entretanto desaparecidos; no eixo central do telhado mansarda idêntica às da fachada principal e no extremo direito chaminé em alvenaria pintada de branco decorada com três pirâmides, a central mais alta e as laterais mais baixas e bojudas. Alçado SE. delimitado por embasamento de lajes de mármore e por dois cunhais em mármore branco sobrepujados por dois fogaréus; chaminé igual ao do alçado NO.; é rasgado por duas portas e cinco janelas idênticas às do alçado NO., segundo o esquema: janela, porta, duas janelas, porta, duas janelas; a primeira janela com portadas exteriores em madeira pintada de branco e vidros transparentes e as interiores de madeira castanha decorada com almofadas e guarnecida de ferrolhos de ferro; porta com portadas em madeira com bandeira e duas asas decoradas com almofadas, dando acesso para as escadas de acesso ao segundo piso; as duas janelas seguintes, abrem para a antiga prisão (atual bar) e possuem caixilhos de madeira pintados de branco com vidros martelados; a porta seguinte é idêntica à anterior e abre para o serviço de coleta das águas, tal como as janelas que se seguem em tudo idênticas à primeira janela deste alçado. O alçado SO. consiste no pátio interior do edifício,de planta em U.; do lado esquerdo, o alçado posterior do corpo NO., composto por dois pisos delimitado no lado esquerdo por um cunhal de mármore branco, no lado direito pelo alçado posterior do lado NE. e na base por um embasamento pintado de cinzento; o registo inferior é composto ao centro por uma porta (de acesso à biblioteca municipal), de verga reta e molduras em mármore liso, portadas em madeira pintada de branco e caixilhos com vidros transparentes; ladeando esta porta janela de verga reta com molduras de mármore branco liso, caixilhos em madeira pintada de branco e vidros transparentes; entre esta porta e a janela do lado esquerdo, embebida na parede, pedra circular, em mármore, caiada, com uma argola em ferro para prender animais; no registo superior uma janela circular com verga em arco abatido, molduras em mármore com ábacos e chave pronunciados; este vão encontra-se preenchido por um murete em alvenaria pedra, cal e areia caiada de branco com pedra mármore no topo e uma janela composta por duas bandeiras e quatro asas em caixilhos de madeira e vidros transparentes; ladeando esta janela, duas outras janelas simples, iguais às que se encontram no piso inferior. No alçado posterior ao alçado NE. dois registos, sendo o beirado mais baixo que os beirados posteriores dos corpos laterais; inferiormente dois arcos com verga de arco abatido, duas portas cegas, entaipadas com pano murário, com molduras de mármore liso, e dois vãos delimitados com arcos abatidos com molduras em alvenaria caiadas de branco com ábacos e chave pronunciados, sendo que o do lado esquerdo acede ao portal principal e o do lado direito está tapado parcialmente por um pano murário, sobrando apenas um pequeno vão, preenchido por uma porta de ferro pintada de negro; perpendicularmente a este alçado, nos alçados dos corpos laterais, mas debaixo do piso superior, de cada lado, uma porta de verga reta, com molduras em mármore, portas com caixilhos em madeira branca e vidros martelados; superiormente demarcam-se cinco janelas com verga de arco de volta perfeita e molduras em alvenaria caiada de branco, sendo a central maior que as quatro laterais, todas elas com bandeira e duas asas de caixilhos de madeira pintada de branco e vidros transparentes.

Acessos

Praça Nova ou Rossio de Baixo; Avenida Vinte e Cinco de Abril (antiga Rua dos Açougues, antiga rua do Príncipe Real e antiga Avenida de Dr. Oliveira Salazar)

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 724/2022, DR, 2.ª série, n.º 203 de 20 outubro 2022 / Incluído na Zona de Proteção do Castelo de Borba (v. IPA.00004776) e da Fonte das Bicas (v. IPA.00002765) / Parcialmente incluído na Zona Geral de Proteção da Igreja de Nossa Senhora das Neves (v. IPA.00025136)

Enquadramento

Urbano, planície, adossado, incluído na zona antiga da vila, a par da Fonte das Bicas (v. IPA.00002765), a N., e da Igreja Matriz (v. IPA.00025136), a E., constitui-se como elemento ordenador da praça. A O. o Castelo de Borba (v. IPA.00004776); a S., tem adossado o Antigo Lagar (v. IPA.00026220). Alçado SE. aberto para o Largo D. Fernão Rodrigues de Sequeira.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Política e administrativa: câmara municipal

Utilização Actual

Política e administrativa: câmara municipal

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: José Álvares de Barros (1789); CANTEIROS: Francisco Miguel Jorge, José Gomes Cordeiro Manhoso e José Lopes Cordeiro (1790); CARPINTEIRO: Joaquim Tenreiro (1794 - 1797); ESCULTORES: António Franco Paínho (1790) e Angélico Velez (1796); FERREIRO: José Brás (1796); MESTRE PEDREIRO: João Grasia (1794); MESTRES DE OBRAS: João Martins Babão (1797) e João José de Matos (1803); Inspector da obra: Visconde da Lourinhã; PINTOR: José de Sousa de Carvalho (1795).

Cronologia

1789 - a Câmara de Borba recebe as provisões régias autorizando a construção do novo edifício segundo o projeto de arquitetura elaborado pelo Sargento-mor José Álvares de Barros e aprovado em Lisboa; a construção do imóvel inseria-se no âmbito da reestruturação urbanística então realizada, enquanto elemento ordenador de novos arruamentos, marcando a Praça Nova e a Rua do Príncipe Real *3; 1790 - a Câmara vende diverso património para pagar a construção do novo imóvel; 1790 - início da construção com a adjudicação das cantarias em mármore para os portais, janelas e chaminés; 1791 - tendo-se esgotado as verbas para a construção do edifício, a Câmara contrai um empréstimo para acabar as abóbadas de tijolo do primeiro piso; 1792 - novo empréstimo junto de um particular para continuar a obra; 1793 - conclusão das paredes do imóvel até à cimalha; 1794 - instalação da cadeia no novo edifício; 1794 - adjudicada a obra de carpintaria; 1795 - adjudicadas as obras de acabamento e pagamento póstumo aos herdeiros de José de Sousa de Carvalho pelo trabalho de pintura que fizera na Sala da Câmara e na Sala da Audiência; 1796 - Angélico Velez adjudica a parte escultórica da escadaria nobre; 1796 - colocação das grades de ferro na cadeia; 1797 - aplicação do corrimão esculpido por Angélico Velez; 1797, 15 de Julho - 1ª sessão solene da Câmara Municipal de Borba no novo edifício; 1798 - o antigo edifício dos Paços do Concelho na Praça Velha é vendido por 501.000 réis a António Rosa; 1801 - ainda decorrem obras de acabamento no edifício; 1803 - refere-se que a obra já estava praticamente concluída; 1944 - encomenda dos azulejos da escadaria nobre à Fábrica Viúva Lamego e do painel de vitral ao atelier Ricardo Leone. 1976 - repinte das pinturas do Salão Nobre por A. Reis; 2002, 15 de abril - proposta de classificação pelo IPPAR/ DRÉvora; 2002, 19 de abril - Despacho de abertura do processo de classificação pelo Vice-Presidente do IPPAR; 2003, 10 de março - o IPPAR/DRÉvora solicita elementos à CM de Borba para instrução do processo de ZEP; 2006, 20 de setembro - a CM de Borba envia ao IPPAR/DRÉvora documentação relativa ao processo de ZEP; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública; 2009, 10 dezembro - Proposta da DRCAlentejo para a ZEP dos imóveis classificados e em vias de classificação da Vila de Borba; 2010, 11 fevereiro - devolvida a proposta para a ZEP à DRCAlentejo com despacho do Director do IGESPAR, para aplicação do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23-10-2009; 2010, 12 de novembro - nova proposta de ZEP pela DRCAlentejo; 2011, 23 de fevereiro - Parecer favorável à ZEP pela SPAA do Conselho Nacional de Cultura; 2013, 26 novembro - publicado no DR, 2.ª série, n.º 229, o Anúncio n.º 370/2013 relativo à abertura de novo procedimento de classificação.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Mármore, tijolo, azulejo, ferro forjado, vitral, alvenaria mista, madeira, cimento, tijoleira

Bibliografia

ANSELMO, António, O Concelho de Borba, Elvas, 1907; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal, vol. 9, Lisboa, 1978; Câmara Municipal de Borba, Plano de Pormenor de Salvaguarda da Zona Antiga de Borba, Câmara Municipal de Borba - Gabinete Técnico Local vol. 1, tomo 1, Borba, 2002 (texto policopiado); IDEM, Borba, interpretações do centro histórico, Lisboa, 2003, no prelo; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal, vol. 9, Lisboa, Academia Nacional de Belas-Artes,1978.

Documentação Gráfica

Arquivo da Câmara Municipal de Borba

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; Arquivo da Câmara Municipal de Borba

Documentação Administrativa

Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Borba: Livro de Registo de Actas da Vereação de 1780 a 1797 e de 1797 a 1817

Intervenção Realizada

Câmara Municipal de Borba: 1976 - Repinte das pinturas murais da Sala da Audiência e da Sala da Câmara; 2003 - Pintura dos alçados.

Observações

*1 - nestes cubos se encaixavam as pedras de armas do concelho e de Portugal, entretanto desaparecidas; *2 - este portal abria para o talho municipal, há muito desativado, mas ainda identificado pela inscrição que se lhe sobrepõe; *3 - o edifício integrava projeto urbanístico que nos finais do Séc. 18 urbanizou a parte E. da Vila; o plano de urbanização setecentista visava retirar o centro económico, social e político da apertada malha medieval, com a criação de uma nova praça junto à Igreja Matriz (v. PT040703010023) e o traçado e reordenamento de várias artérias, tecendo uma malha ortogonal que integrou plenamente a medieval; a par da edificação dos Paços, foram erguidos o Palacete na Rua Vinte e Cinco de de Abril (v. PT040703010030), marcando a esquina entre Rua de São Sebastião (então traçada) e a Rua do Príncipe Real, e o Palacete dos Morgados Cardosos (v. PT040703010031), marcando a esquina da Rua da Cruz (então traçada) com a Rua de São Francisco (então reordenada).

Autor e Data

João Simões e Patrícia Monteiro 2003

Actualização

 
 
 
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