Recolhimento de Santa Marta / Irmandade das Almas do Clero

IPA.00017483
Portugal, Évora, Évora, União das freguesias de Évora (São Mamede, Sé, São Pedro e Santo Antão)
 
Arquitectura religiosa, manuelina, barroca. Antigo recolhimento que conserva elementos construtivos e decorativos característicos do estilo manuelino. Igreja de planta trapezoidal composta por nave, com três tramos com cobertura de ogivas traçadas em meias canas que descarregam em mísulas decoradas com motivos de inspiração vegetalista e de cordoaria, e três capelas, pouco profundas, dispostas em forma de cruzeiro, sendo a capela-mor, mais baixa que a nave e antecedida por grande arco triunfal, também coberta por abóbada. Acessível pela lateral, mais concretamente pelo lado do Evangelho, a igreja apresenta púlpito em mármore no lado da Epístola, bem como coro-alto e coro-baixo, actualmente tapados; retábulo-mor e laterais em talha barroca.
Número IPA Antigo: PT040705050183
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Recolhimento feminino  

Descrição

Planta composta por igreja, edifício da Irmandade das Almas do Clero a N., de planta rectangular, irregular e corpo a S.. Volumes articulados, dispostos na horizontal. Cobertura diferenciada em telhado de duas e quatro águas e terraço no edifício da Irmandade, com campanário, de volutas enroladas, rematado por cata-vento em ferro e uma torrinha cónica; na igreja telhado de duas águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco rematadas nos ângulos, a um quarto da altura, por cantaria de granito. Fachada Principal de pano único, delimitado por pilastras boleadas, e três registos definidos pelo rasgamento de vãos; no primeiro registo dois portais, de moldura granítica, ladeando duas janelas rectangulares, também de moldura granítica, gradeadas; no segundo registo 6 janelas de sacada, com balcão em ferro trabalhado, e verga arqueada; no terceiro registo seis janelas axiais de meio corpo, com pequeno resguardo em ferro trabalhado, e verga igualmente trabalhada; pequena água furtada uma chaminé de características industriais. Fachada lateral squerda: dois panos delimitados por pilastras ligeiramente salientes; 1º pano de dois registos, mais baixo que o segundo; primeiro registo cego e no segundo janela de meio corpo, com bandeira, e verga arqueada; reamte em platibanda; segundo pano, de 3 registos definidos pelo rasgamento de vãos: no primeiro porta e janela gradeada, ambos de moldura granítica; no segundo três janelas semelhantes à existente no segundo registo do primeiro pano; no terceiro três janelas idênticas às do registo superior da fachada principal. Fachada lateral direita de dois pano com vários registos definidos pelo rasgamento de vãos: no primeiro pano três registos rasgando-se inferiormente janela rectangular, portal de linhas simples e porta com degrau rematada com cornija curvilínea, todos eles demolduras graníticas; no segundo registo duas janelas de sacada, com bandeira, balcão em ferro trabalhado e verga arqueada, e uma janela de peito com verga também arqueada; no terceiro registo três janelas de peito idênticas às inferiores; no segundo pano, mais baixo que o anterior, de dois registos: no primeiro duas janelas rectangulares, colocadas na horizontal, gradeadas; no segundo duas janelas de peito, com molduras de granito, encimadas por cornija arqueada. INTERIOR: várias dependências, pintadas e decoradas com trabalhos em estuque utilizando, principalmente, temas florais e rendilhados. Nos espaços mais próximos da igreja tectos abobadados, uma cartela pintada e datada e lavabo, em mármore branco, com duas bicas e frontão triangular decorado, em relevo, por volutas e elementos foliáceos com a data de 1691, ao centro, sendo rematado por crucifixo. Salas a S. da igreja (antigo coro-baixo) de planta rectangular, com cobertura, em abóbadas estreladas, apoiadas em mísulas prismáticas com decoração naturalista, rematadas com chaves ornamentadas por elementos fito-antropomórficos e escudos de Ordens Militares. IGREJA: planta simples, trapezoidal. Fachada principal pintada a branco, de três panos separados por duas pilastras, em tom creme, ligeiramente salientes; embasamento pintado no mesmo tom das pilastras; no primeiro pano dois registos: o inferior em sobressalto e boleado, encimado por pequeno telhado de uma só água assente em cornija; segundo registo mais alto e recuado, cego, com remate em cornija onde assenta o telhado; no pano central, mais estreito, rasga-se o portal, de linhas direitas e moldura granítica, encimado por frontão interrompido saliente, em massa, com crucifixo central, em mármore branco, apoiado em peanha que arranca da base do frontão com o brasão dos Resendes em mármore branco *2; remate em cornija; no terceiro pano placa toponímica e pequena janela rectangular, gradeada; remate em cornija. Restantes fachadas adossadas. INTERIOR: acesso lateral pelo lado do Evangelho; nave de três tramos com cobertura de abóbada de arestas, rematadas com chaves graníticas de inspiração vegetalista e de cordoaria, que descarregam em mísulas decoradas com motivos idênticos aos existentes na cobertura; nos dois primeiros tramos e na parede fundeira são visíveis os rectângulos, actualmente cegos, dos antigos coro-alto e coro-baixo; são integralmente forrados com azulejos policromos de padrão floral; encimando o coro-alto painel de azulejos figurando São Miguel *3, datado de 1698; o primeiro tramo da nave é rasgado, em cada um dos lados, por uma abertura, a do lado do Evangelho dando acesso a pequena instalação sanitária e a do lado da Epístola a exíguo espaço de arrumações; segundo tramo da nave rasgado no lado do Evangelho, na sua quase total extensão, pelo portal ladeado por duas pias de água benta, em mármore branco, de secção elíptica decoradas com caneluras no bojo; no lado da Epístola púlpito de mármore branco, de caixa rectangular com balaústres esquinados assentes em base quadrada, bacia trabalhada, acessível pela capela do mesmo lado; sobre o púlpito, axial, grande janela rectangular; no terceiro tramo da nave "duas capelas laterais, abertas em arcos de volta perfeita, de tectos e paredes revestidas com trabalhos coloridos, de escaiola, populares, dos princípios do século passado, desenham-se na boca do presbitério, em forma de cruzeiro. Têm retábulos de talha dourada e policromada, de colunas salomónicas (...)" (ESPANCA, 1966). Capela-mor mais baixa que a nave, antecedida por arco pleno, com elementos decorativos semelhantes aos das capelas laterais; do lado do Evangelho porta para a sacristia sobreposta de janela rectangular cega; do lado da Epístola janela idêntica. SACRISTIA: planta rectangular, com dois tramos e cobertura abobadada em barrete de clérigo; pequena janela rectangular, disposta na horizontal; pequena pia baptismal, em mármore, de formato arredondado com pequeno rebordo.

Acessos

Travessa de Santa Marta

Protecção

Incluído no Centro Histórico da cidade de Évora (v. PT040705050070)

Enquadramento

Urbano, intramuros, situado a SE. da Praça Joaquim António de Aguiar, em zona relativamente plana, de ruas estreitas e grande densidade construtiva; adossado em ambos os extremos e na fachada posterior ao casario que alterna entre os dois e três pisos. Nas proximidades, o Palácio dos Morgados da Mesquita (v. PT040705050156), o Teatro Garcia de Resende (v. PT040705210071) e as Ruínas do Mosteiro de São Domingos (v. PT040705050082).

Descrição Complementar

AZULEJARIA: paredes forradas na totalidade, com painéis de azulejos polícromos, do tipo de tapete, excepção feita ao tímpano do coro-alto que apresenta um quadro de São Miguel, patrono da Irmandade das Almas; ESTUQUE: na cobertura da capela-mor quatro painéis rodeando medalhão, em relevo, com emblema dedicado a São Pedro. INSCRIÇÕES: na chave de abóbada brasonada: GARCIA / DE REE / SENDE*1; a composição existente no tímpano do coro-alto, que retrata Sâo Miguel, tem a data de 1698; PINTURA MURAL: paredes da capela-mor e das capelas laterais decoradas com escaiolas, imitando mármore; composições florais na cobertura da capela-mor, interior e exterior dos medalhões em estuque.

Utilização Inicial

Religiosa: recolhimento

Utilização Actual

Residencial: casa / Política e administrativa: delegação regional

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Évora)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1400 - provável data da fundação do Recolhimento em casas doadas para o efeito por cinco irmãs da família dos Estaços, que acabaram por dar nome ao sítio, ficando o espaço conhecido como "a casa das Estaças"; 1490 - ingresso da comunidade na Ordem Terceira de São Domingos; 1547, 24 de Abril - as 24 religiosas que habitavam Santa Marta fundam o Convento de Santa Catarina de Sena inscrito na Ordem Terceira de São Domingos; 1559, 17 de Outubro - o edifício é alienado a um mestre de escola, de nome Luís de Melo, pela importância de 160.000 rs.; o templo é ocupado para sede da freguesia de Santo Antão, enquanto duraram as obras de construção da Igreja de Santo Antão, dirigidas pelo arquitecto Manuel Pires (1557 - 1563) e durante a fase de restauro determinado pelo desabamento da abóbada que caiu pelo terramoto de 1568, tendo sido concluída em 1577; 1650 - Ana de São José adquire o casario do primitivo recolhimento e pretende instalar nele convento da Ordem Calçada da Regular Observância de Santa Teresa, tendo-lhe sido recusado tal propósito e apenas concedido o restabelecimento do recolhimento; 1660 - escritura pública onde se definem os parâmetros para a cedência do espaço de Santa Marta para sede da Irmandade das Almas, tendo sido tomada posse em 29 de Janeiro de 1661; 1671 - início de uma demanda, que só terminaria em 1725, devido a um apropriamento abusivo por parte da Irmandade do espaço religioso; esta queixa chegou à corte e foi resolvida em favor da Irmandade; 1834 - com a expulsão das Ordens religiosas, o Recolhimento foi vendido em hasta pública continuando a igreja e as salas onde se instalava a Irmandade das Almas do Clero a ser propriedade da mesma corporação eclesiástica, 2000, março - Inventariado no Plano de Urbanização de Évora com o n.º 147.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Alvenaria mista rebocada e pintada de branco; molduras das portas, janelas e degraus da escadaria do edifício que alberga serviços da Segurança Social em granito; gradeamento janelas e resguardos das janelas de sacada em ferro fundido; lavabo, pias baptismais e púlpito em mármore; pavimento da igreja em tijoleira; azulejos policromos; vidro; telha de canudo na Igreja e aba e canudo no edifício da Segurança Social.

Bibliografia

ALMEIDA, Claudino de, Ruas de Évora - Subsídios para a explicação dos seus nomes, Gráfica Eborense, 1934; FRANCO, P.ª António, Évora Ilustrada, extraída da obra do mesmo nome do P.ª Manuel Fialho, Edições Nazareth, Évora, 1945; GUERREIRO, Alcântara, Achegas para a História da Irmandade do Clero de Évora, Revista Alvoradas, Janeiro-Março de 1963; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal: Concelho de Évora, vol.1, Lisboa, Academia Nacional de Belas-Artes, 1966; ELERPERK, Augusto Butler, "Sinopse das Ruas de Évora em 1849", A Cidade de Évora, n.º 61 - 62, Câmara Municipal de Évora, Évora, pp. 195-274, 1978; CAEIRO, Elsa, Os Conventos do Termo de Évora: Tesis Doctoral - Universidad de Sevilla, Escuela Técnica Superior de Arquitectura, Departamento de Urbanística Y Ordenacion del território, Sevilha, 2005.

Documentação Gráfica

CME: DPOP - Processo de Obras n.º 14581

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CME: Núcleo de Documentação; CME: DPOP - Processo de Obras n.º 14581

Intervenção Realizada

Recuperévora Lda: 1997 - obras gerais de conservação; 2005 / 2006 - Obras de conservação e restauro dos frescos e das talhas douradas.

Observações

*1 - " Este fidalgo, padroeiro e talvez fundador da igreja, nos primórdios do séc. XVI, pode ser o cronista e poeta do Cancioneiro Geral ou, com menos probabilidades seu sobrinho, também escritor e homónimo, que teve casa nobre, com capela, na freguesia de Santo Antão, onde se matrimoniou, depois de enviuvar em 1542, com D. Isabel da Cunha, por especial licença do Cardeal-Infante D. Henrique, no dia 5 de Maio de 1551" (ESPANCA, 1966); *2 - "Este brasão, quinhentista, primitivo, foi descoberto na Quinta da Biscaia e oferecido à Câmara de Évora de 1950, que no lugar o afixou como solução arqueológica, em virtude de no lugar sagrado existir uma chave de abóbada com idênticas armas" (ESPANCA, 1966); *3 - patrono da Irmandade das Almas.

Autor e Data

João Santos (CME) 2007 (no âmbito da parceria IHRU/CMÉvora)

Actualização

 
 
 
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