Palacete das Casas Novas / Lar de São José

IPA.00017288
Portugal, Braga, Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso (Nossa Senhora do Amparo)
 
Palacete de planta ligeiramente rectangular, composta por três corpos, sendo o central mais pequeno, correspondendo à capela. Da construção primitiva pouco resta, apenas alguns elementos barrocos como o portal do muro N. e o edifício agrícola e das cocheiras. A casa principal foi totalmente reconstruída como "Casa de Brasileiro", conjugando uma série de estilos e influências trazidas pelo "torna-viagem" António Ferreira Lopes, misturando elementos neobarrocos, patentes na decoração da fachada da capela, com elementos neoclássicos, nomeadamente o uso de decoração de pedra fendida nas pilastras e cunhais do primeiro registo. A influências brasileiras traduzem-se ainda nas fachadas revestidas a azulejo industrial, no uso de plantas exóticas no jardim, nomeadamente na grande palmeira que assume posição privilegiada no mesmo, na estatuária do jardim, nomeadamente a do chafariz e no mirante. A mansarda colocada no final do séc. 20, copiou soluções desenhadas por João Moura Coutinho, para algumas casas da cidade de Braga, que integram óculos e revestimento em escamas de lousa. Capela com retábulo neoclássico.
Número IPA Antigo: PT010309190025
 
Registo visualizado 293 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta ligeiramente rectangular, composta por três corpos, sendo o central mais pequeno, correspondendo à capela de São Gonçalo. Volumes articulados e escalonados de dominante horizontal, com coberturas diferenciadas, em telhado de duas águas na capela e em quatro águas com clarabóia central, sobre mansarda, nos corpos laterais. Fachadas de três registos, sendo o último em mansarda forrada a placas de lousa em forma de escama, excepto na fachada posterior do corpo S., que apresenta apenas dois registos devido ao declive do terreno. São revestidas a azulejo industrial monocromo a verde, à excepção da posterior, apresentam embasamento avançado, em placagem de granito, largo friso a separar o primeiro do terceiro registo, cunhais apilastrados, tendo os do primeiro registo em falso perpianho, com pedra fendida, e remates em entablamento encimado por platibanda vazada por balaustrada. Fachada principal voltada a O., marcada centralmente pela capela, definida por pilastras toscanas, que suportam entablamento, encimado por platibanda ritmada por pilastras jónicas, que suporta o frontão de lanços com cruz sobre acrotério, interrompido por cartela com representação de São Gonçalo, decorada por motivos vegetalistas, querubim e grinalda. Portal principal sobrelevado, a que se acede por seis degraus semicirculares, ladeado por duas janelas em arco abatido, encimadas por cornija arqueada coroada por concha. A porta, em verga recta, com moldura decorada por aletas na zona inferior, é encimada por entablamento e frontão curvo, tendo no fecho folha de acanto que serve de base a óculo quadrifoliado, sobrepujado por concha. Flanqueiam o pano da capela, duas estreitas torres sineiras, com quatro registos, marcados por frisos de granito, tendo, no primeiro, do lado esquerdo, porta estreita, e do lado direito, janela gradeada, no segundo, janelas em arco de volta perfeita encimadas por cornija, com motivo decorativo inferiormente, no terceiro, cartelas rectangulares e, no último, sineira de uma ventana, em arco de volta perfeita, encimada por frontão de volutas interrompido, coroado por pináculo. Corpos laterais, simétricos, marcados por pano central enquadrado por pilastras, com falso perpianho no primeiro registo, constituído verticalmente por porta e janela de sacada, em arco abatido, com guarda de ferro. Panos laterais rasgados por par de janelas também em arco abatido, com venezianas, sendo duas no primeiro e segundo registo. Terceiro registo correspondendo à mansarda, possuindo ao centro pano em empena, com janela de verga recta, ladeado por janela em arco abatido, entre óculos com larga moldura. Fachada lateral N., parcialmente adossada ao muro que cerra a propriedade, rasgada por alta porta em arco abatido, que ocupa os dois registos, a que se acede por escadaria de pedra com grade de ferro, de dois lanços opostos, ladeada pela direita por pequena janela jacente, no primeiro registo, e por janela idêntica às da fachada principal, no segundo. Mansarda rasgada por dois óculos idênticos aos da fachada principal. Fachada lateral S., virada ao jardim rasgada três janelas com morfologia igual às das restantes fachadas, no primeiro e segundo registo. Mansarda rasgada por três óculos. Fachada posterior, totalmente virada ao jardim, com corpo central em empena, rasgado por grandes vãos envidraçados. Pano do corpo lateral S., revestido a azulejos de estampilha azul, amarela e branca, no primeiro registo, com uma sucessão de portas de em arco abatido, e no segundo, varanda fechada, com largos vãos envidraçados, suportada por pilares de granito. Pano do corpo lateral N., marcado por amplos vãos envidraçados entre colunas de secção quadrangular toscanas, com pedra de armas sobre a balaustrada do remate. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com lambris de madeira. Vestíbulo principal lajeado, com tecto com decoração de estuque, com acesso por três degraus de granito, porta em arco abatido, em posição frontal, de acesso à escadaria principal, e duas portas rectangulares, laterais, de comunicação com as dependências do primeiro piso, onde se destacam a capela, salas, escritório, cozinha, copa, refeitório, bar e casas de banho. Escadaria principal em madeira, com guarda em balaustrada e arranque com coluna encimada por estatueta e lampião. No segundo piso distribuem-se os quartos, casas de banho, salas e o salão nobre. Na mansarda, ao longo de um corredor, distribuem-se igualmente quartos. Capela com paredes estucadas e pintada com marmoreados, com silhar de azulejos industriais, monocromos a branco, relevados, com friso verde. Cobertura em abóbada de berço com decoração em estuque e pavimento em mosaico de grés, policromo, a castanho, cinza e branco, contornado por grega. Coro-alto assente em trave de madeira, suportada por mísulas, com guarda em balaustrada de madeira. Sub-coro com duas pequenas pias de água benta, de mármore. Em posição confrontante, duas vitrines, com moldura de madeira, possuindo no seu interior os caixões com os restos mortais de António Ferreira Lopes e D. Elvira Câmara Lopes. Do lado da Epístola, porta rectangular de comunicação com a casa. Retábulo-mor em mármore policromo, precedido por grade de comunhão, em ferro, pintado de branco, aberto ao centro, em. Possui planta côncava, de três eixos, rematado por cornija coroada por pequeno espaldar com a representação do Espírito Santo. Eixo central com tribuna em arco de volta perfeita, com cobertura concheada, com imagem sobre peanha. Eixos laterais, com peanhas com imaginária, protegida por pequeno baldaquino, entre colunas coríntias coroadas por entablamento, abaixo do arco da tribuna, com urnas. Altar em forma de urna, assente em pés de morfologia vegetalista. JARDIM com acesso por portal rasgado no muro junto à fachada lateral N., em verga recta, enquadrado por pilastras toscanas encimadas por entablamento que se prolonga no resto do muro, formando o seu remate, coroado por frontão de volutas interrompido por pinha. O portal é ladeado por dois nicho rectangulares, gradeados, moldurados, com remate semelhante ao do portal, só que simplificado. Albergam as imagens de São José, do lado esquerdo, e de Nossa Senhora de Lourdes, do lado direito. Ainda sobre o muro do jardim, só que do lado S., no seguimento da fachada principal, outro portal entre pilares decorados por pedra fendida. Sobre a esquina do mesmo muro, que contorna para E., mirante hexagonal, assente sobre base de pedra, circular, com grade de ferro forjado e escada de acesso, com telhado em escamas de peixe, com beiral percorrido por friso rendilhado em ferro, sustentado por seis colunas. Cobertura interior pintada, decorada com carrancas e folhagens. O jardim organizado em três socalcos possuindo o do extremo S., o mais baixo, horta e laranjal, o central desenhos de buxo, com palmeira centenária, seguida de chafariz central, com tanque recortado e no centro estátua representando um casal com sombrinha, e poço. Socalco do extremo N., o mais elevado, com bancos de jardim e pérgulas. Integra ainda no extremo NE. da propriedade, edifício rústico setecentista, onde funcionaram a adega, cavalariças e garagem.

Acessos

Largo António Lopes; Rua da Misericórdia

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, ocupando todo o quarteirão definido pelo Largo António Lopes e pela Rua da Misericórdia a N., em terreno com declive acentuado. A fachada principal encontra-se virada para o largo, definido por quadras ajardinadas, tendo ao centro monumento em granito a António Ferreira Lopes, benemérito da Misericórdia de Póvoa do Lanhoso. Para E., atrás do edifício, e para S., lateralmente, desenvolve-se grande jardim murado.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Assistencial: lar *1

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 (conjectural) / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Arquitecto: João Moura Coutinho.

Cronologia

Séc. 18 - Existiria no local uma propriedade designada de "Casas Novas", composta por casa e capela dedicada a São Gonçalo; 1845 - nascimento na Várzea, freguesia de Fonte Arcada, em Póvoa de Lanhoso, de António Ferreira Lopes; 1873 - referência às "Casas Novas", fora do terreno da vila, pertencentes ao Morgado da Barca, António de Azevedo Ataíde Sousa Meneses; 1875 - emigrado no Brasil, António Ferreira Lopes casa a filha do seu patrão, D. Elvira Câmara, herdeira dos Cafés Câmara - Torrefacção e Comércio, vindo mais tarde a tomar conta da gerência da empresa; séc. 19, última década - António Lopes regressa a Portugal, e compra "as Casas Novas, com a sua capela de São Gonçalo ao meio"; a obra do novo palacete é entregue ao Arquitecto bracarense João Moura Coutinho, que remodela totalmente o que existia, construindo o corpo S., ladeado pela Capela de São Gonçalo *2; só mais tarde é construído o corpo N., servindo de residência a uma sobrinha recém casada do proprietário; 1907 - colocação das sineiras a flanquear a Capela de São Gonçalo; 1913 - criação do Hospital da Póvoa de Lanhoso (v. PT010309190010), graças à acção benemérita de António Ferreira Lopes; 1917 - inauguração do hospital; 1927 - António Ferreira Lopes morre, sendo criada a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso, por vontade deixada em testamento; 1936, Março 19 - inauguração na Casa da Botica, do Asilo de São José, fundado pelo Padre José António Dias; 1937 - Arlindo Lopes, sobrinho de António Ferreira Lopes, habita no palacete das Casas Novas; 1965, 19 Dezembro - a Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia delibera "anexar o Asilo de São José para lhe poder dar uma maior expressão", assim como adquirir o palacete das Casas Novas e terrenos anexos, aos herdeiros de António Lopes, para instalação dos centros de assistência; 1966, Março - a Misericórdia celebra o acordo de promessa de compra e venda, com a filha de António Ferreira Lopes, procedendo ao seu arranjo com vista a receber o Asilo de São José; 26 Dezembro - confirmação oficial do Lar de São José integrado na Santa Casa da Misericórdia, por despacho do Ministro da Saúde e Assistência; 29 Dezembro - processo de transferência dos idosos, residentes, para o palacete das Casas Novas; 1967, 30 Junho - celebração da escritura pública de compra e venda do palacete das Casas Novas, tendo a Santa Casa pago como contrapartida da transmissão o valor de 1.100 contos; 3 Julho - despacho do Provedor substituindo a designação de "Asilo" pela expressão "Lar", adaptada para estabelecimento desta natureza; 1971, 4 Agosto - homologação do primeiro acordo de cooperação celebrado entre a Misericórdia e o Instituto de Assistência aos Inválidos, "com vista ao internamento no Lar de São José de pessoas idosas ou diminuídas"; 1990 - durante a Provedoria de Abílio Hernâni Teixeira Ribeiro, o edifício sofreu obras de remodelação e ampliação, modificando a cobertura, transformando-a em mansarda; 29 Outubro - inauguração das obras, com a presença do Ministro do Emprego e Segurança Social; 1994, 5 Setembro - transladação dos restos mortais de António Ferreira Lopes e D. Elvira Câmara Lopes, do cemitério dos Prazeres, em Lisboa, para a Capela de São Gonçalo; 1995, Maio 13 - início do funcionamento da valência de Centro de Dia; 1995, 19 Julho - aprovação do regulamento interno da instituição; 1996, 15 Julho - cobertura das primeiras situações de apoio domiciliário a partir do Lar de São José; 5 Setembro - inauguração do espaço "Bar do idoso" pelo Governador Civil de Braga; 1999, 2 Dezembro - revisão do regulamento interno do Lar de São José.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista

Materiais

Estrutura, platibanda, cunhais, molduras dos vãos, colunas do mirante, chafariz, poço, escadas e pavimento do vestíbulo principal em de granito; betão na varanda fechada da fachada posterior; revestimento das fachadas e silhar da nave da capela em azulejo industrial; fachada posterior rebocada; pavimentos interiores em tijoleira; pavimentos da capela em mosaico de grés; portas, janelas, lambris, escadas interiores, tectos, pavimentos interiores e coro-alto da capela, em madeira; tectos em estuque; pias de água benta, retábulo e mesa do altar, em mármore; portões, sacadas, gradeamento das janelas, grade de comunhão da capela, em ferro; janelas da varanda fechada em alumínio; revestimento da mansarda e da cobertura do mirante, em placas lousa; cobertura exterior em telha marselha.

Bibliografia

SANTOS, Pe. Manuel Magalhães dos, Monografia da Póvoa de Lanhoso. Nossa Senhora do Amparo, Póvoa de Lanhoso, 1990; STOOP, Anne de, Palácios e Casas Senhoriais do Minho, Porto, 1993, p. 273; Santa Causa Povoense, nº 1, Póvoa de Lanhoso, 1997, pp. 9 - 10; nº 5, Póvoa de Lanhoso, 1999; nº 6, Póvoa de Lanhoso, 2000, pp. 31 - 32; SAMPAIO, Júlio Pereira de, BOTELHO, Cândida de Arruda, Casas Portuguesas e Brasileiras - Duas visões, dois testemunhos, Lisboa, 2000.

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

SCMPLG: 1990 - Recuperação do edifício; colocação da mansarda; 1996 - beneficiação do jardim e da área de lazer e repouso.

Observações

Na sala de jantar existiam duas pinturas murais com representação de paisagens dos arredores de Póvoa de Lanhoso, que despareceram devido a infiltrações de água; *1 - A capela serve de capela funerária do Hospital da Misericórdia, abrindo ao público no Dia da Misericórdia; *2 - não se sabe ao certo se a primitiva capela se situaria naquele local noutro local da propriedade.

Autor e Data

António Dinis / Ana Pereira 2000

Actualização

 
 
 
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