Colégio dos Jesuítas / Colégio de São Francisco Xavier / Liceu de Beja / Seminário de Beja

IPA.00016810
Portugal, Beja, Beja, União das freguesias de Beja (Salvador e Santa Maria da Feira)
 
Colégio da Companhia de Jesus de planta rectangular composta pela igreja longitudinal, com nave única, para onde abrem três capelas intercomunicantes, transepto inscrito e capela-mor pouco profunda, seguindo o esquema comum das igrejas da Ordem, filiadas na casa-mãe, a Igreja do Gesù, em Roma, e por claustro implantado na zona posterior. Fachada principal com organização simétrica, a partir da zona central, tripartida, compondo o acesso à igreja, através de três portas de verga recta encimadas por janelas, as centrais a iluminar o coro-alto; os panos laterais possuem janelas rectilíneas sobrepostas. Fachadas circunscritas por cunhais apilastrados, rematadas em friso, cornija e platibanda, e rasgadas, regularmente, por janelas rectilíneas, algumas de maiores dimensões a marcar os corredores de circulação interna. Interior com coro-alto, assente em arco abatido, tendo púlpitos confrontantes, com acesso a partir de corredores paralelos à nave; arco triunfal ladeado por retábulos colaterais e capela-mor de dois registos, o superior rasgado por tribunas. Claustro quadrangular, de três pisos, o inferior com 3x3 arcadas de volta perfeita, assentes em pilares, possuindo, nos superiores, janelas, as do intermédio rectilíneas e as superiores em arco abatido. O acesso processa-se pela portaria, com cobertura em abóbada de aresta, ligando a escadaria com guarda de cantaria almofadada, que acede aos pisos superiores, onde se desenvolvem os amplos corredores conventuais, cobertos por falsas abóbadas de lunetas, para onde abrem os cubículos, com acesso por portas rectilíneas. De construção tardia, não chegando a ser concluído, devido à extinção da Companhia de Jesus, é um dos maiores imóveis da cidade, atestando a ambição dos Padres e do município, que procurava afirmar a sua pujança e alcançar a elevação a Diocese, tendo sido transformada na residência do primeiro Bispo de Beja, D. Frei Manuel do Cenáculo, que na vizinha capela de São Sezinando (hoje desaparecida) instalou o seu museu. A austeridade construtiva dos jesuítas é mantida na planimetria e tratamento das fachadas laterais, surgindo, na principal, alguns elementos característicos do estilo Barroco, como os frontões interrompidos, as volutas que encimam o portal principal bem como a maior ousadia formal das janelas do pano central. O remate superior do edifício ficou incompleto e encontra-se alterado pela demolição de um troço de frontão que conferiria ao conjunto um maior dinamismo de recorte, de momento apenas manifesto nos dois gigantescos pináculos dos ângulos. A fachada da igreja é tripartida, mas os portais laterais encontram-se rasgados num pano independente e não abrem directamente para a nave, mas para um espaço junto às capelas colaterais, solução que também podemos observar no muito adulterado Colégio de Gouveia (v. PA.00011776), podendo corresponder a uma tipologia tardiamente adoptada pela Companhia. Em termos planimétricos, deve-se constatar que a implantação do claustro na zona posterior não é muito comum, apenas com paralelo no Colégio de São Lourenço do Porto (v. IPA.00005476), onde esta solução foi forçada pela topografia do terreno. O desenvolvimento do claustro em três pisos também é raro, sendo o inferior composto por arcadas de volta perfeita e os superiores por janelas rectilíneas e janelas em arco abatido, numa alternância de linhas, que ajudam a dinamizar o espaço, também ele inconcluído. A igreja encontra-se descoberta, transformada em zona de estacionamento, sendo possível constatar toda a sua estrutura e o pormenor de determinados elementos decorativos, como a existência de púlpitos, com guarda-voz ornado pela pomba do Espírito Santo, e as modinaturas algo ousadas e contracurvadas das tribunas da capela-mor. No interior, mantém a portaria, a escadaria e alguns corredores dos dormitórios.
Número IPA Antigo: PT040205090073
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Educativo  Colégio religioso  Colégio religioso  Companhia de Jesus - Jesuítas

Descrição

Planta rectangular, organizada em torno de dois pátios centrais, um deles inacabado, não fechando posteriormente o perímetro do imóvel, composta por corpos articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas ou em terraço. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cantaria, flanqueadas por cunhais apilastrados e rematadas em entablamento e beiral. Fachada principal virada a SO., de disposição simétrica, com embasamento escalonado em dois registos, sendo o primeiro rebocado e caiado a cinza e o segundo de cantaria, em aparelho isódomo, rematadas em platibanda de cantaria, substituída por balaustrada nos extremos, encimada por urnas assentes em bases escalonadas; a fachada está dividida em sete panos definidos por pilastras toscanas, da ordem colossal, algumas duplas, sendo o corpo central em cantaria aparente, de aparelho isódomo, e ligeiramente saliente; ao centro, portal de verga recta, flanqueado por pilastras dóricas almofadadas, sobre plintos cúbicos, com as faces em ponta de diamante, encimado por friso de triglifos e métopas lisas, que sustenta frontão interrompido por janela de verga recta com moldura recortada, encimada por concheado, por seu turno ladeada por janelas de verga recta, de ângulos chanfrados em quarto de círculo e moldura de cantaria; todas possuem caixilhos de madeira pintada de branco e bandeira envidraçada. Os dois panos imediatos estão rasgados por porta de verga recta, com moldura recortada, assente em plintos cúbicos de faces almofadadas, rematando em friso, cornija e frontão de lanços contendo cruz latina, encimada por janela de peitoril rectilínea. Os panos exteriores são rasgadas, no piso inferior, por janela jacente com molduras de cantaria e protegidas por grades metálicas, encimadas por janela de peitoril, rectilíneas e com molduras simples. No lado direito, adossa-se o muro da cerca que apresenta soco de argamassa caiada a cinza e portão de verga curva com chave saliente e ângulos superiores chanfrados, encimada por cornija, ladeado por pilastras de argamassa, caiadas a cinzento. Fachada lateral esquerda virada a SE., de dois e três pisos, adaptando-se ao declive do terreno, rasgada, ao nível térreo, por diversas janelas de verga recta ou em arco de volta perfeita, com molduras de argamassa e cantaria, e tendo várias construções incaracterísticas adossadas; ao nível dos segundo e terceiro pisos, rasgam-se dezassete janelas de verga recta com molduras de cantaria, sendo as cinco centrais de sacada, com varandas de ferro fundido assentes em mísulas de cantaria. Fachada lateral direita virada a NO., rematada por platibanda vazada, de dois e três pisos, adaptando-se ao desnível do terreno, rasgada por janelas de verga recta com molduras de cantaria; ao piso inferior, adossam-se construções incaracterísticas, surgindo, no extremo esquerdo, porta de verga recta e moldura simples. Fachada posterior em U invertido e fechado por pequeno muro, de 3 pisos, rematada superiormente por platibanda vazada, tendo, nas faces das alas laterais, quatro janelas sobrepostas, rectilíneas e com molduras simples; as três faces do pátio possuem três registos definidos por entablamentos de cantaria e são divididas em cinco panos por três ordens de pilastras toscanas; o registo inferior possui arcadas de volta perfeita, com moldura de cantaria de chave saliente assente em pilastras adossadas aos pilares, entaipadas por pano de parede rebocada e rasgada por janela; no segundo registo, rasgam-se janelas rectilíneas com moldura de cantaria e, no registo superior, janela em arco abatido com moldura de cantaria recortada, encimada por cornija recta, sendo as duas janelas da direita, de sacada, com guardas de ferro fundido. O portal principal acede ao INTERIOR, com amplo pátio central, de planta em cruz latina, correspondente à igreja inacabada, com portal encimado por coro alto assente em arco de asa de cesto sustentado por pilastras volutadas, encerrado superiormente por pano de parede rasgado por três janelas rectilíneas; as paredes correspondentes à nave são idênticas, divididas em quatro panos por pilastras toscanas da ordem colossal, que suportam entablamento de cantaria, os três primeiros marcados por arcos de volta perfeita assentes em pilastras de cantaria, correspondentes às capelas laterais, hoje entaipadas por pano rebocado e pintado de branco, dividido em dois registos por moldura de argamassa, rasgando-se, em cada um deles, uma janela; o quarto pano é bastante estreito e integralmente revestido a cantaria, nele se destacando um púlpito quadrangular, com bacia decorada, com acesso por porta emoldurada e encimado por dossel ornado pela pomba do Espírito Santo, rodeado por resplendor; está encimado por nicho em arco de volta perfeita emoldurado e assente em pilastras, com mísula destacada na base. A zona do transepto apresenta os topos rebocados e pintadas de branco, com nicho em arco de volta perfeita, ladeado por portas e encimado por janela de sacada; cada uma das paredes laterais apresenta um só pano definido por pilastras de cantaria que suportam entablamento, rasgado por arco de volta perfeita emoldurado e assente em pilastras, entaipado por parede rebocada e pintada de branco, onde se abrem diversos vãos. Espaço da capela-mor com parede testeira rebocada e pintada de branco, rematada por cornija interrompida por vestígios do arranque de um arco, sobrepujada por platibanda vazada, a que se adossa uma construção destacada com um pano rasgado por duas janelas; as paredes laterais são divididas em cinco panos por pilastras toscanas colossais, sendo os dois extremos mais estreitos, e rematadas superiormente por entablamento de cantaria; cada pano possui vestígios de vão entaipado, encimado por bandeira, com molduras de cantaria, sobrepujada por janela em arco abatido, também com moldura de cantaria recortada, assente em guarda de cantaria almofadada. O resto do edifício é formado por um uma grande quantidade de compartimentos de dimensões variáveis, cobertos por abóbadas, estruturados em torno de dois corredores longitudinais, cobertos por abóbadas de berço assentes em cornijas e pavimentos em ladrilho cerâmico de várias tonalidades, formando jogo geométrico; a escadaria principal que liga os dois pisos conduz à porta N. e é formada por dois lanços, o segundo dos quais duplo, com degraus e guardas de cantaria almofadadas, no topo do qual surge porta de verga recta, rematado em cornija, onde funcionam serviços administrativos.

Acessos

Rua Marquês de Pombal

Protecção

Incluído na Zona Especial de Protecção do Castelo de Beja (v. Pt040205130003)

Enquadramento

Urbano, isolado, rodeado, a sudeste e nordeste, por cerca murada, parcialmente arborizada; a nordeste., topa um dos panos da muralha da cidade que forma o limite nascente da cerca; a sudeste., o Jardim Público, separado da cerca por uma rua arborizada com laranjeiras, a sudoeste., o edifício do Governo Civil (v. IPA.00008800) e a pouca distância, a noroeste, a Igreja do Salvador (v. PT040205090111). O acesso às antigas portarias, na fachada principal, processa-se por escadaria de cinco degraus.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Educativa: colégio religioso

Utilização Actual

Educativa: universidade

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

MESTRE de OBRAS: Manuel Rodrigues (1705)

Cronologia

1662 - início da acção dos Jesuítas na cidade de Beja, com a vinda de dois padres do Colégio de Évora para promoverem a pregação da Quaresma, com licença do governador Alexandre de Sousa; 1670 - os padres Diogo Lobo e João Ribeiro convencem as entidades administrativas, a nobreza, povo e a confraria de São Sezinando, a escreverem ao Geral da Companhia de Jesus, Padre Paulo Oliveira, com assento em Roma, para consentimento da fundação de uma residência na cidade de Beja; 1671 - Manuel de Brito do Carvalhal oferece-se para padroeiro da obra; 1705 - trabalha no edifício o mestre Manuel Rodrigues; 1759 - expulsão dos Jesuítas, estando as obras ainda incompletas; 23 Junho - alvará extinguindo as classes e as escolas jesuíticas; 1770, 10 de Julho - criação da Diocese de Beja; 1771, 6 de Junho - doação à Diocese do edifício expropriado aos Jesuítas, passando a estar nele instalado o Paço Episcopal; 1855 - a Diocese cede o edifício para instalação do Liceu Nacional, criado em 1852 e primitivamente a funcionar numa casa particular; 1863, 26 Agosto - o Estado alugou uma casa no Terreiro de Santiago para instalar o Liceu, abandonando o edifício; 1884, 3 de Julho - decreto de homologação pelo rei D. Luís I da criação do Seminário de Beja, pelo Bispo D. António Xavier de Sousa Monteiro; 1885, 6 de Fevereiro - inauguração do seminário; 1892 - Fundação e instalação no Paço do Museu Episcopal; 1910 - assalto ao Paço Episcopal, pilhagem e incêndio do arquivo e biblioteca.

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra e cal, rebocada e caiada; abóbadas de tijolo, rebocadas e caiada, telhados em telha de aba e canudo, terraços revestidos a tijoleira, pilastras, molduras de vãos, entablamentos, púlpitos e elementos secundários de cantaria de mármore de Trigaches; portas e caixilharias de madeira; grades de ferro fundido e forjado; pavimentos em calçada e mosaico hidráulico.

Bibliografia

ESPANCA, Túlio - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Beja. Lisboa, 1992, Vol. XII; MARTINS, Arquitetura Moderna Portuguesa 1920-1970, IPPAR, 2004, p.178; NÓVOA, António e SANTA-CLARA, Ana Teresa - Liceus de Portugal - Histórias, Arquivos, Memórias. Porto, 2003.

Documentação Gráfica

SIPA: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

SIPA: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

SIPA: DGEMN/DSARH - 010 / 047 - 0150; Diocese de Beja

Intervenção Realizada

Diocese de Beja: 2000 - impermeabilização dos terraços.

Observações

Autor e Data

Ricardo Pereira 2001 / Paula Figueiredo 2005

Actualização

 
 
 
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