Casa do Poço
| IPA.00016739 |
Portugal, Viana do Castelo, Valença, União das freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão |
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Casa nobre de construção seiscentista, mas com existência documentada desde o séc. 16, pertencente a um vínculo com capela, construída adossada à Igreja Paroquial da vila, nas suas imediações e atualmente ainda permanecendo unidas no mesmo proprietário. A casa atual deve ter sido construída no séc. 17, conforme denotam as molduras dos vãos na fachada principal e parte da posterior, terminando em pequena cornija, enriquecida na principal, ao nível do segundo piso, com friso e cornija. Do terceiro piso, acrescentado na segunda metade do séc. 19, terminado em cornija bastante avançada para sustentação do beirado, realça-se os vãos da frontaria, com as bow-windows curvas entre pilares toscanos avançados, e caixilharia de guilhotina com vidrinhos, decoradas na guarda com almofadas e no friso superior com motivos fitomórficos; da mesma época serão os vãos das fachadas laterais com falsos brincos. A fachada posterior é mais irregular e denota vários acréscimos, destacando-se a varanda disposta de ângulo, de caráter regional, com guarda plena formando apainelados e fechada por caixilharia de guilhotina com vidrinhos e bandeira em raios. No interior, apresenta vestíbulo central e antiga cozinha com grande lareira, tendo as janelas de peitoril conversadeiras. |
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Número IPA Antigo: PT011608150116 |
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Registo visualizado 930 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Residencial senhorial Casa nobre
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Descrição
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Planta retangular irregular, composta de vários corpos e coberturas em telhados de quatro águas, rematadas em beirada simples, e em terraço. Fachadas adaptadas ao declive acentuado do terreno, de dois e três pisos, rebocadas e pintadas de ocre, com pilastras toscanas nos cunhais e terminadas em friso e cornija, na fachada principal bastante balançada. Fachada principal virada a sul, de três pisos separados por friso, rasgando-se no primeiro portal central, de verga reta, com moldura terminada em pequena cornija e encimada por friso, ladeado por três janelas de peitoril, retilíneas, duas à direita e uma à esquerda, com molduras simples e gradeadas. No segundo piso rasgam-se quatro janelas de sacada, de verga reta, com moldura terminada em pequena cornija e encimada por friso e cornija reta, com arranque da sacada a partir do friso separador de pisos, guarda em ferro e caixilharia integrando bandeira rasgada por óculos ovais; ao centro, surge brasão com as armas do Barão de Urgeira. O terceiro piso apresenta três panos definidos por pilares toscanos, bastante salientes e que enquadram duas bow-windows laterais, com sacada de perfil curvo e caixilharia em madeira de vidrinhos, formando guarda plena decorada com almofadas retangulares e friso superior ornado de elementos enrolados; no pano central, abre-se porta de verga reta entre duas janelas de peitoril, todas com moldura terminada em pequena cornija e caixilharia de duas folhas, superiormente de perfil curvo e com seguintes decorados. Na fachada lateral esquerda rasga-se, no piso térreo, janela de peitoril gradeada e dois pequenos janelos e, no segundo, com friso e pilastra secionando-o, duas janelas de peitoril com molduras formando brincos; o pano avançado, correspondente à chaminé, possui apenas dois orifícios circulares e os seguintes são cegos. Fachada lateral direita com soco inferior em alvenaria de granito aparente; no primeiro piso rasga-se pequena janela retangular jacente e no segundo quatro janelas de peitoril, com molduras formando brincos retos inferiormente; no terceiro piso, separado do anterior por friso de cantaria, rasgam-se duas janelas de peitoril iguais e desenvolve-se, sensivelmente avançada e contornando metade da fachada posterior, varanda com guarda plena em alvenaria rebocada e igualmente pintada de ocre, com molduras de cantaria formando painéis quadrados, fechada por caixilharia de madeira em guilhotina e possuindo bandeira superior com caixilharia formando raios concêntricos. Na restante fachada posterior, rasga-se no piso térreo porta de verga reta, moldurada, no segundo três janelas de sacada, com moldura terminada em pequena cornija e guarda em ferro, sob a varanda, no pano direito, mais avançado, janelas de peitoril, de moldura igual e, no ângulo noroeste, porta de verga reta de acesso ao jardim, com guarda de ferro; este corpo avançado, termina em terraço, com guarda de ferro, sendo acedido por porta de verga reta moldurada. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, com pavimento cerâmico no primeiro piso e, nos restantes, em soalho ou parquet. No piso térreo, a partir do vestíbulo central acede-se, à esquerda, para a sala de jantar e a cozinha com grande lareira, bem como à biblioteca, com estantes envidraçadas. Na zona reservada ao proprietário conserva a antiga cozinha, em pedra, e superiormente, para além de vários quartos, tem sala comum na zona da varanda e sala de jogos. |
Acessos
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Valença, Travessa da Gaviarra, n.º 4. WGS84 (graus decimais) lat.: 42,032824; long.: -8,645143 |
Protecção
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Incluído na Zona Especial de Proteção das Fortificações da Praça de Valença do Minho (v. IPA.00003527) |
Enquadramento
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Urbano, isolado, adaptado ao declive bastante acentuado do terreno, integrado no núcleo medieval da vila envolvida pela muralha e na proximidade das Portas da Gaviarra. A fachada principal possui pequeno logradouro, calcetado e com vasos de flores, vedado por gradeamento de ferro intercalado por pilaretes de cantaria assentes em murete de cantaria; fronteiro ao portal principal, dois pilares sustentando vasos, flanqueiam o portão de acesso. Entre a fachada lateral esquerda e a Igreja Paroquial de Valença (v. IPA.00006437) a poente, possui espaço privado, de acesso à Capela das Carlas, fechado por gradeamento e com portão de ferro. Junto à fachada posterior, desenvolve-se ainda um outro logradouro, vedado por muro, com espaço relvado, arbustos e árvores, caminhos com lajes de cantaria e anexos de apoio. Nas imediações, erguem-se a Igreja da Santa Casa da Misericórdia (v. IPA.00006231) a poente, e a Pousada de São Teotónio (v. IPA.00006217) a norte. |
Descrição Complementar
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Na fachada principal, junto à janela do extremo esquerdo, existe a inscrição, metálica, relevada "CASA DO POÇO TURISMO DE HABITAÇÃO". |
Utilização Inicial
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Residencial: casa nobre |
Utilização Actual
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Comercial e turística: casa de turismo de habitação |
Propriedade
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Privada: pessoa singular |
Afectação
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Sem afetação |
Época Construção
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Séc. 17 / 19 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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Séc. 16 - a Casa de Santa Luzia da família dos Abreus Bacelares possuía no interior da fortificação de Valença o senhorio de diversas propriedades rústicas e urbanas, entre as quais constavam umas pequenas casas contíguas à Misericórdia e que faziam parte da chamada Casa do Poço, cujo administrador tinha a obrigação de ali sustentar sete camas para doentes pobres; 1520 - construção de capela funerária da família dos Abreus Bacelares, designada Capela das Carlas, adossada à Igreja Paroquial da vila; séc. 17 - provável construção do núcleo primitivo da Casa do Poço; 1820, 16 maio - mercê de D. João VI a Tristão de Araújo Bacelar para poder aforar a Casa do Poço, com quintal, na freguesia de Cristelo, pertencente ao vínculo de sua casa de Santa Luzia; a Casa do Poço encontrava-se apenas com metade das paredes e não se podia reedificar, por falta de meios; o Corregedor da Comarca informa que a casa se achava em total ruína e que, por isso, só podia merecer o foro de 8$000, e o quintal de 2$000 em ofertório; pouco depois a casa teria sido aforada a António José Ribeiro Guimarães (pai do futuro 1º Barão da Urgeira); 1843, 25 janeiro - batismo de Bento Leite Ribeiro e Silva (o futuro 2º Barão de Urgeira); 1844, 26 fevereiro - nascimento na casa do Poço de Jerónimo Leite Ribeiro e Silva; 1846 - durante a Patoleia, a praça de Valença, governada pelo brigadeiro graduado José Maria de Sousa, sucumbiu ao cerco e ataque das tropas da rainha D. Maria II, estabelecendo António Pereira dos Reis, Comissário régio das províncias de Trás-os-Montes e do Minho, quartel-general na Casa do Poço, visto ser amigo e compadre do proprietário; 1847 - foi ali que o Comissário António Pereira dos Reis traçou os planos para a organização do Batalhão Nacional Móvel de Caçadores de D. Maria II; séc. 19, 2ª metade - reforma da casa, nomeadamente com acréscimo do terceiro piso; 1850, 30 setembro - data do nascimento do filho primogénito e herdeiro da família Abreu Bacelar, Tristão de Araújo de Abreu Bacelar, posteriormente Comissário Distrital do Corpo de Polícia Fiscal junto das Fábricas de Tabaco, no Porto; 1858, 08 agosto - explosão numa das pequenas casas ocupadas pelo Comendador e futuro Barão de Urgeira, que fazia parte da Casa do Poço, destinada a armazém de materiais do estanco de tabacose, pólvora, e outros; 1859, 10 maio - o Barão da Urgeira e o irmão reuniram os foros anuais impostos a diversas propriedades no concelho de Valença, pela extinção do Convento de Ganfei, de entre os quais as herdades do Campo dos Medos, de Cancela, do Campo de Linhares e do Campo do Poço; desta última, foram os últimos enfiteutas António José Ribeiro Guimarães e sua mulher D. Bernardina Joaquina da Silva; 1869 - casamento de Tristão com D. Henriqueta Virgínia de Barros; posteriormente, vendeu a sua herança, da qual foi principal comprador o capitalista António José Ribeiro Guimarães, que habitava a casa do Poço já por vários anos; por sua morte, a fortuna foi dividida pelos dois filhos, Gaspar Maria e Manuel José Leite Ribeiro e Silva, futuro Barão da Urgeira e Senhor da Casa do Poço; este alargou a área do terreno da casa, por compra de outros terrenos vizinhos, e fez da Casa do Poço a sua residência; 1875, 03 abril - escritura de compra e venda por Tristão de Araújo Abreu Bacelar e esposa, D. Henriqueta Virgínia de Barros Bacelar, da Casa e Quinta de Santa Luzia ao comendador Manuel Leite Ribeiro e Silva, da vila de Valença, estando presente Jerónimo Leite Ribeiro e Silva, solteiro, morador na vila, como procurador de seu pai, residente no Porto; a Casa do Poço, com foro anual de 10$400, era então descrita como uma morada de casas altas, de dois andares com lojas por baixo e em parte dum só andar, confrontando com a Calçada da Gaviarra (a nascente e a sul), a norte com viela por trás da Misericórdia; todo o foro e o domínio direto da casa foram vendidos por 280$000; 1877, 01 abril - decreto de D. Luís conferindo o título de Barão de Urgeira a Manuel José Leite Ribeiro e Silva; 1882, 04 fevereiro - morte do Barão de Urgeira, em Valença, sendo depois enterrado no cemitério dos Prazeres; a viúva, Maria Amélia da Silva Mello Leite Ribeiro, foi aconselhada pelo sobrinho António Cecioso Moreira da Silva e Mello, Senhor da Casa e Quinta da Ermida e Escrivão de Direito no Porto, a despojar-se de todos os bens, por doação a todos os filhos, reservando para si apenas a pensão mensal de um conto de reis, a pagar por todos os filhos; 1884, 19 junho - carta de D. Luís a conceder o título de Barão a Bento Leite Ribeiro da Silva; 1887, 05 dezembro - o filho mais velho escreve discordando, por saber que a mesma gozava de 725$000 de juros mensais, com casais, quintas, pinhais e rendas de mais de 600 alqueires de vinha, etc; prontifica-se também a liquidar de imediato e a pronto os 15$000 que pela casa comercial Leite Ribeiro e Irmão lhe eram devidos; a baronesa acabou por fazer as doações aos filhos; durante algum tempo ainda viveu na Casa do Poço, mas depois foi para a Quinta da Urgeira, ali morrendo com 78 anos; depois da morte do pai, o 2º Barão de Urgeira, instalou-se na Casa do Poço e assumiu a direção da casa comercial e bancária que herdara com o irmão; 1888, 28 janeiro - morte de Jerónimo Leite Ribeiro e Sylvia; séc. 19, finais - abandonando a casa os segundos barões de Urgeira, a Casa do Poço passou para a posse da família Martinez e Martinez da Galiza; 1904, junho - inauguração do Asilo Cruz, para idosos, devido ao donativo do benemérito Manuel António da Cruz, cujo capital e juros nesta data se elevava a 15.898$910; sendo então o Provedor interno Luís Marino Falcão, alugou a casa do Barão de Urgeira para a instituição do asilo; 1905 - a Casa do Poço albergava 10 asilados; 1919, maio - escritura de compra da casa, "ainda com todos os seus pertenças", quintal e capela que pertencera ao Barão da Urgeira, por 3000 escudos, verba conseguida por empréstimo entre os sócios do clube, sendo uma parte oferecida e outra sem juros, a amortizar por sorteio e outra ainda a baixo juro, para ali se instalar o Clube Recreativo Valenciano; foi adquirido por meio de ações de 5$000 cada; 1920, fevereiro - falava-se em estar para breve a mudança do Clube para o novo edifício; abril - decide-se vender a talha da capela das Carlas, então propriedade do Clube Recreativo Valenciano; maio - aprovação dos Estatutos da Cooperativa de consumo pertencente ao Clube; 1925, janeiro - os sócios do clube resolveram em assembleia-geral vender a Casa do Poço onde estavam instalados e doar a respetiva importância com o mobiliário à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Valença; março - venda da casa ao médico Dr. Ibério Nogueira, que ali viveu largos anos; séc. 20, finais - venda da Casa do Poço e Capela das Carlas pelos herdeiros do Dr. Ibério Nogueira; adaptação a turismo de habitação. |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura rebocada e pintada; molduras dos vãos, frisos, cornijas, pilastras, sacadas e outros elementos em cantaria de granito; caixilharia e portas em madeira; vidros simples; guarda da escada em vidro; pavimentos cerâmicos, lajes de granito, soalho de madeira e parquet; cobertura de telha. |
Bibliografia
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NEVES, Manuel Augusto Pinto - Valença. Das origens aos nossos dias. Valença: 1997; NEVES, Augusto Pinto - Valença entre a História e o Sonho. Valença: 2003; NORTON, Álvaro - A Casa do Poço da Praça Forte de Valença. Valença: 1997. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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DGPC: DGEMN:DSID, SIPA |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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Observações
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*1 - A designação de Casa do Poço poderá advir do facto de ter sido construída na proximidade do poço da Gaviarra. *2 - O capitalista António José Ribeiro Guimarães fundou, por volta de 1810, a casa bancária Leite Ribeiro e foi pai do futuro 1º Barão da Urgeira, Manuel José Leite Ribeiro e Silva, nascido a 8 abril de 1817 e batizado a 12 do mesmo mês na Igreja Paroquial de Valença. O Barão de Urgeira, homem de negócios e abastado proprietário, foi deputado em diversas legislaturas, fundou o Colégio de Santa Clara, para meninos das classes mais elevadas e para prestar auxílio às Irmãs da Caridade, que viviam em Valença. *3 - Foram hóspedes da Casa do Poço Manuel de Arriaga Brum da Silveira e o Bispo de Coimbra, quando se deslocava à vila. |
Autor e Data
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Paula Noé 2007 |
Actualização
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João Almeida (Contribuinte externo) 2018 |
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