Ermida e Albergaria de Santa Marina / Ermida e Albergaria de Nossa Senhora da Fonte Santa

IPA.00016513
Portugal, Évora, Alandroal, Terena (São Pedro)
 
Arquitectura religiosa e assistencial, barroca, rococó. Ermida de planta simples, rectangular, com albergaria anexa; fachada composta por porta ladeada por janelas rectangulares, e encimada por janelão, terminando em frontão triangular, de cornija saliente e campanário axial. Tanto a fachada como o interior da ermida, apesar das reduzidas dimensões e da extrema simplicidade, denotam alguma monumentalidade, havendo o recurso à cenografia, sobretudo na composição do arco triunfal e da capela-mor, com retábulo-mor em estilo rococó tardio; no púlpito, decoração de carácter ilusório, traduzido pelos balaústres pintados no facial. Albergaria com planta disposta na longitudinal, de dois pisos, sendo o piso térreo composto por sucessão de espaços abobadados, em aresta, primitivamente abertos, sobretudo usados como cavalariças e cocheiras, e o primeiro piso para alojamento de peregrinos.
Número IPA Antigo: PT040701050035
 
Registo visualizado 306 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Assistencial  Albergaria / Hospedaria    

Descrição

Planta composta por ermida, de planta longitudinal, simples, rectangular, constituída por nave e capela-mor pouco profunda, e albergaria anexa, de planta composta, e fonte. Coincidência exterior / interior, nos alçados visíveis. Massas dispostas na horizontal. Cobertura diferenciada em telhado de duas águas na ermida e em telhado de uma água no albergue. ERMIDA: Fachada principal virada a NE., de pano único, delimitado por pilastras pintadas de azul, com dois registos: no primeiro rasga-se portal axial, de verga direita, encimado por cornija, e ladeado por dois vãos de janela, rectangulares, encimados por inscrições epigráficas; portal sobrepujado por janelão rectangular, irrompendo a cornija, que o sobreleva em arco de volta perfeita; no segundo registo surge frontão triangular, com empena rematada com cornija, ladeada, à direita, por acrotério com fogaréu, e sobrepujado, no topo, por campanário, de ventana em arco de volta perfeita, emoldurado, com cornija e frontão de volutas, com sino e, no topo, cruz com galo. Alçado SE. adossado ao edifício anexo. Alçado NO. parcialmente enterrado, coberto por vegetação; apresenta contraforte chanfrado, próximo da zona de cunhal, junto à fachada principal, e remate em cornija, com beirado. FONTE: adossada ao alçado NO. da ermida, a cota inferior, situa-se a denominada Fonte Santa, inscrita em nicho formado por arco em asa de cesto, de abertura para o tanque em verga direita, com entablamento e frontão triangular, de cornija acentuada, no qual se abre pequeno nicho em volta perfeita, com uma flor pintada, ladeado pelas iniciais F. e S.*3. INTERIOR: nave única, com cobertura em abóbada de berço, a partir das cornijas que rematam os alçados laterais da nave. Alçado NE.: vão de porta ladeado por vãos de janela, rectangulares, e encimado por vão de janelão, rectangular; à esquerda do portal, pia de água benta em forma de cálice. Lado do evangelho: à esquerda, vão de acesso para o albergue, sobrepujado por vão, interrompendo este a cornija que remata o alçado; à direita, púlpito adossado, com muro facial, recortado, decorado com falsos balaustres pintados a tinta de água, para o qual se ascende por escada adossada à parede. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras, munidas de embasamento e capitéis moldurados. Capela-mor rectangular, pouco profunda, com alçados cegos e cobertura em abóbada de berço, com mesa de altar em forma de urna, com cruz de hastes trilobadas pintada a meio, e retábulo-mor com três nichos envidraçados, com remate em jeito conupial, ornado de entalhe dourado de carácter vegetalista, sobre predela dividida em três faces por pilastras, com cruz na face do meio e ornatos nas laterais, em baixo relevo. Cornijas dos alçados laterais, molduras do arco triunfal, decoração da mesa de altar e baixos relevos da predela pintados a azul. ALBERGARIA: edifício de dois pisos, sendo o piso térreo de planta rectangular e o primeiro piso de planta em "T". Fachada virada a NE., composta por dois registos, separados por linha de imposta, saliente: primeiro registo, dividido em cinco panos por contrafortes de bases, sendo os dois primeiros panos rasgados em arco de volta perfeita, com muro baixo, rasgado no primeiro tramo para acesso; os restantes três panos estão entaipados, apresentando ressalto evidente em volta perfeita, óculo rasgado no primeiro e porta de verga direita no segundo; segundo registo ritmado por cinco vãos de janela, rectangulares, axiais relativamente aos arcos inferiores, com remate em cornija e beirado. Alçado SE.: com remate em empena, de uma só água, vão de porta rasgado a eixo, de verga direita, com escada de acesso de dois lances. Alçado SO.: volume saliente, de alçados cegos. Alçado NO.: adossado à ermida, com remate em cornija e beirado. INTERIOR: Corpo corrido de cinco tramos, coberto por sucessão de abóbadas de aresta, separadas transversalmente por arcos torais de secção rectangular que morrem no alçado NE. em pilares adossados à parede, com imposta, acompanhados dos pés-direitos dos arcos formeiros, e, no alçado SO., directamente na parede dos dois primeiros tramos e em mísulas com perfil em voluta nos restantes; corpo dividido em três divisões. Primeira divisão constituída por dois tramos, com ressalto corrido no alçado SO., acompanhado ao nível superior por argolas embebidas na parede; alçado NE.: alçado composto por dois arcos abertos para o exterior, em volta perfeita, formando o perfil da cobertura interior; ao nível inferior, muro baixo, com espaço de arrecadação, que fecha o alçado, apenas com passagem para o exterior no primeiro arco, à direita. Segunda divisão constituída por um só tramo, com alçados de perfis em volta perfeita, dados pela cobertura interior; óculo ao nível superior no alçado NE. e arco toral, com larga moldura, preenchido com paramento até metade do arco, com porta rasgada axialmente no alçado NO. Terceira divisão constituída por dois tramos, com alçado NE. rasgado por porta de acesso ao exterior ao nível do primeiro tramo e, ao nível do segundo, à esquerda, escada de acesso a vão aberto ao nível superior, que dá para a ermida, adossada à parede e virada para SE., com muro facial; à esquerda, por baixo do vão de escada, lavatório de moldura curva, em baixo relevo, com taça em forma de concha; acesso ermida através de vão de porta aberto no alçado NO., ladeado, à esquerda, por pia de àgua benta, gomeada, embebida na parede. Primeiro piso: sequência de quatro salas comunicantes por vão de porta rasgado axialmente, com janelas no alçado NE, correspondente à descrição exterior, tendo a primeira duas janelas e as restantes uma cada; na segunda sala, no alçado SO. vão de porta de acesso à cozinha, com chaminé no alçado SO., nicho na parede e poial a NO., e vão de janela a SE.; piso coberto por salta ratos, com telha à vista.

Acessos

Na estrada Alandroal - Redondo, a c. de 9Km. do Alandroal, toma-se o caminho vicinal, à esquerda, em frente ao Monte da Malhada Alta, e segue-se por caminho de terra batida c. de 1,5Km., pelo meio do eucaliptal, até ao Monte do Tojal; vira-se à esquerda, em descida acentuada, até se encontrar um cruzeiro; neste vira-se à esquerda e a ermida encontra-se a c. de 250m, no vale da ribeira de Lucefece *1.

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, a meia-encosta, isolado, estando o alçado SO. ao nível do piso térreo, aterrado na encosta. A ermida e edifício anexo relativo ao albergue de peregrinos integram-se em espaço murado, fronteiriço, disposto na longitudinal e a acompanhar toda a fachada principal do conjunto, com entrada a SE., tendo o muro a NE. adossado um banco corrido. A fachada da ermida é antecedida por adro, de três degraus, e banco corrido colocado na perpendicular em relação ao plano da mesma. Dentro do recinto, a NO., no alinhamento da fachada da ermida mas a cota inferior, encontra-se uma mina de água, a chamada Fonte Santa. A NE. do conjunto, e paralelamente ao muro do adro, corre, em cota muito inferior, a ribeira de Lucefece. É de referir a existência de um cruzeiro a c. de 250m, assente em embasamento em forma de paralelepípedo, com base trapezoidal, e cruz latina; base com a seguinte inscrição epigráfica: MARIANNA / DE JESUS / BARRADAS / 1841. Trata-se de um espaço de grande valor paisagístico, com bons pontos de observação para o vale, existindo alguns moinhos na proximidade.

Descrição Complementar

EPIGRAFIA: na fachada da Ermida os vãos de janelas são acompanhados, ao nível superior, por lápides epigrafadas, com as seguintes inscrições: no vão da esquerda: NO ANNO DE 1802 COMSE/ GVIO O DEVOTO IOÃO DE DE / OS ABCTVRA (sic) DESTA IGREIA / DE ESMOLAS Q. ALCAMÇOV DOS / FIEIS ASISTINDO E TRABA / LHADO GRAVOV ESTA LEMBRA / QA. (sic) Q: ALGVM TOME. O SEV ZELO / P.N.AV M:P. ALMAS.; no vão da direita: ESMOLAS PARA / AS OBRAS DE NOSSA S.A DA / CONSEIÇÃO DA / FONTE. SANTA / 1779.

Utilização Inicial

Assistencial: albergaria

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1755, 1 de Novembro - a ermida de Santa Marina, fundada em período desconhecido, fica muito arruinada com o terramoto; 1758 - reconstrução da ermida, encontrando-se ainda sem coberturas, de acordo com notícia do pároco da Matriz do Redondo, P.e Aleixo Nunes Valério; séc. 18 - a abertura para o tanque da fonte é enriquecida com jambas de mármore (ESPANCA, 1978); 1810 - séc. 20 - feitura de ex-votos pintados; séc. 19, inícios - reforma arquitectónica do albergue e alterações na ermida, campanha em que trabalhou, como servente, um benemérito chamado João de Deus, o qual promoveu durante anos uma colecta para financiar a obra; 1841 - colocação do cruzeiro a c. de 250m da ermida, mandado fazer por D.ª Mariana de Jesus Barradas; séc. 20, inícios - a ermida ainda era alvo de grandes romagens, protagonizadas por povoações vizinhas (ESPANCA, 1978); 1978 - o coro-alto da ermida, posterior à construção original e entretanto apeado, ainda existe, tendo sido presenciado por Túlio Espanca, que o descreve como sendo constituído por "grossos barrotes de madeira, com balaustrada de cancelos recortados"; o mesmo autor dá notícia das imagens que se veneravam no retábulo-mor, entretanto furtadas, nomeadamente Santa Margarida, de roca, no nicho central, Cristo da Ressurreição e São Brás, no nicho da esquerda, e São João de Deus, no nicho da direita, sendo as três últimas em terracota policromada, talvez da oficina de Estremoz, datáveis da segunda metade do séc. 18; na mesma data, existia ainda a banqueta, também desaparecida, composta por crucifixo e castiçais em estanho, em estilo rococó; os elementos em mármore que compunham a estrutura da Fonte Santa estavam pintados a escaiola, em tons de azul, tal como as pilastras que dividem a fachada do albergue em panos; os ex-votos pintados a óleo, sobre tela ou tábua ainda existiam nas paredes interiores da ermida, fazendo Túlio Espanca especial referência ao ex-voto que terá sido oferecido por Dª Mariana de Jesus Barradas (ESPANCA, 1978).

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Alvenaria mista, rebocada e caiada. Granito: emolduramento de vãos de porta e janela. Mármore: lápides epigrafadas, pia de água benta na sacristia e taça do lavatório, degraus, argolas embutidas na parede, vão da fonte, cruzeiro. Xisto: capeamento dos degraus exteriores e bancos, armários e poial da cozinha. Telha cerâmica: coberturas. Tijoleira: pavimentos. Tijolo maciço: abóbadas. Vidro simples: retábulo do altar-mor. Terra: pavimento. Ferro: vãos de janela com gradeamentos, cata-vento do campanário. Ferro pintado: portão de acesso ao adro, portas e janelas da ermida. Bronze: sino do campanário. Betonilha: pavimento da sacristia e cozinha. Madeira: armação do sino, pavimento da nave em soalho, tecto do piso superior com salta-ratos (ripado). Madeira pintada: portadas de janelas. Madeira policromada: retábulo do altar-mor.

Bibliografia

ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora, T. 1, vol. 9, Lisboa, 1978.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Observações

*1 - O nome da ribeira varia na cartografia e na bibliografia, aparecendo também com ribeira de Lucefecit ou de Lucefecir; *2 - trata-se de uma nascente, sendo o tanque arredondado e, segundo Túlio Espanca, do tipo de mergulho (ESPANCA, 1978). De acordo com Espanca, o piso térreo do albergue servia de cavalariças e cocheiras, enquanto que o primeiro piso funcionavam os aposentos das "diferentes confrarias promotoras das festividades e romarias" (ESPANCA, 1978). Houve já tentativa de aquisição do conjunto construído por parte de particular.

Autor e Data

Ana Pagará e Cláudia Martins 2001

Actualização

 
 
 
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