Bairro dos Contramestres da Fábrica de Cerâmica das Devesas

IPA.00015624
Portugal, Porto, Vila Nova de Gaia, União das freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada
 
Conjunto arquitetónico residencial unifamiliar. Habitação económica de promoção privada. Conjunto operário de pequena dimensão, composto por casas unifamiliares banda térreas com logradouro no tardoz, e fachada principal orientada para a rua.
Número IPA Antigo: PT011317160040
 
Registo visualizado 251 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico   Edifício  Residencial unifamiliar  Habitação económica  Promoção privada (Fábrica de Cerâmica das Devesas)  Bairro operário

Descrição

Conjunto de casas em banda, constituído pela associação de três módulos de 12 m de frente, com logradouro, sendo os dos extremos duas casas geminadas e o central uma única casa. Volumes articulados de acordo com os módulos, com coberturas em telhado de duas águas, de onde se erguem pontualmente ao eixo na frente e traseiras dois volumes alinhados, águas furtadas com cobertura de duas águas e beiral saliente. A fachada principal, orientada a O., de embasamento rebocado e totalmente revestida a azulejo padrão facetado, é marcada nas casas geminadas pela associação de duas portas de entrada de verga curva, separadas por uma coluna de ferro fundido e emolduradas por elementos em tijolo cerâmico vidrado amarelado, raiado a preto e vermelho. No módulo da casa única, no lugar das duas portas associadas, um corpo ligeiramente destacado onde se insere a porta de entrada apresenta nas esquinas elementos cerâmicos, iguais ás molduras. A ladear as portas de entrada, duas janelas rectangulares de duas folhas de verga curva com a mesma moldura. O elemento central da padieira de todos os vãos, é uma peça única saliente em tijolo vidrado cerâmico em relevo com uma sucessão de elementos vegetalistas: folhas de acanto. Superiormente uma barra com azulejo com o mesmo tratamento cromático serve de transição a uma cornija cerâmica denteada. A fachada posterior rebocada é caracterizada por telhados salientes no alinhamento das águas furtadas de duas janelas, gerando alpendres. Alguns deles foram fechados com caixilharias. INTERIORMENTE, a casa ligeiramente elevada relativamente à rua apresenta um hall com uma escadaria com lambrim de azulejos padrão. Do hall, um corredor que acede lateralmente a uma sala com duas portas de ligação a dois compartimentos interiores tipo alcovas. Ao fundo do corredor dois compartimentos, sala e cozinha confrontam com o logradouro. Entre estes dois espaços e as alcovas uma escadaria estreita de dois lanços opostos leva ao 2º piso, a um pequeno corredor de acesso a quatro compartimentos tipo alcova, dois na frente e traseiras, sendo iluminados por telhas de vidro ou pelas aberturas das águas furtadas. Neste piso o tecto estucado mantém as pendentes da cobertura. Todos os espaços, à excepção da cozinha são soalhados e apresentam uma caracterização simples e despojada, com altos rodapés e portas almofadadas pintadas.

Acessos

Rua Visconde das Devesas, n.º 227, 229 , 241, 251 e 253

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, adossado a N. a prédios recentes de quatro pisos e a S. a um armazém. O bairro localiza-se do lado E. da R. Visconde das Devesas nas proximidades da antiga Creche de Emília Jesus Costa, actualmente devoluta. No enfiamento a N. desta R. o edifício da Estação de caminho de ferro das Devesas. Este conjunto de casas iguais, apresenta um logradouro que confronta com as paredes laterais em alvenaria de granito dos extensos armazéns da R. Heliodoro Salgado.

Descrição Complementar

Sobre o vão das portas nºs 227 e 229, fixa sobre os azulejos uma placa de ferro fundido com a seguinte inscrição: "Companhia do Douro. Porto. 1875".

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1832 - Nasce António de Almeida Costa; 1860 - António A. Costa, vem de S. Domingos de Rana, Cascais, para o Porto e abre uma oficina de mármores; 1863 - António Costa executou o pedestal de D. Pedro V, na Pç. da Batalha *3; 1865 - fundação da Fábrica de Cerâmica das Devesas por António Almeida Costa *4; 1881 - trabalhavam na fábrica 180 pessoas; 1884 - a fábrica das Devesas cede dependências para o funcionamento da escola de Desenho Industrial "Passos Manuel" *5;1886 - é aberta uma filial em Pampilhosa do Botão; 1887 - a fábrica das Devesas já empregava 700 funcionários; 31 Agosto - a escola deixa a Fábrica e passa a funcionar no Edifício das Escolas Paroquiais de Gaia; Séc. 19 - construção do bairro dos contramestres *6; 1899, 17 Agosto - requerida licença de construção do edifício depósito-mostruário no Porto por António de Almeida Costa & Cª; 31 Agosto - concedida a licença de construção; 1901 - construção do edifício/depósito; 1908 - visita à Fábrica das Devesas do rei D. Manuel II; 1909, 23 Abril - José Joaquim Teixeira Lopes retira-se da sociedade; 1910 - publicação do Catálogo da Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devesas; 1915, a 7 de Novembro- no seu palacete morre António Almeida e Costa *7; 1937, 16 Julho - a Comissão Administrativa, transfere para a Misericórdia de Gaia a administração do Asilo António de Almeida Costa e Creche D. Emília de Jesus Costa; 1938, 1 Janeiro - formaliza-se a transferência para a Misericórdia de Gaia *8; Anos 60, finais - demolição das duas casas de contramestres, adossadas ao nº189 da R. Visconde das Devesas; 1972 - construção de dois prédios pela misericórdia a substituir as casas demolidas *9; 1999 - o nº 229 fica devoluto; 2013, 17 julho - publicação da abertura do procedimento de classificação do Complexo da Fábrica das Devesas, em Anúncio n.º 251/2013, DR, 2.ª série, n.º 136; 2015, 29 maio - publicação do Anúncio n.º 137/2015 relativo à caducidade de classificação do Complexo da Fábrica de Cerâmica e de Fundição das Devesas, em DR 2.ª série, n.º 104.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores em alvenaria de tijolo maciço revestidas a reboco ou elementos cerâmicos; cobertura em estrutura de madeira revestida a telha marselha; paredes interiores estucadas; tectos estucados; pavimento em estrutura de madeira forrada a soalho; caixilharias de madeira pintadas; cornija em tijolo cerâmico vidrado

Bibliografia

Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devesas, António Almeida da Costa & Cª. , Vila Nova de Gaia, Catálogo, Real Typ. Limt. Lusitana, Gaya - Porto, 1910; LOPES, A. Teixeira, Ao correr da pena. Memórias de uma vida..., Vila Nova de Gaia 1968; VILA, Romero, A Fábrica do Costa das Devesas, in Amigos de Gaia, Vila Nova de Gaia, Maio 1979, pags. 5 a 10 ; 1ª Exposição de Cerâmica de Gaia, Catálogo da Exposição Temporária, Amigos de Gaia com Casa - museu Teixeira Lopes, 1979; SILVA, Germano, Vitória, Porto 1995; CORDEIRO, José Manuel, As Fábricas portuenses e a produção de azulejos de fachada (Sécs XIX - XX), in Azulejos no Porto, Catálogo da Exposição Temporária- Mercado Ferreira Borges, Câmara Municipal do Porto, Porto, 1996; LUÍS, Agustina Bessa, O Porto em vários sentidos, Lisboa 1998; SILVA, Francisco, A Misericórdia de Vila Nova de Gaia, 1929-1999, Porto 1999

Documentação Gráfica

SCMVNG: AH

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; SCMVNG: AH

Documentação Administrativa

SCMVNG: AH; IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

SCMVNG: Anos 80 - Remoção dos azulejos e colocação de reboco (nºs 251 e 253); anos 90 - substituição de alguns caixilhos; Inquilino: anos 90 - pintura e reparação de caixilhos, e tectos do último piso.

Observações

*1 - Incluído no "Conjunto da Fábrica de Cerâmica das Devesas, incluindo núcleo fabril 1, núcleo fabril 2, Casa António Almeida da Costa, Bairro dos Operários, Bairro dos Contramestres, Creche Emília de Jesus Costa, Asilo António Almeida da Costa, Conjunto Habitacional e Depósito de Materiais do Porto (R. José Falcão e R. da Conceição)". A Fábrica de Cerâmica das Devesas, fundada por António Almeida da Costa possuía incorporada na mesma uma Fundição. Esta Fundição além da produção de artefactos de ferro produzia as máquinas ligadas à produção cerâmica. O sócio de António Almeida e Costa era o Mestre José Joaquim Teixeira Lopes, Mestre de Escultura Cerâmica. A sua formação vinha da Escola de Belas Artes do Porto e da Escola Imperial de Paris. A unidade industrial das Devesas, assim como a do Carvalhinho e a de Massarelos estão ligadas à produção de "azulejo de relevo". Inicialmente era conhecida pela Fábrica A. A. Costa & Cª., depois Fábrica Cerâmica e Fundição das Devesas e posteriormente Companhia Cerâmica das Devesas. Deve-se à Fábrica das Devesas a introdução em Portugal da telha marselha. A ela estiveram ligados grandes artistas cerâmicos, como Teixeira Lopes (pai), Teixeira Lopes, Oliveira Ferreira, Diogo Macedo, Sousa Caldas, Henrique Moreira e etc. Na sua produção, além do fabrico de azulejos relevados, louça artística comum, ferros forjados e fundidos, mosaicos de pavimento distinguiu-se na reprodução de obras da Escola de Gaia, nomeadamente estatuária e painéis decorativos. Dada a importância da Fábrica das Devesas e sendo o Porto um centro de comércio por excelência é construído este edifício na R. D. Carlos I (actual R. José Falcão) como casa-depósito dos materiais produzidos para mostruário e comercialização dos mesmos. A existência de duas tipologias neste conjunto leva a pensar que havia uma hierarquia na atribuição das mesmas tendo em conta a importância do trabalhador e cargo que ocupava na fábrica. Este facto não tinha relação na melhoria dos acabamentos da habitação, mas sim na área, neste caso duplicava. *1 - Incluído no conjunto da Fábrica Cerâmica das Devesas que fazem parte : A- núcleo fabril 1; B- Núcleo fabril 2; C- Casa António Almeida Costa; D- Bairro dos operários; E- Bairro dos Contramestres; F- Creche Emília de Jesus Costa; G- Asilo António Almeida da Costa; H - conjuntos habitacional do concelho de Vila Nova de Gaia e o Depósito de Materiais na R. José Falcão no Porto; *2- o nº 229; *3 - da autoria de Mestre Teixeira Lopes (pai); *4 - estabelecida em Vila Nova de Gaia em 1865, constituía na época uma das maiores e mais bem equipadas unidades fabris no género na Península Ibérica; *5 - após o decreto de 6 de Maio de 1884 foram decretadas treze escolas de desenho industrial, uma delas em Gaia; *6 - a data inscrita na placa de ferro de "1875", apenas indica a data da fundação Companhia de Seguros Douro, sediada no Porto no Lg. de S. Domingos no chamado Edifício Douro; *7 - no testamento " depois de dispor algumas verbas a favor de familiares e de instituições e entidades diversas, legou o remanescente da sua grande fortuna - terrenos, prédios, etc. - ao Asilo António de Almeida Costa e Creche D. Emília de Jesus Costa (nome da sua falecida esposa), cujo funcionamento confiou ás creches de Santa Marinha, designando uma Comissão administrativa, para que se encarregasse da respectiva administração, e conferindo à mesma o direito de, se tal se mostrasse aconselhável e conveniente, transferir a direcção e manutenção do Asilo e da Creche para quem melhor pudesse garantir o seu bom funcionamento."; *8 - " ficando desde então todos os valores da herança assim como o funcionamento do Asilo (actual Lar António de Almeida Costa) e da Creche D. Emília de Jesus Costa a cargo da Misericórdia..."; *9 - da autoria do Arquitecto António Pereira das Neves.

Autor e Data

Isabel Sereno 2000

Actualização

Anouk Costa 2014
 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login