Edifício na Rua Visconde das Devesas, n.º 189 / Creche Emília Jesus Costa

IPA.00015622
Portugal, Porto, Vila Nova de Gaia, União das freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada
 
Arquitectura civil, revivalista. Edifício de planta em L, com cobertura de duas e três águas de onde se destacam cinco águas furtadas duplicadas nas traseiras de janela única de verga curva e cobertura de duas águas. Fachadas de rua totalmente revestidas a azulejo padrão, de vãos emoldurados com elementos em tijolo cerâmico vidrado raiados. Fachada principal e lateral com três ordens de aberturas. Recurso a formas e elementos utilizados no período romântico revivalista, como os arcos, colunelos mísulas, folhas de acanto, flores e etc. Recurso à escultura associada ou sobreposta aos elementos arquitectónicos.
Número IPA Antigo: PT011317160038
 
Registo visualizado 162 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial multifamiliar  Edifício    

Descrição

Lote de planta rectangular onde se implanta um edifício de planta em L ao qual se adossa no extremo E. um outro de planta rectangular com a mesma profundidade. No logradouro, na extremidade E. insere-se um anexo de planta rectangular com cobertura em telhado de duas águas. O conjunto destes dois edifícios constitui um edifício em L de quatro pisos sendo um deles amansardado com aproveitamento do vão do telhado. Volume simples de cobertura em telhado de duas águas na R. Visconde das Devesas e três águas para a R. Heliodoro Salgado destacando-se para as ruas cinco águas furtadas alinhadas com outras nas traseiras, de janela única de verga curva, com cobertura em telhado de duas águas de beiral saliente em madeira. Fachada principal orientada a O., totalmente revestida a azulejo padrão ou elementos cerâmicos e com embasamento rebocado. Os diferentes elementos cerâmicos organizam-se na fachada constituindo faixas ou frisos, articulando diferentes tonalidades e formas desde o embasamento à platibanda. Fachada simétrica, encaixada entre pilastras, subdividida em três corpos, sendo o central destacado marcado por duas pilastras reentrantes no piso térreo. Aqui insere-se a porta principal encimada por um arco pleno reentrante onde se sobrepõe um conjunto escultórico cerâmico conhecido pelos Meninos *1, encimada por frontão triangular. A sobrepujar este portal vão de arco pleno apoiado lateralmente num colunelo em mosaico cerâmico. Os corpos laterais fortemente ritmados por três vãos alinhados por cada piso, apresentam no primeiro frestas de verga curva, engradadas, no segundo janelas de verga recta de duas folhas e no último repete-se a janela sob o portal ladeadas por colunelo. Nestas últimas aberturas, sobrepostas à padieira de arco pleno de secção semi circular sobrepõe-se ao eixo uma peça cerâmica saliente relevada constituída por folhas de acanto. Estas peças decoram a fachada como mísulas no alinhamento dos colunelos, colocadas sob o friso inferior saliente que percorre a fachada ao nível dos parapeitos destas aberturas. Os vãos do primeiro e segundo piso apresentam-se emolduradas por elementos cerâmicos vidrados e raiados de tonalidade amarelada, constituindo um contorno recortado. Superiormente um friso de azulejos quadrados com uma flor relevada constitui uma linha de entablamento a anteceder uma cornija recortada e denteada, sobre a qual apoia uma platibanda corrida, intercalada por partes fechadas ou vasadas, com elementos cerâmicos. A interromper esta platibanda, no corpo central saliente um alto-relevo com cenas infantis. A rematar as pilastras da esquina, sobre a platibanda ergue-se um conjunto escultórico cerâmico de dois meninos sobre um vaso. A fachada lateral, da R. Heliodoro Salgado, exposta a N., entre pilastras, de embasamento rebocado e com uma porta colateral de arco abatido, junto à esquina (nº1), prolonga os frisos, faixas cerâmicas e platibanda repetindo o mesmo tipo de vãos segundo a modulação de cinco aberturas. Na extremidade E. a fachada sofre uma ligeira variação, demarcando um edifício com o n.º 2, apenas com dois pisos de aberturas de verga curva, que se traduz na repetição de três vãos alinhados e emoldurados por elementos cerâmicos de limite recortado. Estes seis vãos ostentam a peça central destacada e saliente com folhas de acanto. A fachada posterior arruinada deixa perceber a pré-existência de varandas corridas entre volumes salientes, apoiadas em colunas de ferro fundido de secção circular. No INTERIOR, no edifício principal destaca-se o hall com uma escadaria bifurcada com patamar intermédio com lambrim de azulejos apoiada em rodapé cerâmico, encimado por tecto curvo estucado e decorado por molduras e medalhões. Todos os espaços, com tectos estucados, limitados por molduras salientes, na sua maioria soalhados apresentam uma caracterização simples, com rodapés altos e portas almofadadas pintadas.

Acessos

Rua Visconde das Devesas, n.º 189, R. Heliodoro Salgado, n.º 1 e 2

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, adossado, de gav. entre a R. Visconde das Devesas e a R. Heliodoro Salgado. Insere-se na continuidade da frente do Bairro dos Contramestres (v. PT011317160040). Para a R. Heliodoro Salgado este prédio resulta da associação de dois edifícios, estando adossado a armazéns. A fachada posterior do imóvel e um pequeno anexo do logradouro confrontam com as altas paredes laterais de alvenaria de granito destes extensos armazéns. Nas proximidades do centro histórico de Gaia, e da Estação de caminho de ferro das Devesas localizada no enfiamento N. da R. Visconde das Devesas.

Descrição Complementar

A porta principal em madeira, almofadada, é encimada por uma caixilharia fixa de ferro fundido, com prumos sugerindo cordas, e vidros lisos azuis e brancos. Nesta caixilharia insere-se ao centro a data"1894". Também nas fachadas de rua existe um friso cerâmico vidrado com uma corda sobreposta no mesmo material.

Utilização Inicial

Residencia multifamiliar: edifício / Educativa: jardim de infância / creche / Assistencial: recolhimento

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Escultor: Joaquim Teixeira Lopes (conjunto escultórico Meninos)

Cronologia

1865 - Fundação da Fábrica de Cerâmica das Devesas por António Almeida Costa; 1894 - construção da Creche Emília de Jesus Costa; 1914 - falecimento de D. Emília de Jesus Costa *1; 1915, a 7 de Novembro - morre António Almeida e Costa *2, tendo por testamento legado as suas propriedades ao Asilo António de Almeida Costa e Creche D. Emília de Jesus Costa, cujo funcionamento confiou às creches de Santa Marinha, designando uma Comissão Administrativa, para que se encarrega-se da respectiva administração; 1920, 25 de Julho - a Comissão Administrativa numa reunião entendeu que deveria juntar o asilo e a creche num único edifício elegendo o asilo recentemente inaugurado sugerindo que a creche ficasse no último piso e os asilados no piso inferior; 31 Dezembro - após a deliberação anterior é considerada a pertinência em adaptar a creche provisoriamente a várias habitações para arrendamento a favor da instituição; 1937, 16 Julho - a Comissão Administrativa, constituída por Abílio de Castro, José da Silva Guimarães e Padre Augusto de Campos Pinto transfere para a Misericórdia de Gaia a administração do Asilo António de Almeida Costa e Creche D. Emília de Jesus Costa; 1938, 1 Janeiro - formaliza-se a transferência para a Misericórdia de Gaia *3 ficando, então, além do Asilo e Creche, todos os valores da herança a cargo da Misericórdia; 1995, 19 Janeiro - a Misericórdia de Gaia solicita uma vistoria à Câmara Municipal de Gaia, estando nesta altura o edifício da R. Visconde das Devesas a ser arrendado para habitações e comércio; 27 Agosto - a Câmara emite duas certidões: uma que certifica que os tectos e telhado apresentam risco iminente de desmoronamento e outra a confirmar que as obras a realizar não podem ser executadas com pessoas alojadas; 1996 - a misericórdia transfere os últimos inquilinos (nº189) ou negoceia a sua saída ficando o prédio devoluto; o nº2 fica devoluto; 1999 - candidatura do imóvel para uma adaptação a fins culturais (escola de dança); 1999, 14 Abril - despacho de classificação do conjunto da Fábrica de Cerâmica das Devesas, incluindo núcleo fabril 1, núcleo fabril 2, Casa António Almeida da Costa, Bairro dos Operários, Bairro dos Contramestres, Creche Emília de Jesus Costa, Asilo António Almeida da Costa, Conjunto Habitacional e Depósito de Materiais do Porto (R. José Falcão e R. da Conceição); 2000 - parte do edifício nas traseiras e no interior desmorona-se; 2013, 29 maio - o processo de classificação foi considerado caducado por despacho da diretora-geral da DGPC, após parecer do Gabinete Jurídico, a requerimento da proprietária; 2015, 29 maio - publicação do Anúncio n.º 137/2015 relativo à caducidade de classificação do Complexo da Fábrica de Cerâmica e de Fundição das Devesas, em DR 2.ª série, n.º 104.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paredes exteriores em alvenaria de tijolo maciço revestidas a reboco e ou azulejos padrão; cobertura em estrutura de madeira revestida a telha marselha; paredes interiores em alvenaria de tijolo maciço estucadas, ou revestidas a azulejo padrão; tectos estucados; pavimento em estrutura de madeira forrada a soalho ou mosaico cerâmico; caixilharias de madeira pintadas

Bibliografia

Fábrica Cerâmica e de Fundição das Devesas, António Almeida da Costa & Cª., Vila Nova de Gaia, Catálogo, Real Typ. Limt. Lusitana, Gaya - Porto, 1910; LOPES, A. Teixeira, Ao correr da pena. Memórias de uma vida..., Vila Nova de Gaia 1968; VILA, Romero, A Fábrica do Costa das Devesas, in Amigos de Gaia, Vila Nova de Gaia, Maio 1979, pags. 5 a 10 ; 1ª Exposição de Cerâmica de Gaia, Catálogo da Exposição Temporária, Amigos de Gaia com Casa - museu Teixeira Lopes, 1979; SILVA, Germano, Vitória, Porto 1995; CORDEIRO, José Manuel, As Fábricas portuenses e a produção de azulejos de fachada (Sécs XIX - XX), in Azulejos no Porto, Catálogo da Exposição Temporária- Mercado Ferreira Borges, Câmara Municipal do Porto, Porto, 1996; LUÍS, Agustina Bessa, O Porto em vários sentidos, Lisboa 1998; SILVA, Francisco, A Misericórdia de Vila Nova de Gaia, 1929-1999, Porto 1999

Documentação Gráfica

SCMVNG:AH; CMVNG

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID; SCMVNG: AH

Documentação Administrativa

SCMVNG: AH; IHRU: DGEMN / DSID; CMVNG

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Com grandes afinidades com o conjunto designado "Grupo de amores", executado em 1912 por José d'Oliveira Ferreira para a fachada da Ourivesaria Cunha na Rua 31 de Janeiro, n.º 200 (v. PT011312120117); *2- no testamento feito no Cartório Notarial do Dr. Miguel Joaquim da Silva Leal Junior deixa como total herdeiro dos seus bens as duas instituições, como diz o documento:" ...em harmonia com isto, o rendimento da minha herança será dividida em duas partes iguais, uma para o Asilo e outra para a Creche"; *3 - no testamento " depois de dispor algumas verbas a favor de familiares e de instituições e entidades diversas, legou o remanescente da sua grande fortuna - terrenos, prédios, etc. - ao Asilo António de Almeida Costa e Creche D. Emília de Jesus Costa (nome da sua falecida esposa), cujo funcionamento confiou ás creches de Santa Marinha, designando uma Comissão administrativa, para que se encarregasse da respectiva administração, e conferindo à mesma o direito de, se tal se mostrasse aconselhável e conveniente, transferir a direcção e manutenção do Asilo e da Creche para quem melhor pudesse garantir o seu bom funcionamento. Desde então todos os valores da herança assim como o funcionamento do Asilo (actual Lar António de Almeida Costa) e da Creche D. Emília de Jesus Costa ficaram a cargo da Misericórdia...".

Autor e Data

Isabel Sereno 2000

Actualização

 
 
 
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