Capela de São Caetano

IPA.00015358
Portugal, Viana do Castelo, Monção, Longos Vales
 
Arquitectura religiosa, maneirista. Planta longitudinal composta por nave única, capela-mor e santuário, interiormente cobertas por abóbadas de berço e bem iluminado pelos vãos laterais e axiais, tendo adossado à fachada lateral esquerda sacristia rectangular. Fachadas rebocadas e pintadas, com cunhais apilastrados coroados por pináculos e terminadas em frisos e cornijas. Fachada principal harmónica, integrando duas torres sineiras, com cunhais igualmente marcados, criando três panos, tendo sineiras em arco de volta perfeita e terminando em coruchéu piramidal; o pano central, terminado em frontão triangular sem retorno, com cartela decorada no tímpano, é rasgado por portal de verga recta, almofadado, encimado por friso e frontão de volutas interrompido por nicho, ladeado por duas janelas de capialço. Fachadas laterais com nave contrafortada, rasgada por portas travessas de verga semelhante encimados por friso e frontão interrompido por janela e fresta de capialço no santuário. Fachada posterior terminada em empena. No interior, possui coro-alto, púlpito no lado do Evangelho, duas capelas laterais e retábulo-mor tardo-barroco, em talha policroma e dourada, de planta recta, corpo côncavo e um eixo.
Número IPA Antigo: PT011604110082
 
Registo visualizado 441 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave única, capela-mor e santuário, sucessivamente mais baixos e estreitos, tendo adossado, à fachada lateral esquerda do mesmo, sacristia rectangular. Volumes escalonados, com coberturas em telhados de duas águas, o da sacristia disposto perpendicularmente. Fachadas em alvenaria de granito, aparente, ainda que com vestígios de reboco, com pilastras toscanas nos cunhais, coroadas por pináculos em bola, terminadas em friso e cornija, sobreposta por beirada simples. Fachada principal harmónica, virada a O., rebocada e pintada de branco, integrando duas torres sineiras, de cunhais apilastrados, seccionando a fachada em três panos; as torres possuem dois registos, o superior rasgado por sineira em arco de volta perfeita, moldurada, terminada em friso e cornija, coroadas por pináculos assentes em plintos paralelepipédicos, e cobertas por coruchéu piramidal. No alinhamento das pilastras interiores, possui gárgulas de canhão torsas. O pano central termina em frontão triangular sem retorno, coroada por cruz latina de cantaria, tendo no tímpano cartela circular, de cantaria, contendo cruz latina ladeada por duas aves, relevadas. A fachada é rasgada por portal de verga recta, com moldura almofadada, encimada por friso canelado com falsa chave relevada, e frontão interrompido de volutas, por cartela inscrita com IHS e elementos volutados na moldura; é sobrepujado por nicho em arco de volta perfeita, sobre pilastras, almofadadas, interiormente concheado e albergando imagem pétrea de São Caetano, sobre mísula tipo flor invertida. Ladeiam o nicho duas janelas rectangulares de capialço. Fachadas laterais com nave contrafortada por três possantes contrafortes escalonados e rasgada por porta travesa, de verga recta e moldura convexa, ambos entaipados, encimada por friso convexo e frontão triangular interrompido por janela rectangular de capialço, gradeada; a capela-mor é rasgada na fachada lateral esquerda por porta de verga recta e moldura simples, o santuário na lateral direita por fresta de capialço e a sacristia, a O. e a N., por janela jacente com capialço. Fachada posterior terminada em empena, a da nave rasgada por óculo circular com moldura de capialço. INTERIOR com paredes da nave e capela-mor em alvenaria de granito aparente, pavimento de lajes, o da capela-mor e o da sacristia, dispostas em losango, e integrando a meio da capela-mor lápide sepulcral, inscrita; cobertura em abóbada de berço, a da nave e capela-mor parcialmente em betão, rebocada e pintada, a da capela-mor apenas parcialmente, assente em friso e cornija. A parede fundeira apresenta nos ângulos os corpos salientes das torres sineiras, rebocadas e pintadas de branco e faixa azul; possui coro-alto de betão, assente em pilastras, encimadas por mísulas, com guarda de ferro, acedido lateralmente por vãos rectílineos a partir das torres; no sub-coro, ladeia o portal, pia de água benta cilíndrica, gomada com moldura em torçal sobre pé cilíndrico. A nave possui lateralmente as portas travessas entaipadas, a do lado do Evangelho tendo no vão porta e escada de acesso à torre e coro-alto, e a da Epístola com altar pétreo, inscrito, e albergando imagem sobre mísula; no topo da nave, delimitadas por pilastra toscana, abrem-se, lateralmente, capelas, confrontantes, em arco de volta perfeita, sobre pilastras toscanas, actualmente desnudas, ladeadas por nicho de alfaias em arco de volta perfeita; antecede a capela do lado do Evangelho o púlpito, de bacia rectangular, inferiormente com friso de losangos relevados, e assente em mísula tipo flor invertida, com guarda de ferro, acedido por porta de verga recta, e escada maciça de pedra adossada à capela, com guarda de ferro igual. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas, encimado por arco de descarga e óculo circular, entaipado; é ladeado por dois altares colaterais, com mesas de granito polido, inscritas, suportando imaginaria, protegidos por baldaquino de betão, de perfil contracurvado, o do lado da Epístola apoiado em pilar de granito. Capela-mor com porta travessa do lado do Evangelho e paredes laterais rasgadas por duas capelas, tipo nicho, confrontantes, em arco de volta perfeita sobre pilastras, toscanas, a do lado da Epístola integrando painel de madeira pintado alusivo às Almas, tendo no topo uma Trindade horizontal, ladeadas por nicho de alfaias, em arco de volta perfeita. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas acede ao santuário, disposto em eixo, com paredes e abóboda de berço pintadas de branco e faixa a azul; sobre o supedâneo de um degrau, surge retábulo de talha, policroma a azul, branco, rosa e dourado, de planta recta e corpo côncavo, de um eixo definido por duas colunas de fuste liso, com terço inferior marcado por anel e, sob o capitel coríntio, motivo fitomórfico; ao centro, abre-se nicho em arco de volta perfeita, com moldura côncava e filete dourado, de chave fitomórfica, interiormente pintado de azul com firmamento e albergando trono de cinco degraus rectangulares; ladeia o nicho dois apainelados, de perfil curvo, com mísulas recortadas; sobre entablamento, desenvolve-se ático em frontão espaldar recortado, decorado com várias molduras e elementos vegetalistas, terminado em cornija contracurvada, sobreposta por motivos fitomórficos vazados; banco com apainelado recortado, integrando ao centro sacrário, e formando lateralmente falsos braços, recortados que se prolongam até às mísulas. O retábulo é enquadrado por apainelado de madeira, adaptado ao perfil da cobertura, com falsas pilastras laterais, e cornija, o do lado do Evangelho com porta em arco de acesso à tribuna. No lado do Evangelho abre-se porta de verga recta para a sacristia, a qual tem paredes rebocadas e pintadas de branco e faixa azul e abóbada de berço também pintada. Na parede do lado esquerdo possui vão rectangular de antigo armário embutido e na fundeira, lavabo, com bacia quadrada e reservatório em arco abatido.

Acessos

Longos Vales, Lugar do Outeiro; estradão de acesso ao Santuário de São Caetano a partir do Km 6 da EM Monção - Merufe. VWGS84 (graus decimais) lat.: 42,041066; long.: -8,443700

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, no cimo de um monte, parcialmente coberto de eucaliptal e outras árvores de grande porte. Insere-se em adro, frontalmente lajeado e vedado por muro que, simultaneamente, serve de sustentação de terras, tendo, nos ângulos, altos plintos, paralelepipédicos, suportando pináculos tipo pinha, sendo acedido por escada de pedra. Portal principal precedido por patamar quadrangular de dois degraus. A S. da capela existem vestígios do castro de São Caetano, no meio do qual se ergue um cruzeiro, onde a procissão da festa do orago da capela dá a volta. A SO. do adro ficavam antigamente as leiras de lavradio pertencentes à capela, conhecidas por Passal, com vestígios das casas que albergavam os fiéis durante as novenas.

Descrição Complementar

O altar colateral do lado do Evangelho tem a inscrição, em cinco regras, avivada a preto: ESTE ALTAR FOI PAGO PELOS MORDOMOS DE 1986 EM 1987; o do lado oposto tem a inscrição, numa placa de mármore, OFERECIDO POR JOSÉ MACHADO E MARIA GLÓRIA PALHÃO DA SILVA 1986. O pavimento da capela-mor integra lápide sepulcral com a inscrição AQUI JAS FRANCISCO VAS P.ERMITÃO DE (...). O sino tem a inscrição SANTOS FES EM MONÇÃO.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: Armindo Gonçalves (1957).

Cronologia

Séc. 17 - Francisco Vaz, natural do lugar do Outeiro, trouxe de Castela a imagem de São Caetano, colocando-a num oratório que construiu na sua casa, no mesmo lugar do Outeiro; tendo a imagem começado a ser visitada por muitas pessoas que lhe ofereciam esmolas, Francisco Vaz erigiu capela no lugar dotando-a com os ornamentos necessários e com uma nova imagem de São Caetano; 1673 - obrigação da fábrica da capela a favor de Francisco Vaz, do lugar do Outeiro, da mesma freguesia; 1681, 11 Junho - Francisco Vaz, viúvo e sem descendência, faz escritura de doação à fábrica da capela de 8 alqueires de pão de segunda meado que lhe eram pagos, como renda e pensão, por seu irmão, Domingos Vaz, também natural de Outeiro, todos os anos no dia de São Miguel (29 Setembro); aceitou a doação em nome e para a fábrica da capela o reverendo Inácio da Costa Peixoto, vigário da freguesia, sendo testemunhas o reverendo Mateus Lourenço, coadjutor da paróquia, João Lourenço, residente em Longos Vales, Salvador Lourenço, moço solteiro, Manuel Lourenço e Isabel Afonso, estes três últimos da freguesia de São Fins; a escritura estipulava que o doador, além da renda e pensão, se obrigava pelos rendimentos dos bens móveis e de raiz, a fazer face às despesas do culto da capela; 12 Junho - registo da escritura de doação no Paço, em Braga, obtendo-se, assim, a autorização para a celebração do Sacrifício da Missa e demais actos litúrgicos; ao que parece, com o tempo a capela arruinou-se, restando-lhe as paredes, cujas pedras seriam aplicadas mais tarde na reparação dos muros, à excepção da padieira da porta principal que está na posse de Anacleto Esteves, no mesmo local; da ruína salvou-se a imagem que os jesuítas do Mosteiro de Longos Vales levaram para a igreja, causando protestos por parte do povo; acordou-se então construir uma outra capela, no monte baldio sobre o lugar da Cavenca; 1758, 6 Maio - segundo a descrição do vigário Luís António de Puga, nas Memórias Paroquiais, a ermida de São Caetano, implantada num monte alto e fora do lugar, era toda feita em abóbada e tinha três altares: o altar-mor, onde estava a imagem de São Caetano e outra de São João Baptista, do lado do Evangelho, o altar colateral do Evangelho, onde estava a imagem de Santa Bárbara, e o da Epístola, com a imagem de Nossa Senhora do Pilar; tinha casas de novenas e capelão, apresentado pelo padre superior de São Fins da Companhia de Jesus; a ermida havia sido há algum tempo de muita romaria e, na época, o período de maior ocorrência era a 7 e 8 de Setembro; junto à capela fazia-se, a 16 de cada mês, feira de gado e com algumas tendas de marcenaria, sendo sujeita a alfândegas; séc. 18 - feitura do retábulo do santuário; 1775, cerca - o visitador da Universidade de Coimbra refere que em frente do Colégio de Longos Vales, no cume do monte, a Capela de São Caetano, pertencia aos Jesuítas e era da Universidade, não tendo, contudo, grande utilização; 1844 - data da inscrição do sino, feito pelo fundidor Santos, em Monção; 1911, 29 Julho - Arrolamento e Inventário dos bens da capela, onde se incluíam as imagens, bem como as leiras, outrora de lavradio e pertencentes à capela, e depois integradas na Fazenda Nacional; 1920 / 1925, entre - venda das leiras em haste pública, em Lisboa, pelo Ministério das Finanças, e arrematadas por José Pires, natural do lugar de Valverde, e residente em Lisboa, onde era rico comerciante; posteriormente, ele alienou-as a Francisco Rodrigues (o Lagarto), do lugar de Paradela de Cima; 1950, década - queda da abóbada da nave; 1957 - data inscrita na mesa de altar do retábulo de São Caetano; 2 Fevereiro - o pároco continuava a receber donativos para as obras da capela; 1986 - feitura do altar colateral da Epístola, oferecido por José Machado e Maria Glória Palhão da Silva; 1987 - construção do altar colateral do Evangelho, pago pelos mordomos de 1986; 1991 - data inscrita no altar pétreo do vão do lado da Epístola.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de alvenaria de pedra, aparente e rebocada e pintada; pilastras, frisos, cornijas, pináculos, cruzes, molduras dos vãos, pias de água benta, nichos e altares em cantaria de granito; coro-alto de betão; guarda do coro-alto e púlpito em ferro; pavimento de lajes; altares colaterais em granito polido; retábulo de talha policroma; vidros simples; cobertura de telha.

Bibliografia

PINTOR, Bernardo, Conheçamos a Nossa Terra. V - Longos Vales. A Capela de S. Caetano e outras coisas mais, A Terra do Minho, Monção, 15 Agosto 1949, p. 4; IDEM, Notícias das Aldeias. Longos Vales, A Terra do Minho, Monção, 15 Fevereiro 1957, p. 1; CAPELA, José Viriato, Monção nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, 2003; CALDAS, João Afonso, Monografia de S. João de longos vales. Monção.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Universidade de Coimbra: Igrejas da Universidade de Coimbra, Vol. I, IV Depósito, 1.ª estante, 15,3, fl. 354-361v.

Intervenção Realizada

1957, Fevereiro - adjudicação das obras do altar-mor e do lajeamento do pavimento pelo empreiteiro Armindo Gonçalves, do lugar de Reguengo, por 5.625$00, falando-se que as obras iriam começar brevemente; reparação da nave e capela-mor; substituição da cobertura por telha marselha, por ordem do pároco Pe Sérvio Vaz de Carvalho; 1960 - lajeamento da nave; 1980 - construção da cobertura da nave e capela-mor em betão; 1990 - remoção dos rebocos interiores.

Observações

*1 - Segundo a tradição, Francisco Vaz estava emigrado em Castela, quando adoeceu com malária, não conseguindo cura. O seu patrão, devoto de São Caetano, incentivou-o a apegar-se a tal santo num oratório ou capela. O padecente assim fez e ficou curado. Mais tarde, quando regressou a Outeiro, trouxe consigo a imagem de São Caetano, mas deixou-a a meio do caminho, por ser pesada. Chegado a casa e arrependido, voltou ao local onde deixara a imagem, trouxe-a consigo e colocou-a no oratório que mandou fazer. Outra versão, conta que, ao regressar um dia para casa doente, Francisco Vaz encontrou uma imagem de São Caetano e pensou que, se lhe passasse a dor que tinha, trazia-a para Portugal. Sentindo-se aliviado repentinamente de seus padecimentos, pegou na imagem do santo e foi para casa. A certa altura, sentindo-se fatigado com o peso da imagem, deixou-a ficar pelo caminho. Voltando a ficar incomodado com a dor, regressou ao local para trazer a imagem e levou-a para casa, onde a conservava com veneração. Os vizinhos também ali passaram a ocorrer, a invocar o santo e, a curto espaço de tempo, muita gente lhe fazia promessas.

Autor e Data

Paulo Amaral 2003 / Paula Noé 2008

Actualização

 
 
 
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