Palacete Ribeiro da Cunha / Palacete Mourisco

IPA.00015322
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santo António
 
Palacete neoárabe, de planta retangular, com 3 frentes, duas delas articuladas, entre si, por meio de corpo com perfil em ângulo boleado, e alçado posterior articulado com jardim. De 3 pisos, o edifício apresenta panos de muro em reboco pintado animados pela abertura de vãos em arco em ferradura com emolduramentos em cantaria, a ritmo regular. Interior dominado pelos eixos definidos pelo vestíbulo e caixa das escadas, e esta e pátio interior, não só enquanto principais espaços de aparato mas também de organização e distribuição da compartimentação interna, caracterizada por espaços rectangulares contíguos a 3 dos alçados. Em termos de soluções planimétricas e distributivas interiores, as mesmas reflectem a tipologia característica dos palacetes oitocentistas - nos quais o vestíbulo e a escadaria, de acesso aos pisos superiores, se assumem como espaços preponderantes - que aqui, se articulam com o pátio interior, tão evocativo da arquitectura islâmica, principal fonte de inspiração do programa decorativo do imóvel. Constitui-se como um dos exemplos de arquitectura de gosto revivalista - neoárabe - mais emblemáticos de Lisboa, talvez não apenas pelas suas dimensões e opções decorativas adoptadas, mas especialmente pela cobertura, marcada por 4 cúpulas.
Número IPA Antigo: PT031106460738
 
Registo visualizado 5427 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

De planta rectangular, apresenta volumetria escalonada, sendo a cobertura efectuada por telhado a 4 águas perfurado, ao centro, por clarabóia de 4 águas e articulado com 4 cúpulas. De 3 pisos separados por friso de cantaria (um deles parcialmente enterrado e apenas, completamente, visível no alçado posterior), o edifício exibe embasamento revestido com placagem de cantaria rasgado por vãos em arco de ferradura apontada e superfície murária em reboco pintado, com abertura de vãos em arco ultrapassado com emolduramento de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a SO., composto por 3 corpos separados por pilastras destacadas em cantaria, de aparelho almofadado. Corpo extremo a O., com piso térreo rasgado por portal inscrito em triplo arco, encimado por janela de sacada tripartida, servida por varanda em cantaria suportada por mísulas. O corpo intermédio apresenta os 2 pisos vazados, cada um, por 3 janelas de peito. No corpo extremo a S., regista-se fachada em ângulo boleado, dividida - por colunas embebidas - em 3 panos ritmados por janelas, de peito no piso térreo e de sacada, com varandas individuais em cantaria; assegura a ligação com o alçado lateral SE., marcado por uma morfologia e organização dos vãos análoga à do alçado principal, excepto no que respeita ao corpo extremo a N., com ambos os pisos rasgados por ajimez (no piso térreo, de peito e no andar nobre, de sacada, guarnecidas por varanda em cantaria. O alçado posterior a NE., compõe-se de 3 corpos dos quais se demarca o central, destacado em planta, com cunhais de tratamento afim às pilastras das fachadas descritas e vazado, a eixo, por portal de acesso inscrito em arco em ferradura apontada ladeado por 2 janelas de peito de modinatura idêntica. Este alçado articula-se com jardim, que integra um terraço (*2), ao qual se acede por meio de uma ponte. O edifício é superiormente rematado por cornija sobrepujada por platibanda composta por merlões escalonados, ritmada por plintos sobrepujados por pináculos, dispostos no alinhamento das pilastras, acima da qual se reconhecem 4 cúpulas rematadas por pináculos, coincidentes com os ângulos do edifício. INTERIOR: destacam-se como principais espaços de aparato, de distribuição e circulação interna o vestíbulo e um pátio interior, a si adossado do lado E.. Desenvolvido contiguamente ao alçado lateral NO., o vestíbulo apresenta-se composto por 2 níveis articulados, entre si, por meio de lanço recto de escadas axial, podendo reconhecer-se uma 1ª zona, de planta quadrada e tecto plano e, uma 2ª área, num plano sobrelevado e separada por tripla arcada em ferradura - com vão central de maior pé direito e animada com guarda vento - correspondente a caixa de escadaria de honra de cantaria e guarda em ferro fundido, de lanço recto inicial e patamar com troços divergentes, conducentes ao andar superior. Apresenta muro de topo decorado com espelho central ladeado por óculos sobrepujados por janelas de sacada com varandins curvos e cobertura em masseira, rasgada por clarabóia. O pátio, de planta rectangular e pé-direito correspondente à altura total do imóvel, exibe 3 registos em galeria, suportadas por arcaria ultrapassada (*3). Com o piso térreo desenvolvido ao nível da zona sobrelevada do vestíbulo, registam-se compartimentos, sobretudo, distribuídos em redor do pátio com o qual comunicam directamente, e ao longo do alçado principal e posterior. No lado posterior da escadaria, regista-se escada de serviço de lanços rectos opostos, cujo vão integra caixa de elevador.

Acessos

Praça Príncipe Real, n.º 26; Calçada da Patriarcal, n.º 40

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria 80/2019, DR, 2.ª série, n.º 10/2019, de 15 janeiro 2019 *1 / Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811) / incluído na Zona Especial de Proteção do Jardim Botânico da Faculdade de Ciências (v. IPA.00007006) e na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente

Enquadramento

Urbano, em zona de meia encosta, formando gaveto, com frentes orientadas para a Praça do Príncipe Real - lado N. -, Cç. da Patriarcal e Jardim Botânico. Com o alçado principal orientado para a praça mencionada, integra o conjunto edificado oitocentista que a caracteriza. Na proximidade dos seguintes imóveis tipologicamente afins : Palacete António Ferreira de Carvalho (v. PT031106220735), Palacete Faria (v. PT031106220736), Palacete Paulo Cordeiro e Palacete do Barão de Santos (v. PT031106220737).

Descrição Complementar

CORTIÇA: merece referência o pavimento do salão com tecto decorado com cena alegórica, com parquet em cortiça disposta a sugerir motivos em alfarje; ESTUQUE: integra a decoração do tecto de um salão do 1º andar contíguo ao alçado principal; MADEIRA: o programa ornamental do espaço interior integra emolduramentos e paineis esculpidos em madeira pintada e dourada (com predomínio da temática vegetalista, contemplando grinaldas, enrolamentos, folhagens). Reconhece-se um salão no 1º andar que, orientado para o alçado posterior, exibe tecto de caixotões de madeira, paramentos revestidos com paineis e vãos animados com emolduramentos de madeira. Merece destaque, o fogão de sala do compartimento do piso térreo coincidente com o corpo em ângulo boleado, com tratamento art deco; MOSAICO: observado ao nível do pavimento do pátio interior, sob a forma de paineis decorados com padrões geométricos; PINTURA MURAL: especialmente ao nível das coberturas, complementa decorativamente, os tectos dos principais espaços de aparato, designadamente, do vestíbulo, da caixa da escadaria, e ainda, de 2 salões, um no piso térreo, com temática de gosto neoclássico e, outro no 1º andar - directamente comunicante com o salão com tecto animado por estuque - animado com uma cena alegórica.

Utilização Inicial

Residencial: palacete

Utilização Actual

Comercial: centro comercial

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Henrique Carlos Affonso (1877).

Cronologia

1877 - construção do imóvel, para residência do abastado capitalista José Ribeiro da Cunha, segundo projecto do quase desconhecido arquitecto lisboeta Henrique Carlos Affonso (?-1884), o qual se teria inspirado num outro palacete, situado em Manaus (Brasil), propriedade do comendador Evaristo Lopes Guimarães (que se encontra sepultado no cemitério da Conchada, em Coimbra, em jazigo eclético da autoria de João Machado); 1878 - as obras ainda decorriam; 1911 - o palácio é vendido por D. Maria Carlota Paiva Cunha ao capitalista, Ernesto Henrique Seixas dito do Rossio; 1912 - obras de alteração e ampliação efectuadas pelo novo proprietário, designadamente a construção de uma estufa; 1916 - construção de um pavilhão para carruagens; 1920 - aquisição do imóvel pelo capitalista Manuel Caroça, que realiza algumas obras e cuja herdeira levou a popriedade para seu marido, o eminente tisiólogo Lopo de Carvalho; 1965 - é proprietário do imóvel Manuel Caroça Lopo de Carvalho; Década de 80 ? - arrendamento do palacete (à excepção do último piso) à Universidade Nova de Lisboa, que aí instala os serviços da Reitoria; 1994 - o último piso do palácio era ainda habitado pela família Lopo de Carvalho; 1997 - é proprietária do imóvel COMPADIM, Companhia Portuguesa de Administração Imobiliária, a qual se faz representar por Manuel António Lebre Lopo de Carvalho; 2005 - saída da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa (passando para o novo edifício construído no Campus Universitário de Campolide) ficando o imóvel fechado; 2006 - proposta da empresa proprietária para transformação do imóvel em hotel, criando um edifício anexo, sobre o jardim; 2013, 06 setembro - inauguração de um espaço comercial no edifício; 2016, 14 março - é publicada a abertura do procedimento de classificação do Palacete Ribeiro da Cunha, incluindo o jardim, em Anúncio n.º 87/2016, DR, 2.ª série, n.º 51; 2018, 04 junho - é publicado o Anúncio n.º 85/2018, com o projeto de decisão relativo à classificação como monumento de interesse público (MIP) do Palacete Ribeiro da Cunha, incluindo o jardim (DR, 2.ª série, n.º 106/2018); 2019, 15 janeiro - é publicada a Portaria n.º 80/2019, que classifica o Palacete Ribeiro da Cunha, incluindo o jardim, como Monumento de Interesse Público (DR, 2.ª série, n.º10/2019).

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro

Bibliografia

AAVV, Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, 1987; ALMEIDA, Fialho de, Pasquinadas, Lisboa, 1890 ; O Occidente, 1913; ANACLETO, Regina, Neoclassicismo e Romantismo, in AAVV, História da Arte em Portugal, Vol. 10, Lisboa, 1986; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livro V, Lisboa, s.d.; BAIRRADA, Eduardo Martins, A Praça do Príncipe Real e os Vários Prédios que a Circundam, in ICALP - Revista, Nº 1, Mar. 1985; CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José M., ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa. De Campo de Ourique à Avenida, Lisboa, 1995; FRANÇA, José-Augusto, (dir. de), A Sétima Colina. Roteiro Histórico e Artístico, Lisboa, 1994; FRANÇA, José-Augusto, Monte Olivete Minha Aldeia, Lisboa, 2001; MOITA, Irisalva, (dir. de), O Livro de Lisboa, Lisboa, 1994; Monumentos, n.º 13, Lisboa, DGEMN, 2000; PASSOS, José Manuel da Silva, Bilhetes Postais Antigos do Largo do Rato à Praça D. Luís, Lisboa, 1994.

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 7.346

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1912 - obras de ampliação (construção de uma estufa no jardim); 1916 - construção de um pavilhão para carruagens; 1920 - alterações interiores; 1927 - obras de conservação e beneficiação geral interiores e exteriores; 1928 - construção de um reservatório de água em cimento armado no jardim; 1933 - obras de conservação e beneficiação geral; 1939 - reparação do sistema de esgotos; 1942 - obras de conservação e beneficiação geral; 1946 - pinturas interiores; 1949 - envernizamento porta principal; 1953 - obras de conservação e beneficiação geral; 1965 - obras de conservação e beneficiação geral 1992-93 - obras de conservação e beneficiação geral ao nível do vestíbulo (pintura de paramentos); 1997 - obras de conservação e beneficiação geral; DGEMN: 2000 - obras de conservação e beneficiação geral, especialmente nas coberturas.

Observações

*1 - DOF: Palacete Ribeiro da Cunha, incluindo o jardim; *2 - correspondente à cobertura de uma estrutura edificada anexa, provavalmente, correspondente às antigas cocheiras; *3 - o último piso, encerrado, apresenta os vãos entaipados.

Autor e Data

Teresa Vale e Maria Ferreira 2002

Actualização

João Machado 2006
 
 
 
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