Quinta da Aveleira

IPA.00014862
Portugal, Viseu, Tabuaço, União das freguesias de Távora e Pereiro
 
Quinta de produção vitivinícola, implantada em solos de xisto e de granito de declives acentuados, numa região de clima seco, apresentando diversos tipos de armação do terreno vitícola, correspondentes a diferentes épocas: vinha pré e pós-filoxérica em socalcos, patamares, taludes de terra, vinha ao alto e em linha, com zonas de mato nos níveis superiores e junto ao rio e sobreiros em bordadura e em socalcos em algumas áreas. Área construída localizada em local estratégico e cenográfico, dominando a propriedade, cercada por muros delimitados por pilastras, rematadas com pináculos setecentistas, e bancos da mesma época nos três grandes patamares que se desenvolvem, para nascente, por baixo do terreiro da área edificada. Terreiro antecedido por 4 cedros de grande porte. Construções de arquitectura erudita setecentista e vernacular oitocentista e novecentista dispostas em redor do largo e longo terreiro, algumas delas com alçados delimitados por pilastras rematadas por pináculos. Quinta caracterizada pela diversidade de espaços produtivos, formando anfiteatro na encosta, de elevado carácter cénico, perfeitamente delimitado por elementos naturais ou edificados, como por exemplo o ribeiro de Quintã, a Norte, ou os muros da Cerca do Mosteiro de São Pedro das Águias, a Sul. Subsiste um pequeno núcleo de vinha em socalcos pré-filoxéricos. Grande parte das vinhas de replantação recente encontra-se disposta ao alto ou em patamares de taludes de terra, sendo ainda possível observar quatro pequenas parcelas de vinha dispostas em linha. Áreas de pomar e de horta localizam-se junto à área edificada. O acesso ao núcleo edificado é feito por estrada particular, pontuada por árvores de médio e grande porte, como cedros, salgueiros e japoneiras (cameleiras), sendo os diversos edifícios unidos pelo terreiro centralizador e por caminhos com calçada à portuguesa. Toda a área edificada encontra-se assente em robustos patamares suportados e guardados por largos muros de cantaria de granito e xisto. No edifício habitacional, de linhas clássicas, observam-se alguns elementos eruditos setecentistas, encontrando-se ao centro do seu corpo Sul a capela de arquitectura barroca. Possui grande armazém, bem conservado, com elementos de arquitectura erudita setecentista, com panos delimitados por pilastras rematadas por pináculos.
Número IPA Antigo: PT011819150165
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Quinta    

Descrição

Quinta implantada em encosta com declives acentuados e solos cascalhentos de xisto, conjugados em alguns locais com massas graníticas. Uma grande zona de mato e de souto subsiste em cerca de metade da propriedade, nas cotas superiores à EN 323, para O., até à Quinta do Passo Frio, bem como em algumas das zonas extremas, a N., junto ao Ribeiro de Quintã, e sobreiros, em bordadura e em patamares, em pequenas áreas, assim como zonas de pomar e de hortas junto à área edificada. As VINHAS, ligadas por caminhos de terra são de vários tipos: entre o Ribeiro de Quintã e a área edificada, permanecem plantadas em socalcos pré-filoxéricos, acompanhando as curvas de nível, com cerca de 2 m. de largura e 1,50 m. de altura; as restantes vinhas, de introdução recente, encontram-se armadas ao alto ou em patamares; em algumas zonas, patamares pós-filoxéricos, com largos geios guardados por altos muros de xisto e granito e, nas cotas mais elevadas, bem como na metade N., a vinha está armada em patamares com taludes de terra, de introdução recente. A estrada particular principal, de acesso ao núcleo construído, é alcatroada, acompanhada, à esquerda, por quatro cedros de grande porte, desenvolvendo-se do lado oposto um pequeno outeiro centrado por um cruzeiro em cantaria de granito com fuste octogonal e capitel lavrado com as armas de Portugal. Salgueiros-chorões e cameleiras ladeiam o portal que se rasga no muro de cantaria que resguarda o terreiro, formado pelo núcleo construído. Voltado para a nascente do vale do Rio Távora, três largos patamares artificiais sustentados por grandes muros de cantaria, delimitados, na parte N., por bancos do mesmo material. A articulação entre eles é feita através de escadarias de granito, havendo caleiras do mesmo material para a condução das águas desde o terreiro da quinta, localizado em plano superior; vinhas armadas em latada bordejam os patamares, onde se encontram implantadas algumas áreas de pomar e protegem algumas fachadas. O NÚCLEO CONSTRUÍDO é composto pela casa de habitação e capela, grande armazém com cubas para armazenamento de vinhos, pombais, anexos e, em plano superior, a oficina vinária, além das demais construções de apoio à actividade agrícola, adaptando-se ao desnível do terreno, apresentando coberturas diferenciadas em telhados de 1, 2, 3 e 4 águas, bem como a piscina, de construção recente, localizada a SO. do edifício habitacional. A CASA DO PROPRIETÁRIO tem planta em L irregular, composta por dois corpos de quatro e dois pisos, adaptando-se ao desnível do terreno, com volumes articulados e disposição horizontalista das massas, nos sentidos NO. / SE. e NE. / SO.. Os corpos são em cantaria aparente, rasgados por vãos rectilíneos, portas, janelas de peitoril e de sacada. No corpo mais baixo, sobressai, ao centro, a CAPELA, saliente e mais elevada, delimitada por pilastras e rasgada por portal de verga recta e moldura recortada, encimado por janela jacente e moldura contracurvada; é rematada por frontão curvo interrompido, com espaldar contracurvo rematado por cruz. INTERIOR: em redor da capela, rasgada por duas portas nas fachadas laterais, com moldura saliente de cantaria, desenvolvem-se duas salas comunicantes por corredor. Um retábulo de linhas simples e geométricas, com ferragens de motivos geométricos, uma cruz e as iniciais "N" e "D", encontra-se assente sobre pequena plataforma de madeira, sendo sobrepujado por duas mísulas com forma piramidal invertida; no lado da Epístola, ao lado do pórtico lateral, rasga-se um pequeno nicho em cantaria. As janelas da zona residencial possuem conversadeiras em granito; uma lareira com portadas de madeira e rede metálica rasga-se na parede junto à zona posterior da capela; no piso inferior, localizam-se os balneários e divisões de apoio à piscina. No corpo E., é possível observar armários embutidos nos muros, bem como uma latrina embutida em largo nicho rasgado numa das paredes-mestras, delimitado por moldura de cantaria saliente, com portadas de madeira pintada. O ARMAZÉM das cubas de vinho tem planta rectangular e cobertura de quatro águas, estando adossado, no lado SO., ao muro de sustentação da encosta; fachada NE. composta por três panos de cantaria irregular pintada de branco, delimitados por pequeno embasamento, cornija saliente e pilastras rematadas por pináculos; os panos extremos são rasgados por portas de moldura simples em cantaria saliente, ladeados, em plano superior, por dois janelões com moldura idêntica; ao pano central adossa-se um largo tanque, delimitado por outros dois mais pequenos nos extremos, todos em cantaria, contendo o maior, uma inscrição em pequena cartela com a data de "1873". As fachadas laterais são rasgadas por portais de volta perfeita e janelões. A fachada adossada tem, ao nível das coberturas, sobre o terço S., um pequeno corpo de alvenaria rasgado por diversas portadas de madeira que comunica com a oficina vinária; no INTERIOR, é amplo com coberturas em vigamento de madeira, surgindo, no terço S., varandim de betão com escadaria de acesso à OFICINA VINÁRIA, de planta rectangular, descaracterizado pelo acrescento de um piso, rasgada, a NO., por porta com moldura de cantaria saliente, contendo na verga uma cartela insculpida com a data de "1794"; uma janela com moldura de cantaria saliente e portada de madeira de duas folhas, rasga-se no lado direito; a fachada SE. é rasgada, no piso térreo, por largo portão de moldura simples. No INTERIOR guarda uma balança, cuba de fermentação, assente sobre piso lajeado, no lugar dos antigos lagares. Os ANEXOS, de planta rectangular, são compostos por aparelho de cantaria aparente delimitado por pilastras nos cunhais. A fachada principal está virada a NE., para o terreiro da quinta, tendo, no piso térreo, quatro janelas com e quatro portas de diferentes larguras, todas com molduras de cantaria saliente; o andar superior, formando mansarda, encontra-se rasgado por quatro janelas de lucarna, com coberturas de telha de duas águas. A fachada SO. está adossada ao muro de sustentação do patamar superior da encosta, excepto no piso superior, onde se rasga uma porta na própria cobertura da mansarda, delimitado por panos de cantaria laterais e cobertura em telha de duas águas, permitindo o acesso à Oficina Vinária. No seu interior desenvolvem-se várias divisões, algumas delas que terão funcionado como cardenhos; as coberturas interiores e os pisos são constituídos por aparelho de madeira, com vigas, traves e vigotas. A COZINHA encontra-se adossado aos anexos, marcada por uma grande chaminé, com grande saial sobre a lareira, em alvenaria pintada de branco, desenvolvendo-se desde o seu interior. O grande Armazém, os Anexos e a Cozinha encontram-se ligados por largo ALPENDRE, de uma água, partindo do nível superior da encosta ao qual os edifícios se encontram adossados, suportado, em plano central, por forte coluna de granito com fuste de base quadrada que se chanfra aos cantos, tornando o fuste ligeiramente oitavado, apoiando-se nele as vigas de suporte do telheiro. No terreiro da quinta, do lado oposto ao do grande armazém, localizam-se seis pequenos POMBAIS, de forma rectangular, com coberturas de duas águas em telha, constituídos por aparelho de cantaria, adossados aos pares, e rasgados nas fachadas principais, voltadas a SO., por pequena porta de moldura simples a que se sobrepõe óculo, repetindo-se este último nas fachadas posteriores. Em toda a quinta é possível encontrar outras construções de apoio aos trabalhos agrícolas

Acessos

De Tabuaço, pela EN 323, até Távora, ao Km 47,2, para estrada particular a 200 m, no Lugar de Aveleira; Gauss: M- 251.222, P- 458.089, CMP, Fl. 139

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Deliberação da Assembleia Municipal de Tabuaço de 30 Setembro 2003, DR, n.º 253 de 31 outubro 2003

Enquadramento

Rural, integrada na sub-região do Cima Corgo, em zona de transição entre xistos e granitos, com solos acidentados, e clima seco. Implanta-se a meia-encosta do vale do rio Távora, estendendo-se até às suas margens, e é atravessado pela EN que divide a propriedade vitivinícola da área de floresta. É rodeado, a S., pela Quinta do Convento de São Pedro das Águias (v. PT011819150013), pelo Rio Távora que o atravessa, a SE e E., e a Ponte do Fumo (v. PT011819150126), pelo Ribeiro da Quintã, a N., e por extensas áreas de pinheiros e de castanheiros a O. e SO.. Nas proximidades, a N., localiza-se o lugar da Quintã *1, do qual é possível observar grande parte da Quinta da Aveleira. Portal de acesso à Quinta delimitado por fortes pilastras quadrangulares rematadas por pináculos, surgindo restos de cantaria lavrada reaproveitados no aparelho do muro. Um marco granítico contendo a inscrição "FEITORIA" encontra-se implantado junto à pilastra esquerda do portal. Uma lápide epigrafada, embutida numa das faces interiores do muro que delimita o terreiro, do lado esquerdo de quem entra, contém a seguinte inscrição: "...HIERONYMO DE TAVOR / A E NORONHA LEME CER / NACHE MOÇO FIDALGO D / A CAZA DE EL REY E DEAÕ D / O PORTO MANDOV REDEFI / CAR ESTA QVINTA QUE FOI...". Cartela contendo inscrição com a data de "1794".

Descrição Complementar

As vinhas pré-filoxéricos são conduzidas por 3 fiadas de arame por bardo, com altura de 1,50 m. em média, sustentados por poios (esteios) de xisto ou de madeira; as restantes vinhas, de introdução recente, têm 3 fiadas de arame em cada bardo e altura de 2 m., possuindo alguns muros, nas zonas de linhas de água, canais de drenagem. Nas cotas mais elevadas, a vinha está armada em patamares com taludes de terra (vinhas em terraços de cerca de 2,80 m. de largura e 1,50 m. de altura, com uma fiada de bardos por patamar, com vista à lavoura mecanizada), de introdução recente, em substituição da maioria dos socalcos pré e pós-filoxéricos e mortórios, alternando, junto do núcleo construído, com três parcelas de vinhas em que a condução dos bardos se encontra feita em linha. A casa de habitação tem a fachada principal virada a NO., marcada pela capela, integrada num dos braços do L, com um registo, surgindo, à direita desta, uma janela com guarda de ferro forjado, e uma porta em arco abatido, ambos com molduras simples de cantaria saliente. No pano da direita, rasgam-se duas janelas de diferentes volumetrias, com grades de ferro forjado e uma porta, todos com molduras simples de cantaria saliente. O braço maior do L, divide-se em dois registos, o inferior rasgado por duas janelas e duas portas de moldura simples, alternados, encontrando-se, no extremo direito, um vão entaipado, de moldura simples, e que daria acesso ao piso inferior; no superior, quatro janelas de sacada com pequenos balcões com guardas de ferro forjado, surgindo sobre o telhado, as águas-furtadas, marcadas por duas janelas de lucarna. A face NO. do corpo é cega e com remate plano. Fachada lateral esquerda virada a NE. de três pisos, rasgada, no inferior, por duas portas e três janelas de moldura simples; no intermédio e sem correspondência com os vãos do piso inferior, rasgam-se quatro janelas de peitoril, de moldura simples e uma janela de sacada, em plano central, com largo balcão em cantaria e guarda de ferro forjado; no piso superior, correspondente ao primeiro andar do imóvel, o registo é rematado por cornija saliente convexa e nele rasgam-se cinco janelas de moldura simples paralelas às do piso inferior. No último piso, composto por água-furtada, rasgam-se três janelas de lucarna. Fachada lateral direita, virada a SO., cega, delimitada por pilastras nos cunhais, cornija saliente e embasamento, junto ao qual se situa uma caleira para recolha das águas pluviais; junto a esta desenvolve-se, para SO., um pequeno jardim com canteiros de granito, guardados por gradeamento de arame e vinhas em latada. A fachada posterior divide-se em dois panos, o esquerdo delimitado no cunhal poente por forte embasamento onde assenta uma pilastra em cantaria saliente, tendo, no piso inferior, em plano central, um porta de moldura simples, ao qual se acede através de um patamar intermédio com muros e escadarias de cantaria, devido ao forte declive onde se encontra inserido o imóvel; vestígios de uma janela entaipada vislumbram-se do lado direito do registo inferior, ao nível das fundações da construção primitiva, persistindo ainda algumas pedras do anterior imóvel no actual aparelho, reconhecidas pelo seu corte irregular e que terão sido reaproveitadas; o andar superior, rematado por cornija saliente, côncava, é rasgado por três janelas de moldura simples com guardas de ferro forjado. O pano da direita, correspondente à parte em que se estabelece a articulação dos dois corpos do edifício, compõe-se de três registos, sendo o inferior rasgado por dois vãos de moldura simples, uma janela com grades de ferro fundido e uma porta entaipada no extremo direito, em plano inferior, também pertencente à construção primitiva; o piso seguinte é composto por duas portas de moldura simples, que se abrem para uma marquise, em betão, de corpo bastante avançado, assente sobre quatro pilares do mesmo material, sendo esta rasgada por três janelas nas faces NE. e SO., e nove janelas na voltada a SE.; o piso superior é rematado por cornija saliente convexa, estando rasgado por porta de moldura simples, através da qual se acede à varanda que cobre a marquise, com guardas de betão de motivo geometrizado. A água-furtada que compõe o último piso é rasgada neste alçado por uma janela de lucarna. Um pequeno sino de bronze pende da pilastra lateral direita da capela.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: quinta

Utilização Actual

Agrícola e florestal: quinta

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 16 / 17 / 18 / 19 / 20 / 21

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Nicolau Nasoni (atrib.).

Cronologia

Séc. 10 - os ascendentes dos Távoras, nomeadamente Rosendo Hermiges, povoador e senhor da beetria de Távora, possuíam inúmeras propriedades na área geográfica de Távora, Quintã, sendo alguns doados aos monges do antigo mosteiro beneditino de São Pedro das Águias (v. PT011819150013); 1103 - os conde D. Henrique e D. Teresa, em visita ao local, fazem doação de várias "hereditas" ao Mosteiro de São Pedro das Águias, em que se incluía a quinta da Aveleira, confinante com a cerca do Mosteiro; 1221 - confirmação da doação pelo Papa Honório III; 1472 - celebração de um prazo entre os monges do Mosteiro de São Pedro das Águias e Gil L. Rebello sobre a quinta da Aveleira, prazo esse que foi sendo renovado até ao séc. XVIII; séc. 16, inícios - Pedro de Tavora, casado com Violante Borges aparece referido como "Senhor da Quinta da Avelleira"; 1527 - no cadastro do reino surge a referência à "Quintã da Velleira", como sendo um lugar do concelho de Paradela, limítrofe do concelho de Távora; 1690, cerca - nascimento de D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme Cernache, futuro cónego, Deão da diocese do Porto e fidalgo da Casa de El'Rei, no seio da família dos Noronhas Cernaches, detentora de laços de parentesco com a casa dos Távoras; 1732 - vários terrenos contíguos são incorporados à Quinta da Aveleira, com celebração de um prazo adicional entre o enfiteuta e o Mosteiro de São Pedro das Águias; Séc. 18, 1.ª metade - D. Jerónimo de Távora e Noronha Leme Cernache, enquanto proprietário (ou enfiteuta), manda reedificar a Quinta da Aveleira, conforme inscrição em lápide embutida no muro que resguarda o terreiro, sendo possível que alguns dos planos da mesma fossem da autoria de Nicolau Nasoni, que trabalhava para o mesmo no Palácio do Freixo; 1754 - por falecimento de D. Jerónimo, herda os seus bens o irmão mais novo Vicente de Távora e Noronha Leme Cernache; 1755 - renovação do emprazamento sobre a propriedade da Quinta da Aveleira, entre o enfiteuta e o Mosteiro das Águias, com foro estimado em 1$400, um carneiro e prebenda anual de 60 pipas de vinho, pão, azeite e frutas; o procurador da Coroa suscita dúvidas sobre a validade dos aforamentos feitos pelo Mosteiro, uma vez que a propriedade seria da Coroa, devendo o foro reverter a esta e ser feito novo prazo com sua autorização; 1758, Novembro - nas demarcações do Douro Vinhateiro surge a referência ao sítio da Aveleira e quinta do deão do Porto "hoje de Vicente de Noronha", como tendo vinhos de 1.ª qualidade de 19$200 réis a pipa, com colocação de, pelo menos, dois marcos graníticos; 1761, Maio - devido a reclamações, é autorizada uma nova Adição aos terrenos anteriormente demarcados para vinho de feitoria, sendo colocado junto ao rio Távora, "no ponto onde desaguava o ribeiro da Quintã, um novo marco, no canto da quinta de Vicente de Noronha Leme Cernache, da cidade do Porto, no sítio das Aveleiras. Daí subiu pelo ribeiro até à estrada para a ponte do Fumo e mata do Souto dos monges das Águias, com outro marco; depois para Leste, até dar no rio Távora, e pela corrente deste abaixo até ao ponto de partida, concluindo assim um novo círculo"; 1789, 18 Abril - a propriedade da Quinta da Aveleira passa a Ana Rosa de Noronha Leme e Cernache, filha do anterior proprietário; 1794 - edificação ou reedificação da oficina vinária e lagares da Quinta da Aveleira, segundo inscrição epigráfica neles existente; séc. 19, 1.ª metade - as casas e a capela da Quinta da Aveleira encontram-se votadas ao abandono, apenas sendo utilizados os edifícios com função agrícola; 1873 - edificação do tanque que se encontra adossado ao armazém setecentista; 1881 - a Quinta da Aveleira aparece referida por Pinho Leal, como pertencendo a herdeiros de Joaquim Machado Ferreira Brandão, que foi juiz do Tribunal da Relação do Porto *2; séc. 19, final década 80 - D. Maria da Glória Machado Ferreira Brandão, que herdou a Quinta da Aveleira, casa-se com Adriano Augusto d'Azevedo Pimentel Mesquita, passando o casal a residir na Quinta; esta sofre obras de vulto que retiram quase por completo o aspecto original do edifício de habitação, que se encontrava em ruínas, através da alteração das volumetrias da parte habitacional e de parte do frontão da capela; séc. 19 / 20 - provável edificação dos pombais, dos anexos e da cozinha; edificação de novo altar para a capela; séc. 20, inícios - a pedra de armas que se encontrava no portal da quinta é retirada e levada para uma casa da família Azevedo, em Riodades, São João da Pesqueira, quando decidem vender a quinta; 1947 - Sebastião Ferreira Mendes, do Porto, compra a quinta a António Augusto Pais, residente em Lisboa; séc. 20, meados - os proprietários mandam levantar uma marquise, sobrepujada por varanda, no alçado S. do edifício habitacional; 1974 - Artur dos Santos Parente compra a quinta ao anterior; década de 80 - levantamento de mais um piso sobre os antigos lagares, com eliminação destes e colocação de cubas de fermentação; 1989 - um incêndio consome o edifício habitacional e respectivo recheio, acentuando-se a degradação a que o mesmo já se encontrava sujeito; Maria Fernanda Soeiro Parente Macedo, casada com António Manuel Macedo, tendo herdado a Quinta da Aveleira, compra a parte que pertencia ao irmão, tornando-se a única proprietária; 1.ª fase de replantação dos vinhedos; 1990, cerca - o marco pombalino n.º 97 é retirado do seu lugar original e colocado junto ao portal da Quinta, onde actualmente se encontra; 1990, década - alargamento do portal principal da quinta; 1999 - início das obras de reconstrução, arranjos exteriores da área edificada, construção da piscina, ampliação e regularização de alçados do corpo habitacional E., com aproveitamento das estruturas existentes, com o fim de transformar a Quinta da Aveleira em unidade de Turismo de Habitação e exploração das suas vinhas para comercialização como vinho de benefício com marca própria; 2001 - nova replantação de algumas áreas de vinhedos, com projecto de reconversão e restruturação da vinha (VITIS), aprovado no âmbito do IFADAP, com atribuição de subsídio; reconstrução do antigo cruzeiro de Tabuaço no outeiro junto à entrada da quinta; 2002 - proposta de classificação como Paisagem de Interesse Municipal com a categoria de Conjunto; a produção de vinhos quantifica-se, no momento actual, em 100 pipas.

Dados Técnicos

Paisagem: terraceamento da área agrícola através de muros de granito e xisto e de taludes de terra; Núcleo construído: paredes autoportantes.

Materiais

Paisagem - inertes: xisto e granito aparelhado e taludes de terra; vivos: vinha, árvores de fruto, oliveira, sobreiro, cedro, castanheiro, azinheira, carvalho-negral, medronheiro, etc., vegetação arbórea-arbustiva ( aveleira, cornalheira, urze, esteva, zimbro, etc. ). Núcleo construído: granito aparelhado e cimento armado; rebocos interiores e exteriores de cal; coberturas de telha portuguesa de barro, sobre armação de asnas de madeira e de betão, caixilharias de madeira pintada, retábulo de madeira de castanho; ferro fundido e forjado nas ferragens; bronze.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMT: Divisão de Obras

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMT: Divisão de Obras

Documentação Administrativa

DGA/TT, Memória paroquial da vila de Paradela in Diccionario Geographico, vol. 36, n.º 70, págs. 453 a 456, 1758; Memória paroquial da vila de Távora in Diccionario Geographico, vol. 36, n.º 27, págs. 149 a 154, 1758; CMTabuaço: Divisão de obras; Arquivo do Registo Predial; IVP: Arquivo Cadastral; IPPAR: Direcção Regional do Norte; BIBLIOTECA NACIONAL, Reservados, Códice 1494, Microfilme F. 1263, Papeis Avulsos de Figueiredo, f. n.º 17; IFADAP: VITIS; BNP: Reservados, Códice 1464, f. 17

Intervenção Realizada

Proprietário: séc. 20, 2.ª metade - aumento da oficina vinária em um piso; 1999 / 2000 / 2001 / 2002 - obras de reconstrução, arranjos exteriores da área edificada, construção da piscina e ampliação do corpo habitacional E., com aproveitamento das estruturas existentes, com o fim de transformar a Quinta da Aveleira em unidade de Turismo de Habitação e exploração das suas vinhas para comercialização como vinho de benefício com marca própria, sendo para o efeito objecto de um programa de reconversão de vinhas.

Observações

*1 - o Lugar de Quintã, dentro dos limites da antiga vila de Távora, foi propriedade dos Marqueses de Távora, onde se levantava o seu Paço, do qual apenas restam ruínas; *2 - de acordo com o que escreve o Abade de Miragaia, encarregue de continuar aquele dicionário geográfico, "...os seus proprietários teem cuidado pouco (ou nada) d'esta grande propriedade; que, podendo produzir 300 pipas de vinho, apenas chegou a produzir 80, e, desde a invasão do philoxera, apenas dá quatro! Devendo dar 20 a 30 pipas de azeite, só dá umas 5 ou 6. A sua maior producção, actualmente, é milho, batatas, muita fructa, especialmente laranjas. Tem contigua uma extensa matta de castanheiros, e um bom pinhal...". Mais diz que "...as casas e a capella d'esta quinta, estão em misero estado: só os armazens e lagares - que são magestosos - ainda se conservam bem reparados...", "...é na antiga demarcação da companhia dos vinhos do Alto Douro..." e que "...no portão da quinta, ainda se vê o escudo que teve esculpidas as armas dos Távoras, e que foram picadas por ordem do marquez do Pombal....". A pedra de armas da Quinta da Aveleira encontra-se, actualmente, embutida na fachada de uma casa da família Azevedo, em Riodades, concelho de São João da Pesqueira, sendo possível observar que se trata de uma escultura contemporânea da época da reedificação da quinta, típica do reinado de D. João V, composta por escudo de forma recortada, partido, o primeiro com as armas picadas, restando bordadura com cruzes, o segundo com bordadura composta por flores-de-lis, cortado, contendo no 2.º quartel, na aparência, o Leão dos Cernaches ou dos Noronhas, e no 4.º quartel, armas ilegíveis, sendo sobrepujado por elmo cerrado, ainda com virol, mas já sem a coroa e o timbre, sendo que o paquife se desenvolve e funde com os ornatos, compostos por concheados e volutas de fino e inebriante recorte e movimento.

Autor e Data

Gustavo Almeida 2002

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