Casa da Carreira / Palácio da Carreira

IPA.00014472
Portugal, Setúbal, Santiago do Cacém, União das freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e São Bartolomeu da Serra
 
Palacete tardo-barroco, neoclássico e romântico, com as fachadas ritmadas pela distribuição regular dos vãos, apresentam uma riqueza decorativa, com frontões, florões, urnas de argamassa, etc. que caracterizam o tardo-barroco no Alentejo; no exterior os frontões triangulares deixam já adivinhar o neoclassicismo emergente, já plenamente implantado na decoração interior, onde os lambris de e as pinturas murais estão povoados por grotescos, grinaldas, urnas, figuras de deuses da antiguidade, aves, etc. que se desenham de forma caligráfica sobre fundos de tons suaves. As intervenções românticas revelam um caracter menos erudito, com um gosto pelas figuras populares, paisagens sombrias e exóticas, e um revivalismo patente nos azulejos da sala de jantar que representam uma caçada do séc. 18 e nas molduras vagamente rococós dos painéis de azulejos do jardim. Trata-se de uma das mais destacadas casa apalaçadas construídas no Alentejo em finais do Séc. 18, com uma grandiosidade do proporções e um carácter festivo em grande parte resultante da utilização de elementos decorativos executados em argamassa. O interior de grande riqueza decorativa apresenta um dos mais ricos acervos de azulejaria neoclássica do país, complementado por um extenso conjunto de pinturas decorativas, em paredes e tectos, bem representativas da evolução do gosto ao longo do Séc. 19, desde o eclectismo característico do reinado de D. Maria I, ainda apegado à graciosidade do rococó, passando por composições já claramente neoclássicas, de inspiração fundamentalmente pompeiana, até a composições românticas com paisagens e figuras populares.
Número IPA Antigo: PT041509060007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta em " U ", irregular, composta por um corpo central e dois braços laterais perpendiculares desiguais. Volumes articulados com o corpo central de dois pisos, encimado por mirante central e os braços de um piso, com cobertura exterior em telhado de duas águas no corpo central, quatro águas no mirante e uma água em fibrocimento nos corpos laterais. Fachada principal virado a NE. de um só pano definido por cunhais de argamassa pintada a amarelo, soco de argamassa pintada e remate superior em cornija pintada e beirado, dividido em dois registos por moldura de argamassa pintada, no registo inferior rasga-se ao centro um portão com moldura de cantaria de verga curva, ladeado por frades de cantaria e encimado por cornija de argamassa pintada, adornada ao centro por composição de folhas de acanto e lateralmente por pequenas orelhas apoiadas em volutas, de cada lado abrem-se três janelas engradadas, com molduras de cantaria, encimadas por frontões triangulares de argamassa pintada e adornadas por pequenas orelhas assentes em volutas, as duas janelas que ladeiam o portão apresentam grades de ferro forjado planas e as quatro seguintes grades de ferro forjado com a secção inferior bojuda, nas extremidades abrem-se portas de esquema idêntico às janelas; no registo superior rasga-se uma janela de sacada central, com moldura de cantaria encimada por frontão mistilíneo, com estrela no tímpano, encimado por composição de folhas de acanto, varanda com gradeamento de ferro forjado assente em mísula de cantaria com o troço central de planta curva apoiada em cachorros de argamassa formados por enrolamentos de folhas de acanto que arrancam de mascarões, de cada lado rasgam-se quatro janelas de sacada, correspondentes aos vãos do registo inferior, com molduras de cantaria encimadas por cornijas de argamassa pintada e ladeadas por orelhas de perfil polilobado, varandas de ferro forjado assentes em mísulas de cantaria; acima da cornija eleva-se ao centro um mirante, assente numa varanda com gradeamento de ferro forjado, com um pano definido por cunhais de argamassa pintada e rematado superiormente por cornija e beirado, nele se rasga ao centro uma janela de sacada em arco polilobado com moldura de cantaria, ladeada por duas janelas de sacada com moldura de cantaria de verga recta, o conjunto das três janelas é rematado superiormente por uma cornija de argamassa se recorte polilobado rematada por composição de folhas de acanto. Fachada SE. com soco de argamassa pintada, um só pano definido por cunhais de argamassa pintados e remate superior em frontão polilobado contornado por volutas de argamassa, com urnas de argamassa assentes em plintos nos acrotérios, ao centro rasga-se uma janela com moldura de cantaria encimada por cornija de argamassa pintada rematada por beirado, o pano de parede é rasgado por uma porta com moldura de cantaria com entablamento, tendo à direita uma pequena janela com moldura de cantaria. Fachada SO. com soco de argamassa pintada e em só pano rematado por cornija pintada e beirado, rasgado por janela central com moldura de cantaria r gradeamento de ferro forjado, ladeada por duas janelas de cada lado, com molduras de cantaria e caixilharias de guilhotina, seguidas por uma porta de cada lado com moldura de cantaria, entre cada vão inscreve-se um painel de azulejos, num total de oito, inscritos em molduras de argamassa rectangulares, pintadas, representando estátuas antigas, pintadas a azul, enquadradas por molduras vegetalistas, polícromas, os dois painéis das extremidades representem jarrões de flores assentes em plintos, o mirante que se eleva ao centro, acima da cornija e do beirado apresenta um pano definido por cunhais de argamassa pintada e remate superior em cornija e beirado, é rasgado ao centro por uma janela de sacada em arco polilobado, com moldura de cantaria, encimado por cornija de argamassa pintada, que se eleva ao centro em arco canopial, varanda com gradeamento de ferro forjado assente em bacia de cantaria, o pano de parede é integralmente revestido por uma composição azulejar, com soco marmoreado a manganês, barra canelada e friso com mascarão pintado a azul enquadrado por grinaldas pintadas a manganês, de cada lado da janela destaca-se um painel de fundo amarelo onde se inscreve à esquerda a figura polícroma do comércio e à direita a figura polícroma da agricultura, o conjunto é contornado por uma barra de azulejos relevados azuis e brancos, lateralmente o mirante é enquadrado por duas grandes volutas em " S " e dois plintos onde assentam urnas de argamassa; à esquerda a fachada SE. do braço N. apresenta soco de argamassa pintada e um só pano rematado por balaustrada, é rasgado por uma porta central, em arco de volta perfeita, com moldura de cantaria, ladeada por portas de verga curva, com molduras de cantaria, entre a porta central e a da esquerda destaca-se um painel de azulejos inscrito em moldura de argamassa rectangular, pintada, representando um cavaleiro, pintado a azul, enquadrado por moldura vegetalista, polícroma, nos dois extremos da parede destacam-se painéis de azulejos com jarrões de flores assentes em plintos; a Fachada NO. do braço S. segue esquema idêntico, com excepção dos painéis de azulejos, que são dois a ladear a porta central, representando ambos cavaleiros, e não existe o painel da extremidade direita. INTERIOR: a que se acede pelo portão central, com átrio iluminado por duas janelas que ladeiam o portão, calcetado com seixos rolados, e com tecto com forro de madeira de saia e camisa, dividido em três painéis, cada um apresentando ao centro um brasão pintado, abre-se uma porta em cada uma das paredes laterais e ao centro um arco de volta perfeita com moldura de cantaria de chave saliente, assente em pilastras, resguardado por porta envidraçada, de duas folhas, com bandeira ficha, caixilharia de madeira e vidros coloridos, que conduz à escadaria principal; à esquerda do átrio desenvolvem-se dependências secundárias e arrumos e à direita duas sala, cada uma delas iluminada por uma janela e decoradas com pinturas murais, a primeira apresenta lambril pintado com medalhões ovais, acima do qual se desenvolvem amplas composições que mostram paisagens de florestas e cidades costeiras, enquadradas por colunas pintadas, na segunda sala as pinturas representam uma floresta e um palácio na parede oposta à janela, com cães e um caçador em primeiro plano, segue-se um átrio de acesso à escadaria secundária da casa, decorado com lambril marmoreado e amplas paisagens pintadas, sobre as quais se destacam figuras populares e na parede NO. um arco triunfal de entrada numa povoação, o tecto de madeira, plano, é dividido em quatro painéis onde se destacam medalhões circulares onde estão representadas as quatro estações do ano; regressando ao átrio principal sobe-se ao primeiro andar pela escadaria principal de dois lanços, sendo o segundo duplo, com degraus de cantaria e gradeamento de ferro forjado, dourado, paredes guarnecidas com silhar de 6 azulejos, com rodapé marmoreado a manganês, barra com margaridas azuis e moldura marmoreada a manganês e campo central marmoreado a azul onde se destacam cartelas de molduras manganês e interior marmoreado a amarelo com florão central a manganês, entre as cartelas destacam-se florões azuis, o tecto é de madeira, plano, do tipo de saia e camisa, com painel central armoreado pintado a óleo sobre tela, na parede do patamar intermédio abre-se uma janela e no patamar superior um aporta central em arco de asa de cesto que dá acesso ao Salão de Baile, a uma porta em cada uma das paredes laterais; Salão de Baile ou Sala Grande, com três janelas de sacada viradas a NE. uma porta em cada topo e uma ampla porta envidraçada, em arco de asa de cesto comunicando com a escadaria, ladeada por duas portas, pavimento em soalho e tecto plano pintado sobre tela, com moldura de contorno dividida em cartelas alternadamente quadradas e rectangulares, preenchidas com florões e composições de folhas de acanto, o campo é dividido em três rectângulos, sendo os das extremidades bastante pequenos, delimitados por molduras de gregas pintadas a branco sobre fundo azul, os rectângulos das extremidades são preenchidos por composição figurativa, representando uma urna ladeada por esfinges aladas, com cabeça de ave de rapina, de cujas caudas nasce um enrolamento de folhas de acanto, enquadradas por laços e panejamentos pendentes, grinaldas de rosas e folhagens, tudo assente num plinto azul decorado com drapeados, o amplo rectângulo central é ocupado ao centro por um medalhão oval ladeado por dois espaços em reserva, nestes desenvolvem-se largas composições com enrolamentos de folhas de acanto onde se apoiam cestos com flores, o medalhão oval apresenta uma barra decorada com grinaldas de flores suspensas de laços e mascarões tendo ao centro, emoldurado por uma grinalda de folhas de loureiro, uma composição de folhas de acanto em cujo centro se destaca um medalhão de talha dourada onde se suspende o candeeiro, lambril de 8 azulejos de altura, com rodapé marmoreado a manganês, moldura marmoreada a azul contornando campo marmoreado a amarelo onde se destaca medalhão oval com paisagem pintada a manganês, enquadrado por grinaldas de flores; no patamar da escadaria, a porta da direita conduz a um corredor com lambril de azulejos de padronagem polícroma, que à acesso a três quartos, à direita e dois à esquerda, decorados com lambris de azulejos com medalhões de paisagens enquadrados por plumas, grinaldas, jarras de flores, etc. e pinturas murais compostas por barras de grotescos; o terceiro quarto da esquerda apresenta figuras de deuses romanos pintados ao centro de painéis definidos por barras e grotescos; ao fundo do corredor uma porta conduz à sala jantar, decorada com lambril de azulejos azuis e brancos, representando cenas de caçadas enquadradas por barra de azulejos relevados, acima do qual se desenvolve uma barra pintada com flores e folhagens onde assentam plintos com figuras populares; a SO. uma porta conduz a um átrio de ligação ao pátio exterior, copa e cozinha, a NE. abre-se uma janela de sacada e a SE. uma porta conduz à escada de acesso ao sótão e outra a uma pequena arrecadação. A porta à esquerda do patamar da escadaria conduz à antiga sala de jantar, a segunda maior sala da casa, com lambril de azulejos de padrão polícromo e pinturas murais com barras de grotescos definindo painéis; uma porta no topo NO. conduz à sala de música, dependência de planta quadrada, com uma porta ao centro de cada parede e uma janela de sacada ao centro da parede SO., encimadas por sobreportas pintadas com instrumentos musicais, de cada lado, acima do lambril liso, o pano de parede é contornado por barra com grinaldas e enrolamentos de folhagens enquadrando a figura central de um músico; a NE. uma sala com porta para o salão e para a antiga sala de jantar apresenta lambril de azulejos, com barra marmoreada a azul, e pequenos medalhões com paisagens, encimados por cestos com flores e enquadrados por grinaldas de flores e ramagens e uma ave de cada lado; pinturas murais com finas barras de grinaldas florais, definindo painéis assente numa barra mais larga decorada com ferronerie onde pousam aves, de cujos bicos se suspende uma grinalda de flores que nasce de uma taça central suportada por cariátides; o tecto é decorado por finos grotescos. Segue-se uma sala com lambril liso e pinturas murais com painéis representando figuras populares, cavaleiros, caçadas e temas mitológicos, enquadrados por barras simples.

Acessos

Largo do Capitão Mor

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 740-AF/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 de 24 dezembro 2012

Enquadramento

Urbano, isolado, abrindo a fachada principal sobre um largo, a fachada SE. sobre um pátio murado, a fachada NO. sobre uma horta murada e a SO. rodeado pela construção situa-se um jardim com lago central rodeado por canteiros contornados por buxo e estátuas.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residêncial: casa

Utilização Actual

Residêncial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR DE AZULEJOS: Ferreira das Tabuletas (séc. 19).

Cronologia

Séc. 18, segunda metade, construção para residência de José Joaquim Salema de Andrade Guerreiro de Aboim, Capitão-mor de Ordenanças de Santiago do Cacém; 1790, década de - início da decoração interior, incluindo os painéis de azulejos neoclássicos; séc. 19, meados - feitura das pinturas murais, azulejos da sala de jantar e dos exteriores; 1970, início da década - recuperação geral conduzida pelo arquitecto Frederico Jorge, em que se substituíram os pisos de madeira por lajes de betão, se construíram casas de banho e restauraram as pinturas murais; 1982, 28 abril - proposta de classificação do delegado do IPPC em Beja; 2008, 29 janeiro - proposta de abertura do processo de classificação da DRCAlentejo; 18 fevereiro - despacho de abertura do processo de classificação da Subdiretora do IGESPAR; 2010, 15 março - proposta da DRCAlentejp para a classificação como de Interesse Público; 27 agosto - devolução do do processo de classificação à DRCAlentejo para juntar proposta de Zona Especial de Proteção; 30 novembro - nova proposta da DRCAlentejo para a classificação como Monumento de Interesse Público e fixação da Zona Especial de Proteção; 2011, 09 fevereiro - parecer favorável da SPAA do Conselho Nacional de Cultura relativo à classificação e fixação da Zona Especial de Proteção; 31 outubro - Anúncio n.º 15785/2011, DR, 2.ª série, n.º 209, do projeto de decisão de classificar o imóvel como Monumento de Interesse Público e fixação da respetiva Zona Especial de Proteção.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de alvenaria de pedra e cal rebocadas e pintadas, elementos decorativos de argamassa relevada, molduras de vãos, mísulas de varandas e elementos secundários de cantaria, varandas e gradeamentos de ferro forjado, caixilharias e portas de madeira pintada, vidros coloridos, telhado em telha de aba e canudo de fabrico industrial, lajes de betão, pavimentos de seixos rolados, soalho e tijoleira, tectos de madeira, estuque e tela pintada, azulejos, pinturas murais.

Bibliografia

PEREIRA, João Castel-Branco, O Azulejo Neoclássico in Cerâmica Neoclássica em Portugal, Lisboa, 1997; IDEM, Azulejos Neoclássicos, Oceanos, nºs 36 / 37, Lisboa 1999; SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Século XVIII - Corpus da Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1979; SOBRAL, Carlos e MATIAS, José, Património Edificado de Santiago do Cacém - Breve Inventário, Santiago do Cacém, Câmara Municipal, 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Proprietário: 1970, início da década - recuperação geral, substituição dos pisos de madeira por lajes de betão, renovação dos telhados com a inclusão de estruturas de betão e telhas de fibrocimento sobre os braços laterais, restauro das pinturas murais; Proprietário: 2000 - pintura geral.

Observações

O proprietário não autoriza a divulgação de fotografias do interior.

Autor e Data

Ricardo Pereira 2000

Actualização

 
 
 
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