Ermida da Memória / Capela de Nossa Senhora da Nazaré / Capelinha do Sítio

IPA.00001433
Portugal, Leiria, Nazaré, Nazaré
 
Oratório construído no séc. 14, apesar do culto de Nossa Senhora da Nazaré no Sítio datar do séc. 12, com planta quadrangular, tipo alpendre, com acesso por arco de volta perfeita em cada uma das faces, albergando imagem da Virgem com o Menino, e que, por volta de 1370, se fecharia e transformaria em capela, devido às intempéries, interiormente sem iluminação e de cobertura tronco-piramidal. Por volta de 1600, Frei Bernardo de Brito manda desentulhar a gruta subterrânea da capela e proceder à sua transformação em local de culto. Este monge cisterciense e o Pe. Manuel de Brito Alão, o primeiro administrador nomeado pelo rei, procuraram, na primeira metade do séc. 17, fomentar o desenvolvimento do culto e do Santuário, bem como justificar o poder régio e da Confraria sobre o mesmo, criando uma memória história que irá determinar o programa decorativo da capela. Assim, em 1623 começou por se colocar no interior uma lápide em latim, redigida por Frei Bernardo de Brito, alusiva à memória histórica da capela e milagre subjacente e, depois, uma outra com a respetiva tradução. Em 1628, o Pe. de Brito Alão refere ainda a existência de outras lápides inscritas pelos romeiros, a marcação dos quatro arcos nas fachadas (atualmente subsistindo apenas a marcação dos dois laterais), encimados pelas imagens da Virgem, na frontaria, a de São Brás e a de São Bartolomeu, cada um com as suas relíquias na mão, o rei D. Rodrigo e o monge Romano com um cofre nas mãos, com as relíquias de São Brás e São Bartolomeu, ainda que nessa data já não se conseguissem identificar, por estarem "quebradas e gastadas do tempo". As mesmas estátuas são ainda referidas por volta de 1875, por Pinho Leal, subsistindo apenas uma réplica da Virgem. Atualmente, as fachadas terminam em friso, a principal rasgada por portal de verga reta que deve datar, tal como a sobreporta de azulejos, o friso do remate, igual ao que separa os pisos do Palácio Real, e o painel com representação do milagre do cavaleiro D. Fuas Roupinho existente na fachada posterior da reforma da primeira metade do séc. 18. Tem cobertura tronco-piramidal revestida a azulejos de padrão policromo e de figura avulsa, da segunda metade do séc. 17, mas com uma pendente ligeiramente diferente à seiscentista, devido às obras efetuadas em 1986 / 1987, altura em que o revestimento de azulejos, devido ao seu mau estado, foi parcialmente substituído e alterado, introduzindo-se nos de figura avulsa painéis com pássaros. No interior apresenta-se revestida a azulejos setecentistas, os da cobertura integrando painéis com representação de Litanias Marinas e, ao centro, uma fénix. Altar paralelepipédico com frontal revestido a azulejos, reproduzindo brocado lavrado, datado de 1702. Cripta retangular igualmente revestida a azulejos seiscentistas, os da cobertura, em abóbada de berço abatido, alusivos à lenda do orago, com grande qualidade de desenho, e possuindo gruta e pequeno nicho. Do nicho e retábulo em talha, respetivamente de 1768 e 1778, já nada subsiste.
Número IPA Antigo: PT031011020011
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta centralizada quadrangular, de massa simples e com cobertura prismática, revestida a azulejos de padrão policromo e figura avulsa, azuis e brancos, coroada por cruz latina de cantaria, de braços quadrangulares, sobre acrotério. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com cunhais perpianhos e terminadas em empena reta, com friso percorrido por dois sulcos horizontais. Fachada principal virada a N., para o largo de Nossa Senhora da Nazaré, rasgada por porta de verga reta, com moldura simples, encimado por sobreporta com painel de azulejos, azuis e brancos, formando falso espaldar. Sobre a cornija, surge nicho de cantaria, de perfil exterior retilíneo e terminado em empena, coroado por cogulhos vegetalistas, e interiormente trilobado, albergando grupo escultórico em relevo, já muito danificadas pela erosão, com a Virgem e o Menino ladeado por figuras ajoelhadas. Fachadas laterais semelhantes, com marcação de amplo arco de volta perfeita, em cantaria, atualmente fechados. A fachada posterior, virada a S. e à Praia, possui painel de azulejos, azuis e brancos, representando o milagre de Nossa Senhora da Nazaré; num plano inferior e junto à falésia, abre-se janela retangular jacente. INTERIOR com pavimento em cantaria, e as paredes e a cobertura revestidas a azulejos azuis e brancos. As paredes apresentam dois registos de azulejos, o primeiro com painéis de albarradas, e o segundo de padrão fitomórfico (P-408), envolvidos por friso (F-19) e barra de acantos enrolados. A cobertura, tronco-piramidal, de topo truncado, é revestida a azulejos de padrão com estrelas, igualmente com friso (F-19) e barra de acantos; cada um dos panos da cobertura integra painel com representação de Litanias Marinas e, ao centro, possui a representação de uma fénix. Na parede do lado do Evangelho, existe grande lápide retangular inscrita, encimada por armário embutido retangular, com duas portas. Na parede do lado da Epístola existe pia de água benta de cantaria e uma outra lápide retangular, inscrita. À parede testeira e sobre supedâneo, de dois degraus, encosta-se o altar paralelepipédico, com frontal revestido a azulejos, azuis e brancos, marcando sanefa e sebastos, decorados de acantos, e tendo no pano florões de acantos. A ilharga é igualmente revestida a azulejos figurativos e possui encostado guarda em balaustrada de madeira. Sobre o altar, uma zona sem azulejos, onde se abria o nicho da Senhora, é protegida por pano vermelho. Do lado da Epístola desenvolve-se escada de acesso à cripta á gruta, com as paredes revestidas de azulejos com o mesmo tipo de padrão, friso e barra. A cripta possui pavimento de cantaria, e as paredes revestidas com dois registos de azulejos, tendo no primeiro ramadas de flores e no segundo azulejos com padrão de estrelas, separados por friso (F-19) e barra de acantos enrolados com vieira central. A cobertura, em abóbada de berço abatida, é revestida com azulejos figurativos, representado o milagre de D. Fuas Roupinho, com barra igual. No lado do Evangelho possui nicho, em arco de volta perfeita sobre pilastras, interiormente albergando imagem de Nossa Senhora da Nazaré, cerrado por grades de ferro. Sob o nicho existe pequeno túnel com entrada da gruta, igualmente fechado por grade de ferro. No lado oposto abre-se vão jacente, com capialço revestido a azulejos reaproveitados.

Acessos

Sítio da Nazaré; EN 242; Largo de Nossa Senhora da Nazaré

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 45/93, DR, 1.ª série-B, n.º 280 de 30 novembro 1993

Enquadramento

Urbano, isolado, junto ao bico do Milagre, sobre a falésia, delimitada por muro, rebocado e pintado de branco, formando miradouro com magnifica vista sobre a povoação da Praia da Nazaré, e junto ao Largo de Nossa Senhora da Nazaré. A capela ergue-se adaptada ao declive do terreno, possuindo pequeno adro quadrangular frontal, da mesma largura da capela, sobrelevado relativamente aos passeios envolventes, e delimitado por muro, rebocado e pintado de branco e capeado a cantaria, acedido por três degraus. A SO. e num plano ainda mais avançado do promontório, ergue-se o Padrão alusivo à passagem de Vasco da Gama. Nas imediações implantam-se o Coreto do Sítio da Nazaré (v. IPA.00007216) a N., o Palácio Real (v. IPA.00007231), o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré (v. IPA.00001538), o Hospital da Confraria (v. IPA.00007217) e o Teatro Chaby Pinheiro (v. IPA.00001831), todos a NO..

Descrição Complementar

O painel de azulejos sobre o portal apresenta elementos volutados, coroados por pináculos e vieira central contendo as armas de Portugal, com coroa fechada, encimada por festão de frutas e flores. A cobertura exterior da capela é revestida a azulejos de padrão policromo, com barra de azulejos azuis e brancos de figura avulsa, com florões, flores e aves. O revestimento de azulejos da cobertura da capela apresenta várias lacunas e, no pano frontal, possui a zona da barra com azulejos reaproveitados, quer de composição figurativa, quer com motivos vegetalistas. Cada um dos panos da cobertura possui painel de azulejos com Litanias Marianas, integradas em cartelas recortadas, com moldura envolvida por acantos enrolados; figuram, no pano frontal uma roseira com a inscrição "QVASI PLANTA / TIO ROZA EM / IIRICHO"; no pano esquerdo um cipreste e a inscrição "QVASI CYPRESSVS / ... E SION", no pano direito uma palmeira e a inscrição "QVASI PALMA / EXALTATA SVM / INCADIS", e no pano posterior um cedro com a inscrição "QVASI CEDRVS / EXALTATA SVM / IN LIRANO". Ao centro surge uma fénix inserida em cartela circular, com a inscrição"ET VIVAM", que pode ser traduzida por "Vivamos assim". No pavimento da capela dispõe-se caixa de esmolas, em ferro, com a inscrição "ESMOLAS / PARA / Nª SENHORA / DA NAZARÉ" no espaldar. O revestimento das paredes tem registo de albarradas contendo os vasos floridos ladeados por aves, separadas por azulejos de figura avulsa com flores, ou ramadas de flores. No lado da Epístola surge lápide com a seguinte inscrição, em latim: "SACRA VIRGINIS MARIAE VENERANDA IMAGO À MONASTE- / RIO CAVLINIANA PROPE E MERTAM QVO GOTHORM TEMPO- / RE À NAZARETH TRANSLATA MIRACVLIS CLARUERAT, / IN GENERALI HISPANIAE CLADE ANNO DOMINI DCCXIIII, À ROMANO / MONACHO, COMITE VT FERTVR RODERICO REGE, AD HANC EXTRE- / MAM ORBIS PARTEM DEDUCITVR, IN QUA DVM VNVS MORITVR / ALTER PROFICISCITVR PER CCCCLXIX ANNOS INTER DVO / HAEC PRAERVPTA SAXA SVB PARVO DELITVIT TVGVRIO, / DEINDEA À FVA ROVPINHO PORTVS MOLARVM DUCE ANNO MCLXXXII / VT IPSE IN DONATIONE TESTATVR INVENTA DVM INCAVTE FVGASSEM / FICTVMQUE FORTE INSEQUITVR CERVVM AD VLTIMVM QVE IMMANIS HVIVS / PRAECIPITI CVM NEMVIAM IAM RVITVRVS ACCEDIT, NOMINE VIR- / GINIS INVOCATO, À RVINA ET MORTIS FACIBVS EREPTVS / HOC EI PRIVS DIDICAT TACELLVM TANDEM À FERDINAN- / DO PORTVGALLIAE REGE AD MAIVS ALIVD QVOD IPSE / À FUNDAMENTIS EREXERAT TRANSFERTVR ANNO DOMINI / MCCCLXXVII. VIRGINI ET PERPETVITATI DD: F BDB EX VOTO". No lado do Evangelho surge lápide com inscrição da tradução da lápide anterior, truncada nas duas primeiras linhas *1.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 14 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: Construções Anselmo costa, Ldª (1986-1987). ENSAMBLADOR E PINTOR-DOURADOR: Joaquim Gomes d'Almeida (1773).

Cronologia

Séc. 12 / 13 - apesar da tradição datar o Santuário da Nazaré nesta época é improvável a sua existência, pois não existe nenhum documento coevo a referi-lo e os centros de peregrinação localizam-se quase exclusivamente entre o Douro e Minho e na Beira *2; séc. 14 - época provável da construção da capela da Memória, de tipo alpendrado ou aberta, com quatro arcos; só nesta época é documentado o culto Mariano no local, com invocação de Santa Maria da Nazaré; 1370 - data apontada para o fecho dos arcos da capela, por ordem de D. Fernando; 1377 - data apontada por Frei Bernardo de Brito e Manuel de Brito Alão para a transladação da imagem de Nossa Senhora da Nazaré da capela da Memória para o santuário, aqui levantado por ordem de D. Fernando; 1434 - 1469, entre - o direito de apresentação do ermitão pertence ao abade de Alcobaça, na sua qualidade de padroeiro das igrejas e ermidas do couto; a sua principal tarefa é tomar conta da ermida da Nazaré, afastada da vila da Pederneira, onde pernoitam os peregrinos; séc. 16 - o Sítio é um local ermo e inóspito; a ermida da Memória não possui a descoberto a atual gruta subterrânea; 1520 - chamam-se os homens da Câmara da vila da Pederneira para avaliar os territórios pedidos pelo genro do ermitão junto à ermida; 1563 - António Dias, vigário geral de Santarém, visita a Ermida da Senhora, mas os mordomos Diogo Baião e Pedro de Almeida procuram mostrar que a ermida é de jurisdição régia e a confraria administradora, composta e instituída por leigos; o vigário e os beneficiados dizem que a Igreja da Pederneira está "em poçe paçifica, de duzentos anos a estta parte" da ermida do Sítio, ou seja, desde meados do séc. 14, e, por isso, ela é anexa da Igreja e nela têm, desde tempo imemorável, seus ermitões e as chaves da ermida; a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré trata, contudo, de os afastar, tomando os cálices, então na posse da ermitoa, e entrega-os a Francisco Vaz, que os coloca numa sacristia da igreja; debaixo do coro da igreja, pregam uma balança com rótulo dizendo que quem se quiser pesar "fosse para as obras"; o vigário geral de Santarém intervem, mas a sentença do confronto é favorável à Confraria da Senhora da Nazaré; 1569 - beneficiados e vigário da Pederneira e os confrades da Senhora da Nazaré estabelecem compromisso, definindo que o único ermitão do Sítio passa a ser escolhido pelo vigário e beneficiados, a partir de uma lista de três nomes apresentada pelos mordomos; 1600, cerca - o monge cisterciense Frei Bernardo de Brito desloca-se ao Santuário e, com a ajuda de alguns devotos da Senhora, manda desentulhar a gruta subterrânea da ermida da Memória e manda colocar à entrada uma réplica da primitiva imagem, em madeira; na obra "Monarquia Lusitana", divulga a história do famoso milagre do cavaleiro salvo milagrosamente pela intervenção da Senhora, levando ao grande aumento de peregrinos; Frei Bernardo faz ainda a associação de um crucifixo existente na sacristia da igreja com o que Frei Romano e D. Rodrigo teriam encontrado no monte de São Bartolomeu; depois, na sequência de um voto que realizara, procede à sua transformação da gruta em local de culto, e compõe uma inscrição, em latim, para ali ser colocada; 1608, julho - D. Filipe II faz mercê do cargo de administrador "das obras e bens" do Santuário ao Pe. Manuel de Brito Alão *3; séc. 17, princípio - apenas o ermitão e o administrador possuem residência próxima do Santuário; 1623 - com autorização da Mesa da Confraria, Rui Lourenço, provedor da comarca e visitador da capela, manda esculpir e colocar a lápide com a inscrição latina, assinada com as iniciais do Frei Bernardo de Brito, e que introduz alterações relativamente à publicada na "Monarquia Lusitana"; 1628 - data da publicação do livro "Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora da Nazaré", do Pe. Manuel de Brito Alão; segundo o mesmo, sobre o portal da capela existem umas imagens de pedra, gastas pelo tempo, representando a Virgem com o Menino; os quatro arcos "em redondo" que tivera inicialmente encontram-se entaipados, tendo colocado num dos arcos a imagem de São Brás e a de São Bartolomeu, cada um com as suas relíquias na mão, e noutro o Rei D. Rodrigo e o monge Romano com um cofre nas mãos, com as relíquias de São Brás e São Bartolomeu, ainda que as imagens não se deixem conhecer de todos, por estarem "quebradas e gastadas do tempo"; pensa que na lapa ou gruta havia D. Rodrigo enterrado o frei Romano, porque na sua época tinham-se encontrado "alguns ossos que pareciam de pessoa humana" e refere o costume de alguns peregrinos levarem terra da gruta como relíquia, porque, devido ao contacto que tivera com a Senhora, alcançavam saúde; Alão refere ainda a existência de outras lajes inscritas, onde os romeiros "per memórias de que vieram a esta Santa Casa" deixam os seus nomes inscritos; 1621 - 1634, entre - Dr. Luís Álvares Correia, visitador do Arcebispado de Lisboa, chama a si o direito de visitar a ermida, então considerada de proteção régia e, como tal, isenta de visitação eclesiástica; isto porque o Dr. Luís Álvares Correia a considera anexa à Igreja Paroquial da Pederneira; a iniciativa é condenada pela Coroa; séc. 17, 2ª metade - provável revestimento da cobertura exterior; 1702 - data inscrita na ilharga do frontal de altar; séc. 18, 1ª metade - reforma decorativa da capela, com revestimento interior de azulejos e colocação de painel sobre o portal; 1711 - referência à casa do ermitão ter dois pisos; 1759 - feitura do muro do Penedo do Cavaleiro; 1768 - feitura de um nicho em talha dourada e pintada na capela; 1773 - feitura de uma peanha para a Senhora da Memória por Joaquim Gomes d'Almeida, do Sítio, que também a pinta e doura; 1778 - feitura do retábulo da capela; 1779 - encarnação da imagem da Senhora da Memória e douramento do seu nicho; 1780 - vinda de ouro de Lisboa para dourar o nicho; 1840 - segundo José d'Almeida Salazar, até esta data mantém-se o costume de adquirir terra da gruta, havendo grande avidez na sua obtenção, tendo por vezes a ermitoa de intervir para evitar desordem *4; 1875, cerca - segundo Pinho Leal, sobre os quatro arcos da capela existem estátuas de pedra, figurando no primeiro a da Virgem, no segundo a de São Bartolomeu e São Brás, no terceiro a do rei D. Rodrigo e no quarto a de um frade com um cofre na mão, aludindo ao frei Romão; no interior refere, no lado da Epístola, a lápide inscrita mandada colocar pelo provedor da comarca Rui Lourenço e, no lado oposto, uma outra com a tradução da anterior, mas aumentada pelos Irmãos da Confraria; 1939 - construção do padrão evocando a passagem de Vasco da Gama no Sítio; 1980, 20 março - despacho do Secretário de Estado da Cultura determinando a classificação da capela como Imóvel de Interesse Público; 1987 - Mesa administrativa solicita elaboração de projeto para a área envolvente à ermida da Memória a um arquiteto da DREMC, sendo a resposta negativa; posteriormente, solicita o projeto à Câmara; 1995, janeiro - envio à Comissão Europeia de pedido de apoio a projeto-piloto de conservação do Património Arquitetónico Europeu.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra rebocada e caiada; betão; cornija, moldura do vão e cruz sobre a cobertura em cantaria calcária; porta de madeira; vidro simples; revestimentos e elementos decorativos em azulejos azuis e brancos ou policromos; pia de água benta, lápides, moldura do nicho e pavimento em cantaria calcária; teia de madeira; grades de ferro.

Bibliografia

ALÃO, Manuel de Brito - Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2001; BOGA, Mendes (Pe.) - D. Fuas Roupinho e o Santuário da Nazaré. Porto: Tipografia do Carvalhido, 1988; BRITO, Frei Bernardo de - Monarquia Lusitana. Lisboa: 1609, tomo II, pp. 272-283; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré. Boletim Informativo. nº 1 agosto 2003; GRANADA, João António Godinho - Nazaré, Nossa Senhora e D. Fuas Roupinho. Batalha: 1998; LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1875, vol. 6; PENTEADO, Pedro Manuel - Peregrinos da Memória: o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré: 1600-1785. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, 1998; PENTEADO, Pedro Manuel - Santuário da Senhora da Nazaré. Apontamentos para uma cronologia (de 1750 aos nossos dias). Lisboa: Edições Colibri; Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, 2002; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Leiria. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1955, vol. V; SIMÕES, J. M. dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVII. 2.ª ed.. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, tomo 1; Ermida da Memória, (http://www.cnsn.pt/portal/index.php?id=1171&layout=detail), [consultado em 27-01-2014].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML, SIPA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1751 - assento das portas da capela; 1776 - feitura da porta da capela e sua pintura; 1808 - tapa-se uma fenda na terra em frente da capela; DGEMN: 1986 - obras de reparação e conservação, consistindo na reparação das fachadas e principalmente dos azulejos da cobertura: picagem do reboco até ao osso, introdução de betão ligeiramente armado na consolidação da base da fachada posterior, incluindo cofragem, rebocos a argamassa de cimento, levantamento, limpeza, reposição e betume de azulejos, incluindo a execução de 275 peças partidas "nas quatro paredes da cúpula", caiação de paredes, limpeza e betumagem de juntas do capeamento em pedra do murete, limpeza de cantaria do vão das portas; as obras são adjudicadas ao empreiteiro Construções Anselmo costa, Ldª; 1987 - elaboração de relatório sobre o tratamento e substituição do baixo-relevo da fachada principal pelos técnicos do Instituto de José de Figueiredo; obras de reparação e conservação pelo empreiteiro Construções Anselmo Costa, Ldª: trabalhos complementares, com fornecimento e colocação de faixa de cantaria trabalhada em remate e complemento da cimalha da fachada posterior; emendas no restante perímetro; limpeza e picagem dos rebocos da cúpula para caiação de caixa, com vista à aplicação de betonilha armada com malhasol; impermeabilização da superfície; levantamento, execução, reposição e betumagem de 470 peças partidas nas quatro faces da cúpula; colocação de tubo para esgoto de água do interior da ermida; revestimento a "pedra calcinada" de betão armado, para consolidação da base da fundação da parede da fachada posterior; tratamento e substituição do relevo da frontaria; 1990, década - consolidação, conservação e tratamento dos azulejos; conservação e beneficiação de paramentos, pavimentos, tetos e vãos; beneficiação geral da instalação elétrica; 1997 - limpeza da pedra e aplicação de hidrófugo; limpeza e pintura das paredes; tratamento e pintura das caixilharias e gradeamentos; 2001 - remodelação do largo de Nossa Senhora da Nazaré, com incidência no ordenamento do trânsito, calcetamento do largo e substituição do mobiliário urbano.

Observações

*1 - Segundo Manuel de Brito Alão a transcrição da lápide é a seguinte: "A sagrada imagem da Virgem Maria foi trazida da cidade de Nazaré para o Mosteiro de Cauliniana, que está junto à cidade de Mérida, no tempo dos reis godos, aonde esclareceu com muitos milagres até a destruição geral de Espanha no ano 714, em o qual, vindo ter àquele mosteiro, como se conta, El-rei D. Rodrigo, tomando por seu companheiro um monge por nome Romano, fugiu e veio ter à última parte do mundo, que é este sítio, no qual morreu o monge, e el-rei se partiu deixando esta santa imagem escondida nesta lapa, na qual esteve por espaço de quatrocentos e sessenta e nove anos. Depois disso, no ano do Senhor mil cento e outenta e dous, sendo capitão de Porto de Mós, D. Fuas Roupinho achou esta Santa Imagem, como ele mesmo testemunha na doação que fez a esta ermida, e indo correndo inconsideradamente após um fingido veado que lhe ia fugindo ao último deste penedo, que não via como se ia despenhar com a névoa serrada, estando já para cair e se fazer pedaços, chamou rijamente pela Virgem Maria, por cujo favor foi livre da ruína e da boca da morte tirado; e logo fez esta ermida a esta Santa Imagem, e depois a mudou el-rei D. Fernando no ano de 1377 para outra casa maior que lhe fez, ainda agora está; e este letreiro fez o doutor Frei Bernardo de Brito per sua devação à Virgem Maria, pera ficar perpétua lembrança desta maravilha" (ALÃO, 2001, p. 87). Segundo Frei Bernardo de Brito, a tradução da inscrição é: "Sagrada & Venerauel Imagem da Virgem Maria, que sendo trazida da cidade de Nazareth respladeceo em tempos dos Godos cõ milagres no mosteiro de Cauliniana junto à cidade de Merida, foi trazida a esta vltima parte do mundo pelo monge Romano, tendolhe companhia elrey Dom Rodrigo, no anno de Christo, setecentos & quatorze, em que aconteceo a perda geral de Espanha, & como o monge morresse, & elrey se partisse, ficou aqui escondida em hua piquena choça posta entre dous escabrosos penedos, por espaço de quatrocentos & setenta & noue annos, & sedo depois achada por Dom Fuas Roupinho capitão de Porto de Mós, no anno de mil ceto e oiteta & dous, como ele proprio testifica em sua doação; succedeo que arremessando inconsideravelmente o cauallo no alcance de hu ceruo que lhe fugia (& porvetura era fingido), & indo ia pera cair na vítima ponta deste despenhadeiro, inuocando o nome da Virgem foi liure da queda & mãos da morte, & lhe dedicou esta primeira ermida. Finalmente foi tresladada por elrey Dom Fernãdo de Portugal a esse outro templo mayor, q ele mãdou leuantar desde os primeyros fundamentos, no anno do Senhor mil & trezentos & setenta & sete. Frei Bernardo de Brito, dedicou esta obra à Virgem, & a eterna lebrança, por voto que tinha feito" (cit in PENTEADO, 1998, p. 42). *2 - A memória história do Santuário da Nazaré foi criada na primeira metade do séc. 17 e deve-se, em grande parte, ao cronista cisterciense Frei Bernardo de Brito e ao Pe. Manuel de Brito Alão, o primeiro administrador do Santuário nomeado pelo rei. Segundo a tradição, o aparecimento do Santuário está relacionado com a vinda da imagem da Senhora da Nazaré, da Palestina, e com o milagre do cavaleiro D. Fuas Roupinho, alcaide de Porto de Mós, em finais do séc. 12. Diz-se que a imagem de Nossa Senhora, segundo Frei Bernardo de Brito esculpida pelo próprio São José na presença de Maria e encarnada por São Lucas, teve de sair da cidade de Jerusalém, devido à perseguição aos cristãos, sendo transportada por um monge grego, de nome Círiaco, para o mosteiro de Cauliniana, em Espanha, próximo de Mérida, onde permanece do séc. 04 até à invasão árabe. Com a derrota dos cristãos em Guadalete, o rei visigodo Rodrigo refugia-se no mosteiro. Perante o perigo do avanço islâmico, o rei e um dos monges, o frei Romano, decidem partir para um local mais seguro, levando consigo a pequena imagem de Maria de Nazaré e algumas relíquias, segundo Manuel de Brito Alão, de São Bartolomeu e São Brás, guardadas num cofre de marfim. A 22 de novembro de 714 chegam ao monte de São Bartolomeu, próximo da Pederneira. Algum tempo depois, já em 715, o rei e o monge separam-se, tendo o primeiro permanecido naquele local e o segundo ido para o monte vizinho do Sítio, levando consigo a imagem da Virgem e as relíquias. Aí constrói um abrigo entre os rochedos e coloca a Virgem num pequeno nicho. Os dois eremitas comunicam entre si diariamente por sinais de fogo, até que o monge morre. Segundo Manuel de Brito Alão, tendo-lhe sido relevado o tempo da sua morte, o monge pede ao rei para o sepultar e deixar naquele lugar a Santa Imagem e as relíquias, o que viria a acontecer. D. Rodrigo resolve então partir para N.. Só no reinado de D. Afonso Henriques, no séc. 12, seria descoberta a Imagem por D. Fuas Roupinho, que a venerava sempre que ia caçar para o Sítio. A 14 de setembro de 1182, D. Fuas é atraído por um veado no alto promontório, não se apercebendo do perigo em que incorria, devido à névoa existente. No momento em que o cavalo chega ao extremo do rochedo, prestes a lançar-se no abismo, o cavaleiro, lembrando-se da imagem existente na pequena lapa, evoca a Virgem e, imediatamente, o cavalo fica imóvel. Por milagre, D. Fuas salva-se e as ferraduras das patas do cavalo ficam impressas na rocha. Em sinal de agradecimento, D. Fuas doa aquele território à Senhora de Nazaré e ali manda erguer uma ermida para guardar a sua imagem. Manuel de Brito Alão especifica mesmo que D. Fuas manda vir de Leiria e Porto de Mós oficiais para fazer "outra ermida maior" e desfazendo-se a primeira, "acharam metida entre as pedras do altar uma caixinha de marfim, e dentro, relíquias de São Bartolomeu e São Brás e outros santos, com um pergaminho em que se dava relação de como e em que tempo se trouxe ali a Imagem e relíquias" (ALÃO, 2001, p. 53). Para que a Imagem fosse vista de todas as partes, fazem a capela aberta, com quatro arcos, que depois se fecham devido ao dano causado pelas chuvas e tempestades. Atraídos pela fama do milagre, muitos peregrinos vêm até ao Sítio, nomeadamente D. Afonso Henriques e outros homens da corte. Apesar da tradição, o dia 14 de setembro, no qual terá ocorrido o milagre de D. Fuas e o voto de construção do primitivo templo, nunca foi comemorado como dia principal no calendário festivo do Santuário, mas antes o de 5 de agosto, que coincide com a deslocação ao Sítio dos homens da Confraria da Pederneira. A construção desta memória histórica assenta em vários elementos falsos. De facto, o rei Rodrigo morreu durante a batalha de Guadalete, tendo sido acrescentado à lenda por Frei Bernardo de Brito. Frei Bernardo refere um documento do Mosteiro de Alcobaça, datado de 10 de dezembro de 1182, com doação do território do Santuário por D. Fuas Roupinho à Igreja de Santa Maria da Nazaré, em agradecimento do milagre, mas é um apócrifo, pois nunca ninguém viu o documento ou o cita. D. Fuas não aparece na documentação da época e, à data do milagre da Senhora e da produção do documento da doação, já tinha morrido. O documento cisterciense alarga a tradicional jurisdição de Roupinho, apresentando-o como governador de Porto de Mós e da terra de Albardos até Leiria e Torres Vedras, contudo, em 1180-1182 não existia um senhor com jurisdição sobre este vasto território. Aliás, no séc. 15, não havia relação entre o culto de Nossa Senhora da Nazaré e aquele capitão de D. Afonso Henriques, e o documento da doação à Igreja de Nossa Senhora da Nazaré só foi conhecido no séc. 16. O aparecimento da história do milagre do cavaleiro contribui ainda para a justificação do poder régio e da Confraria sobre o Santuário, já que, segundo a narrativa, D. Fuas dera à Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, com autorização de D. Afonso Henriques, a posse do território que lhe estava próximo. Assim, este não pertencia nem aos coutos do mosteiro de Alcobaça, nem à jurisdição da Igreja da Pederneira. Com o desenvolvimento seiscentista do culto, a Coroa acentua o seu papel protetor sobre o Santuário, intervindo na sua administração, através do desembargador do paço, dos provedores da comarca de Leiria e dos administradores da Casa. *3 - Segundo Pedro Penteado, enquanto o Pe. Manuel de Brito Alão esteve à frente da Casa de Nossa Senhora da Nazaré (1608 - 1618), procurou promover, junto dos devotos, as virtudes da Virgem da Nazaré cultuada no Sítio, desenvolver o Santuário e povoação envolvente, a partir do acréscimo de visitantes e da população ali sediada, e aumentar os valores das esmolas e rendimentos da Casa, fundamental para o seu engrandecimento e prestígio. Vinte anos depois, a publicação do seu livro "Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora da Nazaré" pretendia ainda, entre outros aspetos, fortalecer a memória e fomentar o culto à Senhora da Nazaré para contribuir para o florescimento do Santuário e da jurisdição régia sobre ele. *4 - Segundo uma tradição local, várias pessoas em tempos idos aventuraram-se demasiado no interior da gruta, vindo a desaparecer. Para tentar esclarecer o mistério, um padre prontifica-se a entrar na gruta, preso a uma longa corda e acompanhado pelo seu cão, contudo, também não voltou a sair. Assim, decidiu-se construir uma parede para impedir o acesso à parte mais remota da gruta e colocar grades na sua entrada.

Autor e Data

Paula Noé 2014

Actualização

 
 
 
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