Estação Ferroviária de Santiago do Cacém

IPA.00014300
Portugal, Setúbal, Santiago do Cacém, União das freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e São Bartolomeu da Serra
 
Arquitectura de transportes e cominicações, eclética. Estação ferroviária integrada no gosto eclético que na 1ª metade do séc. 20 continua a desenvolver questões surgidas no século anterior, em particular a da "Casa Portuguesa", patente na valorização de beirados, chaminés e pináculos, no recurso a volumes articulados com coberturas diferenciadas e à proliferação de azulejaria. Segue tipologia, arquitectónica e decorativa, idêntica à da Estação de Sines (v. PT041513010019 ) ( com revestimento azulejar também realizado por Gilberto Renda entre 1934 - 1935 ) e muito semelhante às Estações de Fronteira (v.PT041208020014 ), de Cabeço de Vide (v. PT041208010015 ) ( ambas da autoria de Ernesto Korrodi, com revestimentos azulejares de Leopoldo Battistini, executados na Fábrica Constância, datados, respectivamente, de 1930 e de 1933 ) e à de Santo Amaro - Veiros ( também da autoria de Ernesto Korrodi ), nomeadamente na planimetria básica, na articulação de volumes, na tipologia do apeadeiro com recurso a colunata toscana, nos volumes adossados à Casa do Chefe da Estação, bem como pormenores decorativos, como o rasgamento e molduras de vãos, o tipo de pináculos de remates angulares, de meias pilastras delimitando os panos das fachadas. As analogias existentes entre estas estações fazem supor a presença de Ernesto Korrodi quer em Santiago do Cacém quer em Sines. Os azulejos figurativos, com cenas alusivas a monumentos e vistas do concelho e actividades tradicionais ( Extracção da Cortiça ), seguem a matriz do programa decorativo desenvolvido por Gilberto Renda entre 1931 e 1935.
Número IPA Antigo: PT041509060063
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Transportes  Apeadeiro / Estação  Estação ferroviária  

Descrição

Planta composta, irregular, organizada em torno do edifício da Estação de planta rectangular, a que se adossam, à esquerda, a Casa do Chefe da Estação tendo adossado o corpo das Instalações Sanitárias e, a O., o alpendre do Apeadeiro. Volumes articulados com cobertura diferenciada em telhados de 4 águas na Estação, Apeadeiro e Casa do Chefe da Estação e de 3 águas nas Instalações Sanitárias. Fachada principal a E., de dois corpos, correspondentes à Estação e à Casa do Chefe da Estação, adossada à esquerda; corpo da Estação de um só pano, com embasamento de cantaria e delimitado por meios cunhais de cantaria com plintos salientes, interseccionando o embasamento, e cornijas molduradas com remates semicirculares; remate recto interrompido ao centro por arco em querena, rematado nos ângulos por pináculos piramidais sobre plintos; portal axial de verga recta, com moldura de cantaria e chave saliente, encimado por cornija e painel de azulejos azuis e brancos, com apontamentos a amarelo, verde e encarnado, figurando as armas nacionais e a inscrição "CAMINHOS DE FERRO DO ESTADO", enquadrados por elementos vegetalistas e grinaldas; o painel apresenta remate superior enquadrado por cornija curva de alvenaria; de cada lado rasgam-se 2 janelas de verga recta, com moldura de cantaria com chave saliente, encimada por cornija e com caixilharia de guilhotina; intercalados entre os vãos inserem-se painéis de azulejos, azuis e brancos, figurando vários imóveis do Concelho e cenas alusivas à indústria corticeira; os painéis apresentam guarnições recortadas com apontamentos a amarelo, manganês e verde, de concheados, grelhas, enrolamentos de acantos, grinaldas de flores e outros elementos; os painéis que enquadram a porta são interrompidos ao centro por meias pilastras de cantaria sobre bases salientes, interseccionando o,embasamento, e munidas de cornijas molduradas. Corpo da Casa do Chefe da Estação, ligeiramente recuado, de um só pano, tendo adossado ao centro volume rectangular diposto na vertical, de 2 registos, definidos por beirado; cada registo apresenta 2 panos definidos por pilastras de argamassa pintadas tendo rasgados, no pano direito, janela resguardada por grelhas de madeira e, no esquerdo, superiormente, janela idêntica, mas de menores dimensões; o registo superior apresenta na base painel de azulejos de padrão polícromo, correspondente ao embasamento do registo inferior, e remate em beirado; à esquerda deste volume, o volume das escadas exteriores de acesso ao piso superior, resguardadas por murete de alvenaria com capeamento de cantaria; o acesso é feito por porta de verga redonda, com moldura de argamassa, encimado por telheiro; do lado direito duas janelas sobrepostas, de molduras de cantaria com chaves salientes, e ombreiras nascendo de bases em voluta; as janelas são guarnecidas por alisares de contorno em azulejos recortados, azuis e amarelos com apontamentos a verde e manganés, que na janela inferior formam frontão e, na superior, avental. Fachada S. correspondente ao corpo da Casa do Chefe da Estação: de pano único, eremate recto tendo, à esquerda chaminé rectangular, disposta paralelamente ao beirado, com remate curvo, telhado; do lado direito, inferiormente, rasgam-se porta e janela com vergas ligeiramente curvas e, superiormente janela de verga recta guarnecida com alisar de contorno de azulejos polícromos recortados formando avental; à direita da janela legenda em azulejos azuis recortados "S. TIAGO/DE/CACEM"; as molduras dos vãos são idênticas às da fachada E.; do lado esquerdo, sob a chaminé, volume adossado, semelhante ao da fachada E.; sob este volume e interceptando-o tranversalmente, o volume rectangular das Instalações Sanitárias: alçados de pano único, rasgados a E. e O., ao nível superior, por janelas dispostas na horizontal, ( 4 a E. e 3 a O. ) resguardadas por grelhas de madeira e com peitoris de cantaria; a O., do lado esquerdo, rasga-se porta de acesso, com molduras idênticas às dos vãos da fachada E. da Estação; o alçado S. é rasgado por porta com molduras idênticas aos restantes vãos, resguardada por murete de um só pano, definido por cunhais de cantaria rematado por pináculos coroados de bolas; o pano murário é preenchido por painel de azulejos polícromos de padrão, disposto em 2 módulos, com cercadura de marmoreado em manganês. Fachada N., correspondente à Estação, de pano único definido por meios-cunhais de cantaria idênticos aos da fachada E.; ao centro rasga-se porta com molduras idênticas às dos vãos da fachada E.; a ladear a porta painéis de azulejo figurando vistas do concelho semlehentes aos da fachada E.; à direita da porta legenda em azulejos azuis recortados "S. TIAGO/DE/CACEM". Fachada O. de dois corpos correspondentes à Estação, tendo adossado o apeadeiro, e a Casa do Chefe da Estação, adossada à direita; corpo da estação de um só pano, definido por meios cunhais de cantaria, idênticos aos já descritos, rasgado por cinco portas, com molduras idênticas as das fachadas N. e S.; entre elas intercalam-se painéis de azulejos, figurando cenas agrícolas e de feiras, semelhantes aos das fachadas E. e N.; ao nível das vergas das portas, 6 mísulas troncocónicas suportam o alpendre do apeadeiro: este apresenta 6 colunas toscanas suportando o entablamento, onde assenta a cobertura telhada; o corpo da Casa do Chefe da Estação apresenta pano único rasgado inferior e superiormente por fiada de 3 janelas de vergas rectas com molduras e guranições de azulejos recortados idênticas às das fachada E.. Todas as fachadas têem embasamentos de cantaria e remates em cornija dupla, pintada a ocre, e beirado; no corpo da Estação todas as fachadas apresentam prolongamentos inferiores nos cunhais da cornija, de alvenaria pintada a ocre com decoração geométrica pintada a azul; as fachadas E., S. e N. do mesmo corpo apresentam, nos ângulos, ao nível dos beirados, pináculos piramidais de cantaria assentes em plintos. INTERIOR: o edifício da Estação apresenta piso único com átrio central, onde funcionava a Sala de Despacho, com porta de acesso resguardada por guarda-vento de madeira e vidros azuis; à esquerda de quem entra o nicho da bilheteira em arco de volta perfeita, com moldura de madeira, resguardada por rede de latão e antecedida por guarda em ferro forjado; os alçados apresentam silhares de azulejos de padrão, azuis e amarelos ( imitando padrão quadrilobado seiscentista ) limitados por barras; à direita a sala de Espera e à esquerda a Bilheteira e os Serviços da Estação ( unificados num único espaço ) com acesso por duas portas; todos os vãos apresentam molduras e portadas de madeira pintadas a cinza; cobertura plana de estuque pintado a azul escuro e pavimento de ladrilho cerâmico. A Casa do Chefe da Estação tem 2 pisos: no térreo funcionavam os serviços da estação sendo o superior destinado a funções residenciais, ambos unificados num único espaço.

Acessos

R. da Estação do Caminho de Ferro

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, a meia encosta, junto à estrada que conduz a Sines, precedido por amplo largo asfaltado.

Descrição Complementar

AZULEJOS: os painéis da fachada principal figuram, da esquerda para a direita:Tirada da cortiça, Igreja da Misericórdia de Alvalade ( v. PT041509020011 ), Castelo de Santiago do Cacém ( v. PT041509060002 ), Ruínas do Convento do Loreto ( v. PT041509060023 ), Portal arruinado do Convento do Loreto ( v. PT041509060023 ), Porta do Sol da Igreja Matriz de Santiago do Cacém ( v. PT041509060001 ), Antigo Edifício dos Paços do Concelho de Santiago do Cacém ( v. PT041509060016 ) e Carregamento da Cortiça.; na fachada N.: Vista da Aldeia de São Bartolomeu da Serra e da sua Igreja Paroquial ( v. PT041509080044 ) e Abertura ao mar da Lagoa de Santo André.

Utilização Inicial

Transportes: estação ferroviária

Utilização Actual

Comercial: estabelecimento de restauração / Serviços

Propriedade

Pública: empresa pública

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Gilberto Renda - Fábrica de Sant'Anna ( azulejos ), Ernesto Korrodi, arq. ( conject: )

Cronologia

1887, 25 de Novembro - Portaria de abertura concurso para a concessão e exploração de caminho de ferro entre Beja e Sines com ramal para Aljustrel, concurso que fica deserto; 1898, 06 de Outubro - Decreto que confia a 2 comissões técnicas o estudo do plano de viação acelerada, que deveria ser adoptado nas regiões a N. do Mondego e a S. do Tejo, compreendendo as linhas de interesse geral, complementares ou tributárias dos caminhos de ferro do Minho e Douro e do Sul e Sudoeste; o parecer da Associação dos Engenheiros Civis Portugueses propõe a adição da linha de Alvalade por Santiago do Cacém a Sines; 1902 , 27 de Novembro - Decreto de aprovação do plano geral da rede ferroviária a S. do Tejo, surgindo, em lugar da linha de Alvalade por Santiago de Cacém a Sines, o ramal de Sines com origem em Grândola ou Alvalade; 1903, 01 de Julho - Carta de Lei autorizando até à quantia de 7.000.000$00 para construção, por troços sucessivos, de várias linhas complementares e tributárias das do Estado, entre as quais figura a linha do Sado, Setúbal a Garvão e o seu ramal de Alvalade a Sines; 1907 - termina a construção do prolongamento do caminho de ferro de Setúbal até à margem do Sado; 1909, 27 de Outubro - Carta de lei autorizando a construção da linha do Sado e, concluída esta, a construção do ramal de Sines, logo que se verifique que, deduzidos os encargos da linha do Sado, Setúbal a Garvão, o rendimento desta linha garanta, sem encargos para o Tesouro, a anuidade a pagar pela construção do referido ramal; 1917, 05 de Julho - Lei nº 731 autorizando o Governo a despender 2.760.000$00 na conclusão das linhas férreas do Vale do Sado, incluindo, entre outros, o ramal de Sines e a contrair um empréstimo para ocorrer a esta despesa; 1919, 25 de Novembro - Portaria que determina o início das obras de construção do ramal de Sines, a partir da estação de Ermidas, ocorrendo-se às respectivas despesas com a quantia de 150.000$00 da verba designada no artº 3º do Dec. nº 5.452 de 28 de Abril; 1919, 13 de Dezembro - colocação solene da 1ª pedra pelo Ministro do Comércio e Comunicações, Engº Ernesto Júlio Navarro; 1922, 25 de Agosto - Lei nº 1.327 afectando à construção do ramal de Sines até Santiago de Cacém a quantia de 3.500.000$00; 1926, 30 de Setembro - Dec. nº 12.400 determinando que da dotação considerada pela Lei nº 1.327 à construção da linha férrea de Évora a Ponte de Sôr seja transferida a importância de 2.300.000$00 para ser aplicada no assentamento de via do ramal de Sines e nas obras mais urgentes a fazer neste ramal; 1927, 08 de Abril - inauguração do 1º lanço do ramal de Sines, entre Ermidas-Sado e São Bartolomeu da Serra, na extensão aproximada de 22Km com a presença do Presidente da República, Marechal Carmona, acompanhado por inúmeras individualidades; 1929, 01 de Julho - abertura à exploração de uma parte do 2º lanço do ramal, na extensão de 5,4Km, de São Bartolomeu da Serra às Cumeadas; 1931 - 1932 - revestimento azulejar da autoria de Gilberto Renda da Estação de Santiago do Cacém;1934, 21 de Junho - inauguração do resto do 2º lanço do ramal, das Cumeadas a Santiago do Cacém, na extensão de 4,3Km, com a presença do Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Engº Duarte Pacheco; 1934 - 1935 - revestimento azulejar da Estação de Sines, da autoria de Gilberto Renda; 1936, 14 de Setembro - inauguração da Estação de Sines, com a conclusão do ramal; 1980, década de - desafectação e encerramento da linha ao transporte de passageiros.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Paredes de alvenaria de pedra e cal, rebocadas e pintadas; telhados em telha de marselha com beirados em telha de canudo; portas e caixilharias de madeira com vidros; molduras de vãos, embasamentos, colunas, pináculos e elementos secundários de cantaria calcária; pavimentos de mosaico hidráulico e soalho; tectos estucados.

Bibliografia

VILHENA, António Jacinto Maria de, Ramal de Sines ou linha férrea de Ermidas-Sado a S. Tiago de Cacém e Sines, subsídios para a história da sua construção, Lisboa, 1937; AAVV, O Azulejo em Portugal no Século XX, Lisboa, 2000; ALMEIDA, Pedro Vieira e CALADO, Rafael Salinas, Aspectos Azulejares na Arquitectura Ferroviária Portuguesa, Lisboa, Caminhos de Ferro Portugueses, EP, 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN / DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID; CMSC

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN / DSID; REFER

Intervenção Realizada

Observações

Autor e Data

Ricardo Pereira e Rosário Gordalina 2002

Actualização

 
 
 
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