Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Évora Monte

IPA.00014296
Portugal, Évora, Estremoz, Évora Monte (Santa Maria)
 
Arquitectura religiosa, manuelina, maneirista e rococó. Igreja da Misericórdia de traça manuelina, de planta longitudinal composta por alpendre, nave única e capela-mor, da mesma altura e largura, tendo adossado à fachada lateral direita a casa do Despacho e corpos do antigo hospital. Fachada principal maneirista, com alpendre terminado em empena e arco de volta perfeita assente em colunelos de mármore, e nave também em empena, rasgada por portal em mármore, de verga recta encimado por friso e cornija, sobrepujado por óculo elíptico. Fachadas rematadas por platibanda sobre friso e cornija. Interior com nave conservando abóbada manuelina de nervuras cruzadas com dois tramos assentes em mísulas, revestida a azulejos monócromos azuis sobre fundo branco, rococós, com composições seriadas de albarradas e figurativas representando as Obras da Misericórdia, espirituais e corporais, e possuindo púlpito no lado do Evangelho. Capela-mor integralmente revestida a azulejos igualmente rococós, com composições figurativas nos paramentos e nos panos da abóbada, de aresta, alusivas à Virgem, e retábulo-mor em talha dourada barroca.
Número IPA Antigo: PT040704040035
 
Registo visualizado 446 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta irregular com igreja longitudinal composta por alpendre rectangular, nave única e capela-mor rectangular, da mesma altura e largura, tendo a E. pequeno pátio poligonal, fechado por alto muro, e dois corpos rectangulares irregulares que constituiam a Sala do Despacho e o antigo hospital, de volumes articulados. Igreja de massa simples com volumes indistintos e corpos anexos de volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas ou de uma. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com a principal virada a S., sendo as da igreja coradas por platibanda plena, também pintada de branco, encobrindo o nascimento dos telhados. IGREJA com alpendre terminado em empena, sobrelevada pela platibanda, encimada por cruz, com vão frontal curvo de ângulos cortados para assentar em colunelos jónicos de mármore, suportados por pilares de granito, o de E. facetado, ladeado por duas gárgulas simples, pintadas de branco, e vão recto a E.; cobertura em falsa abóbada de berço. A fachada da nave, terminada igualmente em empena, mas curva, sobre a cobertura, e é rasgada por portal de mármore, com verga recta encimada por friso e cornija e sobrepujado por óculo elíptico, sem moldura; sobre a fachada posterior, a E., a platibanda sobreleva-se para receber a sineira, de arco de volta perfeita e terminada em empena rematada por beiral. INTERIOR: nave com pavimento de lajes de mármore, cobertura de dois tramos em abóbada de nervuras cruzadas, cada uma assente em mísulas cónicas e paramentos revestidos a azulejos monócromos azuis sobre fundo branco, organizados em dois registos e de perfil superior curvo adaptado à cobertura. No primeiro registo figura uma composição seriada, formada, num primeiro friso, por almofadas rectangulares de ângulos curvos, e, num segundo, por albarradas, composta por vasos floridos intercalados por palmitos; no segundo registo, composições figurativas, representando Obras da Misericórdia espirituais e corporais, colocadas duas a duas, mais ou menos alternadamente sem ordem sequencial, dentro da mesma guarnição, de meios concheados formando asa de morcego, acantos e cartela vazia inferior, possuindo elementos arquitectónicos a separá-las. Assim do lado do Evangelho surge: "dar de beber a quem tem sede" ( 5ª C.), a ladear o portal, "dar pousada a peregrinos e pobres" (6ª C.), "remir os cativos e visitar os presos" (1ª C.), "ensinar os simples" (1ª E.) e "rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos" (7ª E.) e do lado da Epístola "dar de comer aos famintos" (4ª C.), a ladear o portal, "cobrir os nus" (3ª C.), "consolar os tristes desconsolados (4ª E.), "curar os enfermos" (2ª C.) e "sofrer as injúrias com paciência" (6ª E.). O portal axial é encimado por dois anjos sentados em volutas que enquadram o óculo. No lado do Evangelho, a meio das duas primeiras composições azulejares, existe púlpito circular, em mármore, apoiado em colunelo, com guarda plena decorada por molduras côncavas e convexas e cartela central com escudo de campo pleno entre espada e feixe vegetal; possui acesso por escada de madeira recente que se encosta à estrutura. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras completamente revestido e enquadrado por azulejos, tendo os elementos arquitectónicos em esponjado em roxo manganés, envolvido por grinaldas de flores sobre fundo amarelo esponjado a imitar a pedra torta e brasão sobre a chave do arco. Capela-mor integralmente revestida a azulejos, coberta por abóbada de arestas, sublinhadas a esponjado em roxo manganés e os paramentos laterais e os panos da abóbada com composições figurativas em azulejos monócromos azuis sobre fundo branco. Do lado do Evangelho figura o "casamento de Ester" e no oposto a "decapitação de Holofernes". Na abóbada, as composições representam, a partir do lado da Epístola e com leitura circular no sentido dos ponteiros do relógio a "Anunciação", a "Visitação", a "Fuga para o Egipto" e duma glória de anjos segurando símbolos marianos. No lado do Evangelho abre-se vão de arco abatido, constituindo a sacristia, apresentando-se revestido a azulejo de padrão, definindo uma grelha através de florões nos cantos e nos centros ligados por fitas dispostas sobre as diagonais; ao fundo, no canto direito, existe lavabo de mármore, de espaldar rectangular ornado por um baixo relevo, com uma torneira, encimado por elemento volutado formando falso frontão e tendo pia rectangular. No lado da Epístola, porta de acesso ao pátio. Retábulo-mor de planta recta e um eixo, com tribuna central em aro de volta perfeita decorada no intradorso com elementos fitomórficos dourados, com imagem, encerrada por porta envidraçada; a tribuna é circunscrita por quatro colunas salomónicas, com fuste ostentando espira fitomórfica nos dois terços superiores; remate em frontão interrompido; no sotobanco vê-se ainda a estrutura primitiva do trono, formado por dois degraus. Na parede testeira que o enquadra tem decoração em talha dourada e policroma com portas de madeira entalhadas encimadas por dois apainelados com mísulas, marcados superiormente por concheado, ladeados por concheados e acantos. Ladeiam o retábulo duas bandeiras, a do lado do Evangelho representando no anverso uma alegoria à doação da cora portuguesa por D. João IV a Nossa Senhora da Conceição e no reverso "Lamentação do Cristo morto" e a do lado da Epístola "Martírio de Cristo" e no oposto "Flagelação de Cristo". Capela-mor com pavimento de mármore branco e preto, colocado formando motivos geométricos. Antigo HOSPITAL com fachada dos dois corpos e a do pátio no mesmo alinhamento, bastante recuado em relação à da igreja. A do primeiro corpo, de dois pisos, é terminada em friso e cornija de estuque com beiral, sendo rasgada por duas janelas sobrepostas, a do primeiro piso gradeada e a do segundo com moldura simples interrompendo o friso do remate; o acesso faz-se pelo pátio, depois de atravessar o portão de arco abatido aberto no muro, rematado por telhado, através de portas de verga recta sem moldura, rasgadas no primeiro piso, onde fica a Sala do Despacho, e por duas outras no segundo, onde se instalavam duas enfermarias, precedidas por escada de pedra e protegidas por beiral; sob o vão da escada, abre-se na parede frontal portal de granito, de arco sensivelmente quebrado que liga a espaço de arrumos paralelo à capela-mor. A fachada do segundo corpo, mais baixo, é rasgada sensivelmente ao centro por portal, de granito, de arco quebrado sobre imposta, e pequena janela descentrada. Fachada lateral E. cega.

Acessos

Rua da Misericórdia

Protecção

Incluído na Zona Especial de Protecção do Castelo de Évora Monte

Enquadramento

Peri-urbano, adossado. Integra-se no interior da cerca do castelo (v. 0704040002), implantado no alto de um monte com 474 m. de altitude que serve de contraforte à Serra d'Ossa, adossada à muralha, sensivelmente afastada do principal núcleo de construções e sob o plano da torre de menagem; do adarve que corre ao nível da cobertura da igreja, observa-se magnífica vista sobre a planície alentejana, ao fundo pontuada de montes coroadas por algumas povoações. Os corpos adossados à igreja implantam-se em terreno de pendor inclinado, sendo o acesso feito por caminho com pavimento irregular de xisto; o pavimento do alpendre é em calcada portuguesa, formando desenhos geométricos em preto e branco.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTIOR DE AZULEJO: Oficina de Policarpo Oliveira Bernardes (atr.).

Cronologia

1527 - data a partir da qual existe documentação em Arquivo relativa à Misericórdia; 1528 - era provedor Francisco da Anta; 1575 - data da pedra de ara do altar, com inscrição gótica e abreviaturas; séc. 17, meados - execução das bandeiras; 1678 - sob instâncias do capelão da Irmandade, a Mesa proibe a saída da imagem de Nossa Senhora do Pópulo ou A dos Pobres, a acompanhar os aflitos e enfermos em seus lares, devido ao facto de nem sempre ser agasalhada em lugares decentes e consetâneos com a sua dignidade sagrada; 1712 - o Padre Carvalho da Costa não refere a existência da Misericórdia; 1739, 16 Maio - publicação de alvará de D. João V aprovando estatutos próprios da Misericórdia; 1758, 6 Junho - segundo relato do padre da Matriz, João Rosado Adão, para as Memórias Paroquiais, a esta data Évora Monte não possuia hospital; afirma ainda que não entrava para a Irmandade nenhum Irmão que tivesse defeito no sangue, estando eles sugeitos a inquirições rigorosas; séc. 18, meados - revestimento azulejar interior, atribuído por Túlio Espanca à oficina de Policarpo Oliveira Bernardes; execução das bandeiras; séc. 19 - revestimento do arco triunfal em azulejos; 1905, 4 Agosto - funcionavam ainda os estatutos da Misericórdia; 2002 - desactivação do Lar de Terceira Idade instalado no antigo hospital da Misericórdia.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de alvenaria rebocada e pintada de branco; colunelos do portal axial, pavimento da igreja, pia de água benta, púlpito e lavabo em mármore; pilares do alpendre, cruz da empena e portais do antigo hospital em granito; revestimento em azulejos; retábulo de talha dourada; pinturas sobre tela; portadas da igreja e escadas do púlpito em madeira; portas do antigo hospital em alumínio; gradeamentos de ferro; vidros simples; algerozes metálicos; cobertura de telha.

Bibliografia

COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; COSTA, Mário Alberto Nunes, Estremoz e o seu concelho nas "Memórias Paroquiais de 1758" in Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, vol. 25, Coimbra, 1962, p. 188 - 350; LOURO, Pe. Henrique da Silva, Evoramonte, Évora, 1969; ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora, 2 vol. Lisboa, 1975; La Bible et les Saints. Guide iconographique, Paris, 1990.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1950, década - restauro das imagens de Nossa Senhora do Pópulo ou A dos Pobres; 1959 - restauro das bandeiras em Vila Viçosa;

Observações

O revestimento azulejar da nave possui composições figurativas, representando 10 Obras de Misericórdia, espirituais e corporais, colocadas duas a duas, dentro da mesma guarnição com elementos arquitectónicos a separá-las. Assim do lado do Evangelho surge: 1) "DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE" ( 5ª C.), a ladear o portal, representando um homem dando água de uma bilha a uma figura masculina, que se ajoalha, e estende uma taça, junto a uma construção; legenda: "Dar de Beber aos q tem sede."; 2) "DAR POUSADA AOS PEREGRINOS E POBRES" (6ª C.), representando duas figuras masculinas oferecendo hospitalidade a um peregrino de Santiago, portando capa com a vieira, chapéu, bordão e bolsa, à porta de uma construção alta, de onde uma mulher espreita pela porta; na proximidade do grupo, um cão e como pano de fundo uma paisagem de montanha, com várias construções, uma delas imponente, cercada por alto muro com portal, à frente da qual passam outros peregrinos; legenda "Dar pouzada aos Peregrinos"; 3) "REMIR OS CATIVOS E VISITAR OS PRESOS" (1ª C.), representando um homem tentando respatar um grupo de cativos, que surgem ajoelhados, com um turco, sentado à frente de uma mesa com dinheiro, tendo como cenário uma cidade; legenda: "Remir Cativos"; 4) "ENSINAR OS SIMPLES" (1ª E.), representando uma figura masculina, com capa, sentada numa cadeira de braços frente a uma mesa coberta por toalha e onde assenta um livro, ensinando um grupo composto por duas crianças e dois homens jovens, tendo como pano de fundo várias construções de uma cidade; inscrição: "Insinar os Ignorantes"; e 5) "ROGAR A DEUS PELOS VIVOS E PELOS MORTOS" (7ª E.), representando um homem ajoelhado frente a um retábulo, de planta recta e um eixo, com imagem de Cristo na cruz, entre volutas e cortinas, com frontal de altar com sebastos, sanefa e o pano decorados, tendo como fundo dois homens a enterrarem um morto na presença de um capelão, dois Irmãos e outras figuras; inscrição: "Rogar a Ds. por mortos e defuntos." No lado da Epístola seguem-se os painéis: 6) "DAR DE COMER AOS FAMINTOS" (4º C.), a ladear o portal, representando um homem jovem saindo de uma casa com chaminé a fomegar portando um cesto de pão, que oferece a um mendigo ajoelhado e com bordão; legenda: "Dar de comer a qm. tem fome"; 7) "COBRIR OS NUS" (3ª C.) representando duas figuras masculinas à porta de uma construção dando roupa a dois indigentes semi-nus, um deles criança, enquanto que um outro, já vestido, se despede com um aceno de chapéu; inscrição: "Vestir os nus"; 8) "CONSOLAR OS TRISTES DESCONSOLADOS" (4ª E.), representando um homem sentado em imponente cadeira, sob um dossel, ao ar livre, junto a uma mesa, onde existe livro aberto e uma pena num tinteiro, consolado uma mulher chorosa e três homens de aspecto humilde; legenda: "Consolar os tristes"; 9) "CURAR OS ENFERMOS" (2ª C.) representando várias figuras fidalgas visitando um doente, deitado num leito de espaldar alto e rematado por ornato concheado, sob amplo dossel, vendo-se no canto direito, ao fundo, uma outra figura deitada num leito tendo uma visita ao lado; legenda "Vezitar os Infermos"; e 10) "SOFRER AS INJÚRIAS COM PACIÊNCIA" (6ª E.) representando uma figura masculina sentada no exterior de uma construção tendo por trás uma mulher despejando-lhe água de um cântaro nas costas; no canto esquerdo do painel, um grupo de ceifeiros trabalha no campo, tendo como pano de fundo uma cidade e montanhas; legenda: "Sofrer com passiensia as fraquezas do nosso prosimo.". Nos painéis laterais da capela-mor figura do lado do Evangelho "o Casamento de Ester", representando Ester ajoelhada perante o exército de Assuero, e no da Epístola a decapitação de Holofernes, representando Judite segurando a cabeça do general Holofernes num prato, oficial do exército de Nabucodonosor, tendo como cenário tendas de campanha. Nos panos da abóbada, figuram, a partir do lado da Epístola e com leitura circular no sentido dos ponteiros do relógio a: "Anunciação", representando o anjo Gabriel entre as nuvens, onde surgem outros anjos, com um lírio na mão aparecendo à Virgem Maria, ajoelhada numa almofada junto ao leito coberto por dossel, sobre a qual é derramado Espírito Santo em forma corpórea de pomba; a "Visitação", representando a Virgem abraçada a Santa Isabel, acompanhadas pelos respectivos maridos, São José segurando um burro e Zacarias à porta de casa com a sua veste sacerdotal; a "Fuga para o Egipto", representando a Virgem segurando o Menino, sentada num burro guiado por um anjo, acompanhada por São José a pé, portando às costas um cesto com instrumentos de carpinteiro; ao fundo, representação de uma coluna com uma estátua a quebrar-se retratando a queda dos ídolos; e uma glória de anjos segurando símbolos marianos, uma palma e um quarto crescente de lua.

Autor e Data

Paula Noé 2002

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login