Igreja Paroquial de Vila Marim / Igreja de Santa Marinha

IPA.00014066
Portugal, Vila Real, Vila Real, Vila Marim
 
Arquitectura religiosa, românica. Igreja românica de planta longitudinal composta de nave única, ampliada e transformada nos séculos 18 e 20, com fachada principal em empena de cornija, com portal em arco pleno sobrepujado por óculo, fachadas laterais rematadas em cornija sobre cachorrada, ornamentadas, rasgadas por vãos e porta na lateral direita. No interior, com tectos de madeira, coro-alto, púlpito no lado do Evangelho, frescos dos séculos 15 e 16, com afinidades nos de outras igrejas da região, e retábulos dos séculos 17 e 19. Antiga igreja românica muito remodelada ao longo dos tempos e ampliada, tendo-se mesmo avançado com a fachada principal em anos mais recentes. Apesar disso, conserva o portal com a tipologia comum nas igrejas contemporâneas do distrito, e a cornija ornamentada com bosantes sobre cachorrada geométrica nas fachadas laterais. A torre sineira, do séc. 18, apresenta estrutura pouco comum, visto ter embasamento quadrangular, como uma torre, mas no registo superior apenas com duas fachadas de sineiras. No interior destaque para a qualidade do conjunto de pinturas murais, principalmente as do século 15 que revestem ainda praticamente toda a parede testeira da capela-mor e parte das laterais; apresentam afinidades com as pinturas da igreja de Midões (v. PT010302480067) e de Folhadela (v. PT011714090060) atribuídas ao pintor Arnao. Retábulo maneirista, tipo edícula, na nave.
Número IPA Antigo: PT011714290050
 
Registo visualizado 1158 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta de nave única e capela-mor rectangular, mais baixa e estreita, com sacristia e torre sineira adossadas separadamente a N., formando três volumes com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e uma água na sacristia. Fachadas com silhares de granito, alguns dos quais siglados, sendo as da igreja percorridas por cornija ornamentada com bosantes sobre cachorrada de motivos geométricos. Fachada principal virada a O., e terminada em empena de cornija, coroada por cruz latina moldurada e pirâmides nos cunhais. Porta de arco pleno de aduelas largas sobrepujado por óculo circular. Na fachada lateral S. abrem-se na nave uma porta de arco pleno e três janelas rectangulares, em rampa, e na capela-mor uma janela semelhante, e na fachada N. abre-se na nave uma janela central, do mesmo tipo. Na fachada posterior, de empena coroada por cruz pátea inscrita em círculo, idêntica à do coroamento da empena posterior da nave, abrem-se uma fresta e duas janelas rectangulares. A sacristia apresenta uma porta rectangular rústica, a N., sendo a fachada O. cega. Torre sineira em L, recuada em relação à frontaria, com cornija à altura da nave, elevando-se acima dela duas sineiras de arco pleno com sinos, coroadas por cornija sobrepujada por merlões paralelepípedos. Acede-lhe escada adossada à nave, com patamar intermédio e com porta rectangular que se abre para o púlpito. Do lado oposto uma escada de dois lanços conduz ao coro-alto. INTERIOR de espaço diferenciado com articulação sublinhada por arco triunfal. Pavimento em taburno na nave e lajeado no sub-coro e capela-mor, paredes rebocadas e pintadas de branco, com remate em cornija de betão e tecto curvo pintado com imagem central de Cristo crucificado ao centro. Coro-alto rectangular de betão pintado de branco e grade metálica. Do lado do Evangelho, baptistério de arco pleno sobre pilastras molduradas, com pia baptismal hexagonal de base cilíndrica moldurada, e um púlpito de base rectangular pétrea com balaustrada dourada. Lateralmente, abrem-se três capelas confrontantes, de arco pleno sobre pilastras molduradas com retábulos de talha dourada, um do lado do Evangelho e dois do lado da Epístola. Do lado do Evangelho, próximo do arco-triunfal, dois conjuntos de pinturas murais sobrepostos estando no mais antigo representada Santa Catarina e nos outros São Brás ladeado de Santo Antão e São Roque, e num plano superior as composições de Cristo a Orar no Horto, rodeado por Pedro, Tiago e João, e O Beijo de Judas. Arco triunfal com pilastras de base e cornija moldurada sobrepujado por pintura de fundo azul celeste com nuvens e representações de cabeças de querubins enquadrando dois anjos em adoração de uma custódia dourada, sobre meia esfera. Capela-mor com paredes de silhares de granito e tecto de madeira de dois planos com vigamento e forro aparentes. Parede testeira e parte das laterais cobertas com pinturas murais, destacando-se ao centro as imagens a corpo inteiro de Santa Marinha, interrompida pela abertura de uma fresta, ladeada de São Bento e São Bernardo. Nas paredes laterais, vestígios de outras pinturas representando portas enquadradas por ornamentos onde se destaca a figura humana a transportar umas galhetas. Na parede do Evangelho abrem-se um armário embutido e uma porta rectangular de acesso ao corpo N., composto de corredor central, sacristia a E. e capela do Santíssimo a O., articulada com a nave através de porta rectangular. Pavimento lajeado no corredor e em soalho na sacristia e capela, paredes de alvenaria e silhares de granito aparentes, tecto de madeira de um plano inclinado, com vigamento e forro aparentes, na sacristia e corredor e de dois planos inclinados na capela. Nesta, o sacrário de granito apoia-se em plinto formado por elementos do antigo frontal do altar-mor exibindo frescos com a legenda "ORA_" enquadrada por motivos decorativos idênticos ao da parede testeira da capela-mor. Sobre esta camada uma segunda pintura decorativa executada com estampilha. A sacristia articula-se com o corredor por porta inserida em parede falsa de madeira envernizada, possuindo lavabo com pia hemicircular e espaldar com cartela sobrepujada de roseta e remate em frontão curvo.

Acessos

Vila Marim, Lugar da Igreja. VWGS84 (graus decimais) lat.: 41,305505; long.: -7,778331

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria nº 226/2011, DR, 2.ª série, n.º 12, de 18 janeiro 2011

Enquadramento

Rural. Encosta sobranceira ao Vale do Rio Cabril. Isolada em adro de pavimento empedrado com acesso frontal, confrontando com terrenos agrícolas e casas a N. e cemitério paroquial cerrado por muro com gradeamento de ferro, dos lados nascente e S.

Descrição Complementar

FRESCOS: I) da nave: Do lado do Evangelho, próximo do arco-triunfal, 2 conjuntos de frescos sobrepostos. Do mais antigo identifica-se uma representação de Santa Catarina, no plano superior, percebendo-se a existência de vestes e zona dos pés de outras figuras encobertas pela segunda pintura, e elementos decorativos executados com estampilha. A segunda pintura forma uma composição em 3 registos, estando representado no plano inferior, sob um fundo a imitar um tecido de brocado pendurado por pregos, as figuras de São Brás com indumentária episcopal, ladeado de Santo Antão com o seu javali e São Roque com o galgo. Aos pés de São Brás duas figuras, uma segurando prato com uma cabeça de javali e a outra, ajoelhada, com um osso a saltar-lhe da garganta. No registo intermédio, dividido em dois painéis, representa-se no da esquerda, Cristo orando no Jardim das Oliveiras rodeado de Pedro, Tiago e João, recostados e identificados por legendas. No outro painel figura-se o Beijo de Judas estando este representado com cabelo e barbas ruivas, Pedro de espada desembainhada e Malco caído acusando a falta da orelha direita. Do registo superior conservam-se apenas os restos de uma composição de grotescos de fundo preto. II) da capela-mor: Da primeira fase da pintura na parede testeira uma composição tripartida dominada ao centro por 3 figuras de corpo inteiro identificadas com legenda, representando Santa Marinha ladeada de São Bento e São Bernardo encimadas por faixa com cena de caça de falcoaria e ladeada de painéis de tapetes decorativos. Na zona inferior do conjunto corre uma composição decorativa em forma de lambrim de cubos perspectivados. Sobre esta pintura uma segunda fase de frescos representada na parede fundeira e prolongando-se nas laterais. A parte superior do painel, em forma de frontão triangular, exibe uma composição decorativa de grotestos em tons de amarelo, ocre e vermelho com duas sereias vegetalistas segurando um brasão, possivelmente dos Sampaios e dos Castros e a inscrição "ERA D 1549" repartida por 2 cartelas. No canto inferior esquerdo, junto ao pavimento, a figura de um galgo. Em cada uma das paredes laterais um porta em "trompe l'oeil" estando na do lado do Evangelho representada uma figura com um par de galhetas nas mãos. Do lado da Epístola a pintura invade o interior de uma fresta em rampa, entaipada, onde se representa São Miguel e um Sol dourado. RETÁBULOS: Na nave, do lado do Evangelho, o retábulo do Senhor Crucificado em talha amarela e ornamentação dourada, possui planta recta de um só eixo, quadro rectangular representando a cidade de Jerusalém, enquadrado por pilastras compostas por consolas volutadas, remate de friso e cornija encimado por ático com representação do Sagrado Coração de Jesus, rematado por frontão de lanços. Em frente ao quadro uma imagem escultórica do Crucificado. Em posição frontal, do lado da Epístola, um retábulo de talha amarela com ornamentação dourada muito singela, de planta recta e um só eixo, nicho central com imagem do Sagrado Coração de Jesus, enquadrado por colunas de tipo compósito e fuste marmorado, assentes em plintos com cartelas ornamentadas e coroadas por urnas. Ao lado deste, outro retábulo de talha dourada e policroma, de planta recta de um só eixo exibindo ao centro painel pintado enquadrado por friso com cabeças de querubins e pares de colunas torsas ornamentadas com aves, cachos e cabeças de querubins. Ático sobre friso e cornija, possuindo tabela pintada enquadrada por aletas e enrolamentos vegetais e remate em cornija sobrepujada por pirâmides e enrolamentos vegetais.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Vila Real)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 13 / 14 (conjectural) / 15 / 16 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Arnao.

Cronologia

Séc. 13 / 14 - provável construção da igreja; séc. 15 - execução do primeiro conjunto de frescos da capela-mor e da nave (CAETANO, 2001); séc. 16, 1º quartel - execução da segunda fase de pinturas murais da nave (CAETANO, 2001); 1549 - data da execução do segundo conjunto de pinturas murais da capela-mor; séc. 17 - feitura do retábulo de talha policroma (ALMEIDA, 1976); séc. 18 - construção do arco cruzeiro, alteamento da nave e capela-mor, abertura de janelas e vãos moldurados para os retábulos laterais, construção dos retábulos de madeira, revestimento das paredes com argamassa e cal, construção da torre sineira e de um corpo a toda a extensão da fachada N., e alargamento do arco triunfal; séc. 20, 1ª metade - construção do soalho de pinho sobre pavimento em taburno, substituição do tecto de caixotões por um de mogno com cornijas em betão aparente, aplicação de cimento nas paredes e coro-alto; 1963 / 1964 - ampliação com deslocação da fachada principal e substituição do óculo românico por janelão rectangular; 1994, 30 agosto - proposta de classificação da Paróquia de Vila Marim; 26 setembro - proposta de abertura do processo de classificação da DRPorto, apenas para os frescos quatrocentistas e quinhentistas; 07 outubro - despacho de abertura do processo de classificação do Presidente do IPPAR; 2005, 26 janeiro - proposta da DRPorto para a classificação da Igreja como Monumento de Interesse Público e definição de Zona Especial de Proteção; 2006, 28 junho - parecer favorável ao processo de classificação e definição de Zona Especial de Proteção do Conselho Consultivo do IPPAR; 11 dezembro - despacho de homologação ao processo de classificação e definição de Zona Especial de Proteção do Secretário de Estado da Cultura.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura, pia baptismal, pavimentos do sub-coro, capela-mor e corredor da sacristia em granito; cobertura de telha de meia-cana; coro-alto, tecto e cornija da nave, revestimento interno das paredes da nave em betão; tectos da capela-mor, capela do Santíssimo e sacristia em madeira exótica; balaustrada do coro-alto e portão entre a nave e a capela do Santíssimo em ferro; retábulos e balaustrada do púlpito em madeira pintada ou dourada; pinturas murais sobre reboco de cal.

Bibliografia

GONÇALVES, António Nogueira, O gótico Vila-Realense do séc. XV, Coimbra, 1941, p. 10 - 11; AZEVEDO, Correia de, Património Artístico da Região Duriense, Vila do Conde, 1972, p. 428 - 429; ALMEIDA, José António Ferreira de ( coord. ), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976, p. 576 - 577; Jornal de Notícias, 28 - 8 - 1994 e 12 - 10 - 1994; PARENTE, João, A igreja matriz de Vila Marim, Vila Real, e o seu restauro, Vila Real, 1996; Revista JN, 10 - 3 - 1996; idem, Roteiro Arqueológico e Artístico do Concelho de Vila Real, Vila Real, 2000, p. 36 - 39; CAETANO, Joaquim Inácio, O Marão e as oficinas de pintura mural nos séculos XV e XVI, Lisboa, 2001; GONÇALVES, Catarina Valença, A Pintura Mural em Portugal: os casos da Igreja de Santiago de Belmonte e da Capela do Espírito Santo de Maçainhas, [dissertação de Mestrado na Faculdade de Letras de Lisboa], 2 vols. Lisboa, Março de 2001.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Comissão fabriqueira: 1963 / 1964 - ampliação e deslocação da fachada principal, substituição do óculo românico por janelão rectangular; 1993 - restauro geral com limpeza das paredes exteriores, remoção das juntas salientes, demolição dos anexos do lado N. que obstruíam a cachorrada e substituição da escada da torre; 1994 - restauro geral, apeamento do retábulo-mor, construção da mesa de granito e do pavimento lajeado, remoção dos azulejos recentes e do revestimento de cimento das paredes, restauro dos frescos *1, colocação de nova cobertura.

Observações

*1 - Os restauros dos frescos foram realizados pela firma Mural da História.

Autor e Data

Isabel Sereno 1996 / Ricardo Teixeira 2000

Actualização

 
 
 
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