Escola Primária de São Martinho de Antas

IPA.00012913
Portugal, Vila Real, Sabrosa, União das freguesias de São Martinho de Antas e Paradela de Guiães
 
Escola primária, projetada e construída na década de 80 do séc. 19, incluí-se nas construções escolares patrocinadas pelo legado conde Ferreira e edificadas nas últimas décadas de Oitocentos. Apresenta características que se podem filiar nas "Instruções sobre a fundação de escolas de adultos, creação de novas cadeiras de francez e de inglez, construção de casas para escolas primárias...", publicadas pelo Governo em 1866 (DL 23 jul. 1866, n.º 163), como forma de tornar viável o legado do conde de Ferreira, falecido em março desse mesmo ano, e que previa a construção de 120 casas para escolas em todo o país. No capítulo 4 da referida legislação são estabelecidas as características que estes edifícios devem observar e das quais se destacam: a sua localização em local aprazível e de fácil acesso, reservando alguma distância dos demais edifícios, numa área de terreno nunca inferior a 600-900 m2, murada ou separada do exterior por vala; a área intra-muros contempla duas construções, a da escola e a da casa para o mestre-escola; a escola deve conter uma ou mais salas de aula (consoante o número de alunos), com uma superfície de 50 a 115 m2 e um pé-direito do 4 metros, a sua iluminação natural será efetuada pela existência de janelas, situadas sempre do lado esquerdo dos alunos; contígua à sala de aula ficará uma outra, mais pequena, destinada a apresentações públicas, recepção e biblioteca escolar; é ainda comtemplada a existência de um ou dois vestíbulos, consoante a escola seja para um ou para os dois sexos. A orientação das escolas segundo este primeiro regulamento de construções escolares, deveria ser a SO. (considerada a ideal para Portugal), o que poderia ser alterado de acordo com as condicionantes de cada caso. A ventilação e o aquecimento são igualmente regulamentados, assim como é exigida a existência de espaço para a realização de jogos ao ar livre*1. Exteriormente apresentam uma feição revivalista, com fachadas percorridas por embasamento, cunhais apilastrados e remates em cornija e beiral, rasgados regularmente por vãos, as janelas molduradas a cantaria formando brincos retangulares e com caixilharia de guilhotina, e as portas com bandeira. Fachada principal de pano único, terminada em platibanda plena de cantaria possuindo ao centro sineira rectangular coroado por frontão triangular, e sendo rasgada por portal de verga reta, moldurado, encimado por largo friso, ornado por almofada retangular, e duplo friso vertical lateral encimado por cornija, entre duas janelas altas e estreitas, com verga superior ornada de duplo friso vertical e cornija. Fachadas laterais semelhantes, de dois panos, um mais estreito, marcados por pilastras, rasgados por cinco vãos, sendo um da lateral esquerda porta travessa de verga reta simples. Fachada posterior terminada em empena reta, rasgada por porta central de verga reta e duas janelas laterais. A Escola Primária de São Martinho de Antas, muito embora se inscreva no conjunto de escolas construídas segundo o modelo normalizado mais antigo do país, habitualmente de linhas muito sóbrias e funcionais, mas recorrendo a linguagem clássica, possui algumas variantes relativamente a outras escolas do país suas contemporâneas, notando-se alguma simplificação dos elementos, nomeadamente no facto da fachada principal ser a única a terminar em platibanda plena e nos vãos da mesma possuirem o friso e cornija muito pouco saliente, já que noutros exemplares a cornija avança e assenta sobre falsas mísulas, e no facto da fachada posterior terminar em empena recta. As fachadas laterais e posterior terminam em dupla cornija de granito, a inferior em papo de rola e a superior quadrangular, sobrepujadas por beiral.
Número IPA Antigo: PT011710120048
 
Registo visualizado 135 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Educativo  Escola   Escola primária  Tipo Conde Ferreira

Descrição

Planta longitudinal rectangular, de massa simples, com volume horizontal e cobertura homogénea em telhados de quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cantaria, com cunhais apilastrados, rasgadas regularmente por janelas molduradas a cantaria formando brincos rectangulares e caixilharia de guilhotina, terminadas em dupla cornija, a inferior em papo de rola e a superior quadrangular, ambas de granito, sobrepujadas por beiral. Fachada principal virada a O. de pano único rasgado por portal de verga recta, moldurado, precedido por cinco degraus, encimado por largo friso ornado por almofada rectangular de topos curvos e, lateralmente, por duplo friso vertical, encimado por cornija; é ladeado por duas janelas de peitoril altas e estreitas, com verga superior ornada de duplo friso vertical e cornija; entre a porta e a janela surge afixado placa de mármore epigrafada *1. Sobre platibanda plena em granito que coroa a fachada, ergue-se ao centro, sobre soco escalonado e plinto decorado por almofada rectangular saliente, sineira rectangular coroado por frontão triangular, e albergando sino. Fachadas laterais semelhantes, de dois panos desiguais, marcados por pilastras, sendo o a do extremo O. mais estreito e rasgado por uma janela, e o outro por cinco vãos, surgindo na lateral esquerda um portal de verga recta simples, precedido cinco degraus, e quatro janelas, e na lateral direita apenas janelas, com moldura lisa. Fachada posterior rasgada por porta central de verga recta simples, precedida por cinco degraus, e duas janelas laterais, iguais às das fachadas laterais; todas as portas possuem bandeira. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, com pavimentos de madeira e tectos planos de estuque.

Acessos

EN. 322. VWGS84 (graus decimais) lat.: 41,266094; long.: -7,624744

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado. Ergue-se dentro da povoação, junto à estrada que a atravessa, envolvido por amplo espaço aberto, de terra, formando o recreio, vedado por muro de cantaria de granito, com portão de ferro; pelo recreio erguem-se vários arbustos e árvores.

Descrição Complementar

A lápide de mármore da fachada principal possui a seguinte inscrição: "REGRESSO / REGRESSO ÀS FRAGAS DE ONDE ME ROUBARAM. / AH! MINHA SERRA, MINHA DURA INFÂNCIA / COMO OS RIJOS CARVALHOS ME ACENARAM / MAL EU SURGI, CANSADO NA DISTÂNCIA! CANTAVA CADA FONTE À SUA PORTA / O POETA VOLTOU! / ATRÁS IA FICANDO A TERRA MORTA / DOS VERSOS QUE O DESTERRO ESFARELOU. / DEPOIS O CÉU ABRIU-SE NUM SORRISO, / E EU DEITEI-ME NO COLO DOS PENEDOS / A CONTAR AVENTURAS E SEGREDOS / AOS DEUSES DO MEU VELHO PARAÍSO. / MIGUEL TORGA / HOMENAGEM DA ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS / ESTUDANTES DE COIMBRA / SETEMBRO 1992".

Utilização Inicial

Educativa: escola primária

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Pública: Municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1782 - Nascimento de Joaquim Ferreira dos Santos, conhecido como Conde de Ferreira, em Vila Meã, Penafiel; os seus pais, agricultores, destinavam-lhe a vida eclesiástica, tendo estudado para tal, no entanto, acabou por embarcar para o Brasil, onde se dedicou à actividade comercial e onde fez fortuna; 1866, 24 Março - morrendo sem descendência, visto já anteriormente ter morrido a esposa e a única filha que tinha, deixa em testamento 144.000$000 rs para serem aplicados em obras de beneficiência, uma delas dizendo respeito à educação: "...convencido de que a instrução pública é um elemento essencial para o bem da sociedade, quero que os meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho, sendo todas por uma mesma planta e com acomodações para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa e mobília a quantia de um conto e duzentos mil réis; e pronta que esteja a casa, será a mesma entregue à Junta da Paróquia em que fôr construída; mas não mandarão construir mais de duas casas em cada cabeça de concelho e preferirão aquelas terras que bem entenderem..."; 20 Julho - publicação de portaria do Ministério do Reino, no Diário de Lisboa, onde condensa um conjunto de princípios eivados das concepções pedagógicas da época e, sobretudo, que se julgava serem as condições ideais para a manutenção das crianças num espaço escolar em ordem a garantir a sua segurança física e moral; 1866 - o Governo apresenta projecto segundo um plano uniforme, com o intuito de ter a correspondente tradução arquitectural nos vários concelhos do país e cria ainda um subsídio de 10.000$000 rs como verba complementar, para "facilitar a construção das casas escolares"; posteriormente - construção da escola de São Martinho de Antas; 1911 - passagem para as Câmaras Municipais das competências relativas às instalações escolares, sendo elaboradas as Normas técnicas, higiénicas e pedagógicas a que devem obedecer os novos edifícios escolares, conhecidas como Normas da República e a partir das quais se edificam as Escolas da República; 1992 - colocação da placa de mármore com inscrição na fachada principal como homenagem da Associação dos antigos estudantes de Coimbra.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura de cantaria granítica e alvenaria rebocada e pintada; embasamento, pilastras, cornijas, sineira e molduras dos vãos em granito; portas, caixilharia e pavimentos de madeira; vidros simples; placa de mármore; sino de bronze; cobertura exterior em telha cerâmica.

Bibliografia

MACHADO, J. T. Montalvão - No II Centenário da Instrução Primária. Lisboa, 1972; BEJA, Filomena, SERRA, Júlia, MACHÁS, Estella, SALDANHA, Isabel - Muitos Anos de Escolas. Lisboa, 1987, vol. 1; SILVA, Carlos Miguel de Jesus Manique da - Escolas Belas ou Espaços São? Uma análise histórica sobre a arquitectura escolar portuguesa (1860-1920). Lisboa: s. n., 2000, dissertação de Mestrado, texto policopiado.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

*1 - A Portaria de 20 de Julho de 1866 determinava que: 1) a escola deveria ser construída isoladamente em sítio saudável, central, de fácil acesso, desviado de estradas de muito movimento, e de estabelecimentos incómodos ou perigosos; 2) a escola devia ter uma sala de aula, uma sala contígua e um vestíbulo ou dois, caso fosse para o ensino dos dois sexos; a dimensão da sala seria 50 a 115 m2 e pé direito de 4m; 3) devia-se construir, de raiz, mais do que uma sala de aula, caso se soubesse que o número de alunos viria a requerer um espaço superior ao limite máximo; 4) devia ter uma sala contígua destinada a biblioteca, recitações, recepções, com uma área nunca inferior a 1/3 da sala de aula; nas localidades em que se construisse uma escola para meninas, esta sala serviria também para os lavoures, requerendo um espço nunca inferior a metade da sala de aula ou de 2/3 da mesma; 5) devia ter um espaço de 600 a 900m2 para diversos fins, particularmente para exercícios ginásticos; 6) devia ter um adro coberto para abrigar as crianças das adversidades atmosféricas; 7) devia-se fazer separação dos sexos nas escolas mistas, com entradas e vestíbulos distintos; na sala de aula devia haver desde a cadeira do mestre(a) até à parede oposta um "repartimento movediço" de madeira de 1,40 até 1,70 de altura, desconhecendo-se como ele, na prática, alguma vez foi levantado; 8) devia ter sistema de ventilação: obrigatoriedade da existência de 2 tubos para a renovação do ar: um injector para a entrada do ar novo a desembocar no estrado do professor e outro ejector para a expulsão do ar impuro; 9) recomendava a instalação no interior da sala de um termómetro e um anemoscópio para avaliar as variações ambientais; 10) os sanitários deviam ficar afastados do edifício escolar e inteiramente separados nas escolas mistas, de forma a poder-se exercer facilmente a vigilância; 11) não eram expressas instruções relativamente aos lavatórios ou abastecimento de água; 12) descrevia uma considerável lista de objectos a fornecer a cada escola, a implantação do mobiliário na sala de aula e publicava a tabela da altura e largura dos bancos e mesas. Esta Portaria, com instruções elaboradas pelo Dr. Adriano de Abreu Cardoso Machado, Director-Geral da Instrução Pública, reflexo da época, com as condições gerais de higiene e conforto a serem tratadas com cuidado, constituiu o primeiro regulamento de construções escolares a ser seguido em Portugal. Enumerava e regulamentava também pela primeira vez o mobiliário e o material escolar. *2 - O facto de algumas legendas do projecto (composto por vários desenhos) estarem em francês, levou o Arq. José Afonso a supor tratar-se de um modelo importado de França, e, na verdade, existem algumas semelhanças entre as Escolas Conde Ferreira e escolas francesas. O projecto inicial sofreu, no entanto, algumas emendas. *3 - Surgiram bastantes dificuldades por parte das Câmaras em promover e implantar o projecto inicial ou o alterado. Os técnicos que regularmente colaboravam na Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses acusaram que os executores das obras teimavam em não seguir as indicações correctas.

Autor e Data

Paula Noé 2004

Actualização

Paula Tereno 2015
 
 
 
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