Fonte do Ídolo / Tanque do Quintal do Ídolo

IPA.00001253
Portugal, Braga, Braga, União das freguesias de Braga (São José de São Lázaro e São João do Souto)
 
Santuário dedicado ao deus Tongo Nabiago, associado ao culto das águas através da deusa Nabia. Fonte formada por grande rocha esculpida, com inscrições gravadas, na qual correria água junto à sua base. Monumento localizado fora do perímetro urbano de Bracara Augusta, com diversas inscrições epigrafadas, que permitem, nomeadamente ligá-lo ao culto de uma divindade local, de nome Tongo Nabiago, que surge associado ao da deusa Nábia. Alguns indícios sugerem que existiria no local uma outra construção, talvez um templo a Nábia. A figura de toga poderá possivelmente representar o deus Asklépius (CORTEZ, 1952). Segundo Francisco Sande Lemos, a fonte, é a par do santuário das Fragas de Panóias (v. PT011714270001), em Vila Real, um dos mais conhecidos monumentos de epigrafia rupestre romana do Noroeste da Península ibérica.
Número IPA Antigo: PT010303420004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Hidráulica de elevação, extração e distribuição  Chafariz / Fonte    

Descrição

Grande rocha de granito, formando um espaldar alongado, medindo cerca de 3 m de largura e 1,20 m de altura. Do lado esquerdo, encontra-se esculpida uma figura humana, com cerca de 1,10 m de altura, em pé, muito gasta, possivelmente masculina e com barba, envolta numa toga, sustentando no braço esquerdo um objecto volumoso. É ladeada superiormente por inscrição latina (1), parcialmente cortada, na primeira palavra. Do lado direito, num nível mais baixo, pequena edícula escavada na rocha, rectangular, com cerca de 0,7 m de altura, 0,6 m de largura, e 0,12 de profundidade, onde se encontra busto humano, com o rosto bastante gasto. A edícula é coroada por frontão triangular gravado no tímpano com uma ave e um objecto semelhante a um maço de canteiro. À direita do busto, na parede interior da edícula, uma inscrição latina (2), que se prolonga para a base. A ladeá-la, pela esquerda uma outra inscrição (3) e superiormente uma outra (4). Na base da rocha, junto ao solo, jorraria a água da fonte.

Acessos

São José de São Lázaro, Rua do Raio, n.º 390

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto 16-06-1910, DG nº 136 de 23 Junho 1910 / ZEP, Portaria, DG 2ª Série, nº 105 de 05 Maio 1970 / Zona "non aedificandi", Portaria n.º 589/2011, DR, 2.ª Série, n.º 119, de 22 junho 2011

Enquadramento

Urbano em pleno centro histórico (v. PT010303070088). Situa-se no interior de um edifício construído para a sua conservação e musealização. Na proximidade, o Palácio do Raio (v. PT010303420019) e o Hospital de São Marcos (v. PT010303410018).

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: (1) inscrição latina, gravada na rocha, a ladear figura humana; sem moldura, nem decoração; granito; tipo de letra: capital quadrada; altura: 6 cm a 6,5 cm; leitura: ICVUS FRONTO ARCOBRIGENSIS AMBIMOGIDVS FECIT; tradução: Célico Fronto, natural de Arcóbriga, Ambimogido, fez esta obra; (falta o início da palavra - CEL...); (2) inscrição latina, gravada na rocha, no interior da edícula, prolongando-se a última palavra para a base, no exterior da mesma; sem moldura, nem decoração; granito; tipo de letra: capital quadrada; leitura: CELICVS FECIT(com o I incluso no L ) FRON; tradução: Célico Fronto fez esta obra; (3) inscrição latina, gravada na rocha, a ladear a edícula; sem moldura, nem decoração; granito; tipo de letra: capital quadrada; altura: 0,9 cm a 1 cm; leitura: TONGOE NABIAGOI; tradução: Tongo Nabiago; (4) inscrição gravada na rocha, por cima da edícula; sem moldura, nem decoração; granito; tipo de letra: cursiva; leitura: ABAVIS AMOR; tradução: Aos trisavós com afecto.

Utilização Inicial

Hidráulica: fonte

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Braga

Época Construção

Séc. 01 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Paula Silva, Carla Pestana e João Ferreira (2000/ 2001). EMPRESA: Casimiro Ribeiro e Filhos, Lda., CARI- Guimarães (2002); ENGENHEIRO: Alcides Colaço (fundações e estruturas); Joaquim Laranjeira (instalações e equipamentos elécticos); Susana Maldonado (instalações e equipamentos mecânicos); Maria Cecília Vítor Lobo (redes de águas e esgotos) (2000 / 2001)

Cronologia

Séc. 01 - provável construção do santuário, associado ao culto das águas, dedicado à divindade Tongo Nabiagus *1, mandado construir por Célico Fronto; 1594 - no mapa de Braga de Georg Braun o local da fonte é assinalado com uma linha de água; 1695 - o terreno onde se localiza a fonte pertence ao Padre Santos Rodrigues, vigário de São João de Castelões, em Guimarães; após a morte deste passa para a posse da sua sobrinha, D. Angélica de Barros, que veio a deixar ao seu cunhado Vicente Gomes do Couto; séc. 18 - segundo D. Jerónimo, Contador de Argote, "por detrás da igreja de São João Marcos está um quintal, que chamam o Ídolo, nele está uma fonte funda, com tanque, e tem uma pedra, que parece ser rocha viva, a qual tem uma figura de roupas compridas, que terá cinco palmos: mostra que tem barba comprida, e lhe falta já meio rosto; tem a mão direita quebrada e na esquerda a forma de um envolotório, e por cima da cabeça tem estas letras..."; 1816 - Domingos Fernandes da Silva quis adquirir o terreno da fonte judicialmente, sob o pretexto de que ele estava entre as suas propriedades; 1861, 6 Agosto - Emílio Hübner visita o quintal do Ídolo, informando que o nome da divindade está totalmente invisível, por causa dos limos que cobrem a pedra e tenta corrigir a leitura da inscrição feita por Argote; 1862 - D. Pedro V e o Marquês de Sousa examinam a fonte, então oferecida ao monarca, pelo seu proprietário João de Abreu Guedes do Couto; D. Pedro V pretende colocá-la na Quinta dos Falcões, de modo a organizar um museu lapidar; séc. 19, década de 70 - a fonte é vendida a Luís do Amaral Ferreira, conhecido como o "Alemão"; 1875 - a fonte passa para a posse de D. Maria do Carmo Sousa, esposa de Luís do Amaral Ferreira; década de 90 - a fonte é propriedade de José Joaquim de Oliveira, que casou em segundas núpcias com D. Maria do Carmo Sousa; 1894 - José Leite de Vasconcelos visita o quintal do Ídolo; 27 Março - carta de Leite de Vasconcelos a Martins Sarmento, informando-o do estudo que tinha feito ao monumento; Martins Sarmento informa-o que pretendia fazer uma moldagem do monumento, para o museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães; 1895 - Leite de Vasconcelos volta a Braga para examinar melhor a inscrição da fonte, que se encontrava bastante encoberta pelos limos; Leite de Vasconcelos rectifica a inscrição de "PONGOE" para "TONGOE"; 1903 / 1905 - Leite de Vasconcelos volta a estudar a fonte entendendo que a figura humana da esquerda é o dedicante e da edícula a divindade; 1936 - a Câmara Municipal de Braga, por iniciativa do seu presidente Francisco Araújo Malheiro, adquire a parcela de terreno onde se encontra a fonte; 1937 - a Câmara Municipal cede gratuitamente ao Estado o terreno onde está construída a fonte, os terrenos envolventes, bem como a entrada que da Rua do Raio conduz à mesma fonte; a fonte sofre transformações, deixando de servir de parede de um pequeno tanque que tinha sido construído para recolher as águas de uma nascente que brota na base do rochedo; com o desaterro efectuado foram encontrados restos de tegulae e imbricis e uma lápide de granito com uma incrição votiva *2; 1980 / 1981 - Alain Tranoy altera a interpretação de Leite de Vasconcelos entendendo que a figura do lado esquerdo é a divindade e a da edícula o dedicante (TRANOY, 1980 e 1981); posteriormente António Rodríguez Colmenero defende que se trata de um santuário plural, e que a figura do lado esquerdo será a deusa Nabia e a da edícula Tongo Nabiago (COLMENERO, 1987); 1995 - realização de diagnóstico do estado de conservação da fonte, pelos professores Maria Amélia Sequeiro Braga e Luís Aires de Barros; 2000 / 2001 - elaboração do projecto pela arquitecta Paula Silva, em colaboração com Carla Pestana e João Ferreira, de valorização geral do monumento prevendo a construção de um edifício para protecção e musealização da fonte; 2002, Setembro - concurso público de adjudicação da empreitada referente à musealização do monumento; a obra é adjudicada a Casimiro Ribeiro e Filhos, Lda., CARI- Guimarães; 2003 - realização de escavações no local pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, com a coordenação de Francisco Sande Lemos e José Manuel Freitas Leite e colaboração de Liliana Sampaio, Sandra Nogueira, Ricardo Silva e Artur Jaime Duarte, este último da DREMN; nas escavações são postos a descoberto canais de escoamento de águas e estruturas de muros romanos; 2004 - conclusão das obras de conservação, valorização e musealização do imóvel; conversações entre a DGEMN, a Câmara Municipal de Braga, a Universidade do Minho e o Museu Regional D. Diogo de Sousa, a fim de protocolar a gestão da Fonte do Ídolo; 2005 - é feita a afectação à Câmara Municipal de Braga por um período de 25 anos; 2006, 11 Janeiro - inauguração oficial; 2011, 22 Junho - Portaria nº 589 / 2001, em que propõe a revisão da ZEP em vigor, permitindo a desafectação de uma pequena parcela da área non aedificandi à Fonte do Ídolo.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Monumento maciço em granito em afloramento rochoso; edificio museológico: estrutura em ferro; cobertura em cobre camarinha; revestimento exterior em aço Korten; paredes interiores estucadas; lambrins em mármore branco; lambrins e pavimento em madeira de carvalho.

Bibliografia

D. Jerónimo, Contador de Argote, Memórias para a História Ecclesiástica do Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas, Lisboa, vol. I, 1732, vol II, 1734, vol III, 1744; TEIXEIRA, C., Subsídios para o estudo da Arqueologia Bracarense. A Fonte do Ídolo e o culto de Nábia, Prisma, 3, Porto, 1938, pp. 145 - 153; CORTEZ, F. Russell, A Fonte do Ídolo e o culto de Asklépius em Bracara, Braga, 1952; ILER-VIVES, José, Inscripciones Latinas de la España Romana, Barcelona, 1971 - 1972; ENCARNAÇÃO, J., Divindades Indígenas sob o domínio romano em Portugal, Lisboa, 1975, p. 282 - 288; TRANOY, A., Réligion et société à Bracara Augusta (Braga) au Haut Empire romain, Actas do Seminário de Arqueologia do Noroeste Peninsular, vol. III, Guimarães, 1980, p. 76; TRANOY, Alain, La Galice Romaine, Paris, 1981; MENAUT, Gerardo Pereira, La inscription del Ídolo da Fonte, Braga, in Simbolae Ludovido Mitxlena Septuagenário Oblatae, Vitória, 1985, pp. 531 - 535; COLMENERO, António Rodriguez, Aquae-Flavie, in Fontes Epigrafadas, vol. I, Chaves, 1987; ALARCÃO, J. de, O domínio em Portugal, vol. I, (versão portuguesa de Roman Portugal, Warminster, 1988), Mem Martins, 1988; VASCONCELOS, J. L., Religiões da Lusitânia, vol. II, ed. facs. da 1ª ed., Lisboa 1897 - 1905 - 1913, Lisboa, 1989, pp. 239 - 265; GARCIA, José Manuel, Religiões Antigas de Portugal, Lisboa, 1991; Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, Distrito de Braga, Lisboa, 1993, p. 35; Fonte do Ídolo - Arqueólogos Procuram Vestígios de um Templo, in Jornal de Notícias, 24 Julho 1995; AIRES-BARROS, Luís, As Rochas dos Monumentos Portugueses: tipologias e patologias, vol. II, Lisboa, Abril 2001; DGEMN, Monumentos, nº 17, Lisboa, Setembro 2002; Braga - Fonte do Ídolo abre portas para projecto museológico / ASPA contra projecto sem debate, in Jornal de Notícias, p.36, 21 Novembro 2002; Novas descobertas adiam a abertura da Fonte do Ídolo, in Diário do Minho, 2 de Fevereiro de 2004, p. 4; DGEMN, Revista Monumentos nº 20, Abril de 2004, p. 194; DGEMN, Fonte do Ídolo, Braga, Um novo monumento para a Cidade, Projecto de Conservação e Valorização 2000 / 2005, Porto, 2005.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DREMN

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DREMN; Matriz Predial art. 862-1/20, Lº B-100, fls. 37 nº 35853

Intervenção Realizada

DGEMN: 1937 - Demolição do tanque, canalização da água, desaterro do penedo, vedação com um muro e construção de acesso a partir da Rua do Raio; 1952 - pequena reparação; 1967 - arranjo do acesso; 1985 - obras de conservação; Universidade do Minho: 1999 - sondagens arqueológicas nos locais da envolvente; DGEMN: 2003 - trabalhos de limpeza das pedras e da vegetação, construção de um edifício, com controlo de humidade, para cobrir a fonte e colocação de um passadiço e posto de recepção; Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho: escavações arqueológicas; DGEMN: 2004 - conclusão das obras; conservação e musealização das evidências arqueológicas postas a descoberto pelas escavações anteriormente realizadas.

Observações

Existe uma lápide vinda da antiga Capela de Santana, que existia junto à fonte do Ídolo, e que hoje está no Paço Arquiepiscopal de Braga (v. PT010303520021), com uma inscrição alusiva ao restauro da fonte "T CAELICVS IPIPES FRONTO ET M ET LVCIVS TITI PRONEPOTES CAELICI FRONTONIS RENO RVN (VA)" (T. Celico Fronto, e Marcos, e Lucio Tito, netos e bisnetos de Celico Fronto restauraram); *1 - O teónimo Tongo Nabiagus parece ser o resultado de um sincretismo entre duas divindades indígenas em que a divindade local, chamada Nábia, acolhe uma divindade proveniente da Lusitânia, chamada Tongo. O estabelecimento deste culto em Bracara Augusta, seria devido a Célico Fronto, proveniente da cidade lusitana de Arcobriga; *2 - a lápide de granito descoberta apresentava a inscrição com leitura modernizada "NABIAE RUFINA V(OTUM) S(OLVIT) L(IBENS) M(ERITO)" (Da Deusa Nabia. Rufina cumpriu, satisfeita e de boa vontade o voto).

Autor e Data

Isabel Sereno / Paulo Dordio 1994 / Joaquim Gonçalves 2004

Actualização

Paula Silva 2006
 
 
 
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