Estação Ferroviária de Vilar Formoso

IPA.00012323
Portugal, Guarda, Almeida, Vilar Formoso
 
Estação ferroviária término da Linha da Beira Alta, construída no séc. 19, conservando o edifício de passageiros, as instalações sanitárias, as plataformas de embarque, cais cobertos (atual Museu, antigos armazéns), dois cais descobertos, um guindaste, dormitórios, um depósito de água com toma de água incorporada e outros elementos característicos da paisagem ferroviária. Como término da linha de maior tráfego internacional do país, o edifício de passageiros, com implantação lateral, paralela às linhas férreas, destaca-se pela sua dimensão e preocupação decorativa, revelando linguagem erudita. Apresenta planta retangular, composta por longo corpo central, com cerca de 50 m de comprimento, de dois pisos, rasgado por quinze eixos de vãos, em arco abatido, e dois pequenos corpos laterais, de apenas um, sendo o primeiro seccionado em três panos na fachada principal, o do meio mais avançado e rematado em duplo frontão sem retorno, contendo as armas reais. Na segunda metade da década de 30, do séc. 20, o edifício sofreu grande intervenção e foi enriquecido decorativamente, com silhar de azulejos, contendo painéis de pendor historicista, tipo "bilhetes postais", representando monumentos, paisagens e motivos etnográficos de todo o país, de molduras policromas, pintados pelo aguarelista João Alves de Sá, também autor dos painéis das estações de Rio Tinto e Estremoz, e executados na Fábrica de Cerâmica da Viúva Lamego. Colocaram-se ainda sobreportas e sobrejanelas, em azulejos, com motivos vegetalistas, concheados e volutados, pequenos elementos entre os vãos do segundo piso a marcar o ritmo, e painéis com a toponímia da estação. Na mesma época, foi construído o alpendre sobre colunata ao longo da fachada posterior, avançado sobre a plataforma. O edifício das instalações sanitárias, também de amplas dimensões, segue o mesmo programa decorativo, sendo interiormente subdividido em dois setores, cada um com quatro cubículos sanitários, o masculino acrescido de urinóis, acedidos lateralmente.
Número IPA Antigo: PT020902290144
 
Registo visualizado 289 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Transportes  Apeadeiro / Estação  Estação ferroviária  

Descrição

Conjunto composto por edifício de passageiros (EP), com implantação lateral, paralela às linhas férreas e do seu lado esquerdo (sentido ascendente da linha), o edifício das instalações sanitárias (WC), a nascente, as plataformas de embarque, três cais cobertos (CC), um a sul e dois a poente, estes últimos atualmente ocupados pelo Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz - Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes, um guindaste, dormitórios, um depósito de água com toma de água incorporada e outros elementos característicos da paisagem ferroviária, como as coberturas das plataformas de passageiros, candeeiros de plataforma e vedações metálicas de delimitação da estação. EDIFÍCIO DE PASSAGEIROS: planta retangular, composta por três corpos distintos, o central muito comprido e de dois pisos, e os laterais, de apenas um. Volumes escalonados, com a massa disposta na horizontal e coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas, no corpo central, e de três nos laterais, revestidas a telha vermelha, e terminadas em beiradas simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por socos de cantaria e silhar de azulejos, com quarenta painéis figurativos, com cunhais apilastrados, e remates em friso e cornija, no corpo central, ou apenas em cornija, nos corpos laterais, com os vãos em arco abatido, moldurados a cantaria, encimados por sobrejanelas e sobreportas em painéis de azulejos recortados, com decoração vegetalista, volutados e concheados. Fachada principal, virada a norte, de composição simétrica, com o corpo central de pisos separados por friso e seccionado em três panos, o central sensivelmente mais avançado e rematado ao centro por duplo frontão sem retorno, contendo as armas reais e toponímia. A fachada é rasgada por quinze eixos de vãos, correspondendo no piso térreo a portas e no segundo a janelas de peitoril, à exceção da janela central, que é de sacada, tendo guarda em balaustrada e acrotérios sobre duas mísulas de cantaria. Entre as janelas existem pequenos painéis de azulejo marcando o ritmo. Os corpos laterais, bastante mais estreitos, são cegos. Nas fachadas laterais, os corpos de um piso têm a cornija do remate interrompida por tabela retangular com a armas reais, relevadas, entre aletas, e são rasgados por porta encimada por painel de azulejos com toponímia; ao nível do segundo piso, abre-se óculo elíptico, moldurado a cantaria envolvido por painéis de azulejos recortados. A fachada posterior, sensivelmente mais simples que a principal, apresenta o mesmo ritmo de vãos, sendo o piso térreo do corpo central percorrido por alpendre apoiado em colunas de cantaria. O INTERIOR, estrutura-se em vestíbulo, onde se situam as bilheteiras, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, e silhar de azulejos, de padrão, azuis e brancos, sala de espera e espaços dedicados ao pessoal ferroviário. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: planta retangular simples, com massa disposta na horizontal e cobertura em telhado de quatro águas, revestidas a telha vermelha e rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por soco de cantaria e silhar de azulejos, com dez painéis figurativos, cunhais apilastrados e remates em cornija. Nas fachadas viradas a poente e a nascente, abre-se porta de acesso ao interior, em arco abatido, moldurada a cantaria e com sobreporta em painel de azulejos, inscrita, ladeado por pequenos painéis recortados; as fachadas norte a sul, viradas à via e às linhas, são rasgadas por grupos de três janelas jacentes, de verga abatida, com decoração semelhante. INTERIOR com cada um dos setores organizado em quatro cubículos sanitários, existindo ainda urinóis no setor dos homens, a nascente. CAIS COBERTO (ARMAZÉM): planta retangular simples, com massa disposta na horizontal e cobertura em telhados de duas águas, rematadas em longas abas corridas, de madeira. Fachadas rasgadas por largas portas de correr. Os CAIS COBERTOS adaptados a MUSEU têm planta retangular simples, com massa disposta na horizontal e cobertura em telhados de duas e de várias águas, com estrutura de madeira, prolongando-se em grandes abas corridas. As fachadas são rasgadas por largas portas de correr, as de topo servidas por cais descobertos, sobre muretes em alvenaria de pedra rústica, situando-se num deles um guindaste. DEPÓSITO DE ÁGUA E TOMA DE ÁGUA: depósito cilíndrico, em chapa de ferro, com capacidade para 50 metros cúbicos de água, assente num corpo de planta octogonal e estrutura em alvenaria de pedra, rebocada e pintada, de faces ritmadas, servindo de lampistaria (arrecadação de lampiões); preserva a escada e a régua; a toma de água, para abastecimento dos comboios a vapor, normalmente independente, mas aqui incorporada no corpo inferior. O depósito exibe o nome da estação. ARRANJOS EXTERIORES: plataforma de passageiros em betonilha afagada; "bosque de carvalhos", a norte de um dos armazéns, designado de Jardim da Memória; a sul deste armazém iniciou-se um memorial exterior, em pedra, onde começaram a ser gravados os nomes daqueles que receberam vistos de Sousa Mendes e que passaram por Vilar Formoso em 1940. Isolado no meio das linhas de entrada na estação, existe um painel de azulejos, de grandes dimensões, com a inscrição a "PORTUGAL", saudando quem vem de Espanha.

Acessos

Vilar Formoso, Rua da Estação; Rua Dr. José Augusto Limão Andrade; Rua do Emigrante; Linha da Beira Alta - Ponto quilométrico 201,584 (PK); Linha do Leste - Ponto quilométrico 0,00 (PK). WGS84 (graus decimais) lat.: 40,606235; long.: - 6,829052

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, no interior do núcleo urbano, que é dividido sensivelmente a meio pela linha férrea. Implanta-se a cerca de 130 m da fronteira com Espanha e a curta distância da fronteira rodoviária. Em frente, ergue-se o edifício da antiga Alfândega.

Descrição Complementar

Na fachada principal, sobre o vão central, existe painel de azulejos recortado com toponímia da estação "VILAR FORMOSO", tal como nas laterais, sobre a porta do piso térreo "PORTUGAL / VILAR FORMOSO". Junto à porta central, da fachada principal, existe lápide, de granito, com a inscrição: "POR OCASIÃO DO 117º ANIVERSÁRIO / DA INAUGURAÇÃO DA LINHA DA / BEIRA Alta / 3 AGOSTO 1999 / HOMENAGEM DA CAMARA MUNICIPAL / DE ALMEIDA". As instalações sanitárias possuem sobre as portas inscrição, na fachada poente "SENHORAS" e, na nascente, "HOMENS".

Utilização Inicial

Transportes: estação ferroviária

Utilização Actual

Transportes: estação ferroviária / Cultural e recreativa: museu (armazéns)

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Infraestruturas de Portugal (conforme do artigo 6º, nº 2 e 5, e artigo 11º, n.º 1, ambos do DL 91/2015, e com a regras definidas pelo regime jurídico do Domínio Público Ferroviário que constam do DL 276/2003)

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Paulo Carvalho Cunha (1940). FIRMA: Glenfield Iron C.ª (Limited) Makers Kilmarnock Scotland (1881). FÁBRICA DE CERÂMICA: Fábrica de Cerâmica Viúva Lâmego (1934). PINTOR: João Alves de Sá (1934).

Cronologia

1875, 09 abril - Portaria encarregando Bento Fortunato de Moura Coutinho d'Eça de elaborar o projeto definitivo para a construção do caminho de ferro da Beira Alta; 1876, 25 maio - Portaria aprova o projeto definitivo do caminho de ferro da Beira Alta; 11 setembro - Decreto abrindo concurso para a construção e exploração da linha; 1878, outubro - início da construção da linha entre a estação da Pampilhosa e Vilar Formoso; 1881 - data do depósito de água, construído pela firma Glenfield Iron C.º (Limited) Makers Kilmarnock Scotland; 1882, 01 julho - abertura à exploração pública da Linha da Beira Alta, entre Figueira da Foz e a fronteira por Vilar Formoso; 03 agosto - inauguração oficial da linha da Beira Alta, com a presença da família real; 1934 - projeto de modificação da estação, com colocação dos painéis de azulejos nas fachadas, da autoria do pintor João Alves de Sá e executados na Fábrica de Cerâmica Viúva Lâmego; 17 fevereiro - detalhe dos azulejos das retretes, pelo chefe do serviço de Via e Obras; 1936, 22 abril - projeto de construção do alpendre na fachada posterior, com cobertura de telha sobre estrutura de madeira e colunas, pelo Serviço de Via e Obras; 1940, 25 janeiro - projeto de alterações do edifício de passageiros, pelo arquiteto Paulo Carvalho Cunha, para instalação da polícia e turismo no imóvel; 1944, 15 fevereiro - projeto do dormitório do pessoal do movimento em Vilar Formoso para a C.C.F.P., do arquiteto José Almeida Segurado *1; 1947, 07 setembro - diagrama da estação, pelo Serviço de Via e Obras, contemplando o edifício de passageiros, as instalações sanitárias, o cais descoberto, cais coberto, a sul das linhas, a cocheira de máquinas, uma placa de máquinas, cocheira de carruagens e central elétrica, um poço e um reservatório, um dormitório, a casa do poço, o serviço de tração / dormitório, e outras estruturas; 1952, 08 novembro - projeto de ornamentação das paredes do restaurante no edifício de passageiros, da divisão de Via e Obras, Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses; 1966, 10 novembro - projeto de ampliação do edifício de passageiros, com construção de corpos laterais maiores em substituição dos existentes, o que não se chegou a concretizar; 2014, setembro - colocação da placa SOS Azulejo no edifício da estação; 2015, 25 março - os cais cobertos e as áreas adjacentes da Estação de Vilar Formoso são subconcessionados ao Município de Almeida para atividades socioculturais, até 24 de março de 2035; 2017, 26 agosto - inauguração do Museu Vilar Formoso Fronteira da Paz - Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes, nos armazéns arrendados à Câmara Municipal de Almeida, pelas Infraestruturas de Portugal, IP.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; soco, cunhais, frisos, cornijas, colunas e molduras dos vãos em cantaria de granito; mísulas, frisos e cornijas do pano central e armas reais em cantaria calcária; portas e caixilharia de madeira pintadas; vidros simples; silhares e painéis de azulejos azuis e brancos e molduras policromas; cobertura de telha; depósito em chapa de ferro.

Bibliografia

ALVES, Rui Manuel Vaz - Arquitectura, Cidade e Caminho de Ferro. As transformações urbanas planeadas sob a influência do caminho de ferro. Tese de doutoramento apresentada no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Coimbra: texto policopiado, julho 2015, vol. 1; CALADO, Rafael Salinas, ALMEIDA, Pedro Vieira de - Aspectos Azulejares na Arquitectura Ferroviária Portuguesa. [Lisboa]: Caminhos de Ferro Portugueses, EP, 2001; CD Portugal Século XXI - Guarda, Matosinhos: 2001; FINO, Gaspar Correia - Legislação e disposições regulamentares sobre caminhos de ferro. Lisboa: Imprensa Nacional, 1903; 1908; FRAILE, Eduardo Gonzalez - Las primeras estaciones de ferrocarril: su tipologia; Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano XLIX, 16 novembro 1937, n.º 1198, p. 545; GOMES, Gilberto, Gomes, Rosa - Os caminhos de Ferro em Portugal 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A, 2006; HUMBERT, Georges-Charles - Traité Complet des Chemins de Fer. Paris: Baudry, 1891; IP - Infraestruturas de Portugal, IP Património - Rotas dos Azulejos. Rota Autoria / Jorge Colaço. 06 maio 2020 (https://www.infraestruturasdeportugal.pt/sites/default/files/flipbook/RotaJorgeColaco/index.html), [consultado em junho 2020]; LOPEZ GARCIA, Mercedes Lopez, MZA - Historia de sus estaciones. Coleccion de ciências, humanis y enginieria, nº 2. Madrid: Ediciones Turner, S.A., 1986; LOURENÇO, Tiago Borges - Postais Azulejados. Decoração Azulejar Figurativa das Estações Ferroviárias Portuguesas. Dissertação de Mestrado em História da Arte Contemporânea apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa: texto policopiado, 2014, vol. I e II; PEREIRA, Hugo Silveira - As viagens ferroviárias em Portugal (1845-1896); PEVSNER, Nicolaus - Historia de las tipologias arquitectónicas; PIMENTEL, Frederico Augusto - Apontamentos para a historia dos caminhos de ferro portuguezes. Lisboa: Tipografia Universal, 1892; «Pólo Museológico, Vilar Formoso da Paz - Memorial aos refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes». In Almeida Município (https://www.cm-almeida.pt/espacos-municipais/1678-2/memorial/), [consultado em julho 2020].

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DREMLisboa; Arquivo Técnico da IP-Infraestruturas de Portugal (solicitação através do site www.infraestruturasdeportugal.pt)

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA; Arquivo Técnico da IP-Infraestruturas de Portugal (solicitação através do site www.infraestruturasdeportugal.pt)

Documentação Administrativa

Arquivo Técnico da IP-Infraestruturas de Portugal (solicitação através do site www.infraestruturasdeportugal.pt); Arquivo Histórico da CP-Comboios de Portugal

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1991, década - obras de recuperação do edifício de passageiros, a nível interior e exterior, sobretudo nos azulejos da fachada principal; 2017 - obras profundas de remodelação, nos armazéns arrendados à Câmara Municipal de Almeida, financiadas pela Câmara de Almeida, pelo Estado, pela União Europeia e pelo EEA Grants.

Observações

*1 - Segundo a memória descritiva do projeto, o edifício, que devia ser construído num terreno marginal ao caminho de ferro, foi concebido com um caráter acolhedor, dentro da sua simplicidade, e, visto abundar na região, com recurso ao granito no guarnecimento dos vãos, num pequeno soco e na cornija de remete, que seria sobreposta por beirado. Teria um único piso, e comportaria as seguintes dependências: um pequeno vestíbulo, ligado à sala de estar ou hall, onde seria instalado um fogão de aquecimento; a sala ligar-se-ia diretamente às instalações sanitárias, onde se instalariam dois duches e duas retretes turcas em dependências próprias, bem como dois urinóis e três lavatórios. Na passagem que liga a sala de estar aos dormitórios seriam colocados uns armários ou cacifos para guarda de roupas e utensílios próprios do pessoal utilizante. As 19 camas que se destinam ao pessoal seriam dispostas em três dormitórios, sendo dois para seis camas cada e um para sete.

Autor e Data

Paula Azevedo e Ana Sousa 2020 (no âmbito do Protocolo de colaboração DGPC / Infraestruturas de Portugal)

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login