Convento de Santa Clara / Câmara Municipal de Guimarães

IPA.00011894
Portugal, Braga, Guimarães, União das freguesias de Oliveira, São Paio e São Sebastião
 
Arquitectura religiosa, barroca. Convento feminino de planta composta por antiga igreja longitudinal, com entrada transversal, e antigas dependência conventuais, constituídas por claustro desenvolvido a E., e restantes dependências, a N., em torno de dois pátios interiores, em eixo, um mais pequeno e outro maior. Apesar das profundas transformações ainda são perceptíveis os espaços religiosos originais, nomeadamente, o coro, a nave única, a capela-mor, a sacristia colocada lateralmente à última, do lado do Evangelho, os corredores de circulação entre a nave e a galeria do claustro, e a portaria, desenvolvida no seguimento do coro. Fachada principal com pano das dependências conventuais ricamente decorado, ritmado por pilastras sobrepostas com composições exuberantes em torno dos vãos, composta por volutas, acantos, aletas, cordões de pingentes, anjos, etc. Claustro com decoração sóbria, composto por arcaria plena, no primeiro piso e colunata toscana, no segundo. No centro da quadra surge chafariz maneirista com tanque quadrilobado e obelisco central, com bicas carrancas na base.
Número IPA Antigo: PT010308340108
 
Registo visualizado 4168 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  Ordem de Santa Clara - Clarissas (jurisdição do ordinário)

Descrição

Planta composta por antiga igreja longitudinal, com entrada transversal, e antigas dependência conventuais, constituídas por claustro desenvolvido a E., e restantes dependências, a N., em torno de dois pátios interiores, em eixo, um mais pequeno e outro maior. Apesar das profundas transformações ainda são perceptíveis os espaços religiosos originais, nomeadamente, o coro, a nave única, a capela-mor, a sacristia colocada lateralmente à última, do lado do Evangelho, os corredores de circulação entre a nave e a galeria do claustro, e a portaria, desenvolvida no seguimento do coro. Volumes articulados e escalonados de dominante horizontal com coberturas diferenciadas em telhados de duas, três e quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de banco, excepto a lateral N., com a alvenaria de granito à vista, e os panos E. e S. do pátio grande com a alvenaria pintada também a branco, mas sem reboco. Remates em cornija sob beiral e unicamente em beiral. Fachada principal virada a O., composta por dois panos, o do extremo direito correspondendo à antiga nave, e o outro, subdividido em três, ao coro e portaria, numa composição destacada e uniforme. Pano da antiga nave, mais baixo, rasgado por portal de acesso à primitiva igreja, enquadrado por pilastras jónicas sobrepujadas por pináculos, rematado por frontão curvo, interrompido por pináculo e janelão em arco abatido, com remate em cornija encimada por pináculos e cruz partida. O outro pano, mais alto e longo, apresenta dois registos, embasamento e subdivisão em outros três panos, por pilastras sobrepostas, nos extremos coroadas por altos pináculos coroados por elemento fitomórfico. Pano central com cornija de separação de registos possuindo no eixo, portal que conduz ao pátio pequeno, em arco abatido, com pedra de armas da Ordem, no fecho, enquadrado por pilastras com querubim e modilhão, que suporta acrotério com guerreiros, com composição de cabeças humanas e conchas, junto dos seus pés, a enquadrar grande edícula com imagem pétrea de Santa Clara, ladeada por pilastras cariátides, de ordem jónica encimadas por anjos que suportam o remate em cornija destacada nos extremos. Abaixo desta surge cartela volutada com data de 1741 segurada por anjos. A ladear esta monumental composição do portal encontram-se, no primeiro registo, duas pequenas edículas, com parapeito decorado por volutas e suportado por modilhões, com remate em cornija encimada por frontão volutado com concha no vértice. A encimar estas edículas, já no segundo registo, interrompendo a cornija de separação, encontram-se dois painéis relevados e emoldurados com figura religiosa e cabeças, que se unem às sacadas das janelas, em arco pleno, com bandeira, ladeadas por aletas e cordão de pingentes que caem das mísulas que suportam frontões triangulares com decoração de cordas, no remate. Fachada lateral N. com três registos, rasgados por vãos de verga recta, o primeiro com três portas e onze janelas e os superiores com janelas com bandeiras, sendo as do segundo registo ladeadas por janelas jacentes. Fachada lateral S. e posterior O. com fenestração regular composta por vãos de verga recta. Pátio pequeno com fachadas de dois registos, rasgadas regularmente por portas e janelas de peitoril e sacada. Na fachada voltada a E. abre-se arco pleno de comunicação com o exterior. Pátio grande com fachadas abertas por fenestração de verga recta, de dois e três registos, sendo que neste último caso o primeiro registo é feito por arcaria plena toscana. CLAUSTRO de dois registos, sendo o primeiro aberto por arcaria plena, sobre colunas toscanas e o segundo por colunata, também toscana. Na galeria inferior com pavimento em laje de granito e portas de verga recta, rematadas por entablamento com inscrição. Galeria superior com pavimento em soalho e tecto de masseira com caixotões, de madeira. Quadra com canteiros geométricos relvados, rodeados de buxo que enquadram chafariz central de tanque quadrilobado onde se eleva, ao centro, base prismática com bicas carrancas em cada uma das faces, com a data de 1632, sobrepujada por obelisco coroado por esfera armilar de ferro. INTERIOR com escadas de madeira para comunicação entre os pisos, com corredores de acesso aos diversos compartimentos repartidos por salas de trabalho e de reuniões, gabinetes, salão nobre, armazéns, arquivo, bar e casas de banho. Uma das salas de trabalho, do primeiro piso, situada no refeitório do antigo convento, conserva um púlpito de base circular, com guarda plena, escada e corrimão de pedra, inscrito em meio arco pleno.

Acessos

Largo Cónego José Maria Gomes; Rua de Santa Maria; Rua do Condestável Nuno Álvares.

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Núcleo Urbano da Cidade de Guimarães (v. PT010308340101), na Zona Especial de Proteção Conjunta do Castelo de Guimarães (v. PT01030834011), Igreja de São Miguel (v. PT01030834006) e Paço dos Duques de Bragança (v. PT01030834013) e na das Muralhas de Guimarães (v. PT010308340016)

Enquadramento

Urbano, isolado, em pleno centro histórico, com a fachada principal voltada para um amplo largo trapezoidal, calcetado e arborizado, com chafariz central de tanque circular, sobre base também circular, com taça central e quatro bicas em meia-cana. Junto à fachada posterior passa o troço da antiga muralha de Guimarães (v. PT010308340016).

Descrição Complementar

HERÁLDICA: A pedra de armas que encima o portal principal, da Ordem de S. Francisco, integra a heráldica das corporações religiosas, com escudo, emoldurado por elementos decorativos, entre eles ornatos concheados e volutas, e o conjunto encimado e acompanhado em ponta por dois querubins; o escudo tem composição plena; na pilastra que, na frontaria, separa o corpo central do edifício do seu corpo direito, existe uma pedra de armas que integra a heráldica da família dos ANDRADE, com uma banda abocada por duas cabeças de serpente. Apresenta escudo arredondado na ponta e com chefe de linhas côncavas. Elmo de frente, com paquife, virol e timbre, com uma espada, com a ponta para cima, empunhada por uma mão; na fachada principal, na última pilastra da direita, existe uma pedra de armas das Clarissas, que integra a heráldica das corporações religiosas; o escudo, de composição plena, rodeado de elementos decorativos, ornatos concheados e folhas de acanto estilizadas, com as cinco chagas de Cristo rodeadas de um cordão de S. Francisco posto em orla; INSCRIÇÕES: Inscrição gravada no entablamento de uma portas da galeria do primeiro piso do claustro; sem moldura nem decoração; granito; tipo de letra: capital quadrada; leitura: LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO PARA SEMPRE SEJA E SUA MÃE SANTÍSSIMA.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Política e administrativa: câmara municipal

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PEDREIROS: Pedro Afonso de Amorim (1605), José Moreira (1735), Manuel Luís e Manuel da Costa (1737), José Moreira (1741).

Cronologia

1553, Julho - Por alvará passado em Lisboa, obteve Baltasar de Andrade, cónego mestre-escola da Colegiada de Nossa Senhora de Oliveira (v. PT010308340007), a posse de umas casas, pardieiros e quintais na rua de Santa Maria para neste local erigir um convento em honra de Santa Clara; 1559, Junho - devido a um surto de peste, as religiosas refugiam-se no Paço de Gominhães (v. PT010314020002); Setembro - é lançada a primeira pedra do convento, com notável solenidade, assistindo o cabido da real Colegiada e as Ordens Religiosas de Guimarães; 11 Outubro - bula de erecção, ficando o padroado nas mãos do cónego Baltazar de Andrade; 1562, 11 Agosto - entrada solene das religiosas do convento, no dia de Santa Clara; foi a primeira abadessa D. Helena da Cruz, filha do fundador, vindo a sua irmã D. Francisca da Conceição a ser a segunda abadessa; 1563 - perante a dificuldade das freiras em cobrarem as suas rendas, obtiveram de D. Sebastião uma carta régia em que lhes é permitido licença para possuírem bens de raiz que rendessem anualmente até 50 mil réis; 1587 - as freiras obtiveram do cardeal D. Henrique alvará em que se lhes mandava dar 150 medidas de milho das 400 que no convento de Palmela em todos os anos se repartiam pelos pobres; 1605, Junho - Pedro Afonso de Amorim contrata a reedificação da capela-mor do convento; 1632 - construção de um chafariz com obelisco, no claustro do convento; Setembro - é decidido pela Câmara Municipal que o Síndico faça requerimento para poder observar as provisões que se dizia terem alcançado as freiras de Santa Clara para incluírem no seu mosteiro um caminho público que ia para o campo do Salvador onde estão as caixas de água que vêm da serra e que seguisse uma acção judicial contra elas; 1642, Março - é acordado em sessão da Câmara não haver perda para a vila de Guimarães em se tapar a viela que ia por entre o campo das Maçoulas e o Convento de Santa Clara, campo que as freiras queriam incluir na sua clausura, antes era serviço prestado a Deus evitando pecados que delas se sabiam; 1663, Novembro - é preso o cónego Francisco Peixoto de Sá por não ter respeitado a notificação do vigário-geral da Colegiada de Guimarães para terminar com as suas visitas ao Convento de Santa Clara, donde resultava grande escândalo; 1665, Maio - o rei D. João IV, por decreto, isenta do serviço dos cargos ordinários e serviços de companhia de ordenança o procurador e hortelão do convento; 1721, Dezembro - é proibido por decreto real o uso excessivo de doces no convento; 1733 - início de grandes obras na capela-mor do convento, enriquecida com talha e quadros a óleo; 1735 - construção do claustro pelo pedreiro José Moreira; 1737 - conclusão de grandes obras no convento, realizadas pelos pedreiros Manuel Luís e Manuel da Costa, sendo benzidas as capelas e as naves do claustro; 1740, Maio - os homens dos Mesteres de Guimarães opõem-se ao pedido das freiras de Santa Clara ao rei, para lhes conceder um subsídio das sobras dos bens de raíz do cofre Municipal, alegando que elas "não carecem de esmola por ser convento rico e mais: há dez anos a esta parte ter recebido de dotes 60 mil cruzados quase; dão muito dinheiro a juros; pela sua opulência fazem obras desnecessárias; não carecem que se tire dinheiro ao povo para isso, pois este é assaz pobre"; 1741 - o pedreiro José Moreira constrói a fachada principal do convento; 1746 - a expensas do Arcebispo D. José de Bragança, é construída a nova portaria do convento; 1758, Dezembro - o Arcebispo de Braga proíbe as freiras de Santa Clara de ocuparem o tempo durante o Natal a fazerem doces e a bailar; 1759, Agosto - apurou-se que as religiosas mais novas do convento tinham formas de vestir escandalosas; 1778, Outubro - é indeferido requerimento das freiras de Santa Clara pedindo à Câmara a anulação da decisão de construir um novo açougue junto da Torre dos Cães, alegando possíveis epidemias e de ficar o muro da sua cerca facilmente escalável; 1804, Outubro - o Arcebispo de Braga deferiu a petição da abadessa de Santa Clara concedendo-lhe e às suas sucessoras o uso de bordão de Santa Isabel ou báculo como distintivo da sua autoridade de prelada; 1834 - extinção das Ordens Religiosas; 1891 - falecimento da última religiosa Antónia Amália da Ascensão, que ainda se encontrava no extinto convento; 1893 - o edifício é cedido à Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, que aí instala o Seminário de Nossa Senhora da Oliveira; a adaptação do edifício leva à destruição da portaria e do mirante virado a N.; 1896, 16 Setembro - o Seminário é transformado no Liceu Nacional de Guimarães; séc. 20, segunda década - a Escola Industrial de Guimarães muda-se para o antigo convento; encontravam-se igualmente instalados no edifício o Colégio Internato Municipal e o Liceu Nacional de Guimarães; 1923 / 1924 - a Escola Industrial de Guimarães muda-se para os pavilhões da Quinta do Proposto (v. PT010308600044); 1924 - a talha da igreja é leiloada e arrematada por uma comissão constituída para esse efeito; a talha, incluindo o retábulo-mor é oferecido à Irmandade de Nossa Senhora da Penha e colocada na ábside do seu novo santuário; 1939 - um incêndio destrói parte do antigo convento; 1940 - ainda estava instalado no convento o Liceu Martins Sarmento, antigo Liceu Nacional de Guimarães; 1961 - o liceu abandona o convento e instala-se no novo edifício (v. PT010308340112); 1968 - a Câmara Municipal de Guimarães instala-se no edifício.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura, embasamento, cunhais, pilastras, cornijas, molduras dos vãos, elementos decorativos, arcaria, colunata e chafariz do claustro, em granito; portas, janelas, escadas, pavimentos e tectos, de madeira; sacadas das janelas, de ferro forjado; cobertura exterior de telha cerâmica de aba e canudo.

Bibliografia

Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; MORAES, Maria Adelaide Pereira de, Guimarães, Terras de Santa Maria, Guimarães, 1978, pp. 57 - 58; NÓBREGA, Artur Vaz-Osório da, Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga. Vol. VII Cidade de Guimarães, Tomo 1, Braga, 1981, pp. 109 - 116; CALDAS, Padre António José Ferreira, Guimarães. Apontamentos para a sua História, Guimarães, 1996, pp. 326 - 329; ROCHA, Helder, Efemérides Vimaranenses, vol. 1, Guimarães, 1996; vol. 2, Guimarães, 1998; www.esec-francisco-holanda.rcts.pt, 18 Maio 2005; FERNANDES, Isabel Maria, OLIVEIRA, António José, O Convento de Santa Clara, in www.guimaraesturismo.com, 18 Maio 2005.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário: 1928, 27 Abril / 1953, 27 Abril - Obras de ampliação e de beneficiação; CMG: 1990 / 1993 - substituição das coberturas e recuperação da sala da presidência, vereação e salão nobre; 1994 / 2001 - remodelação das coberturas e caixilharias e recuperação dos pátios e claustro.

Observações

Parte da talha que pertenceu ao convento e algumas das suas imagens encontram-se, hoje, no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães.

Autor e Data

António Dinis 2002

Actualização

 
 
 
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