Palácio dos Condes de Anadia

IPA.00011823
Portugal, Lisboa, Lisboa, Campo de Ourique
 
Arquitectura residencial, barroca. Palácio de planta longitudinal composta pela articulação de 3 corpos rectangulares, correspondendo o central à escadaria. Zona de grandes intervenções e mutações em termos arquitectónicos, nos últimos anos, este palácio, a par do palácio Ulrich, apesar de quase anulado pelas edificações das proximidades, assume-se como um dos poucos exemplares, ainda subsistentes, de arquitectura notável anterior ao século 20.
Número IPA Antigo: PT031106300702
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

Planta rectangular irregular, composta por 3 corpos rectangulares, segundo uma implantação longitudinal, volumetria paralelepipédica, cobertura efectuada por telhados a 3 e 4 águas, perfuradas por trapeiras dos lado SE. e SO.. Com panos de muro em reboco pintado, socos e cunhais de cantaria, exibe 4 pisos (um deles parcialmente enterrado e apenas coincidente com o corpo extremo N. do imóvel e outro ao nível da cobertura), marcados pela abertura de vãos de verga recta, com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a SE., composto por 3 corpos separados por pilastras de cantaria, dos quais se demarca o axial, mais estreito. Este apresenta superfície murária destacada, rasgada por portal de verga curva articulado com janela de sacada - servida por varanda com base em cantaria e guarda em ferro fundido ligeiramente curva - através da chave que remata a verga e actua como mísula de suporte, da base da varanda. Este corpo apresenta-se delimitado por 2 panos de muro, idênticos, com os pisos animados por janelas de peito, ao qual se sucedem corpos extremos diferenciados: a S., observam-se 5 janelas de peito rectangulares de verga recortada sobrepujadas, ao nível do andar nobre, por janelas de peito com emolduramento simples. Do lado oposto, dado o declive do terreno, reconhece-se embasamento separado por friso de cantaria e rasgado por janelas de peito, acima do qual se reconhece andar nobre, diferenciado pela presença de janelas de sacada (no alinhamento das do piso térreo dos outros corpos) - de verga recta recortada, servidas por varandins com guarda em ferro fundido -, sendo o conjunto sobrepujado por janelas de peito, a anunciar o 3º piso. O alçado é superiormente rematado por cornija continuada, articulada com platibanda em muro (prolongada aos alçados laterais) interrompida, ao nível do corpo central, por frontão triangular com pináculos nos acrotérios e pedra de armas sobre cartela de acantos em cantaria ao centro do tímpano *1. O alçado posterior apresenta-se composto por 3 corpos, em que o central se encontra em posição reentrante, relativamente aos que o ladeiam - estes, acima da cornija apresentam prolongamento do pano de muro, correspondente ao 4º piso, que se faz assinalar pela presença de janelas de peito. INTERIOR: 3 zonas distintas e comunicantes entre si *2, designadamente, o corpo a SO. com acesso principal através do alçado lateral SO., o corpo extremo a NE. e o corpo central, que assegura a ligação entre os corpos descritos e coincide com o acesso principal ao corpo extremo S.. No que respeita ao 1º, registam-se como principais elementos de circulação e distribuição, um vestíbulo de planta rectangular, que articula, por meio de lanço recto de escadas de madeira (directamente conducente ao 1º andar), com galeria, a partir da qual se desenvolve corredor longitudinal, comunicante com os compartimentos nobres da edificação, contíguos aos alçados principal e posterior. Este corredor articula com o corpo central da edificação, por meio de escadaria em cantaria de lanços rectos opostos, com patamares intermédios. Pelo corpo axial do palácio, de disposição transversal relativamente aos que o ladeiam, acede-se ao corpo extremo oposto, no qual se localiza, ao nível do 1º andar, outra zona social da edificação, dominada por compartimentos directamente comunicantes entre si *3.

Acessos

Rua Silva Carvalho, n.º 2; Rua das Amoreiras, n.º 105 - 107; Rua Maria Ulrich. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,723439, long.: -9,160069

Protecção

Em vias de classificação

Enquadramento

Urbano, destacado, isolado, define frente de quarteirão delimitado pelas ruas das Amoreiras, Silva Carvalho e Maria Ulrich. Em posição fronteira ao palácio Ulrich (v. PT031106300703) e nas proximidades do complexo comercial das Amoreiras.

Descrição Complementar

No interior, destacam-se alguns compartimentos dos corpos extremos, nomeadamente a capela, localizada no piso térreo do corpo extremo SO.: de planta rectangular e cobertura em arco em asa de cesto, em reboco pintado, é animada, no muro de topo, por retábulo em talha dourada e pintada que alberga pintura sobre tela, superiormente rematada por frontão interrompido por resplendor com cordeiro místico, suportado por colunas de fuste canelado e capitéis compósitos. Ainda neste corpo e no piso superior, merece referência a galeria com guarda em balaustrada de madeira, tecto plano com painéis de estuque e muros animados por panóplias em grisaille *4, bem como a sala de bilhar, com tecto animado pela aplicação de estuques e emblema heráldico da família. No corpo extremo oposto destaca-se o conjunto de compartimentos do 1º andar, contíguos ao alçado principal, animados por lambril azulejar pombalino e apontamentos em pintura decorativa. Ambos os corpos se articulam por meio da escadaria do corpo central, com rodapé azulejar policromo e guarda metálica em ferro fundido

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Frederico Henrique George (alter.)

Cronologia

Séc. 17, último quartel - fundação da propriedade, denominada Quinta de São João, pertença de José Rebelo Palhares ; 1689 - data nas portas de madeira da capela ; 1700 - a Quinta de São João, juntamente com outras propriedades de José Rebelo Palhares, vai à praça e é arrematada por Francisco Duarte de Almeida e Sousa, bailio do Acre da Ordem de Malta ; 1706 - tomada de posse dos bens adquiridos por Francisco Duarte de Almeida e Sousa, o qual de imediato doa a Quinta de São João dos Bem Casados, a seu irmão Aires de Almeida e Sousa, tendo um descendente deste último casado com D. Violante Engrácia de Sá, filha de Aires de Sá e Melo e D. Isabel de Melo, senhores de Anadia, passando esta propriedade a integrar os bens desta casa ; 1730 - 1732 - reside no palácio (procurando melhoras dos seus problemas de saúde), o infante D. Carlos, filho de D. João V ; 1742 - 1749 - no palácio habitam os condes de Unhão ; 1755 - o palácio era pertença de Aires de Sá e Melo, sobrinho neto de D. Violante Engrácia, que desempenhou funções de ministro plenipotenciário em Nápoles, de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Guerra no governo do marquês de Pombal, bem como de embaixador de Portugal em Madrid ; 1769 - 1785 - reside no palácio D. Joana Perpétua de Bragança, irmã do Duque de Lafões (e bisneta de D. Pedro II) ; c. 1780 - um incêndio causa danos significativos no palácio ; 1784 - por falecimento de Aires de Sá e Melo, a propriedade passa para seu filho, João Rodrigues de Sá e Melo, 1º Visconde (desde 1786) e 1º Conde (1808) de Anadia (vila de que era donatário), que determina a demolição da antiga ermida da casa (com a invocação de São João dos Bem Casados, a qual se encontrava desde o início do séc. 18 integrada no palácio (pelo lado O.) mas avançada relativamente ao actual alinhamento ; 1789 - 1793 - o palácio funciona como residência dos condes da Anadia ; Séc. 18 - 19 (transição) - residem no palácio os Seabras da Silva ; 1809 - o falecimento do 1º conde e único visconde da Anadia (João Rodrigues de Sá e Melo), ocorrido neste ano, determina a passagem da casa para seu tio materno e herdeiro, o Visconde de Alverca (desde 1805) José António de Sá Pereira, que assim se torna 2º Conde de Anadia ; 1813 - o falecimento do 2º Conde sem descendência masculina determina que o título da casa e respectivos bens passem para a sua filha D. Maria Luisa, que, com seu marido (e tio materno), Manuel de Sá Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quífel Barberino (1781 - 1859), se torna 3º Condessa de Anadia e 2ª Viscondessa de Alverca ; 1859 - por falecimento de seu pai, torna-se 4º Conde da Anadia e proprietário do palácio José Maria de Sá Pereira e Meneses Pais do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quífel Barberino ; 1884 - grande campanha de obras responsável pela transformação e redecoração do interior ; 1887 - o edifício é propriedade (na sequência da partilha dos bens de seu pai, falecido em 1870) do 1º e único Visconde de Alferrarede, Carlos de Sá Pais do Amaral Pereira e Meneses (1865 - 1909), 4º filho dos 4os condes da Anadia, que no ano seguinte se casa com D. Maria da Luz Biester de Barros Lima ; 1921 - campanha de obras responsável por transformações na ala O. do edifício ; 1933, 24 Out. - falece no palácio D. Tomás de Mello Breyner, conde de Mafra, que habitava então parte do edifício com acesso virado à R. das Amoreiras ; 1934 - é proprietário António de Sousa Holstein Beck ; 1935 - 1960 - o edifício é propriedade de D. Maria da Luz Biester de Barros Lima, viscondessa e condessa viúva de Alferrarede (n. 1865) e de sua filha, D. Maria da Assunção de Sá Pais do Amaral Sousa Holstein, pelo seu casamento com D. António de Sousa Holstein Beck (primogénito dos duques de Palmela) 4ª Condessa do Calhariz e Marquesa do Faial ; 1964 - 1968 - o edifício é propriedade de D. Maria da Assunção de Sá Pais do Amaral Sousa Holstein, Condessa do Calhariz e Marquesa do Faial ; 1978 - 2001 - o edifício é propriedade do Eng. Miguel Maria Sá Pais do Amaral (n. 1954), filho do 7º Conde Manuel de Sá pais do Amaral e da Condessa D. Maria Mafalda de Figueiredo Cabral da Câmara.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro, azulejos

Bibliografia

PROENÇA, Raul, (dir. de), Guia de Portugal, Vol. I, Lisboa, 1924 ; LEÃO, Luís Ferros Ponce de, Portas e Brasões de Lisboa, Lisboa, s.d. ; ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. III, Lisboa, s.d. ; ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. VII, Lisboa, 1950 ; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Depois do Terramoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa, Vol. IV, Lisboa, 1967 ; ATAÍDE, M. Maia, (dir. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. V, Tomo III, Lisboa, 1988 ; CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José, ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa. De Campo de Ourique à Avenida, Lisboa, 1995

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 3060

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1887, Janeiro - reconstrução de parte do edifício; 1926, Março - reparações interiores e das coberturas; 1935, Novembro - obras gerais de limpeza, reparações interiores e exteriores; 1936, Agosto - obras gerais de limpeza, reparações interiores e exteriores; 1937, Junho - limpeza de cantarias; 1939, Abril - reparação das coberturas; 1940, Janeiro - reparação das coberturas; 1943, Agosto - obras interiores, pintura de janelas e caixilhos; 1944, Maio - obras gerais de limpeza e beneficiação; 1946, Janeiro - pequenas reparações interiores, pintura de tectos, paredes e portas do 1º andar e piso térreo ; 1948, Outubro - reparação dos canos de águas pluviais; 1956, Maio - pintura do portão principal de acesso ao edifício; 1958, Maio - obras de beneficiação e limpeza; 1960, Agosto - obras gerais de beneficiação; 1964, Novembro - reparação do reboco na fachada principal; 1967, Janeiro - obras simples de conservação; 1968, Maio - obras de beneficiação e limpeza geral; 1978, Setembro - edificação de conjunto urbanístico nos terrenos anexos ao imóvel segundo projecto da autoria do arquitecto Frederico Henrique George; 1985, Julho - obras de beneficiação geral; 1986, Maio - estudo de drenagem de águas residuais do empreendimento; 1993, Dezembro - realização de um portão para saída e entrada de viaturas na Rua Maria Ulrich.

Observações

*1 - e cuja leitura heráldica é a seguinte : escudo enxaquetado de prata e azul de seis peças em faixa e sete em pala, tendo ao centro, e em pala, um pelourinho de prata. Coroa de conde. Timbre : um búfalo enxaquetado de prata e de negro, armado de prata e com uma argola de ouro nas ventas ; *2 - O corpo central e extremo N., correspondem à edificação primitiva, à qual foi acrescentado, no século 19, o corpo do extremo oposto ; *3 - no que respeita ao 2º piso este foi integralmente remodelado ; *4 - nos quais se podiam observar, até alguns anos atrás, uma pintura da autoria de Domingos António de Sequeira (1768-1837), actualmente na sala de estar, e outra de Vieira Portuense (1765-1805), D. Filipa armando seus filhos cavaleiros, hoje no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001

Actualização

 
 
 
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