Arco dos Vice-Reis
| IPA.00011558 |
Índia, Goa, Goa Norte, Goa Norte |
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Arco comemorativo construído pelo Senado de Goa, no final do séc. 16, reformado logo no início do séc. 17 e reconstruído na década de 50 do séc. 20. O arco, apesar de invocar os arcos de triunfo clássicos, foi construído sobre a antiga Porta do Cais, integrada nas muralhas de Goa e no Palácio dos Vice-Reis, sob a sala de audiências, onde o Senado da Câmara recebia solenemente os vice-reis quando chegavam pela primeira vez. Foi construído entre 1597 e 1598, por ordem do vice-rei Francisco da Gama, para comemorar o primeiro centenário da chegada de Vasco da Gama à India, em linguagem clássica e com projeto do engenheiro-mor Júlio Simão. Apresenta arco de volta perfeita, ladeada por pilastras, ambos decorados em silharia fendida, rematado por entablamento dórico, com friso decorado por tríglifos e métopas, decoradas por esfera armilar e gamos, em alusão às armas dos Gamas, encimado por tabela com nicho, albergando imagem de Vasco da Gama, e frontão triangular. Na primeira década do séc. 17, o arco foi remodelado, acrescentando-se um segundo nicho, a interromper o frontão da tabela, para colocação da imagem de Santa Catarina. Após ter derruído, o arco foi reconstruído em 1954, procurando reproduzir o traçado original, removendo-se o segundo nicho e transferindo-se a imagem de Santa Catarina para a face posterior, onde se cria balcão. No intradorso existem lápides inscritas, uma evocativa à Restauração da Independência de Portugal e `dedicação do Reino à Imaculada Conceição, colocada em 1646, e a reprodução de uma outra, alusiva à construção, que surgia na face principal, sobre o nicho de Vasco da Gama. Os dois panos de muro, que flanqueiam o arco, reproduzem as muralhas da fortificação, rematando em cordão e parapeito simples. Nas suas entradas solenes, o vice-rei não passava pelo arco, mas antes subia uma escada, disposta a poente da porta da muralha, que acedia diretamente à sacada da sala de audiências, existente sobre o arco. |
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Número IPA Antigo: IN931101000012 |
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Registo visualizado 819 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Estrutura Comemorativo Arco triunfal
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Descrição
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Estrutura composta por arco e dois panos murais a flanqueá-lo, recriando muralha, revestida a cantaria vermelha e rematada em cordão e parapeito simples. Na face principal, virada a norte, o arco, em cantaria calcária, apresenta volta perfeita, ladeado por duas pilastras almofadadas, tudo em silharia fendida, sobre plintos paralelepipédicos, almofadados, rematado por friso de ordem dórica, com tríglifos e métopas, estas decoradas alternadamente por esfera armilar e gamos, e cornija. O arco é rencimado por tabela retangular, definida por pilastras almofadadas, sustentando entablamento e frontão triangular, possuindo nicho, em arco de volta perfeita, sobre pilastras, interiormente abobadado e albergando imagem pétrea de Vasco da Gama; no alinhamento dos capitéis do nicho existe friso horizontal, que segmenta a tabela, decorada por apainelados relevados. A tabela é ladeada por aletas e, no alinhamento das pilastras do arco, por pináculos tipo bola, sobre plintos paralelepipédicos. A face posterior da estrutura, toda revestida a cantaria vermelha, possui dois panos, com profundidade distinta, sendo a mais estreita e avançada rematada por guarda vazada, alternando com plintos paralelepípedos, o central coroado por imagem de bronze, protegendo falso balcão sobre o arco. No intradorso do arco, coberto por abóbada de berço, as paredes laterais têm duas lápides inscritas. |
Acessos
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Goa Norte, Tiswadi, Velha Goa (Ella), Rua Direita, Goa 403402 |
Protecção
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Monumento de Importância Nacional / Incluído na Zona de Proteção das Igrejas e Conventos de Goa *1 |
Enquadramento
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Fluvial, adossado, em arruamento de acesso a cais de ferry boat (antigo Cais dos Vice-Reis (Saldanha, 1926, p. 124), na margem esquerda e a cerca de 100 m a sul do Rio Mandovi. Aos panos murários adossa-se balaustrada de cantaria, que delimita parte da via. Nas proximidades localizam-se o Convento dos Teatinos e Igreja de São Caetano (v. IPA.00011436), a cerca de 100 m para nascente, a Catedral de Goa (v. IPA.00011431), a cerca de 220 m para sudoeste, a Igreja e Convento de São Francisco (v. IPA.00011434), a cerca de 400 m para sudoeste, a Igreja do Bom Jesus (v. IPA.00011435), a cerca de 600 m para sul-sudoeste, e o Arco da Concepção, a cerca de 250 m para sudeste. |
Descrição Complementar
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Nas paredes do intradorso do arco, existem duas lápides inscritas; na parede esquerda, a lápide, em bronze, alusiva à construção e a Vasco da Gama *2, tem a seguinte inscrição: "REIÑÃDO EL R. D. PHELIPE Iº POS A CIDADE AQVI DOM VASCO DA GAMA Iº CO / MDE ALMIRANTE DESCOBRIDOR E CONQVISTADOR DA INDIA SENDO VI / ZO REI O CONDE DOM FRANCISCO DA GAMA SEV BISNETO - O ANO - D - 97". Na parede direita, a lápide, em calcário, evocativa à Restauração da Independência de Portugal e à dedicação do Reino à Imaculada Conceição, é seccionada em duas, tendo superiormente, o baixo-relevo de busto de D. João IV, segurando na mão direita uma espada e na esquerda a bandeira com representação de Nossa Senhora da Conceição, sendo ladeado pelas armas de Portugal. Sob o baixo-relevo, lê-se na primeira inscrição: "LEGITIMO E UERDADEIRO REY / DOM JOAO O IV RESTAURADOR / DA LIBERDADE PORTUGUEZA", e na inscrição inferior "SANCTISSIMAE CONCEPTIO / NI MARIAE. IOANNES IV POR / TUGALIAE REX. UNA CUM GE / NERALIBUS COMITIIS SE ET / REGNA SUA SUB ANNUO CEN / SU TRIBUTARIA PUBLICE DICA / UIT AT QUE DEI PARAM IN IM / PERII TUTELAREM ELECTAM / A LABE ORIGINALI PRAESERVA / TAM, PERPETUO DEFFENSU / RUM IURAMENTO FIRMAVIT / ET UT VIVERET PIETAS LUSI / TANA HOC VIVO LAPIDE IN / MEMORIALE PERENNE EXA / RARI IUSSIT. ANNO CHRIS / TI MDCXLVI IMPERII / SUI VI ESTA ESCRITURA / POR MUITO APAGADA, MAN / DOU O SENADO GRAVAR DE / NOVO E REPAROU ESTE ARCO / EM 1831". |
Utilização Inicial
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Comemorativa: arco triunfal |
Utilização Actual
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Cultural e recreativa: marco histórico-cultural |
Propriedade
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Pública: Estado Indiano |
Afectação
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Época Construção
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Séc. 16 / 17 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: Baltazar de Castro (1951-1954). ENGENHEIRO: Júlio Simão (1597). |
Cronologia
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Séc. 16, início - construção da Porta do Cais, ou dos Armazéns, ou Porta do Mar, integrada nas muralhas de Goa, comum em várias colónias costeiras portuguesas, a qual conduzia às principais vias da urbe e onde o Senado da Câmara ia receber os Vice-Reis no dia da sua primeira entrada e lhes entregava as chaves da cidade; 1510, dezembro - ao restaurar o sistema defensivo da cidade, Afonso de Albuquerque manda construir sobre esta porta uma torre quadrangular, de dois pisos, que estava adossada ao Palácio dos Vice-Reis; 1597 - sendo vice-rei D. Francisco da Gama, bisneto de Vasco da Gama, o Senado da Câmara manda construir o arco em memória do navegador *3; esta construção inseria-se nas comemorações do centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia; 1597 ou 1598, 25 dezembro - cerimónia evocativa da chegada de Vasco da Gama à Índia e inauguração da obra, com projeto do engenheiro-mor Júlio Simão *4; 1600, 26 para 27 dezembro - dias antes do final do vice-reinado de Francisco da Gama, a estátua de Vasco da Gama é derrubada e vandalizada, mandando o Senado colocar no seu lugar uma estátua de bronze de Santa Catarina *5; 1609, 09 dezembro - o Senado da Câmara decide reformar o arco, construindo um nicho mais elevado para a imagem de Santa Catarina e colocando nova estátua de Vasco da Gama no nicho original *6; 1625, cerca - inauguração do arco com a nova configuração, durante o segundo governo de D. Francisco da Gama (1622-1627); 1646 - colocação de uma lápide encimada por um baixo-relevo do busto de D. João IV, evocativa da Restauração da Independência de Portugal; 1951 - ruína do arco; 1954 - reconstrução do arco, sob a direção do arquiteto Baltazar de Castro; posteriormente, procede-se à substituição da imagem de Santa Catarina da face posterior; 1986 - as Igrejas e Conventos de Goa, "Churches and Convents of Goa", são inscritas na Lista indicativa do Património Mundial, da Unesco (Relatório da 10.ª Sessão do Comité - CONF 003 VIII). |
Dados Técnicos
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Estrutura autoportante. |
Materiais
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Estrutura em alvenaria de laterite; revestimento e elementos de cantaria em calcário azul e rosa; lápide e imagem em bronze. |
Bibliografia
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DIAS, Pedro - História da Arte Portuguesa no Mundo. O Espaço do Índico. Lisboa: Círculo de Leitores, 1998; FONSECA, José Nicolau da - An Historical and Archaeological Sketch of the City of Goa. Bombaim: Thacker & C.º, Limited, 1878, pp. 192-194; GOMES, Paulo Varela - Whitewash, red stone - a history of church architecture in goa. New Dehli: Yoda press, 2011; «List of Ancient Monuments and Archaeological Sites and Remains of Goa - Archaeological Survey of India» (), [consultado em 17 janeiro 2018]; MATTOSO, José (dir.) - Ásia, Oceania, Património de origem portuguesa no mundo, arquitectura e urbanismo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010, pp. 262-263; MOREIRA, Rafael - «A Primeira Comemoração: O Arco dos Vice-Reis». In Oceanos. 1994, nº 19/20, pp. 156-160; ISSAR, T. P. Goa Dourada - The Indo-Portuguese Bouquet. Bangalore: 1997; ROSSA, Walter «Arco dos Vice-Reis» (http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=631), [consultado em 17 janeiro 2018]; SALDANHA, Pe. Manuel J. Gabriel de - «História de Goa (Política e arqueológica)». In História Arqueológica. Nova Goa: Casa Editora Livraria Coelho, 2.ª edição, 1926, vol. II, pp.214-218; SOUSA, Manuel de Faria e - Asia portuguesa. Lisboa: Officina de Henrique Valente de Oliveira Impressor del Rey N.S., 1675, Tomo III, p. 142; Velha Goa. Guia Histórico, Goa, 1952. |
Documentação Gráfica
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Documentação Fotográfica
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DGPC: SIPA |
Documentação Administrativa
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Intervenção Realizada
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1831 - reparação do arco e reavivamento da inscrição existente na lápide evocativa de D. João IV e da Restauração; DGEMN: 1950 / 1951 / 1952 - desobstrução do arco, que se encontrava entulhado cerca de meio metro; 1954 - reconstrução do arco depois de ter ruido (Dias), procurando reconstruí-lo segundo a primitiva estrutura. |
Observações
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*1 - Segundo Saldanha (1926, p. 124), o Arco dos Vice-Reis foi considerado monumento histórico, por portaria de 20 de agosto de 1830. *2 - Esta placa metálica é de fabrico e colocação recente, transcrevendo o que constaria de outra inscrição, existente na antiga arquitrave (Saldanha, 1926, p. 216) sobre o nicho de Vasco da Gama e sob o frontão cortado ao centro pelo nicho de Santa Catarina, desaparecido com a intervenção da década de 50 do séc. 20. A inscrição original seria "REINÃNDO ELREI D. PHELIPE 1º POS A CIDA / DE AQUI DOM VASCO DA GAMA 1º CONDE AL / MIRANTE DESCOBRIDOE E CONQVISTADOR DA / INDIA SENDO VIZO-REI O CONDE DOM FRAN / CISCO DA GAMA SEV BISNETO O ANO D 97 / JULIUS SIMON (...) ING. MAG. INV." (Saldanha, 1926, p. 216). *3 - Em "documento da época se vê que a Câmara tinha prestado este duradouro tributo ao ínclito almirante 'em memória e reconhecimento dos muitos feitos do insigne capitão, pera que assi como elle foi o primeiro que deu noticia d'este Estado à Nação Portuguesa, assi fosse elle o primeiro que fosse visto dos que nesta cidade entrassem'; mas parece que houve também, por parte dos vereadores da Câmara, intenção de obsequiar o vicerei e quiçá insinuação deste" (SALDANHA, 1926, p. 216). *4 - Segundo Rossa, a inauguração do arco deu-se no Natal de 1597, meio ano depois de D. Francisco da Gama ter chegado à Índia e, conjeturalmente, ter havido a decisão de o construir. Contudo, só no ano seguinte se cumpriram os 100 anos sobre a chegada de Vasco da Gama, facto que se pretendia homenagear com a construção do arco. *5 - Manuel de Faria e Sousa, citado por FONSECA, 1878, p. 193, atribui o apeamento e destruição da estátua em mármore de Vasco da Gama ao engenheiro francês Sebastian Tibao, por instigação de alguns inimigos de D. Francisco da Gama, à data do ato prestes a regressar ao reino, após ter entregue o governo ao novo Vice-Rei, Aires de Saldanha. *6 - Segundo Saldanha, a decisão do Senado foi tomada em 9 de dezembro de 1609, enquanto Rossa refere 6 de dezembro de 1606. |
Autor e Data
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Hugo Sérgio Fernandes (Contribuinte externo) e João Almeida (Contribuinte externo) e Paula Noé 2018 |
Actualização
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