Palacete dos Condes de Monte Real

IPA.00011496
Portugal, Lisboa, Lisboa, Estrela
 
Palacete de planta em L articulada, do lado interno, com pátio e num dos seus extremos, com capela de planta longitudinal definida por nave e capela-mor; à qual adossa torre sineira. Recupera as soluções planimétricas usadas nos palácios das zonas rurais do século 18, quer em termos de implantação e articulação das diferentes estruturas - habitação/ pátio/ capela - quer de circulação e distribuição da compartimentação interna na qual domina a escadaria monumental e a respectiva caixa, enquanto principal elemento de aparato
Número IPA Antigo: PT031106170692
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

De planta em L à qual adossa no extremo S., uma capela de planta longitudinal, apresenta volumetria escalonada, sendo a cobertura efectuada por telhados a 1, 2, 3 e 4 águas, em mansarda, perfurada por trapeiras e em coruchéu. Panos de muro em reboco pintado, socos e cunhais de cantaria, rematados por pináculos. Composto por 4 pisos separados por frisos de cantaria (um deles parcialmente enterrado e outro, ao nível da cobertura), marcados pela abertura de vãos com emolduramento de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a NO., com piso térreo integralmente revestido por placagem de cantaria (em silharia fendida na zona circundante ao portal e em isódomo na restante superfície), e superfície murária rasgada por fenestrações de peito com emolduramento simples de cantaria encimadas, ao nível do andar nobre, por janelas de sacada de verga curva recortada e destacada, servidas por varandins com guarda metálica de varas. Destaca-se do conjunto, o eixo central definido por portal inscrito em arco de volta perfeita, delimitado por 2 colunas, de fuste liso sobre pedestal, que servem de suporte à base da varanda da janela que o sobrepuja. Esta diferencia-se das restantes pelo tratamento escultórico que anima o seu remate e pela varanda, de guarda metálica contracurvada. O alçado é rematado por cornija, articulada com beiral em cortina, ao nível do eixo central descrito, acima da qual, se eleva, pano de muro, rasgado por 3 janelas de peito, rematado por frontão triangular com pináculos nos acrotérios e pedra de armas ao centro do tímpano e delimitado por aletas. Os alçados laterais NE. e SO., afectados pelo acentuado declive do terreno apresentam-se animados pela abertura de janelas de peito com emolduramento simples de cantaria sobrepujadas por janelas de peito com remate superior análogo às da fachada principal, aqui conjugado com avental recortado (ambas alinhadas pelas janelas do alçado principal). Do lado S., reconhece-se pátio de planta rectangular que articula com os alçados da edificação a NO. e NE., marcados pela abertura de janelas com diferentes tamanhos e morfologias e em cuja confluência se localiza um outro acesso, definido por escadaria directamente conducente ao 1º andar. Pelo lado oposto do pátio acede-se à capela particular da propriedade e a terraço, que se desenvolve a S., sob a forma de terraço e num plano sobrelevado relativamente ao pátio (ao qual se acede por meio de 2 lanços rectos de escadas). A capela apresenta alçado principal a NO., composto por 2 corpos separados por pilastras de cantaria, em que o corpo a O. corresponde ao corpo da capela e o corpo a E., a torre sineira. O 1º apresenta-se rasgado a eixo por portal de verga curva recortada sobrepujada por ática curva encimado por janela iluminante de remate afim (menos elaborado) e nicho a albergar a figuração escultórica pétrea de Nossa Senhora da Conceição. O alçado é superiormente rematado por empena recortada com lados delimitados por aletas e sobrepujada por cornija com cruz ao centro. A torre, de planta quadrada e cunhais em cantaria exibe 4 ventanas sineiras e remate em coruchéu vazado por óculos e animado por pináculos nos acrotérios e catavento, ao centro. INTERIOR: destaca-se como principal elemento de distribuição, o vestíbulo de planta rectangular e tecto plano de madeira articulado, no seu muro de topo e em plano sobrelevado, com escadaria monumental de lanços rectos opostos conducente ao andar nobre. Pelo lado NO. da caixa da escadaria, com cobertura em caixotão de madeira, perfurada por clarabóia oval, desenvolve-se corredor longitudinal comunicante com escada de serviço em caracol que assegura o acesso a todos os pisos do imóvel, e com a capela, ao nível do coro-alto da mesma. Do conjunto destacam-se alguns compartimentos do andar nobre, nomeadamente os 3 compartimentos contíguos ao alçado principal e directamente comunicantes entre si, a antiga sala de jantar com o tecto em caixotão animado com pintura decorativa e um outro compartimento contíguo ao alçado NO., e articulado com uma bow-window (a integrar uma fonte), através de um vão de verga recta ritmado por 2 colunas de fuste canelado. INTERIOR: do templo, nave e capela-mor ambas de planta rectangular e cobertura em abóbada de berço. De nave única com cobertura separada por cornija, perfurada por lunetas e animada com medalhão central com a representação de Nossa Senhora da Conceição, reconhecem-se muros laterais com painéis recortados azulejares monócromos e púlpito do lado da Epístola. Coro-alto em madeira adossado à face interna da fachada com guarda contracurvada em balaustrada de madeira. Precede a capela-mor arco triunfal de volta perfeita definido por colunas de fuste facetado com capitéis compósitos dourados. Na capela-mor, pouco profunda, observa-se muro do lado do Evangelho rasgado por tribuna e muro de topo com retábulo em talha pintada com marmoreados e dourada definido por colunas de fuste liso e de fuste facetado, ambas com capitéis jónicos, que suportam remate superior de lados recortados sobrepujado por cornija de perfil curvo, e inscrevem camarim a albergar trono.

Acessos

Rua de São Domingos à Lapa, n.º 100; Rua de Buenos Aires, n.º 39; Travessa do Norte à Lapa, n.º 3; Beco do Norte

Protecção

Incluído na Zona Especial de Protecção conjunta do Museu Nacional de Arte Antiga (v. IPA.00003153), da Igreja de São Francisco de Paula (v. IPA.00002621), do Convento das Trinas do Mocambo (v. IPA.00003151) e do Chafariz da Esperança (v. IPA.00004943) *1

Enquadramento

Urbano, isolado, destacado. Integrado na malha urbana do bairro da Lapa, implantado em zona de meia-encosta de acentuado declive, define quarteirão de planta rectangular irregular delimitado a N. e a O. pelas ruas de Buenos Aires e de São Domingos à Lapa, respectivamente e nos lados opostos pela Tv e Beco do Norte. Nas proximidades do palacete dos Viscondes dos Olivais ( v. PT031106170692 )

Descrição Complementar

O palacete integra, em praticamente todo o seu espaço interior (compartimentos, zonas de circulação, zonas de serviços, equipamento e lazer - quer de interior quer de exterior -, e até mesmo, de sanitários), lambris e painéis azulejares de diferentes períodos cronológicos e tipologias, podendo identificar-se lambris com azulejo policromo (azul e amarelo) de tapete datável do século 17, painéis com a temática das albarradas, azulejos de figura avulsa, painéis monócromos barrocos com cenas religiosas (na capela), bucólicas e de carácter arquitectónico, bem como azulejos policromos com emolduramentos de feição rocaille a integrar medalhões de temática variada, entre ela, cenas de chinoiserie, ou ainda lambris padronados do período pombalino. A par do acervo azulejar merecem também atenção as boiseries que animam tectos, guardas de escada, vergas e aventais de janelas interiores, quer pela qualidade técnica de execução quer do respectivo tratamento plástico. Algumas das coberturas integram pintura mural de carácter vegetalista e floral miudinho, como solução decorativa. Já no exterior, reconhecem-se 2 fontes, uma localizada contiguamente ao alçado NE. da capela e integralmente revestida com azulejo de tapete do 17, e outra, entre entre os 2 lanços de escadas que asseguram a ligação entre o pátio e o terraço (esta em cantaria com contentor (suportado por pés) articulado com espaldar recortado delimitado por volutas e animado por 3 peixes em alto relevo com caudas entrelaçadas

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Serviços: edifício de escritórios

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: José Luís Monteiro (1900). CONSTRUTOR: Benjamim António Duarte (1928); Guilherme Eduardo Gomes (1919-1918). EMPREITEIRO: Jalco Móveis e Decorações (1966).

Cronologia

1876, Maio - inicia-se a construção de um edifício no lote onde hoje se observa o palacete; Setembro - o proprietário introduz alterações ao projecto inicialmente previsto; 1876 - 1879 - é proprietário Manuel Francisco de Almeida Brandão; 1879, Agosto - construção de uma galeria de ferro envidraçada sobre o muro do jardim e abertura do quinto vão de janela no alçado N. do edifício; 1900 - aquisição da propriedade por Artur Porto de Melo e Faro (1866 - 1945), conde de Monte Real, a fim de demolir as ruinas aí existentes e edificar um palacete para sua residência e de sua esposa, D. Laura Cardoso Diogo da Silva; iniciam-se as obras do palacete que recebe designadamente azulejos de várias proveniências (nomeadamente do edificio do antigo convento do Rato), conforme projecto de José Luís Monteiro (1848-1942); construído por Guilherme Eduardo Gomes; 1916 - 1918 - remodelação exterior e interior do edificio e construção da capela, com obras da responsabilidade do construtor civil Guilherme Eduardo Gomes, designadamente transformação dos alçados, modificação das dependências interiores e da escadaria, bem como construção de uma capela e de outros anexos, substituição da cobertura em telhado por terraço; 1917, Novembro - alteração da cimalha da fachada principal, substituição do muro do pátio por um pórtico de cantaria com portão de ferro ladeado por gradeamento, reconstrução do cunhal e renovação do madeiramento do palacete; 1918, Novembro - ligação da galeria do 1º andar (sobre o pátio) com o anexo da sala de jantar, construção do caramanchão no angulo N. da propriedade e demolição de uma parede interior do 1º andar com vista à ampliação de uma sala; 1919, Agosto - transformação de um vão de janela em porta com vista a facilitar a entrada e saída de viaturas na garagem; 1928, Março - modificações interiores segundo projecto da responsabilidade do construtor civil Benjamim António Duarte, demolição do edifício ocupado pela garagem, cavalariças e alojamento de pessoal, construindo-se nessa área terraço cujo acesso é efectuado pelo pátio do palacete; 1945 - por falecimento do conde de Monte Real, o edifício fica na posse da sua viúva e de seu filho secundogénito (o primogénito morrera na infância), Jorge Cardoso Pereira da Silva de Melo e Faro (n. 1916), casado desde 1939 com D. Maria Teresa de Castro Pereira Guimarães; 1959 - 1960 - o edifício é propriedade de Joaquim José de Carvalho; 1962 - 1986 - metade do edifício é propriedade da empresa DIMALU - Sociedade de Administrações Agrícolas e Prediais sendo seu administrador-director Jorge de Melo e Faro; 1963 - o edifício é propriedade de Maria da Luz Melo e Faro Passanha; 1966 - 1969 - é proprietário D. Diogo Passanha; c. 1976 - 1985 - no edifício instala-se a sede do Partido Popular Democrático (PPD), depois Partido Social Democrata (PSD); década de 80 - instalação no imóvel do Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro, azulejos (séc. 18)

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Vol. II, Livro VII, Lisboa, 1933 ; MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés-a-Lés, 3ª ed., Lisboa, 1981 ; ATAÍDE, M. Maia, (dir. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. V, Tomo III, Lisboa, 1988 ; MATOS, José Sarmento de, Uma Casa na Lapa, Lisboa, 1994 ; SUCENA, Eduardo, Buenos Aires (Sítio de), in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo de Obras, Procº nº 14529 e Proprietário)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 14529

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1934, Setembro - obras gerais de conservação interior e exterior; 1937, Outubro - demolição de uma chaminé e divisões interiores; 1941, Abril - reparação de canalizações; 1942, Janeiro - reparações interiores e das coberturas; 1943, Julho - obras gerais de limpeza e beneficiação; 1952, Julho - obras de pintura e limpeza; 1959, Dezembro - obras gerais de beneficiação; 1963, Abril - obras de impermeabilização da placa de cobertura da garagem e colocação de novas placas no pavimento; 1964, Agosto - substituição da telha da cobertura; 1964, Outubro - obras gerais de limpeza e beneficiação; 1966, Novembro - obras simples de conservação a cargo da empresa Jalco Móveis e Decorações; 1969, Outubro - reparação de duas chaminés; 1998 / 1999 - substituição das coberturas; 2000 - 2001 : obras de conservação e restauro de tectos e pinturas interiores

Observações

*1 DOF: Zona Especial de Proteção conjunta aos imóveis: Museu Nacional de Arte Antiga, Igreja de São Francisco de Paula, Túmulo da rainha D. Maria Vitória, Palácio do conde de Óbidos, Chafariz das Janelas Verdes, Teatro da Casa da Comédia, Edifício da rua das Janelas Verdes n.º 78 - 78, Cinema Cinearte, Chafariz da Esperança, Convento das Trinas, Casa de António Sérgio, Palacete do viscondes e condes dos Olivais e da Penha Longa, Troço do do Aqueduto das Águas Livres, Abadia de Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo.

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001

Actualização

 
 
 
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