Palácio Calheta / Palácio do Pátio das Vacas / Museu Agrícola Tropical

IPA.00011278
Portugal, Lisboa, Lisboa, Belém
 
Arquitectura residencial, barroca. Palácio, caracterizado por soluções arquitectónicas severas e de natureza robusta, sobretudo ao nível do tratamento das fachadas, animadas por vãos de morfologia simples, ou da planimetria interior, dominada por amplos espaços directamente comunicantes entre si. Além de se apresentar como exemplo da arquitectura civil de traça seiscentista articulado com tanque desenvolvido ao longo do alçado principal através de ponte.No seu interior em todas as salas do andar nobre, destacam-se os silhares de azulejos, de composição figurativa - cenas de caça, campestres, marítimas e militares, ou de composição ornamental - enrolamentos vegetalistas, festões de flores e frutos, ou ainda de padrão, policromos ou em monocromia azul de cobalto em fundo branco, da segunda metade do século 17 a finais do século 18. Colecção de espécies originárias das regiões tropicais e subtropicais com exemplares raros ou em vias de extinção ; destaca-se ainda, no piso térreo, a existência de dois painéis entalhados em madeira exótica, da autoria de Alípio Brandão, para a Exposição do Mundo Português.
Número IPA Antigo: PT031106320630
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta retangular

Descrição

Planta longitudinal composta pela justaposição de corpos rectangulares, volumetria escalonada e cobertura efectuada por telhados a 2, 3 e 4 águas articulados nos ângulos. De 2 pisos separados por friso de cantaria (contempla ainda outro piso correspondente a cave), com superfície murária em reboco pintado e abertura de vãos rectangulares com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a S., composto por 5 corpos ritmados por cunhais de cantaria, em que os extremos e o central se destacam em planta relativamente aos intermédios, também estes, em planos diferenciados. Do conjunto demarca-se o corpo axial, correspondente ao acesso principal e articulado com ponte de passagem sobre lago artificial implantado ao longo da fachada e delimitado, pelo lado do palácio, por platibanda em balaustrada - exibe piso térreo rasgado por arco em asa de cesto articulado com galeria que precede o acesso principal, definido por portal de verga recta sobrepujado de frontão triangular. Este corpo é ladeado por 2 corpos a O. e a E., em que o 1º se apresenta reentrante e articulado com terraço rectangular que avança até ao nível dos seus colaterais, e 2º ostenta uma galeria definida por 5 arcos de cantaria em asa de cesto, e tecto plano de madeira suportado por vigas assentes em mísulas. Os corpos intermédios, tal como os dos extremos, exibem janelas de sacada em ambos os pisos, que se apresentam articuladas, ao nível do andar nobre, com varandins metálicos de anel a meia altura e no piso térreo dos corpos extremos, com guarda em balaustrada de cantaria. No alçado posterior a N., observa-se fachada composta por 3 corpos separados por pilastras de cantaria animada em ambos os pisos por janelas de sacada iguais às do alçado S. e portal superiormente rematado por frontão triangular *2. INTERIOR: Com acesso pela entrada principal, sensivelmente coincidente com a entrada do alçado posterior, átrio de planta rectangular a partir do qual se distribui a compartimentação interna e se desenvolve do lado E., escadaria em cantaria de lanços opostos (delimitada por muros com plintos nos extremos e articulada com arco de volta perfeita em pedra) conducente ao 1º andar. Em ambos os pisos a compartimentação interna apresenta-se ampla, predominantemente rectangular - com tectos planos de madeira ou de masseira, alguns deles animados por emolduramentos em estuque.

Acessos

Rua General João Almeida; Calçada do Galvão. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,701324, long.: -9,202203

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 19/2007, DR, 1.ª série, n.º 149 de 03 agosto 2007 *1

Enquadramento

Urbano.Integrado no extremo N. de jardim dotado de espécies vegetais tropicais, com planta trapezoidal irregular. Na proximidade da Igreja da Memória (v. PT031106010041)

Descrição Complementar

AZULEJO: ANDAR NOBRE: SALA 1: 10 painéis de composição figurativa formando silhares; bicromia: azul de cobalto e manganés em fundo branco; temática: cenas de caça; damas e fidalgos; Barra: arbustos com flores e animais: pássaros, leões, cavalos, coelhos, veados, gafanhotos, borboletas, etc. dispostos aos pares; 12 azulejos de altura. Este tipo de barra é único na azulejaria portuguesa coeva. Evoca os elementos decorativos de influência oriental, similares aos dos frontais de altar. Último terço séc.17. Disposição dos painéis na sala (ver planta): Painel 1: Caça ao touro: oito cavalos, oito cavaleiros com chapéu de plumas, caçadores a pé, cães, touros, paisagem; 61 azulejos de largura. Painel 2: Fidalgo com capa e chapéu de plumas; 7 azulejos de largura (painel que faz canto). Painel 3: Caça ao leão: quatro cavalos, quatro cavaleiros com turbante, leões, paisagem com palmeiras; 17 azulejos de largura. Painel 4: Dama com leque e fidalgo com espada e chapéu de plumas; 8 azulejos de largura (painel que faz canto). Painel 5: Caça ao urso: dois cavalos, dois cavaleiros, caçadores a pé, um caçador ferido deitado no chão, cães, paisagem; 14 azulejos de largura. Painel 6: Caça ao coelho: caçadores a pé, com espingarda, caçador com rede, coelhos, paisagem; 14 azulejos de altura. Painel 7: Caça à avestruz: quatro cavalos, quatro cavaleiros com turbante, um caçador a pé apanha a avestruz com uma forquilha, cães, serpentes, paisagem; 14 azulejos de largura. Painel 8: Dama e fidalgo com chapéu na mão; 8 azulejos de largura. Painel 9: Caça ao veado: dois cavalos, dois cavaleiros, veados, cães, paisagem; 17 azulejos de largura. Painel 10: Dama com leque; 7 azulejos de largura. SALA 2: silhares de azulejo de padrão pombalino. Policromia. 6 azulejos de altura; rodapé: 1 fiada de azulejo esponjado azul claro. SALA 3: silhares de azulejo de padrão dito de "búzio" (P-398); 2 x 2 azulejos; monocromia: azul de cobalto em fundo branco; Cercadura: búzio estilizado (C-90). 10 azulejos de altura. Finais séc. 17/início séc. 18. SALA 4: Rodapé de 3 azulejos de altura: esponjado azul de cobalto e manganés. SALA 5: ESCADARIA: silhar de padrão pombalino com fiada inferior de azulejo esponjado manganés e branco, imitando cantaria. SALA 6: Silhares de azulejo pombalino; policromia: amarelo, manganês, azul. 5 azulejos de altura. Rodapé: 1 fiada de azulejo esponjado manganés. SALA 7: Silhares de composição ornamental; policromia: amarelo, verde, manganés. Temática: motivos vegetalistas; enrolamentos de folhagem, enrolamentos de acanto, cachos de uvas. Barra: enrolamentos de folhagem, flores e frutos; nos cantos: carranca com elementos vegetalistas. 12 azulejos de altura. Último terço do séc. 17. SALA 8: 7 painéis de composição figurativa formando silhares; monocromia: azul de cobalto em fundo branco. Temática: cenas campestres, marítimas, militares: Painel 1: Barcos; cidade; ponte; cavaleiros; Painel 2: Cena pastoril; pastor; ovelhas; Painel 3: Cena militar; cavaleiros com baionetas; Painel 4: Cena militar (painel que se encontra tapado); Painel 5: Cena militar; canhões; Painel 6: Cena pastoril; pastora; vacas; Painel 7: Batalha naval; barcos. Barra: padrão de 2 x 2 azulejos de inspiração holandesa; flores e borboletas. (Esta barra é idêntica à barra dos silhares de azulejo holandeses realizados para o Palácio dos Marqueses de Fronteira em finais do séc. 17). 12 azulejos de altura. SALA 9: Silhares de azulejo de padrão; 2 x 2 azulejos; bicromia: azul e amarelo; cercadura: azulejo esponjado; rodapé: friso. 6 azulejos de altura. SALA 10: Silhares de azulejo de padrão pombalino: intercaladamente, 1 azulejo com flor manganês, um azulejo com estrela azul. Rodapé: 1 fiada de azulejo esponjado. 5 azulejos de altura. SALA 11: Silhares de azulejo de padrão pombalino; policromia: azul, amarelo, verde, manganês; rodapé: & fiada de azulejo esponjado. 7 azulejos de altura. SALA 12: Silhares de azulejo de composição ornamental; policromia: amarelo, verde, azul, manganês. No átrio e a ladear o acesso a N., observam-se 2 painéis em madeira exótica que integraram o acervo das exposição do mundo colonial, realizada em 1940. Merece ainda referência o jardim Tropical com que articula que, apesar de posterior, reúne diversas espécies vegetais de regiões tropicais e subtropicais.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Ministério da Ciência e da Tecnologia

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 17, meados - construção do palácio, provavelmente por D. João Gonçalves da Câmara, 4º conde da Calheta (m. 1656), como residência de veraneio ; 1656 - por falecimento do 4º conde, passa a propriedade para sua irmã e herdeira, D. Mariana de Lencastre de Vasconcelos e Sousa da Câmara, 5ª condessa do título pelo casamento com seu tio, filho do 1º casamento do 3º conde, D. Afonso de Vasconcelos e Sousa (1664 - 1734) ; 1701 - residia no palácio D. Joana de Távora, viúva desde 1684 de D. Simão de Vasconcelos e Sousa da Câmara ; 1726, Setembro - aquisição do palácio pelo rei D. João V ao neto do 5º conde da Calheta (e filho de D. Simão de Vasconcelos e Sousa da Câmara e de D. Joana de Távora), D. Pedro Vasconcelos e Sousa da Câmara, pela quantia de 50.000 cruzados, procedendo-se à sua reedificação ; 1758, 3 Setembro - na proximidade do denominado Pátio das vacas, logradouro da casa Calheta, verifica-se o atentado contra D. José I, que culmina do processo dos Távoras, tendo alguns dos interrogatórios decorrido no palácio (onde então se encontravam instaladas algumas secretarias de Estado e o Arquivo Militar) ; Séc. 19, meados - no palácio instalaram-se personalidades reais de visita a Portugal, caso de 2 filhos de Luís Filipe de França ; Séc. 19, último quartel - o edifício encontrava-se em quase total abandono ; Séc. 20, ínicios - o palácio servia como residência de vários funcionários aposentados da Casa Real, entre eles o ex-professor dos príncipes, Joubert Chaves ; 1910 - na sequência da proclamação da Repúblilca, e à semelhança dos restantes bens da Casa Real, o palácio Callheta passa para a posse do Estado ; 1914 - o Jardim Colonial instala-se na antiga quinta anexa ao palácio ; 1916 - instala-se no imóvel o Museu Agrícola Colonial ; 1919 - significativa campanha de restauro dos interiores, designadamente do recheio azulejar ; 1940 - é montada no palácio a secção colonial da Exposição do Mundo Português ; Década de 40 - campanha de obras de restauro, com vista à devolução do edifício à sua feição de casa nobre setecentista ; Década de 60 - nova campanha de obras, responsável pela transformação da fachada N. (nivelamento).

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, azulejos.

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto, Peregrinações em Lisboa, Livro IX, Lisboa, s.d.; ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. IV, Lisboa, 1946; ATAÍDE, Manuel Maia, (dir. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. V, Tomo 3, Lisboa, 1988; Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, 1987; Monumentos, n.º 17-18, Lisboa, DGEMN, 2002-2003; SANCHES, José Dias, Belém e Arredores Através dos Tempos, Lisboa, 1940; SANCHES, José Dias, Belém do Passado e do Presente, Lisboa, 1964; SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRELisboa/DRC

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; DGA/TT: Chancelaria de D. João V, Livro 14, fl. 35

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, década de 30 - obras de adaptação do interior, com vista à instalação da Secção Colonial, no âmbito da Exposição do Mundo Português (1940); década de 40 - campanha de obras de restauro, com vista à devolução do edifício à sua feição de casa nobre setecentista; década de 60 -campanha de obras, responsável designadamente pela transformação da fachada N. (nivelamento); DGEMN: 1984, Fevereiro - tratamento e recolocação dos azulejos dos revestimentos do Museu Agricola Tropical; 1999 - substituição de caixilharias; 2002 - diagnóstico do estado do imóvel e dos revestimentos azulejares; 2002 / 2003 - obras para instalação da documentação no local.

Observações

*1 - DOF: Palácio Nacional de Belém e todo o conjunto intramuros, nomeadamente o Palácio, os jardins e outras dependências, bem como o Jardim Botânico Tropical, ex - Jardim - Museu Agrícola Tropical. *2 - correspondente à entrada principal do Museu Agrícola.

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001/ Paula Correia 2002

Actualização

 
 
 
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