Mosteiro de Nossa Senhora da Estrela / Hospital Militar Principal
| IPA.00011277 |
Portugal, Lisboa, Lisboa, Estrela |
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Arquitectura religiosa, barroca e rococó. Mosteiro beneditino, de planta compacta rectangular constituída por 4 alas, com alçado principal definido por 3 corpos dos quais se destaca o central, correspondente à igreja, de planta longitudinal composta pela justaposição de 3 entidades espaciais - vestíbulo, nave e capela-mor. Segue um programa já antes observado no Asilo dos Inválidos de Runa (iniciado em 1792 da autoria do Arqto. José da Costa e Silva) *3. Merece atenção o programa decorativo da fachada principal da capela do antigo convento de Nossa Senhora da Estrela, de carácter arcaizante e o interior da capela, pautado por grande riqueza e erudição nas soluções apresentadas, quer ao nível do programa iconográfico da talha do retábulo-mor, e dos azulejos, quer da obra em pedra presente nos túmulos da capela-mor (que prosseguem com uma solução plástica adoptada nalguns monumentos fúnebres do século 16 e 17 existentes na capela-mor do mosteiro de Santa Maria de Belém - (v. PT031106320005) - e na capela dos Castros do antigo convento de S. Domingos de Benfica - (v. PT031106390351) bem como na decoração do frontal de altar e de outros elementos com recurso à entarsia |
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Número IPA Antigo: PT031106170623 |
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Registo visualizado 1879 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Religioso Convento / Mosteiro Mosteiro masculino Ordem de São Bento - Beneditinos
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Descrição
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De planta compacta rectangular articulada com 2 pátios interiores, apresenta volumetria paralelepipédica, sendo a cobertura efectuada por telhados a 2 e 4 águas. É composto por 3 pisos separados por frisos de cantaria, exibindo soco e cunhais de cantaria e panos de muro em reboco pintado animados pela abertura de vãos de verga recta com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a SO., composto por 3 corpos separados por pilastras de cantaria, dos quais se demarca o axial, mais estreito e correspondente ao corpo da igreja. Articulado com escadaria de 2 lanços com patamar intermédio, este apresenta corpo definido por 3 panos separados por pilastras (com as dos extremos superiormente rematadas por pináculos), podendo observar-se pano central rasgado a eixo por portal, inscrito em arco em asa de cesto de cantaria, encimado por janelão iluminante de verga curva destacada, ladeado por 2 nichos que albergam as figurações escultóricas de S. Bento e S. Bernardo. O conjunto é delimitado por panos laterais animados com 1 vão por piso - janela de peito sobrepujada por janela de sacada de verga recta destacada com guarda metálica - e superiormente rematado por cornija. Acima da mesma, eleva-se pano de muro rectangular (vazado ao centro por óculo) sobrepujado por frontão triangular (com pedra de armas no tímpano e cruzes nos acrotérios) e ladeado por aletas, que asseguram a articulação do remate com os panos laterais. Os corpos laterais, idênticos, exibem superfície murária rasgada por janelas de peito, e articulam-se com eixos de circulação contíguos aos respectivos panos de muro, que se desenvolvem a partir do patamar intermédio da escadaria principal conducente à igreja e terminam, nos extremos do alçado, em lanços rectos de escadas. Nos alçados laterais, marcados pela abertura de janelas de peito, no 1º andar com capialço, merece atenção o jorramento que caracteriza o seu pano de muro, ao nível do piso térreo *1. INTERIOR: a entrada principal do edifício articula, por meio de vestíbulo - de planta rectangular e cobertura em abóbada de berço com muros animados por lambril azulejar policromo com representações do hagiológio - com as alas hospitalares, desenvolvidas ao longo dos corpos laterais e com a capela, à qual se acede através de portal (de verga recta destacada) localizado no seu muro de topo. Capela de planta longitudinal composta pela justaposição de 1 rectângulo e 1 quadrado (nave e capela-mor) e de implantação transversal relativamente ao alçado principal, apresenta nave única de planta rectangular e cobertura em abóbada de berço separada por cornija de cantaria. Exibe muros animados por lambril azulejar e púlpitos, de ambos os lados, com base em cantaria e guarda em madeira entalhada e dourada, aos quais sucedem vãos reentrantes inscritos em arcos de volta perfeita em cantaria. Coro-alto coincidente com o vestíbulo que antecede a capela, com guarda de balaústres em madeira. Precede a capela-mor, arco triunfal em cantaria articulado com teia definida por balaustrada de madeira. Na capela-mor, sobrelevada e com acesso através de lanço recto de degraus, reconhece-se muro de topo animado por retábulo em talha dourada de estilo joanino que integra 2 nichos concheados com as figurações escultóricas de S. Bento e S. Miguel Arcanjo (?). Nos muros laterais destacam-se 2 túmulos afrontados inscritos em vãos definidos por arco de volta perfeita superiormente rematados por frontões triangulares e ladeados por pintura sobre tela.(*2).Contiguamente à capela desenvolvem-se no sentido transversal do edifício, 2 amplos corredores que articulam com outros (de cobertura em abóbada de berço ou de aresta) estabelecendo uma malha ortogonal de circulação que assegura o acesso aos compartimentos, dispostos ao longo dos 4 alçados do imóvel. Do lado SE. do edifício, destaca-se pátio interior e nas suas proximidades, escadaria nobre conducente aos pisos superiores. |
Acessos
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Calçada da Estrela |
Protecção
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Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 250/2010, DR, 2.ª série, n.º 67 de 07 abril 2010 *1 / Incluído na Zona Especial de Proteção da Basílica da Estrela (v. 00010613) |
Enquadramento
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Urbano, isolado, destacado, implantado em meia-encosta, em posição altimétrica dominante e recuada relativamente ao eixo viário com que se articula. Integrado no extremo S. do quarteirão definido pelo jardim da Estrela, encontra-se delimitado a NO. e NE. por muros, que o separam do referido jardim, e articula-se nos lados SO. e SE. com prédios de rendimento que definem o quarteirão nesse extremo. Nas proximidades da Basílica da Estrela (v. PT031106170006) e da Capela do Senhor dos Navegantes (v. PT031106170424). |
Descrição Complementar
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Além do programa decorativo da capela composto por painéis azulejares, retábulo em talha dourada e pintura sobre tela da autoria de António ou Miguel de Paiva, merece atenção o trabalho em cantaria observado no lavabo à entrada da capela e nos túmulos da capela-mor constituídos por elementos de suporte de carácter zoomórfico - leões - e essas monumentais, bem como o trabalho em entarsia a animar o espelho dos degraus conducentes à capela-mor, a predela do retábulo e o altar-mor. Fora da capela destaca-se a escadaria nobre, com lanços rectos opostos em cantaria, com patamar intermédio animado pela presença de silhar de azulejos ao estilo de Jean Pillement (1728-1808) e por 2 floreiras cerâmicas neogóticas |
Utilização Inicial
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Religiosa: mosteiro masculino |
Utilização Actual
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Saúde: hospital |
Propriedade
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Pública: estatal |
Afectação
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Ministério da Defesa Nacional |
Época Construção
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Séc. 18 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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ARQUITETO: M. A. Pereira de Lima (1946). ENGENHEIRO: João Turriano (Frei) (séc. 17). PEDREIROS: João da Cruz (1715); Manuel Francisco (1715). |
Cronologia
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1571, 15 março - alvará de D. Sebastião declara que trabalhava no Mosteiro Afonso Álvares; 1572 - fundação do convento de Nossa Senhora da Estrela, da ordem de São Bento, por ação de Fr. Plácido de Vila-Lobos, Fr. Afonso Zorrilha e Fr. Pedro de Chaves, com o apoio do cardeal D. Henrique e com religiosos oriundos do mosteiro de São Martinho de Tibães, erigido na denominada Quinta de Campolide, propriedade então hipotecada que fora de Luís Henriques, Governador da Ilha de São Tomé; 1573, 24 dezembro - celebra-se a 1ª missa na igreja do convento, sendo 1º abade Fr. Plácido de Vila-Lobos; 1598 - é abade geral D. Gonçalo de Morais, posteriormente bispo do Porto; séc. 17 - feitura do dormitório novo por Frei João Turriano; 1615 - com a fundação do convento de São Bento da Saúde ou dos Negros, da mesma ordem e na proximidade do de Nossa Senhora da Estrela, este último passa a colégio e casa de estudo do Noviciado, enquanto os estudos teológicos passam a ter lugar no de São Bento da Saúde, sendo abade geral Fr. Leão de São Tomás; 1705 - uma descrição desta data refere o edifício como estando solitário e despido nos seus interiores; 1715, 26 março - contrato com Maneul Francisco e João da Cruz para a obra do colégio (COUTINHO: 380); 1755, 1 novembro - o terramoto causa danos significativos ao imóvel; 1758, 26 março - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco de Santa Isabel Felisberto Leitão de Carvalho, é referido o Mosteiro; 1797, 2 fevereiro - um aviso desta data determina que o colégio seja despejado para que no edifício se instale um hospital militar para utilização das tropas auxiliares britânicas; o imóvel ficará desde então na posse do Estado; 1805, 27 março - alvará régio que aprova o Regulamento dos Hospitais Militares; 1806 - o edifício funciona como hospital de inválidos; 1807 - um documento deste ano refere o hospital como estando "atulhado de doentes portugueses e franceses"; 1808 - o edifício do antigo colégio passa a servir como hospital do Corpo Expedicionário Inglês; 1817 - residem ainda do edifício do antigo colégio 5 monges beneditinos; 1818 - instala-se no edifício do Colégio de Nossa Senhora da Estrela a Secretaria dos Hospitais Militares e a Botica Geral do Exército; 1820 - após a Revolução Liberal, os serviços hospitalares militares são reestruturados abandonando-se o sistema regimental e adoptando-se o sistema de unidades hospitalares, com a ocupação dos conventos de São Francisco da Boa Hora e de Nossa Senhora da Estrela; 1823 - escontrava-se temporariamente instalada em parte do edifício do antigo colégio a Academia das Ciências de Lisboa; 1834 - no seguimento do decreto liberal que determina a expulsão das ordens religiosas, o hospital militar já instalado no edifício do antigo colégio beneditino de Nossa Senhora da Estrela, tem a designação de Hospital Militar de Lisboa; 1835 - realizam-se obras no hospital, as quais causam danos numa seara contígua, cujo rendeiro exige uma indeminização; 1851, o Decreto LXXXI de 6 de Outubro deste ano estabelece a instalação definitiva do hospital militar no colégio de Nossa Senhora da Estrela, sob a designação de Hospital Militar Permanente de Lisboa; 1899 - alguns novos pavilhões do hospital foram construídos na antiga cerca do convento do Santíssimo Coração de Jesus; 1910 - no seguimento da Proclamação da República a antiga igreja conventual, já desafetada do culto, foi sendo progressivamente despojada do seu património artístico; 1918 - 1923 - ampliação do edifício principal para o lado do Jardim da Estrela; 1926, 1 setembro - o hospital passa a designar-se Hospital Militar Principal; 1945 - a antiga igreja ainda funcionava como sala de jantar (tendo já sido sala de visitas) do hospital; 1946 - no contexto de uma campanha de obras sob a coordenação do Arquitecto M. A. Pereira de Lima, e resultante do empenhamento do Ministro da Guerra, do General D. Fernando Pereira Coutinho, Governador Militar de Lisboa, do Dr. Sacadura Botte Corte Real e do Cónego Pereira Campos, são recuperados elementos pertencentes à igreja do antigo colégio beneditino que se encontravam dispersos, designadamente na vizinha basílica da Estrela, designadamente o retábulo de talha dourada que já se encontrava numa igreja de Telheiras para aí ser colocado; 1947, 12 junho - reabertura da igreja ao culto; 1994, 12 setembro - proposta de classificação do edifício; 2006, 17 outubro - Despacho de aberuta do processo de classificação do vice-presidente do IPPAR; 19 setembro - proposta da DRLisboa para classificação do edifício do DRLisboa; 20 dezembro - parecer favorável do Conselho Consultivo do IPPAR, que dá parecer favorável à fixação da Zona Especial de Proteção; 2007, 12 junho - Despacho da Ministra da Cultura, a homologar a classificação e fixação da Zona Especial de Proteção. |
Dados Técnicos
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Paredes autoportantes |
Materiais
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Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro, azulejos |
Bibliografia
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ATAÍDE, M. Maia, (dir. de), Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Vol. V, Tomo III, Lisboa, 1988; CAEIRO, Baltazar Matos, Os Conventos de Lisboa, Lisboa, 1989; CORTES, Vítor, (coord. de), Hospital Militar Principal, Lisboa, 1992; COUTINHO, Maria João Fontes Pereira, A produção portuguesa de obras de embutidos de pedraria policroma (1670-1720). Lisboa, Dissertação de Doutoramento em História da Arte apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa, 2010, 3 vols.; História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa, vol. 1, Lisboa, 1950 (ms. datável de 1705 - 1707); MACEDO, Luís Pastor de, Lisboa de Lés-a-Lés, 3ª ed., vol. 1, Lisboa, 1981; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1955, Lisboa, 1956; RODRIGUES, Fernando Matos, Hospitais Militares, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. III. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DRELisboa/DRC, DGEMN/DSARH (EN 15) |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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AHM: 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 1, Nº63 ; A.H.M., 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 2, Nº 20 ; A.H.M., 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 3, Nº 10 ; A.H.M., 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 5, Nº 15 e Nº 32 ; A.H.M., 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 11, Nº 27 ; A.H.M., 3ª Divisão, 16ª Secção, Caixa 14, Nº 38 e Nº 64; CML : Arquivo de Obras, Procº nº 9.275 (requisitado desde 01.08.27 pela Divisão de Controlo de Qualidade da C.M.L.) |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1955 - obras de beneficiação nas instalações do Hospital pela Direcção dos Serviços de Construção e Conservação; Proprietário : c. 1999 / 2000 - obras de beneficiação e conservação geral (pintura de paramentos exteriores e interiores) |
Observações
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*1- DOF: Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela, actual Hospital Militar Principal.
o edifício foi aumentado do lado NO., pelo que o jorramento nesse alçado é apenas visível no extremo O.; o corpo correspondente ao aumento da edificação encontra-se ligado por um passadiço aéreo, a um outro edifício do hospital, posteriormente construído e localizado no seu alinhamento. *2 - de António Gomes Lopes e de sua mulher. *3 - um edifício com fins análogos, que concilia, como refere José-Augusto França, o laico com o religioso, do qual este último se evidencia pelo protagonismo que é conferido à igreja - dominante quer em termos de localização quer em termos de tratamento da resprctiva fachada |
Autor e Data
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Teresa Vale e Maria Ferreira / Sandra Costa 2001 |
Actualização
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