Palacete do Barão de Trovisqueira / Museu Bernardino Machado

IPA.00001122
Portugal, Braga, Vila Nova de Famalicão, União das freguesias de Vila Nova de Famalicão e Calendário
 
Casa unifamiliar neoclássica, inserida no contexto da chamada "Casa de Brasileiro", de planta em L invertido, de volumetria horizontalizante, com três pisos, o último constituído por água-furtada de três vãos voltada à fachada principal. Fachada principal revestida a azulejos industriais relevados e rasgada regularmente por vãos. Fachada posterior simples, percorrida ao nível do primeiro piso por sacada única, com estreitos corpos destacados, que corresponderiam a sanitários. Até aos anos 40 do século 20 existia uma ala lateral que albergaria mais dependências da casa incluindo cocheiras e outras de serviço. Originalmente junto à fachada posterior desenvolvia-se jardim. Interior com estreito vestíbulo decorado com azulejos industriais, abrindo lateralmente para salas, inicialmente utilizadas como escritórios, dando acesso a escadaria de madeira protegida por fina balaustrada riscada, coberta por clarabóia com estuques decorativos. Piso nobre com salas intercomunicantes, com acesso por corredores, e tectos com estuques decorativos. Último piso com duas amplas salas que deveriam corresponder a quartos e outras divisões esconsas. Os estuques apresentam decoração neoclássica com representação de deuses, das artes, da agricultura, navegação e comércio, putti, flores, frutas e ramagens. Possui tectos de estuque ricamente decorados, com várias temáticas sempre complementados por elementos fitomórficos. A escadaria apresenta interessante arranque em forma de cabeça de dragão com a data de construção do palacete e o monograma do barão.
Número IPA Antigo: PT010312480015
 
Registo visualizado 710 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Planta em L invertido, de volumetria horizontalizante, com coberturas diferenciadas em telhados de uma, três e quatro águas, com água furtada de três vãos, voltada à fachada principal e outra mais pequena voltada à lateral N., com clarabóia. Fachadas marcadas por elementos em cantaria de granito, presentes nas molduras dos vãos, embasamento, largo friso de separação dos dois registos, cunhais apilastrados e cornijas de remate, estas últimas sob beiral. Todas as janelas do edifício apresentam caixilho com bandeira decorada com motivos fitomórficos. Fachada principal voltada a E. revestida integralmente a azulejos industriais, de padrão floral relevado, monocromos a azul. Primeiro registo alternando portas de verga recta com portas em arco abatido, rematadas por estreita cornija, as três centrais elevadas por almofada decorada com motivo geométrico. As portas são envidraçadas à excepção da principal, com duas folhas, ricamente decoradas por urnas e festões. Segundo registo com três janelas de sacada única, com guarda de ferro, ladeadas por duas janelas de peitoril. São rematadas por cornija recta à excepção da central com frontão triangular. Sobre o segundo registo desenvolve-se o pano da água-furtada, rasgado por três janelas, com sacada única, protegida por guarda de ferro e urnas nos extremos, assente sobre a cornija de remate da fachada. As janelas são encimadas por cornija recta e ladeadas por óculos. Fachadas laterais e posterior rebocadas e pintadas de branco. A lateral N. é rasgada nos dois registos por janelas de peitoril, sendo o segundo dividido em dois panos, separados por pilastra, que se prolonga por elemento recortado para o registo inferior. A água-furtada é revestida a azulejos iguais aos da fachada principal e é aberta por janela de sacada encimada por cornija recta. A fachada lateral S. apresenta dois panos, um deles destacado e oculto pelo edifício adossado. O piso superior é percorrido por sacada única com guarda de ferro, que se prolonga para a fachada posterior. Esta última fachada é rasgada em cada registo por portas ladeadas por janelas. INTERIOR com acesso principal por estreito vestíbulo com silhar de azulejos industriais de padrão, com parras e outros motivos fitomórficos, policromos a azul e amarelo, pavimento em laje de granito e tecto de estuque decorado. Nas paredes laterais abrem-se portas de acesso, do lado direito a sala multimédia do museu e do lado oposto a sala ocupada por seguradora. Na parede testeira abre-se porta em arco pleno sobre pilastras, com bandeira decorada por vitral com motivo floral, sendo o arco emoldurado por elementos de estuque, compostos por acantos e concha sobre a pedra de fecho. Através desta acede-se à recepção, comunicante com sala de exposições temporárias, sala de reservas e a escadaria de acesso aos pisos superiores. As paredes da recepção e da caixa das escadas apresentam decoração de marmoreados. A escadaria, coberta por clarabóia com estuques decorativos, apresenta o primeiro lanço em granito, e os restantes, em madeira, protegida por fina balaustrada riscada, também de madeira e arranque com a figura de dragão, com data de 1857 e o monograma do barão de Trovisqueira "JFCT". Ao nível do segundo piso, do lado oposto do patamar de acesso às várias salas de exposição permanente, surge um mezanino, com acesso por porta na parede lateral da caixa das escadas. O patamar deste piso é emoldurado por arco pleno em talha policroma a branco e dourado, decorado com estrias e motivos fitomórficos. As portas neste patamar são igualmente emolduradas por arcos plenos de talha idêntica e decoradas nas almofadas por elementos fitomórficos dourados. Do lado esquerdo, ficam três salões intercomunicantes que se abrem para a fachada principal, sendo o central, o nobre, antecedidos por corredor longitudinal. Do lado direito, desenvolve-se pequeno corredor que comunica, de um lado com salão, e do outro com a sala de jantar e duas pequenas salas intercomunicantes. No último piso encontram-se mais duas salas e espaços esconsos chamados "forrinhos". Todas as portas do edifício apresentam bandeiras decoradas com motivo floral, algumas com vitral. Os pavimentos são em soalho, as paredes rebocadas e pintadas e os tectos em estuque decorativo nas áreas nobres, como é o caso do primeiro piso e de uma das salas do último, voltada à fachada principal.

Acessos

Vila Nova de Famalicão, Rua Adriano Pinto Basto, nº 75 *1

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, com fachada principal voltada a um dos principais eixos viários de Vila Nova de Famalicão, adossado a S. a edifício com a mesma altimetria, e do lado oposto, ladeado por caminho que conduz a pátio desenvolvido junto à fachada posterior, envolvido por edifícios de construção recente, com pavimento calcetado, pontuado por laranjeiras.

Descrição Complementar

ESTUQUES: Patamar do piso nobre com medalhão enquadrado por ramagens com a representação de duas figuras, uma feminina e outra masculina. Clarabóia com quatro medalhões rodeados por flores e acantos, representado Minerva, Mercúrio, Marte e Tétis (?). Salão nobre com medalhão central, enquadrado por outros quatro, mais pequenos, com molduras de elementos fitomórficos e florais; no medalhão central encontram-se representadas musas a tocar e a dançar e nos medalhões mais pequenos, cenas ligadas à agricultura, nomeadamente a vindima, à pecuária, às artes (escultura, arquitectura, pintura, música), à navegação, à construção naval e ao comércio. Nas salas que ladeiam o salão nobre cartela central com putti e flores, e nos cantos vasos de flores e motivos fitomórficos. Sala de jantar com cartela central representando figura feminina com coroas de louros, esfinges e a inscrição "Ano 1857". O tecto é ricamente decorado com ramagens, frutos, pratos de peixe e aves, talheres, galheteiros, copos e garrafas. Sala do segundo piso com medalhão representando Cupido e Psique, com decorações de flores e pássaros.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu / Serviços: seguradora

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: José Marinho (1998). EMPRESA: A. Ludgero Castro (1998).

Cronologia

1857 - Construção do palacete a mando de José Francisco da Cruz Trovisqueira, emigrante no Brasil, onde fez fortuna *2; 1861, 29 Agosto - o palacete já se encontra concluído e mobilado para receber o rei D. Pedro V, o infante D. João e toda a comitiva real; 1863, 25 Novembro - o rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia pernoitam no palacete, seguindo depois para Braga; 29 Novembro - a comitiva real volta a ser recebida no palacete após o seu regresso de Braga em direcção a Lisboa; o rei concede a José Trovisqueira o grau de Comendador da Ordem Militar de Cristo devido ao auxílio financeiro prestado aos portugueses que se encontravam em dificuldades no Brasil e a subscrições feitas em favor de famílias atingidas pela febre amarela, em hospitais de Lisboa e Porto; 9 Dezembro - a Câmara Municipal decide homenagear o comendador José Trovisqueira por ter hospedado a comitiva real na sua casa; 1864, 14 Janeiro - o rei D. Luís concede o título de barões de Trovisqueira a José Trovisqueira e sua mulher D. Maria da Ascenção de Mora-Varona e Araújo; 27 Janeiro - o barão é feito Fidalgo-Cavaleiro da Casa Real; 1883, Outubro - devido a dificuldades financeiras do barão, o palacete é vendido em hasta pública a Guilherme Teixeira Folhadela *3; o palacete é referido no aviso de arrematação como "casas nobres, com salas, quartos e numerosos compartimentos, lojas e escritórios nos baixos, cocheiras (...)"; o novo proprietário instala no primeiro piso o armazém "Guilherme Folhadela"; 1915 - o palacete é habitado por Mariana Folhadela de Macedo, que o havia herdado, e pelo seu marido Higino Folhadela Macedo; 1918 - falecimento de Higino Folhadela Macedo, mantendo-se a sua viúva à frente dos Armazéns Folhadela, instalados ainda no primeiro piso; 1944 - após a morte de Mariana Folhadela de Macedo, o palacete é vendido à firma Folhadela e Cª, de Álvaro Marques e Lino Simões; a ala S. é profundamente alterada e ocupada por armazéns; o palacete passa para posse da família Bacelar; 1957, 10 Janeiro - é iaí instalada a Escola Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão; séc. 20, anos 60 - o palacete é arrendado a vários inclinos; no primeiro piso instala-se a Companhia de Seguros Confiança e o gabinete de arquitectura do engenheiro A. Pinheiro Braga, o segundo piso é alugado ao Tribunal de Trabalho, e o último ao Orfeão Famalicense e à Juventude Musical Portuguesa; 1983, 5 Outubro - por ocasião das comemorações da implantação da República o Presidente da Câmara manifesta a intenção de criar um museu dedicado a Bernardino Machado; 1988, 30 Setembro - o palacete do Barão da Trovisqueira é adquirido pela autarquia à firma Construções Foco Lda., com o objectivo de aí instalar um museu de arqueologia; 1995, 25 Abril - contrato de comodato entre a Câmara Municipal e a família Machado de modo a preservar a memória de Bernardino Machado, conservando, valorizando e mantendo o seu espólio em exposição permanente; 1998 - projecto de recuperação do palacete pelo arquitecto José Marinho para instalação do Museu Bernardino Machado; as obras são feitas pela firma A. Ludgero Castro; concepção da exposição permanente por J. P. Martins Barata e Filipe Jorge; 2001, 28 Março - celebração de novo contrato de comodato relacionado com novos depósitos de espólio de Bernardino Machado; 15 Dezembro - inauguração do Museu Bernardino Machado.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito; molduras dos vãos, embasamento, cunhais, elementos decorativos, primeiro patamar da escadaria, em granito; portas, janelas, pavimentos e escadaria, em madeira; fachada principal, água-furtada da fachada lateral N. e vestíbulo revestidos a azulejos industriais; guardas das sacadas em ferro; portas e arcos da escadaria em talha dourada; tectos em estuque decorativo; cobertura em telha de aba e canudo.

Bibliografia

O Periódico, nºs 14 e 15, 13 e 18 de Outubro de 1883; VIEIRA, José Augusto, O Minho Pitoresco, Lisboa, 1886 / 1887; CARVALHO, V. César, Aspectos de Vila Nova IX Factos e Nomes, Vila Nova de Famalicão, 1955; ALVES, Jorge Fernandes, Emigração e Retorno no Porto Oitocentista, Porto, 1994; Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Roteiro Toponímico da cidade de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 1995; Barão de Trovisqueira - Reencontro, Museu Bernardino Machado, Vila Nova de Famalicão, 2001; Museu Bernardino Machado, Exposição permanente, Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Famalicão, 2001.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

CMVNF: 1998 - Recuperação do edifício, incluindo a reabilitação estrutural, remoção de elementos dissonantes tais como uma escada exterior em cimento, restauro de estuques, azulejos, escadaria, talha dourada dos arcos da escada e portas, marmoreados das paredes, policromias decorativas das portas e serralharia artística das grades.

Observações

*1 - Antiga Rua Formosa; *2 - José Francisco da Cruz Trovisqueira, 1º barão de Trovisqueira, nasceu em Vila Nova de Famalicão, na freguesia de Gavião, lugar de Trovisqueira, a 15 de Março de 1824, filho de lavradores abastados. Com apenas 10 anos emigrou para o Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro, onde fez fortuna no ramo comercial, regressando a Portugal em 1851 deixando os seus negócios entregues a três dos seus nove irmãos. Foi chefe concelhio do Partido Progressista, deputado às Cortes do Reino, vereador e rresidente em cinco mandatos à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão. Possuía ainda uma fábrica de fiação de lã, em Riba d'Ave, pioneira na introdução da energia hidráulica no processo de fiação da lã, no concelho. A sua influência política foi determinante na introdução do primeiro transporte urbano sobre carris ("americano") em Portugal, a circular primeiro no Porto; *3 - o palacete passou também a ser conhecido como Palacete Folhadela.

Autor e Data

João Santos 1996 / Joaquim Gonçalves 2006

Actualização

 
 
 
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