Ermida de Nossa Senhora dos Anjos / Capela de Nossa Senhora dos Anjos

IPA.00010947
Portugal, Lisboa, Lourinhã, União das freguesias de Lourinhã e Atalaia
 
Arquitectura religiosa, quinhentista, seicentista, rococó. Capela de planta longitudinal, com nave única, precedida por endonártex, e capela-mor mais estreita e baixa. Fachadas de linhas seiscentistas, com decoração sóbria e recurso ao endonártex, alternadas com molduras mais reboscadas, tipicamente rococós. Na fachada lateral N. acesso ao interior da capela. Nave coberta por falsa abóbada de madeira, coro-alto sustentado pelo endonártex e púlpito do lado do Evangelho. Arco triunfal de volta perfeita com pedra de armas no fecho, assente em pilastras toscanas. Capela-mor mais elevada com cobertura em abóbada de berço. Parede testeira inteiramente preenchida por retábulo em talha dourada e policromada. Capela remodelada em finais do séc. 18, com introdução de novos elementos decorativos, principalmente no interior, como são exemplos a decoração do púlpito, as molduras e portas existentes na nave, a balaustrada do coro-alto e o retábulo-mor. O uso da talha dourada, à mistura com falsos marmoredos, decorada com motivos florais, grinaldas, volutas e concheados, assim como o recurso a espelhos, como é o caso da sacristia, são de gosto tipicamente rococó.
Número IPA Antigo: PT031108010012
 
Registo visualizado 319 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta longitudinal, composta por nave única, precedida por endonártex, e capela-mor mais estreita, a que se adossam a N., junto à nave, sacristia de planta quadrangular e a S. sala do despacho e anexos. Volumes articulados, de dominante horizontal, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor, três águas na sacristia e uma água nos anexos. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com embasamento aparente demarcado a ocre; remate em beiral assente sobre cornija, pintada também a ocre, nas fachadas laterais e posterior. Fachada principal virada a E., enquadrada por cunhais de cantaria encimados por urnas, rematada por frontão aberto por pequeno óculo circular, enquadrado por cornija pintada a ocre, com cruz latina de braços trilobados, assente sobre plinto ladeado por volutas, no vértice. Ao centro, portal de acesso ao endonártex, fechado por portão, com arco de volta perfeita, demarcado no fecho por voluta, ladeado por pilastras rematadas por impostas, sobrepujado por janelão decorado por moldura recortada, com cornija circular no topo e inferiormente brincos. Paredes interiores do endonártex decoradas por silhar de azulejo industrial recente. Portal axial de arco abatido com moldura recortada, ladeado, superiormente, por duas inscrições epigrafadas. Do lado esquerdo, no ângulo das paredes, bailéus. Parede S. com painel de azulejos recente com representação de Nossa Senhora dos Anjos, junto ao topo do silhar. Na parede E. pequena placa cerâmica com inscrição. Pavimento em lage de cantaria e cobertura de madeira em tecto "saia camisa". Fachada lateral N., rasgada por dois portais. O primeiro de acesso ao endonártex, de arco de volta perfeita sobre impostas, e o segundo de acesso à nave, de arco abatido e moldura recortada, ladeado, superiormente, por dois janelões de arco abatido com modinatura idêntica à do portal. Precedendo a capela-mor, corpo da sacrista adossado, com pequena janela gradeada, e na fachada virada a E., portal, ladeado superiormente, do lado direito, por sineira recente, destacada da fachada, enquadrada por arco de volta perfeita. Fachada lateral S. com corpo adossado, com pequena janela de verga recta gradeada, na fachada virada a E., encaixado num segundo corpo, mais baixo e comprido, rasgado por portal de verga recta, ladeado por duas janelas gradeadas de moldura recortada. No corpo correspondente à capela-mor, duas janelas em capialço, uma delas mais pequena e gradeada. Fachada posterior a O., cega e rematada por empena com cruz latina de braços trilobados no vértice. INTERIOR: Paredes rebocadas e pintadas de branco. Nave percorrida por silhar de azulejo industrial recente, emitando padrão do séc. 17, coberta por falsa abóbada de madeira pintada de branco assente sobre cornija marmoreada a vermelho; pavimento de madeira, com patamar que precede o arco triunfal em pavimento cerâmico. Do lado do Evangelho, púlpito de base de mármore vermelho piramidal, escalonada, decorada com ornatos de dentículos, oválos, circulos enlaçados e acantos. Apresenta guarda plena, bojuda, policroma, com painel marmoreado verde, ao centro, recortado por filete dourado, enquadrado por marmoreado vermelho, com acantos inferiormente, e parapeito com cornija precedida de friso marmoreado rosa, entre filetes dourados. Acesso por portal marmoreado de verga recta estriada. Do lado direito portal de moldura recortada encimado por cornija angular, interrompida nas extremidades, com porta de almofadas recortadas, circundadas por filetes dourados, com volutas, acantos e motivos florais dourados na bandeira, que acede à Sala do Despacho, que comunica com corredor de acesso ao púlpito, coro-alto e instalações sanitárias. Do lado da Epístola, portal idêntico, que acede à sacristia, seguido de portal de verga recta, encimado por cornija, ladeado superiormente de dois janelões com vitrais representando S. Francisco de Assis e Santa Clara. Coro-alto sustentado pelo endonártex, com balaustrada em talha policromada, com marmoreados pontuados a dourados e pavimento de madeira; parede rasgada por vão com vitral representando Nossa Senhora dos Anjos. Arco triunfal em mármore vermelho, de volta perfeita com pilastras toscanas assentes em plinto de azeviche, com pedra de armas de calcário, entre volutas e concheados encimada por coroa real fechada, no fecho. A ladear o arco, nichos com peanhas de talha dourada a suportar imaginária. Capela-mor mais elevada, com pavimento cerâmico, coberta por abóbada de berço, de alvenaria pintada de branco, decorada com símbolo mariano, representado pelas letras A e M entrelaçadas e encimadas por coroa real fechada. Paredes decoradas por silhar de azulejo idêntico ao da nave. Parede testeira inteiramente preenchida por retábulo em talha dourada e policromada, com marmoreados a rosa, vermelho, azul e verde. De planta recta, com 3 eixos, rematado por frontão interrompido, apresenta camarim com trono encimado por maquineta com a imagem do orago, coberto por abóbada de aresta e ladeado por par de colunas coríntias estriadas. Sobre a banqueta, sacrário encimado pelo Crucificado. Nos eixos laterais, painéis marmoreados, ladeados por pilastras, semi-ocultas pelas colunas, de um lado, e pelo pano murário do outro, com imaginária assente sobre pequeno ressalto da cornija que percorre todo o retábulo. Altar paralelepipédico, com frontal em forma de urna e cartela ao centro. Todo o retábulo é decorado por motivos florais, grinaldas, volutas, óvulos e acantos. Sacristia com cobertura em forro de madeira, pintado de branco com florões nos cantos; arcaz de madeira, que ocupa todo o comprimento da parede, encimado por nicho com crucifixo, sobre painel de talha policroma marmoreada a amarelo, verde e vermelho, entre pilastras, com motivos dourados, ladeado por espelhos rectangulares. As paredes que ladeam o arcaz encontram-se parcialmente revestidas de talha, até à moldura dos vãos que a rasgam, de um lado, a porta que acede à nave e do outro janela. As restantes paredes encontram-se decoradas por silhar de azulejo industrial recente e lavabo de cantaria de calcário, com mármore vermelho no remate do espaldar.

Acessos

Alameda de Nossa Senhora dos Anjos; Rua D. Amélia Rêgo Coutinho; Avenida António José de Almeida. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,246086; long.: -9,314018

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Periurbano, ribeirinho, isolado, no limite da vila da Lourinhã, junto à Ribeira das Águas *1. Capela delimitada por adro murado de alvenaria rebocada e pintada de branco, capeado, calcetado, com muro interrompido a N. por degrau de acesso e a E. e a SO. por portões. Junto à fachada principal, cruzeiro composto por soco de planta quadrangular de 2 degraus, plinto paralelepipédico com inscrição a dourado, cruz latina com chanfro no topo dos braços e pequenos remates quadrangulares. No limite NE. do adro, a casa do ermitão, de planta rectangular, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, embasamento aparente, demarcado a cinzento e remate em duplo beiral. Dispõe de pequeno adro murado com acesso por portão junto à fachada principal e pequenos bancos de pedra junto à fachada posterior, virada para a capela. A E. pequeno jardim e N. parque infantil.

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: (Lápide direita do endonártex) "OS ESCRAVOS DE N S MANDARAO FAZER ESTAS OBRAS A SVA CUSTA NO ANNO DE 1674"; (Lápide esquerda do endonártex) "OS DEVOTOS ESCRAVOS DE N. SRª DOS ANJOS FISERAO ESTA OBRA T. RA VES A SUA CUSTA NOANO DE MDCCXCI SENDO PROVEDOR JOSÉ MIG.EL CORREA PEÇANHA ES. FIDALGO DA CASA DE S. MAGESTADE FIDELICIMA QUE DEOS GDE".

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR de VITRAIS: Mário Costa (pintor dos vitrais).

Cronologia

Séc. 16, 2ª metade - construção da capela e fundação da Confraria de Nossa Senhora dos Anjos; 1667 - auto de arrematação da construção da casa do ermitão; 1674, 29 Janeiro - arrematação da construção e colocação de grades nas janelas do edifício e construção da sacristia; 1674, 27 Abril - arrematação da construção da capela-mor; 1729, 7 Jun. - confirmação do Compromisso da Confraria pelo Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida; 1732, 14 Novembro - Breve do Papa Clemente XII, concedendo várias indulgências aos Confrades de Nossa Senhora dos Anjos; 1783, Agosto - a Mesa da Confraria requere à Rainha D. Maria I, autorização para realizar uma feira nos dias 28, 29 e 30 de Setembro de cada ano, para com o rendimento fazerem face às despesas para obras na capela, nomeadamente a construção de um muro para reter as águas do rio na ocasião de cheias; 1785, 7 Abril - o pedido é indeferido por despacho da rainha; 1791 - restauro da capela, segundo lápide; reconstrução do muro do adro; séc. 18, finais - emolduramento do janelão da fachada principal e das janelas da fachada S., construção dos portais que se abrem da nave para a sacristia e casa do despacho ou das sessões*2, colocação do retábulo-mor; 1863 - arranjo da cobertura, restauro de portas e janelas, reconstrução de muros e respectivo adro; 1866, 14 Outubro - doação de um manto de cetim azul, bordado a ouro, para a imagem de Nossa senhora dos Anjos, pelo Visconde Palma de Almeida; 1879, 28 Agosto - acta da mesa da Confraria dando conta que alguns devotos desejavam levar a imagem de Nossa Senhora dos Anjos para a Igreja do Castelo (v. PT031108010002), para aí a festejarem; 1887 - substituíção do pavimento da sala do despacho por ladrilho de mosaico, arranjo do pavimento do adro no lado O. e S.; 1914, 19 Março - o Compromisso da Confraria é reformulado por alvará do Governo Civil de Lisboa; 1925 - subscrição pública promovida Fortunato José de Carvalho para o restauro do retábulo-mor; 1940, 15 Agosto - após a Concordata são aprovados novos estatutos e é pedida a instituição canónica da Confraria; 1956 - a capela encontrava-se em avançado estado de degradação; a expensas de António Inácio Salsinha, membro da mesa da Confraria, são levadas a cabo grandes obras de restauro *3; 1993, 14 Novembro - inauguração das instalações do Centro das Actividades Escutistas do Agrupamento nº 489 na casa do ermitão.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura de calcário rebocado, interior e exteriormente; cantaria de calcário nos cunhais, molduras, cruzes, urnas, bailéus, cruzeiro, e lavabo; plinto do arco triunfal em mármore preto; arco triunfal, base do púlpito, moldura da porta de acesso ao púlpito, remate do espaldar do lavabo em mármore vermelho; cobertura em telha cerâmica; azulejo industrial recente no endonártex, nave, capela-mor e sacristia; portões de ferro; coberturas do endonártex, nave e sacristia, balaustrada do coro-alto, pavimentos da nave e coro-alto, retábulo-mor e arcaz de madeira; janelões com vitral.

Bibliografia

Guia de Portugal, 2º vol., Lisboa, 1927; Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa - Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço, Lisboa, 1963; CIPRIANO, Rui Marques, SOUSA, Teresa Maria Farto Faria de, Património Religioso Edificado do Concelho da Lourinhã, Lourinhã, 2001; CIPRIANO, Rui Marques, Vamos falar da Lourinhã, Lourinhã, 2001.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

1925 - restauro do retábulo-mor; 1931 - colocação de portões de ferro no endonártex; 1956 - picagem e reboco de todas as paredes interiores e exteriores; substituição do madeiramento do telhado; colocação de pavimentos; revestimento da nave e endonártex até meia altura com azulejos azuis e brancos; colocação de um painel de azulejos no endonártex de Nossa Senhora dos Anjos; colocação de cantaria no arco da fachada S. do endonártex; colocação de bancos na capela; 1963 - colocação de vitrais nas janelas pela oficina de J. Alves Mendes; 1993 - restauro da casa do ermitão.

Observações

Segundo a lenda teria aparecido neste local, em cima de um loureiro, uma imagem de Nossa Senhora com o menino. A imagem descoberta por um pastor foi levada para a Igreja do Castelo (v. PT031108010002), mas no dia seguinte apareceu no local onde fora encontrada, erguendo-se então uma ermida naquele mesmo local, pela Confraria de Nossa Senhora dos Anjos. Segundo Frei Agostinho de Santa Maria, por volta do ano de 1640, Frei Sebastião da Piedade, religioso recoleto de S. Francisco, após ter celebrado missa na capela, terá picado a ponta do pé da imagem com um alfinete, tendo saído uma gota de sangue. Passado algum tempo, o Padre Miguel Jorge, Beneficiado da Matriz, resolveu fazer o mesmo, e aconteceu o mesmo fenómeno. Segundo Frei Agostinho ambos morreram pouco tempo depois. De acordo com uma lenda local, terá havido uma grande seca, ameaçando destruir todas as culturas, e o povo terá feito uma procissão com a imagem desde a capela até à Igreja do Castelo, seguindo-se uma novena para pedir chuva. As preces foram ouvidas começando a chover durante a novena e parando assim que esta acabava. Isto verificou-se sempre que eram feitas as novenas. Iniciaram-se assim as cerimónias que tinham início no quinto domingo após a Páscoa, quando a Irmandade da Misericórdia levava a imagem em procissão até à Igreja do Castelo, onde era colocada no altar-mor e aí se rezava missa até à quinta-feira da Ascenção. Nesse dia os representantes da Câmara Municipal conduziam a imagem em procissão até à capela; *1 - também chamada Rio dos Mouros; *2 - teria sido a primitiva sacristia; *3 no endonátex encontra-se um registo de azulejos, com a data de 1956 assinalando o restauro.

Autor e Data

Joaquim Gonçalves 2002

Actualização

 
 
 
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