Capela e Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim

IPA.00010517
Portugal, Faro, Alcoutim, União das freguesias de Alcoutim e Pereiro
 
Arquitectura religiosa, seiscentista e de saúde do século 20. Capela de misericórdia de nave única e capela-mor, com fachada principal terminada em empena e rasgada por portal de verga recta. Interior completamente desnudo e muito alterado. O edifício do hospital dispõe-se perpendicularmente à capela, tem planta rectangular e fachadas de dois e três pisos, a posterior contrafortada, rasgadas por vãos rectilíneos.
Número IPA Antigo: PT050802010008
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Planta rectangular irregular composta por capela de longitudinal de uma nave e pelo antigo hospital rectangular, disposto perpendicularmente à mesma. Volumes escalonados com coberturas em telhado de duas águas, na capela e no hospital. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com faixa em azul claro na fachada principal e parte da lateral S., terminadas em cornija de betão e beirada simples. CAPELA: Fachada principal virada a E., terminada em empena coroada por pináculos piramidais nos cunhais sobre plintos paralelepipédicos de duas secções e por cruz em ferro sobre plinto igualmente de duas secções e elemento campaniforme; é rasgada por portal de verga recta, gravada ao centro com motivo circular formando ondas, encimado por cornija, e por janela rectangular, sem moldura; ladeia o portal lápide de mármore com inscrição alusiva ao nível da cheia a que o Guadiana chegou a 7 de Dezembro de 1876. Fachadas laterais da capela cegas, a esquerda coroada por sineira moderna, em arco abatido sobre pilares, albergando sino. INTERIOR de espaço único, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, tecto d estuque de duas águas e pavimento cerâmico integrando ao centro três lápides sepulcrais, inscritas, protegidas por carpete, sobre as quais surge mesa com tampo de mármore para deposição dos caixões. Ladeia o portal pia de água benta cilíndrica, caiada. À parede testeira encosta-se mesa de altar moderna paralelepipédica, de madeira, sustentando imagem de Cristo na cruz e na parede existem quatro mísulas com as imagens de Cristo atado à coluna, e as de vestir de Nossa Senhora das Dores, da Virgem e São João. HOSPITAL: Fachada principal virada a S., de três panos e de dois pisos, rasgados por vãos rectilíneos, com as molduras pintadas, as janelas formando falsos brincos rectos; o primeiro pano, mais alto que a capela, é rasgado pela porta travessa da primitiva nave, posteriormente ocupada parcialmente pelo Centro de Saúde, com moldura de cantaria e verga recta com inscrição e três janelas de diferentes tamanhos, e, ao nível do segundo piso e no alinhamento das inferiores, por três janelas idênticas. No segundo pano abrem-se porta e duas janelas de peitoril, uma em cada piso e no terceiro, uma outra porta e janela no piso térreo e duas janelas no segundo. Fachada posterior de três pisos, os dois primeiros com contrafortes de esbarro, rasgando-se no piso térreo amplos vãos rectilíneos correspondendo a montras de estabelecimento comerciais e nos superiores janelas de peitoril e um óculo circular.

Acessos

Rua D. Fernando, Rua da Misericórdia nº 2

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, meia encosta, adaptado ao declive do terreno, adossado a O. a edifícios da malha urbana. Ergue-se na entrada N. da vila, numa das suas artérias mais importantes, perto do largo de maior preponderância administrativa, onde se situa a Câmara Municipal e o centro comercial da localidade. As fachadas S. e N. constituem frentes de rua, sendo a virada a N. e ao rio afrontado por largo passeio, pontuado de árvores e tendo plinto com busto de bronze do Dr. João Francisco Dias e a inscrição: AO DR. JOÃO FRANCISCO DIAS GRANDE BENENMÉRITO E MÉDICO DESTE CONCELHO 1957; a fachada principal, a E., faz gaveto, tendo frontalmente pequeno adro com lance de degraus semicirculares. Desfruta de uma posição privilegiada em relação à malha urbana da vila, dando início à encosta do Castelo de Alcoutim (v. PT050802010004).

Descrição Complementar

A lápide que ladeia o portal axial da capela tem a inscrição: A ESTA ALTURA CHEGOU A ENCHENTE DO GUADIANA NO DIA 7 DE DEZEMBRO DE 1876. O portal da fachada lateral S. tem a inscrição ESTA OBRA MANDOV FAZER AFONSO MADEIRA CORVO FAMILIAL DO SANTO OFÍSIO 1628. Na nave existe lápide sepulcral com a inscrição AQUI JAZ O CAPITAM MOR JOSÉ DE BRITO MAGRO DA VILA DE ALCOUTIM QUAZE PERPÉTUO PROVEDOR DESTA SANTA CASA DURANTE SUA VIDA O QUE MAIS SE EXMEROU EM PROMOVER AS FELECIDADES DELLA FALESCEO NO DIA 12 DE MAIO DE 1824 PADRE NOSSO AVÉ MARIA. A segunda lápide tem a inscrição: AQUI JAS D. ANNA JACINTA ROZA TEIXEIRA DE BRITO SOLTEIRA FILHA DO CAPITAM-MOR JOZÉ DE BRITO MAGRO PROUEDOR DESTA CAZA E ACTUAL ZELADOR DA MESMA FALECEO A 10 DE SETEMBRO DE 1888. PADRE NOSSO AVÉ MARIA. A terceira lápide tem a inscrição SEPULTURA DE MARTIM VILAO E SVA MOLHER ERDEIROS ERA 1513. O PRIMEIRO SEPVLTADO NESTA CASA. PADRE NOSSO AVÉ MARIA. Junto a uma das portas do hospital existe a lápide com a inscrição HOMENAGEM AO FUNDADOR DESTE HOSPITAL DR. JOÃO FRANCISCO DIAS PELOS RELEVANTES SERVIÇOS PRESTADOS AO POVO DESTE CONCELHO A COMISSÃO 5-4-1942.

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade / Funerária: capela mortuária / Política e administrativa: política e administração central / Comercial: loja

Propriedade

Privada: misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PEDREIRO: Manuel da Orta (1720). PINTOR: João S. Leiria (1885).

Cronologia

1513, anterior - data provável da instituição da Misericórdia de Alcoutim e construção da primitiva capela; 1513 - data no túmulo de Martim Vilão, o primeiro sepultado na casa; 1628 - data inscrita no portal lateral virado a S., provavelmente assinalando a construção da capela actual por Afonso Madeira Corvo, familiar do Santo Ofício; 1700 - desde esta data que a Casa do Andador, que ficava junto à igreja a E. e a S., confrontando com a R. da Misericórdia, pertencia à Misericórdia; 1718 - despendem-se $550 com a limpeza do desaparecido celeiro; 1720 - o livro de contas da igreja refere despesa de 1$600 com um concerto que o pedreiro Manuel da Orta fez na Misericórdia; 1723 / 1724 - despesa de 2$750 " com o carpinteiro que fez as rexas e obras da Santa Casa"; 1745 - data do Compromisso da Misericórdia de Lisboa existente no arquivo da Misericórdia de Alcoutim e pelo qual a mesma se devia reger; 1747 - o Pe. Luís Cardoso refere que Alcoutim " não tem casa de Misericórdia, mas tem uma Albergaria, na qual recolhem pobres e dão suas esmolas e enterrão aos pobres da Freguesia; e todos os anos em dia da visitação de Santa Isabel fazem sua eleição das pessoas que hão de servir no anno vindouro, as quais fazem aquella despeza das rendas da mesma Casa, e dão Carta de Guia aos pobres passageiros; do mesmo modo he também o Hospital, que sómente consta de outra igreja, com as mesmas circunstâncias da Misericórdia" (CARDOSO, 1747); 1755, após - na publicação da 2ª edição da sua obra, o Pe. Luís Cardoso refere a "Irmida" da Misericórdia "com sua Caza aonde fazem todos os annos festa no dia da Visitação" e que a mesma não tinha hospital; 1768 - despesa de 10$560 com pinturas na igreja; 1779 - referem-se diversas obras: pintura das escadas do púlpito, estantes e armário ($800), pintura do armário velho ($600), pintura de oito bandeiras, pagando-se por cada uma $400, encarnação da imagem São João (1$100) e por colocar os dedos na imagem do Senhor ($480); 1783 - despendem-se 22$420 com "o tabuado e barrotes com que se estradou a igreja" e $480 com " o levantar os ladrilhos para assentar a madeira e levar a terra"; 1789 - relação dos objectos que se entregaram ao Tesoureiro e na qual figuram paramentos, um cálice, um missal e sua estante, um turíbulo de prata, 4 castiçais em pau-preto, um caixão de sacristia, móveis da sala do despacho e imagens de Nossa Senhora, Santa Maria Madalena, São João Evangelista e Santo Cristo; 1792 - o Tombo particular dos bens da Misericórdia refere dois crucifixos, um do trono e outro " que também serve na tumba", e as imagens de Cristo e Santa Isabel; Abril - devido à grande falta que a Misericórdia tinha de uma imagem de Cristo crucificado para sair na 5ª-feira Santa, a Mesa determina que se encomende um na condição de poder servir no enterro de 6ª-feira Santa; 1792 / 1793 - despesa de 28$860 com o mestre carpinteiro e madeira para a "samblage da capella-mor", com o mestre pedreiro servente e aviamentos para as referidas obras; 1793 - o Tombo particular dos bens da Misericórdia refere a desaparecida mesa de reuniões da casa do despacho, redonda, uma caixa e bancos; existiam 7 bandeiras e 8 com a cartadeira; séc. 19 - a Misericórdia possuía um antigo albergue junto à igreja, com as casas caiadas, mas trocou-as por outras na Rua das Flores, que eram do alferes João Lourenço; 1819 - data pintada no arco triunfal, posteriormente demolido; 1824 - data na lápide sepulcral de José de Brito Magro, capitão-mor de Alcoutim, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim nos últimos anos do séc. 18, devendo-se-lhe muitas das obras a que a igreja foi sujeita e respectivo engrandecimento do recheio; 1827, 30 Julho - pelo Inquérito feito pelo Secretário dos Negócios do Reino, sabe-se que a Misericórdia se encontrava em estado miserável, não tinha livros antigos a não ser o Compromisso; 1834 - na sequência de uma epidemia de cólera em Espanha, a Misericórdia aprontou mais 6 ou 7 camas e contratou duas pessoas para servirem de enfermeiros com receio do alastramento da epidemia a Portugal; 1835 - despesa de 12$435 com uma bandeira "acartedera", sendo 8$600 com a pintura, $670 com o "caxote", $200 do frete, $500 de preguinhos dourados, $665 de madeira, $240 de franja verde e outras pequenas verbas; 1838 - despendem-se 4$240 com " o concerto da igreja e hospital com o pedreiro servente, cal, telhas"; 1854, 2 Junho - acórdão trocando novamente as casas do albergue dos pobres então na Rua das Flores, a requerimento de Manuel José Trindade, por outras que possuía na Rua Direita; 1876, 7 Dezembro - grande cheia do rio Guadiana inundou toda a parte baixa da vila, atingindo o nível do portal axial da igreja, obrigando ao encerramento da mesma e à trasladação das imagens para a Igreja Paroquial (v. PT050802010013); 1878,1 Abril - os mesários negam-se a contribuir para as obras da igreja paroquial, também atingida pelas cheias, devido ao estado deplorável da igreja da Misericórdia; para a poder reparar, alegavam ter de contrair um empréstimo, devido à igreja ainda estar sem soalho e devido a outros reparos urgentes que se tinham de fazer para a poder abrir ao culto; 1879, 5 Outubro - Mesa decide o arranjo do soalho, a cadeira da mesa com as devidas molduras e seguranças, o arranjo do púlpito e segurar a tribuna, de modo simples, mas com toda a segurança; Novembro - abertura da igreja ao culto e reposição nos altares das imagens recolhidas na Paroquial; o Tombo dos bens da Misericórdia descreve a casa do andador como "uma casa que comunicava com a igreja por nascente por O. com Manuel José Trindade Lima, por S. com a Rua da Misericórdia e por N. com a igreja; o Tombo refere ainda a casa que servia de albergue dos pobres na Rua dos Lagares, a qual parece ter passado para a Misericórdia por meio de um legado testamentário; 1881 - data do último Inventário da Misericórdia; 1885, Março - convocação da Mesa para saber se havia fundos para pintar a "capela da igreja"; o provedor Manuel A. Torres manda restaurar as pinturas do arco triunfal por João S. Leiria, conforme indicava inscrição entretanto desaparecida; 1897, cerca - segundo Goodolphim, a Misericórdia tinha de receita e despesa 64$000, de capital nominal 600$000 e não tinha hospital nem albergue; 1968 - a igreja ainda tinha o arco triunfal com as armas de D. João V pintadas, o púlpito com decoração marmórea, bem como os pendões setecentistas, dos quais apenas um figurando a bandeira real e outro o emblema das Misericórdias estavam em uso encontrando-se os restantes em muito mau estado, num esconso por debaixo da tribuna; já desaparecidas do grupo escultórico do Calvário a imagem de Santa Maria Madalena bem comos as alfaias litúrgicas e paramentaria (PINTO, 1968); 1942, cerca - reconstrução e adaptação da sacristia, casa do despacho e casa do andador, a hospital por iniciativa do médico João Francisco Dias; 1973 / 1974 - supressão da capela-mor pela adaptação das antigas dependências da Misericórdia a Centro de Saúde.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; cornijas de betão; molduras dos vãos em cantaria de calcário; lápides de mármore; portas e caixilharia de madeira, metálicas e de alumínio; vidros simples e martelados; cruz de ferro; cobertura de telha.

Bibliografia

CARDOSO, Pe. Luís, Dicionário Geographico, Vol 1 e 2, 1747, 1757; CUNHA, Luís, "Irá perder-se a vetusta igreja da Misericórdia de Alcoutim?", Jornal do Algarve, 22 de Setembro de 1973; LAMEIRA, Francisco, Alcoutim, Alcoutim, Câmara Municipal de Alcoutim, 1994; LAMEIRA, Francisco e GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa, Livros Horizonte, 2ª ed., 1998; NUNES, António Miguel Ascensão, (José VARZEANO), Alcoutim - Capital do Nordeste algarvio (subsídios para uma monografia), Alcoutim, Câmara Municipal de Alcoutim, 1985; NUNES, António Miguel Ascensão, (José VARZEANO), Saúde e assistência em Alcoutim no século XIX, Alcoutim, Câmara Municipal de Alcoutim, 1993; PINTO, Maria Helena Mendes e PINTO, Víctor Roberto Mendes, As Misericórdias do Algarve, Lisboa, Ministério da Saúde e Assistência, 1968; RODRIGUES, Manuel, A escultura de madeira no concelho de Alcoutim do séc. XVI ao séc. XIX, Faro, Comissão de Coordenação da Região do Algarve, 1985.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; Arquivo da Misericórdia de Alcoutim: Livros de Contas da Misericórdia (1719 - 1723, 1750 - 1790, 1790 - 1807) ;Tombo particular dos bens da Misericórdia (1773 - ; documentação vária (1794 - 1879 ), Assento de Irmãos e acórdãos de Mesa 1794 - 1887)

Intervenção Realizada

Santa Casa da Misericórdia de Alcoutim: 1998 / 1999 - arranjos pontuais no telhado; 2001 - restauro integral do telhado; posteriormente - substituição do pavimento de tacos por pavimento cerâmico e tecto da capela.

Observações

Fotografias de meados do séc. 20 documentam a capela com tecto em masseira e capela-mor pouco profunda, precedida por vários degraus, arco triunfal de volta perfeita e parede envolvente pintada a marmoreados fingidos possuindo duas portas laterais; na parede testeira tinha vão em arco de volta perfeita, sobre pilastras, albergando imagem do Crucificado entre duas imagens, ladeado por duas outras sobre mísulas. No intradorso do arco triunfal existia a inscrição "Esta reteficação de pintura mandou fazer o provedor Mannoel A. Torres e a mesa que serviu em 1885 e feita por João S. Leiria".

Autor e Data

Patrícia Viegas 2000 / Paulo Fernandes 2001 / Paula Noé 2010

Actualização

 
 
 
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