Edifício do Animatógrafo do Rossio / Ourivesaria Ferreira Marques & Filhos

IPA.00010115
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Edifício residencial multifamiliar e comercial pombalino, onde foi integrado um animatógrafo Arte Nova. Animatógrafo dispondo de fachada decorada ao gosto Arte Nova, com influências da Escola Franco-Belga de Horta e Guimard, conjungando o emolduramento dos vãos em madeira, por entalhamento, com 2 painéis de azulejos figurativos, e em policromia, entre as portas de entrada e a bilheteira. No conjunto, predominam as formas ondulantes, espessas e movimentadas, recortadas sobre os vãos com bandeiras. Os painéis de azulejos, de inspiração simbolista, dispõe igualmente de molduras entalhadas. A decoração de fachada do Animatógrafo constitui um exemplar singular no panorama da Arte Nova portuguesa e raro no contexto internacional pela utilização daquela linguagem na decoração de um cinema. Tem igualmente expressão no conjunto de fachadas redecoradas na Baixa pombalina durante o séc. 20, participando das iniciativas que romperam com a austeridade daquela arquitectura.
Número IPA Antigo: PT031106480638
 
Registo visualizado 951 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial multifamiliar  Edifício  Edifício residencial e comercial  

Descrição

De planta rectangular, o edifício apresenta volumetria paralelepipédica, sendo a cobertura homogénea efectuada por telhados a 2 águas. Fachada principal a E. organizada em 6 pisos sendo que os dois últimos são mansarda e águas-furtadas. Todos os pisos apresentam janelas de peito, exceptuando o primeiro piso que é ocupado pelo Animatógrafo do Rossio. Este é caracterizado por ter uma decoração de Arte Nova aplicada à fachada de origem. Apresenta 2 portas laterais e um vão que servia de bilheteira, ambos com bandeira em vidro. Na bandeira da bilheteira pode-se ler a designação do estabelecimento (Animatógrafo do Rossio). Emoldurando os 3 vãos, uma decoração Arte Nova em talha pintada de cor verde, bastante volumosa e sinuosa, lembrando caules de plantas. A ladear as portas, encontram-se 2 espaços destinados aos cartazes cinematográficos e, entre a bilheteira e as portas laterais, 2 painéis de azulejo policromos (Queriol - 1907), subordinados ao tema da luz eléctrica *1 representando 2 figuras femininas que seguram candeeiros eléctricos (iluminando o mundo) com formas ondulantes, de tons suaves e esbatidos*2. Fachada lateral N.: com igual número de pisos sendo que nesta fachada a janela central do 2º piso é de sacada e encimada por frontão simples. No piso térreo, ourivesaria " Marques Ferreira & Filhos" que se caracteriza pela fachada em ferro trabalhado pintado a cor verde. É constituído por quatro montras e portão em grade de ferro forjado com as iniciais dos proprietários a cor dourada. As montras são rematadas por enfeites decorativos e palavras alusivas à ourivesaria. Piso térreo coberto por toldo de ferro e ao estilo Arte Nova.

Acessos

Rua dos Sapateiros, n.º 225 - 229

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966)

Enquadramento

Urbano, flanqueado, entrada para o edifício e Animatógrafo feita por uma rua secundária e estreita (Rua dos Sapateiros), com acesso directo pelo Arco do Bandeira (Praça D. Pedro IV). Acesso à loja " Ferreira Marques & Filhos " pela Praça D. Pedro IV.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: edifício residencial e comercial

Utilização Actual

Residencial: edifício residencial e comercial / Cultural e recreativa: animatógrafo

Propriedade

Privada: sociedade

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR DE AZULEJO: Queriol

Cronologia

1907, 8 Dezembro - abre ao público o animatógrafo com uma fita de grande metragem intitulada "A Aventureira", o salão de cinema mais luxuoso da capital tem por proprietários os Srs. Correia & Correia e a sua instalação ficou orçada em dez contos*3; 1908 - a empresa exploradora opta por um programa de espectáculos de variedades, construindo então um palco e contratando diversas cançonetistas espanholas; 1909 - tornou-se teatro infantil, levando a cena várias peças representadas por crianças; 1915 - dissolução da Companhia, voltando a exploração do espaço para cinema; 1929, 9 Abril - morre José Cardoso Correia, passando o cinema para o seu irmão Ernesto Cardoso Correia, Eduardo Teixeira e para o seu velho empregado Júlio Barros; 1984 - a Associação Portuguesa de Realizadores de Filmes propõe que a sua sede passe para este espaço, mas tal nunca veio a concretizar-se; 1994 - reabre com espectáculos eróticos; 1994 - protocolo entre a Empresa Olimpo e a Escola Superior de Artes Decorativas para um projecto de recuperação da fachada, intervenção que não veio a concretizar-se.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Alvenaria mista, azulejo industrial, reboco pintado, cantaria de calcário, talha pintada, vidro

Bibliografia

FREIRE, João Paulo, Lisboa do meu tempo e do passado, Vol. 2 Lisboa, 1929 - 1930; Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Lisboa - Tomo II, Lisboa, 1975; ALMEIDA, Pedro Vieira de e FERNANDES, José Manuel, História da Arte em Portugal, Vol. 14, Lisboa, 1986; RIO - CARVALHO, Manuel, História da Arte em Portugal, Vol. 11, Lisboa, 1986; FERNANDES, José Manuel, Cinemas de Portugal, Lisboa, 1995; VIEIRA, Joaquim, Portugal Século XX, Lisboa, 1999

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras, Proc. nº 13616

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo Fotográfico, Fot. nº A 7703

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Proc. nº 13616

Intervenção Realizada

2003 - obras de renovação na ourivesaria.

Observações

*1 - a luz eléctrica era uma preocupação para os artistas da Arte Nova. Sendo o cinema, uma grande novidade do início do séc. XX, a escolha do tema "luz" é puramente simbolista; *2 - estes painéis integram profundamente os elementos da fachada, pois as linhas sinuosas são aqui continuadas pelos caules das flores, os cabelos das figuras femininas e os fios que conduzem a corrente eléctrica. A tonalidade dos azulejos é muito característica desta época: tons suaves e esbatidos. *3 - na época da construção do Animatógrafo do Rossio, apenas existiam o Animatógrafo dos "Armazéns do Chiado" e o "Music-Hall" na Avenida da Liberdade.

Autor e Data

Marta Airoso 2001/ Luísa Castro-Caldas 2004

Actualização

 
 
 
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