Castelo de Ozêzere / Castelo do Zêzere

IPA.00035633
Portugal, Santarém, Vila Nova da Barquinha, Praia do Ribatejo
 
Castelo desaparecido, (re)construído na segunda metade do séc. 12, pela Ordem do Templo, possivelmente sobre um outro mais antigo, visto o documento de doação explicitar doar o castelo de Ozêzar e seu termo. Implantado em local estratégico, sobranceiro à zona de confluência entre o rio Tejo e o Zêzere, integrava-se na rede defensiva do vale do Tejo, formando linha com os castelos Templários da Cardiga, também na margem norte (v. IPA.00002038), e o de Almourol (v. IPA.00003404). Desde muito cedo, deve ter sido abandonado, já que no início do séc. 16, o castelo estava "muy damnificado, e a mayor parte delle deribado por terra", tendo a Ordem de Cristo no local várias terras emprazadas, com casas, uma delas tendo associado um celeiro, e outra tendo uma estalagem, uma adega, um palheiro, um forno, uma estrebaria, ali se erguendo também a igreja alpendrada de Nossa Senhora do Zêzere, construída ainda em finais do séc. 12, mas demolida no início do séc. 20. O fato de não se conhecer nenhuma descrição ou representação do castelo de Zêzere, não possibilita a sua definição tipológica ou caracterização. Mais tarde, o monte do castelo voltou a ter importância estratégica, visto permitir defender uma zona de penetração inimiga. Assim, existe um projeto, da segunda metade do séc. 18, para a construção de uma ampla fortificação à moderna, por ordem real, com grande armazém de pólvora, de que apenas foi construída uma pequena parte, e um desenho de 1828 documentando a existência de três baterias para defesa da ponte militar de barcas de acesso à vila de Constância. Por estas razões, torna-se difícil datar o pano de de muralha ainda subsistente.
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Das estruturas fortificadas subsiste pequeno pano de muralha, em alvenaria de pedra, posto a descoberto apenas quando, ocasionalmente, se procedem a trabalhos de limpeza e remoção de vegetação.

Acessos

Praia do Ribatejo, Rua Professor Mateus. WGS84 (graus décimais) lat.: 39,472742; long.: -8,340407

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, numa colina formando um esporão avançado sobre a margem norte do rio Tejo e na confluência do rio Zêzere, seu afluente, com encosta de declive médio-acentuado, dominando a passagem do Zêzere, a sua foz, e a antiga povoação de Punhete (Constância). A colina é coberta por pinhal, mato e vegetação arbustiva e herbácea, encobrindo estruturas subsistentes dos edifícios que se erguiam no local. No topo implanta-se atualmente o Cemitério de Praia do Ribatejo.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Desaparecido

Propriedade

Afectação

Época Construção

Séc. 12 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO MILITAR: Miguel Luis Jacob (1762, cerca).

Cronologia

1169, 07 outubro - D. Afonso Henriques doa o castelo de Ozêzar (Zêzere) e seu termo à Ordem do Templo, na pessoa do mestre Gualdim Pais; o termo do Castelo de Zêzere é definido, a norte pelo rio Nabão, a sul pelo rio Tejo, a nascente pelo rio Zêzere, e a poente por um limite que tendo início a norte na foz da ribeira de Bezelga com o rio Nabão, se dirigia pelo "monte de Alfeigiadoa" para sul até Tancos no rio Tejo; na mesma carta é confirmada a doação do Castelo de Ceras (Tomar) à mesma Ordem, ocorrida em 1159, e é-lhe doado o Castelo da Cardiga (concelho da Golegã); pouco depois, provavelmente, D. Gualdim Pais manda (re)construir o castelo do Zêzere; 1171 - data das inscrições existentes nos castelos de Pombal e de Almourol, onde se refere que D. Gualdim Pais fora responsável pela construção dos castelos de Tomar, Zêzere, Almourol, Cardiga, Idanha-a-Velha e Monsanto; 1174 - D. Gualdim Pais concede foral ao Castelo de Zêzere e seu termo com o objetivo de atrair e fixar povoadores; o nome das testemunhas como "Boninus", "Broes", "Arlote" e "Pouvas", levaleva João José Alves Dias a supor que um núcleo de estrangeiros de além Pirinéus se havia estabelecido no local; séc. 12, final - construção de uma capela dedicada a Santa Maria do Zêzere, junto ao Castelo do Zêzere, e oferecida ao papa Urbano III (1185-1187), que a isenta de toda a jurisdição ordinária e a torna "imediata sujeita à Santa Sé Apostólica"; 1186 ou 1187, janeiro - bula "Justis pententium desideriis" do mesmo papa integra a capela no território "Nullius Diocesis", não dependente de nenhum bispo de Portugal; 1188 - data da primeira referência documental ao comendador da região do Zêzere, Almourol e Cardiga, como comendador de Almourol, que é D. Gil; 1220 - 1229 - a igreja de Sancta Marina de Ozezar consta da lista de igrejas de Portugal; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1320 - no rol das igrejas, comendas e mosteiros de Portugal, a comenda e Igreja de Santa Maria do Zêzere é avaliada em 1170 libras; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários, referindo-se na região a instituição da comenda de Almourol e a da Cardiga, tendo cada uma de pagar anualmente 250 libras de renda ou tença ao Convento do Tomar *1; a antiga comenda de Santa Maria do Zêzere é integrada na comenda de Almourol, que fica também com courelas "místicas" no campo da Cardiga; a comenda da Cardiga fica com a quinta da Cardiga e território adjacente, com outras courelas "místicas" do seu Campo, e com o julgado e Igreja de Santa Maria do Zêzere, bem como os territórios do lado sul do rio Tejo, no local da Broca; 1326, 16 agosto - D. Afonso IV aprova as novas Ordenações das Comendas da Ordem de Cristo, então reduzidas para 36, e onde se estipula que as comendas de Almourol e da Cardiga passem a pagar 100 libras de tenças ao comendador de Idanha-a-Velha; séc. 14, último terço - só nesta época se encontra efetivamente dividida a comenda de Almourol e da Cardiga, com comendadores diferentes; 1489 - o termo do Castelo do Zêzere passa a denominar-se de Paio de Pele (Pay de Pelle); 1504 - data da elaboração do Tombo do limite e julgado de Paio de Pele pertencente à comenda da Cardiga, onde se procede à descrição do castelo de Zêzere e demais casas da Ordem no local *2; 1519, 22 dezembro - concessão de foral novo a Pay de Pelle por D. Manuel; 1536 - a comenda da Cardiga deixa de existir como unidade jurídico-administrativa, visto que, como o Convento de Cristo, sede da Ordem, necessitar terrenos para os seus gados, a Ordem une à sua administração direta a comenda da Cardiga, criando, em substituição, a comenda da Igreja de Santiago de Santarém; 1537, março - bula "Meritis Vestrae", de Paulo III, extingue a comenda da Cardiga; 22 março - alvará de D. João III, como administrador da Ordem de Cristo, mandando proceder-se à entrega da comenda da Cardiga com todas as suas terras e pertenças e da igreja de Santa Maria do Zêzere "que he da dita comenda" ao convento de Tomar; 1540, 12 março - o julgado de Paio de Pele passa a pertencer à comenda de Almourol, "com todas as suas rendas e foros", em troca de parcelas "místicas" que esta comenda possuía no Campo da Cardiga; 1712, cerca - segundo o Padre Carvalho da Costa, a vila de Paio de Pele é da correição e provedoria de Tomar e, no espiritual, pertence ao prelado de Tomar; está fundada junto ao rio Tejo, que corre a oriente, tendo a sul a dividi-la a ribeira da vila de Tancos; tem 40 vizinhos e a igreja, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fica distante cerca de uma légua, onde o Zêzere se mete no Tejo, à foz de Punhete "& fica entre o Castello do Zezere, (cujas ruínas se vem junto dos dous rios referidos) & o de Almourol" (...); "Este Castello fez o Gram Mestre do Templo, D. Gualdim Paes, de Marecos, como consta de hu letreiro, que está sobre a porta dele"; segundo o mesmo autor, havia sido senhor do castelo o comendador de Almourol D. Francisco de Mascarenhas, cujo senhorio recebera por sua esposa D. Joana Coutinho de Noronha, como descendente de Gonçalo Vaz Coutinho; 1755, 01 novembro - o terramoto provoca danos materiais nas construções da vila de Paio de Pele; 1762, cerca - início da construção de uma fortificação à moderna no chamado Outeiro Nossa Senhora da Conceição, onde se erguera o Castelo do Zêzere, durante a guerra contra Espanha, existindo uma planta, elaborada pelo sargento-mor engenheiro Miguel Luis Jacob, com marcação das trincheiras então em construção, por ordem real, e das projetadas de novo, projeto de que apenas se construiu uma pequena parte; 1801 - até esta data o concelho é constituído apenas pela freguesia da sede, tendo então 773 habitantes; 1828, agosto - data da planta do rio Tejo e do Zêzere em Punhete (Constância), elaborada pelo tenente-coronel engenheiro José Carlos de Figueiredo, com marcação da ponte militar, de barcas, de acesso àquela vila, e das baterias para a sua defesa, nomeadamente três existentes nas imediações da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no esporão onde se erguera o castelo de Zêzere; 1836 - extinção do concelho de Paio de Pele passando a integrar o concelho, então criado, de Vila Nova da Barquinha; 1837 - abolição das comendas, sendo os seus bens incorporados nos Próprios Nacionais; 1895 - com a extinção do concelho de Vila Nova da Barquinha, a freguesia passa a integrar o concelho da Golegã; 1898 - volta a integrar o concelho de Vila Nova da Barquinha, que então é restaurado; séc. 19 - séc. 20 - construção do cemitério da freguesia no monte de Nossa Senhora da Conceição; 1911, 28 abril - a Comissão da Junta Paroquial da Freguesia de Paio de Pele delibera proceder à venda em hasta pública das cantarias sobrantes da demolição da antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição (inicialmente de Santa Maria do Zêzere), localizada no outeiro de Nossa Senhora da Conceição e que então estava em ruínas; 12 maio - realização da hasta pública, divulgada através de editais, sendo adjudicadas as cantarias da igreja por 5$000, por Sebastião Domingos de Oliveira, do lugar da Praia; 1920 - a denominação da vila de Paio de Pele é alterada para Santa Maria do Zêzere; 1927, 09 setembro - tendo a vila de Paio de Pele sido transferida para o lugar de Praia, passa a designar-se por Praia do Ribatejo.

Dados Técnicos

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra.

Bibliografia

COSTA, Pde António Carvalho - Corografia Portugueza e Descripcam Topografica do Famoso Reyno de Portugal. Lisboa: Officina Real Deslandesiana, 1712, Tomo III; DIAS, João José Alves - «As Comendas de Almourol e Cardiga, das Ordens do Templo e de Cristo, na Idade Média». In As Ordens Militares em Portugal. Actas do I.º Encontro sobre Ordens Militares. Palmela: Câmara Municipal de Palmela, 1991; DIAS, João José Alves - Paio de Pele: a vila e a região do século XII ao XVI. Vila Nova da Barquinha: Assembleia Distrital de Santarém; Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, 1989; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas do Médio Tejo. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, vol. 2; História e Memórias da Academia Real das Sciencias. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Sciencias, 1823, Tomo VIII; Monumenta Henricina. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960, vol. I; Praia do Ribatejo - Resenha Histórica (http://www.freguesias.pt/portal/apresentacao_freguesia.php?cod=142002), [consultado em 26 julho 2016]; ROLDÃO, António Luís - «Payo de Pelle». In Carta - Galeria Arqueológico - História do Concelho de Vila Nova da Barquinha. S.l.: Centro de Pré-História, 2014, pp. 113-115 (http://www.cph.ipt.pt/download/AntropeDownload/2_2014Serie%20Monografica/carta-arqueologica_VNB-versao-web.pdf); SILVA, Abel da (direção) - Boletim da Junta de Província do Ribatejo. Santarém: J. R R., 1940; VITERBO, Fr. Joaquim dos Santos Rosa - Elucidário das Palavras, Termos, e Frases, que em Portugal antiguamente se usarão, e que hoje regularmente se ignoram. Lisboa: Typographia Regia Silvana, 1799, Tomo II.

Documentação Gráfica

Direção de Infraestruturas do Exército (Desenhos n.º 4027/I-3-33-45, 1285-1A-12A-16, 3945/II-1A-12A-16)

Documentação Fotográfica

DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DE ARQUEOLOGIA DO ALTO RIBATEJO: 1994 - trabalhos de limpeza para manutenção do local, pondo a descoberto pequeno pano de muralha.

Observações

*1 - Segundo João José Alves Dias, foi nesta data que a antiga comenda de Santa Maria do Zêzere se subdivide na comenda de Almourol e na da Cardiga, tomando o nome dos dois castelos mais importantes da região, do ponto de vista militar. *2 - Segundo a descrição do Tombo da Comenda da Cardiga da Ordem de Cristo, de 1504, no limite e julgado de Paio Pele e, especificamente na zona do castelo do Zêzere, a Ordem tinha uma igreja curada, com invocação de Nossa Senhora do Zezer, da qual são fregueses os moradores do dito julgado, e um "castello que está muy damnificado, e a mayor parte delle deribado por terra". "Junto do castello dito contra o Tejo, tem um oliual que ajunta com o dito castello, e com o Tejo, e o traz emprazado em fatiozim hum Estevão Pinhão, e paga delle o dizimo ao pee da oliueyra , e de foro huma galinha, e doze ovos. Tem hi hum assento de casas .a saber. huma dianteira, que leva cinco varas de longo, e quatro de largo, e hum çeleyro que leva quatro varas e meya de longo, e quatro de largo, as paredes de pedra, e barro, madeyradas de castanho e telhadas. Junto dellas hum chão que parte ao sul pela vagem do ribeyro do Castello, sem passar o dito ribeyro ribeyro alem, e per ele acima athé o adro da jgreja, assy como vem os aliçeçes, e dali ao marco que está antre este cham, e terras d Afonço Fernandez e de hy direito ao oliual dos erdeyros de Lourenço Anes. Estas casas, e terras tras emprazado pelos vezitadores hum Affonso Nunes teçellão em tres pessoas, e ele he a primeira pessoa, e paga o dizimo que Deus der na dita terra, e de fogo paga em cada hum anno per Natal hum par de galinhas, e duas dúzias d ovos. Tem hi mais outro asento de cazas que son estalagens em que ha oyto casas .a saber. huma dianteira que leva nove varas de longo, e quatro de largo, e huma camara que leva quatro varas de longo, e duas e meya de largo. e outra camara sobradada que leva quatro varas, e terça de longo e duas e meya de largo. e huma adega que leua quatro varas e meya de longo, e duas e meya de largo. e outra casa apegada com estas que leua quatro varas, e terça de comprido, e três, e meya de largo. e hum palheyro que leua seis varas de longo, e tres e meya de largo, e huma caza de forno que leua quatro varas e terça de longo, e tres e terça de largo. e huma estrebaria com suas manjedouras bem corregidas que leva dez varas, e duas terças de longo por tres de largo. antre as portas tem hum alpendre com sette varas de comprido. as paredes son de pedra, e barro, e taipas. E na ditta caza dianteira, tem huma escada de madeyra de madeira de castanho, por que vão à camara sobradada. son todas estas cazas madeiradas de castanho, e telhadas de telha. todas novas. O assento das ditas casas com o terreiro d ante a porta leva de comprido trinta e trez braças de craveyra medidas pella parte de fora. Junto a estas cazas tem huma terra que parte ao leuante com oliuais que estão a abaria do Zezer, e de hi como parte della pela estrada que vay para Thomar...".

Autor e Data

João Almeida (Contribuinte externo) / Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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