Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe

IPA.00001290
Portugal, Faro, Vila do Bispo, Vila do Bispo e Raposeira
 
Arquitectura religiosa, gótica. Ermida de planta longitudinal, de nave única, de 3 tramos,e capela-mor rectangular com pequena sacristia anexa a S.. Apresenta fachada principal em empena rasgada por rosácea e pórtico de arco quebrado; fachadas laterais contrafortadas na correspondência dos tramos internos; o interior apresenta a nave ritmada por arcos diafragma de perfil quebrado e cobertura em tecto de madeira; capela-mor com abóbada de nervuras, capitéis e bocetes com decorações zoomórficas, antropomórficas e fitomórficas. O colorido dos elementos estruturais em grés contrastando com os paramentos caiados a branco. É provávelmente uma das mais antigas ermidas dedicadas ao culto da Virgem de Guadalupe e o seu programa iconográfico, patente nos capitéis e bocetes, prende-se hipotéticamente à devoção à Virgem de Guadalupe por parte de navegantes e marinheiros e à sua relação com o resgate de cativos (PEREIRA) dada a sua localização estratégica.
Número IPA Antigo: PT050815030002
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de peregrinação  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave, capela-mor rectangular e pequena sacristia anexa a S. Coincidência com o exterior, volumes articulados; cobertura diferenciada em telhado de 2 águas para a nave e capela-mor, de uma água na sacristia; disposição horizontal das massas. Fachada principal a O., de pano único delimitado por cunhais, rasgado por portal em arco quebrado, com arquivolta sobre colunelo e capitel decorado de cordas e rosto humano; acesso por 3 degraus; pequena rosácea, remate em empena coroada no vértice por cruz de pedra. Fachada lateral S. de dois corpos, correspondentes à nave e capela-mor; corpo da nave de 3 panos delimitados por 3 contafortes de cantaria, correspondentes aos tramos da nave; no 2º pano janela quadrada com molduras de cantaria e portal de cantaria de arco quebrado sobre impostas; remate em beirado; corpo da capela-mor com remate em beirado e duas gárgulas, tendo adossado o corpo mais baixo da sacristia . Fachada N. de 3 panos delimitados por 2 contafortes. Fachada E. de pano único delimitada por cunhais angulares de cantaria e remate em empena; ao centro grande janelão mainelado, em arco de volta perfeita, com enxalço; o alçado E. da sacristia é rasgado por fresta de cantaria. INTERIOR: nave de 3 tramos defenidos por arcos quebrados sobre mísulas rectangulares de moldura recta; a nave é iluminada pelo óculo da fachada principal, duas pequenas frestas de perfil quebrado do lado do Evangelho e janela rectangular no lado da Epístola; cobertura em tecto de madeira de 2 vertentes; articulação aparente entre os corpos. Arco triunfal idêntico aos da nave assente em colunas com capitéis de cesto largo decorado o do lado da Epístola por uma cabeça de boi e do lado do Evangelho uma cabeça humana possívelmente uma referência aos evengelistas São Lucas e São Mateus. Capela-mor de dois tramos iluminada, na parede fundeira, por um janelão moldurado de perfil semi-circular de 2 lumes; 2 registos defenidos por friso, interrompido pelos capitéis e pilastras de descarga das nervuras da abóbada de cruzaria de ogivas, cujos fechos são unidos por cadeia longitudinal; os capitéis e chaves da abóbada apresentam decoração fitomórfica, zoomórfica, antropomórfica ( máscaras ), motivos vegetalistas, atributos: distinguem-se entre outras as figurações de cabeças humanas, cordas, redes, ramos, vagens, soís radiais, etc.. No exterior e interior alçados rebocados e caiados a cor branca; molduras de vãos, elementos estruturais e decorativos em pedra.

Acessos

EN125, Km 4, Quinta de Guadalupe

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 9 842, DG, 1.ª série, n.º 137 de 20 junho 1924 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 1160 de 18 maio 1955

Enquadramento

Rural, a 2Km a E. da Raposeira, a c. de uma centena de metros a N. da EN., de onde é bem visível, com acesso por caminho de terra batida; elevações de terreno cercam-na a O. e a N. ; a uma dezena de metros da fachada principal encontra-se o Centro Interpretativo de Guadalupe, outrora uma pequena casa rural.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de peregrinação

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Cultural e recreativa: centro interpretativo

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DRCAlgarve, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009

Época Construção

Séc. 14

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1326 - tem lugar o milagre de Guadalupe, na cidade de Cáceres, no local onde um pastor descobrira uma imagem de Nossa Senhora, logo atribuída a São Lucas *1; 1340, 29 de Outubro - D. Afonso XI, antes da vitória obtida na Batalha do Salado, ter-se-ia recomendado à Virgem de Guadalupe; o episódio traduziu-se no enrequecimento do santuário de Guadalupe que rápidamente se tornou um dos mais importantes centros de peregrinação espanhóis; o culto expandiu-se até Portugal onde surgem várias templos sob esta invocação; Séc. 14, 1ª metade - provável construção da ermida; 1352 - confirmação das decisões das Cortes Gerais de Lisboa, no tempo de D. Afonso IV, que mandavam o corregedor do Algarve nomear um alfaqueque português, para actuar no resgate de cativos, que deveria permanecer em zona de fronteira para melhor negociar as contarpartidas exigidas; 1450 - 1460 - a tradição diz ter o Infante D. Henrique orado várias vezes na ermida; Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné fala de Santa Maria da água de Lupe, uma ermida que está naquele termo de Lagos; 1452 - o Infante D. Henrique terá recebido na Raposeira Luís Cadamosto; Séc. 15 e 16 - o culto da Virgem de Guadalupe ligava-se estreitamente aos navegantes e marinheiros e ao resgate de cativos; 1969 - estragos provocados pelo sismo; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2000 - aquisição pelo IPPAR de parcela de terreno situada na zona especial de protecção do imóvel; 2007, 20 dezembro - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura do Algarve, pela Portaria n.º 1130/2007, DR, 2.ª série, n.º 245; 2008, 30 de Abril - abertura do Centro Interpretativo de Guadalupe, instalado na casa rural entretanto recuperada, e inauguração da exposição Os Mitos da Virgem Negra.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Grés regional, alvenaria, madeira e telha portuguesa

Bibliografia

CORTESÃO, Jaime - Guia de Portugal, Lisboa: 1927; FRANCO, Mário Lyster - «A Ermida de Guadalupe (...)». In Diário de Notícias. 26 de fevereiro 1939; DGEMN - Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (Vila do Bispo). Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Lisboa: 1955, n.º 82; PEREIRA, Paulo - Nossa Senhora de Guadalupe; TEIXEIRA, Garcez - A Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe. In Ilustração, Ano 3º, nº 34, Lisboa: 16 março 1928; «Vila do Bispo: Ermida da Guadalupe vai ter passadiço e hologramas». In Jornal do Algarve Online. 14 abril 2019.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1928 - obras de restauro: arranjo das coberturas, caiação geral; 1954 - reconstrução da armação dos telhados e sua cobertura; demolição da platibanda e Reconstituição do beirado; demolição da cerca que formava o adro; reconstrução e consolidação dos gigantes da nave; substituição dos elementos de cimento, existentes no janelão por aduelas de pedra; consolidação da abóbada da capela-mor; construção dos degraus das portas principal e lateral, refechamento geral das juntas nos paramentos exteriores e interiores. 1960, Assentamento de betão armado em lintéis e cintas de travação, incluindo demolição de alvenarias, assentamento de cantarias em soleiras; 1969 - reconstrução dos telhados, consolidação das nervuras da abóbada, reconstrução de rebocos, construção de betão armado em lintéis e cintas de travação em pilares; 1976 - reparação de telhados, limpeza de gárgulas, reconstrução de rebocos salitrosos, construção de betão armado em cintas de travação nas paredes da sacristia, caiação; 1988 - limpeza geral e caiação; IPPAR: 2002 - obras de recuperação: reforço e drenagem das fundações, consolidação de paredes, reparação de alvenaria de pedra em fachadas e contrafortes, reparação de revestimentos de paredes e pinturas, impermeabilização de coberturas, reparação de pavimentos, instalação eléctrica, remoção de vegetação; IPPAR: 2008 - obras de recuperação e reutilização da casa rural situada na zona de protecção do imóvel, arranjo dos espaços exteriores, criação de parque de estacionamento; Direção Regional da Cultura do Algarve: 2019 - aprovação do projeto de acessibilidade física, informativa e sensorial, submetido à linha de apoio ao turismo acessível do programa "Valorizar - Programa de Apoio à Valorização e Qualificação do Destino, com um financiamento a 90% pelo Turismo de Portugal; prevê-se a instalação de um passadiço e rampa de acesso ao interior da ermida, colocação de sinalética de exterior e interior, instalação de um mupi digital interativo, entre outros.

Observações

*1 - segundo a lenda, a imagem teria sido levada para Sevilha por Santo Isidoro; aquando da invasão muçulmana, em 711, teria sido enterrada nas proximidades de Cáceres e descoberta em 1326 por um pastor. Algumas histórias relacionam a ermida de Guadalupe, com a famosa lenda sobre um grupo de cavaleiros Templários que teria fugido de França quando da extinção da ordem em 1307. A ermida situava-se numa área de passagem e abrigo de embarcações simultâneamente sujeita a pressões de corso e pirataria, tanto marinha como costeira, e consequentemente ponto paragem obrigatória de assistência espiritual aos navegantes e zona de frequente aprisionamento de refens cristãos por parte dos sarracenos. A cor negra da tez com que é figurada a Virgem de Guadalupe é conotada com ritos de fertildade;

Autor e Data

João Neto 1991 / Rosário Gordalina 2000

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