Castelo de Bemposta

IPA.00011674
Portugal, Castelo Branco, Penamacor, União das freguesias de Pedrógão de São Pedro e Bemposta
 
Castelo do tipo "mota" construído no séc. 13, pela Ordem do Templo, depois de particulares lhe terem doado a povoação, integrando-se na defesa da Beira interior, de que apenas subsiste a torre, ainda que muito alterada. De facto, em 1505, já sem importância estratégica, era composto por uma torre, com parte da estrutura em alvenaria, que começava a cair, com dois sobrados, acedida por portal virado a poente, tendo um outro, "em çima quasi no meio", a norte, parcialmente telhada e mal reparada, envolvida por uma "mota", ou seja, um monte de terra artificial criando uma zona alta sobre a qual se erguia a torre, no centro de uma área circular, envolvida por uma cerca, então já parcialmente derrubada, tendo à entrada desta um "boom cubello de cantaria ameado" e um portal pétreo em arco; dentro da cerca existiam antigas casas, nesta data considerados pardieiros, e um poço. É provável que durante a Guerra da Restauração se tenha reforçado a defesa da povoação, com a construção de muralhas ou o revestimento a cantaria dos muros em terra que envolviam a torre, uma vez que as Memórias Paroquiais de 1758 referem a existência de muralhas, então já em muito mau estado, e da torre, com a zona superior de alvenaria. Das antigas estruturas, subsiste apenas a torre medieval, ampla, de planta retangular, com paramentos aprumados, tendo apenas a zona inferior em cantaria. Foi muito alterada no séc. 20 e, sobre um dos cunhais, foi-lhe acrescentada uma torre do relógio descaracterizante. A disposição curvilínea do núcleo de habitações que envolvem a torre denuncia o antigo traçado das muralhas.
Número IPA Antigo: PT020507050028
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Planta retangular simples, formada por um pequeno reduto muralhado, sobreposto, num dos ângulos, por torre quadrangular, esta com cobertura em coruchéu piramidal, encimado por cata-vento. As muralhas apresentam paramentos aprumados, em cantaria de granito aparente, de aparelho isódomo, com alguns silhares almofadados e outros salientes junto à base. Na face norte é rasgada por porta de verga reta, protegida por uma folha metálica. No ângulo nordeste, sobrepõe-se a torre, com uma face parcialmente em cantaria de granito, e as restantes em alvenaria de tijolo, rebocada e pintada de branco, rematada em cornija e platibanda vazada, em terracota, com os ângulos em alvenaria rebocada. Na face nascente, a torre tem três registos, o inferior cego e rematado por cornija, surgindo, no intermédio, em cantaria de granito, com as juntas pintadas de branco, duas sineiras em arco de volta perfeita, cada uma delas com um sino de bronze e cabeção de madeira; no registo superior, rebocado, implanta-se um relógio circular. A face norte divide-se em dois registos, o inferior cego e rematado por cornija, e o superior, bastante alto, de alvenaria rebocado, rasgado por duas sineiras em arco de volta perfeita. A face sul, toda em alvenaria rebocada, é semelhante à anterior e a poente, também em alvenaria rebocada, tem dois registos, o superior com uma sineira de volta perfeita. INTERIOR não observado.

Acessos

Bemposta, Largo da Torre; Rua do Castelo; Travessa do Castelo. WGS84 (graus decimais) lat.: 40,067211; long.: -7,211688

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, no interior da povoação. Implanta-se num pequeno largo plano, morfologicamente numa meia encosta, com acesso por uma estreita via, estando rodeado por edifícios de habitação térreos e incaracterísticos.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Comunicações: torre do relógio

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1189 - a povoação, recentemente repovoada por algumas famílias nobres, pertence a D. Ponço Afonso de Baião, governador da Covilhã e da Guarda, que lhe dá a atual toponímia; 1230, 10 fevereiro - Pôncio Afonso e sua mulher doam à Ordem do Templo a vila de Bemposta, do concelho da Guarda, Lourosa e seu termo, e metade da Igreja de Santiago de Alhariz (FERNANDES, 2009, p. 101); é provável que pouco depois se tenha procedido à construção de uma fortificação; 1258 - nas Inquirições, ordenadas por D. Afonso III, a povoação é referida como sendo um pequeno lugar, pertencente a Penamacor; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e, pela via judicial, incorpora-o na Coroa, alegando que as doações haviam sido da responsabilidade régia e que obrigavam à prestação de serviços ao rei e ao reino; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários; 1505, 18 outubro - elaboração do Tombo dos bens pertencentes à comenda da Bemposta, da Ordem de Cristo, elaborado por frei Francisco capelão, onde se faz uma breve descrição da fortificação que constituía uma mota *1; 1510, 01 junho - conceção de foral por D. Manuel; passa a denominar-se de Bemposta do Campo; 1613 - data inscrita numa das pedras do campanário; 1640, depois - no âmbito da Guerra da Restauração, é provável ter-se procedido à reforma e transformação da mota e respetiva cerca em muralha de pedra, para refúgio da população; 1755, 01 novembro - o terramoto provoca alguma ruína, que não é logo reparada; 1758 - as Memórias Paroquiais referem a vila como não sendo "(...) murada porem tem portas e algumas muralhas muito fracas e demolidas (...), em tempo de guerra me consta que fechavam e hoje nam tem portas, tem hum reducto, com nome de castello, e as muralhas dele fracas e em parte demolidas no meio do tal reducto huma torre antiga bastante alta, tem dois sobrados de madeira e a maior parte dela he de cantaria e no fim alguma alvenaria que constará esta de dez the doze palmos pouco mais ou menos, está pouco reparada" (vol. 6, fl. 681); 1837 - extinção das comendas; 1836, 06 novembro - extinção do concelho de Bemposta, sendo integrado no de Monsanto como freguesia; 1848 - com a extinção do concelho do Monsanto, a povoação passa a integrar o de Penamacor; 1873 - Pinho Leal descreve as muralhas como "uma antiga torre, cercada com seu reducto a que chamam castello. Está coberto de telha; tem dois andares. É feita com muita solidez" (vol. 1, p. 381); séc. 20, meados - aproveitamento da torre para instalação do relógio, com o acrescento de um terceiro piso; 1954 - é solicitada a intervenção da DGEMN para impedir a demolição do que restava das muralhas; 1979 - junto à torre, existem cinco aras, uma dedicada ao deus Bandis Isibraiecus, um capitel, e 12 cabeceiras de sepulturas medievais, recolhidas na povoação..

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito e alvenaria de tijolo, esta rebocada; platibanda em terracota; sinos em bronze e cabeção de madeira; porta e cata-vento em metal.

Bibliografia

FERNANDES, Maria Cristina Ribeiro de Sousa - A Ordem do Templo em Portugal (das origens à extinção). Dissertação de Doutoramento apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto: texto policopiado, 2009; GOMES, Rita Costa - Castelos da Raia. Beira. Lisboa: IPPAR, 1997, vol. 1; GONÇALVES, Iria (organização) - Tombos da Ordem de Cristo. Comendas da Beira Interior. Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2010, vol. 6; GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues - Os Castelos da Beira Interior na defesa de Portugal (séc. XII - XVI). Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1995; SILVA, Joaquim Candeias da - «Subsídio para o estudo da viação romana no SW. do antigo território penamacorense». In Actas e Memórias do 1.º Colóquio de Arqueologia e História de Penamacor, 5 a 7 de Outubro de 1979. Penamacor: 1982, pp. 37-50.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID; DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, 1758, vol. 6, n.º 97, fl. 679-684

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, 1.ª metade - reconstrução da torre e consolidação dos elementos existentes; introdução do mecanismo de um relógio e cata-vento na cobertura da torre.

Observações

*1 - No Tombo dos bens da comenda de Bemposta faz-se a seguinte descrição do castelo: "Junto da dicta Villa da bemposta tem há hordem huua torre muj antigua. parte della d aluanaria e estaa em huu teso acima da dita Villa contra o norte. e começa jaa de cahir. tem dous sobrados. huu em baixo e outro mujto em çima todo de madeira uelha e podre. e tem d arredor huua mota de terra com huua çerca arredor derribada per partes. aa entrada da dita çerca tem huu boom cubello de cantaria ameado e huu portal d arco de pedraria bem obrado. E dentro da dicta çerca estam pardieiros que jaa em outro tempo foram casas e huu poço sem agua bordado de cantos. e tem há dicta torre huua porta contra ho ponente e outra em çima quasi no meyo contra ho norte. e parte della estaa ajnda cuberta de telha mal repairada e pera cahir". *2 - Segundo a tradição local, do castelo partia um túnel, feito pelos mouros, com uma saída para o Ribeiro de Medelim, a 2 kms, onde iam buscar água, e a outra para a Igreja Paroquial (v. IPA.00016703).

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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