Edifício dos Fornos de Biscoito de Vale do Zebro

IPA.00006630
Portugal, Setúbal, Barreiro, União das freguesias de Palhais e Coina
 
Conjunto de edifícios de reconstrução pombalina com pátio aberto, em U, erguido à maneira de claustro conventual. Têm traços manuelinos nos espaços unificados, na estrutura das coberturas de abóbadas com cruzaria de ogivas, nos alçados com independência em relação às abóbadas, nas estruturas autónomas com atarracamento. Maneirismo na tendência para a sobriedade do estilo chão e para um vocabulário ao romano, de planos direitos bem definidos. Traça pombalina, no formulário construtivo visível nos alçados exteriores de conjunto, de pisos corridos com fachadas com ritmo, nos telhados à portuguesa, nas arcadas de berço nos interiores das galerias dos fornos.
Número IPA Antigo: PT031504030016
 
Registo visualizado 183 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Fábrica    

Descrição

Planta composta, irregular formada pela justaposição de edifícios com diferente planimetria: uma em L, regular, outra de planta quadrada, adossada em parte àquele, e ainda uma de planta quadrangular irregular, adossada à fachada posterior do edifício com o qual forma um ângulo obtuso. Volumes articulados na horizontal. Cobertura em telhado de duas e três águas, e em terraço no edifício a O.. Fachadas formando um U, duas das quais, apresentam-se à maneira de claustro conventual. Fachadas de dois pisos, com a principal voltada a N.. Esta, forma com a fachada a E. duas galerias em L, cobertas e separadas entre si por platibanda, que se desenvolve como resguardo do passadiço superior que tem à esquerda escadaria de um lanço, em cantaria, desenvolvida paralelamente á fachada principal *1, e à direita a escadaria original do edifício, à semelhança da qual foi reconstituída a outra. No piso inferior, a galeria é formada por arcada de cantaria com arcos em asa de cesto, sete arcos no frontispício e quatro na fachada da esquerda; no piso superior o balcão é formado por arcada de vergas rectas; oito arcos em cada uma das fachadas em forma de L. A galeria inferior é coberta por abóbadas. Sob a arcada rasgam-se o portal, e vários vãos de porta e janelas de molduras quadrangulares. No registo superior abre-se uma grande número de vãos de portas e janelas também de forma quadrangular. O interior do edifício principal é de espaço diferenciado em galeria coberta por abóbadas de barrete de clérigo, assente em pilastras atarracadas de cantaria e alvenaria, com capitel em cantaria monolítica de grande sustentação, formando duas naves paralelas; vários vãos dão acesso a espaços diferenciados *2, divididos por paredes não estruturais, onde se destacam apontamentos dos antigos fornos de biscoito, arcos e as respectivas chaminés, para saída de ar; a cobertura desses espaços é em abóbada de berço, de arco em asa de cesto; o pavimento é em tijoleira que cobre o antigo de cantaria, deixando ver-se a descoberto pequena janela no pavimento, junto ao portal. O edifício da esquerda, é estruturalmente idêntico ao principal (tendo sido galeria de fornos), encontra-se com alterações não estruturais. Na fachada posterior adossa-se um edifício, (antiga galeria de fornos) cujo interior é estruturalmente semelhante ao principal, mas não está ainda reposto ao original. O edifício da direita (antigo armazém) adossa-se a outro edifício de construção recente, de planta rectangular, tendo nas fachadas vãos de portas e janelas, de molduras rectangulares, em cantaria; é rematado, à face, por platibanda que circunda o edifício, sendo no seu frontispício em forma de cortina de alvenaria; o interior tem um vestíbulo a toda a largura, com cobertura em estrutura de zinco, que dá acesso a um vasto espaço, abobadilhado por abóbadas de barrete de clérigo, rebocadas, apoiadas sobre 18 pilastras, ligadas nas impostas por vergalhões de ferro; o pavimento é de cantaria antiga, rasgada por carris para uso de vagonetas para transporte de tropedos.

Acessos

EN 10-3, Vale do Zebro, Escola de Fuzileiros Navais, Museu dos Fuzileiros Navais

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, no meio da esplanada da parada da Escola de Fuzileiros Navais, a um quilómetro a S. de Palhais, junto a um esteiro do Rio Tejo, na margem E. da Ribeira de Coina, não muito afastada da Fábrica de Cerâmica da Mata da Machada ( v. 150403017 ).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: fábrica *3

Utilização Actual

Cultural e recreativa: museu

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 14 - Início conjectural da construção dos fornos de Vale de Zebro; séc. 15, 1ª metade - provável instalação do Complexo Real de Vale de Zebro no Rio Coina com fornos de biscoito que, juntamente com os da Porta da Cruz em Lisboa, abasteciam as embarcações das viagens ultramarinas (Leal, 1996); 1450 - D. Afonso V faz mercê de 3 moios de trigo de renda perpétua nos fornos de Palhais *4; 1470 - referência aos fornos de Palhais num artigo da Crónica de D. Pedro de Menezes, 1º capitão e Governador de Ceuta, onde se fala de papéis do Escrivão dos Livros dos Fornos do Biscoito, do Rei D. Afonso V; 1496 - referência ao Escudeiro do Rei e Escrivão dos Fornos do Vale do Zebro; 1512 - decreto, ordenando a Álvaro Raposo, recebedor dos fornos e moinhos de Vale do Zebro, para dar a Duarte da Gama 4 moios de trigo; 1552 - referência a Jerónimo Dias (casado com Isabel da Maia, falecido em 1565, sepultado na igreja de Palhais frente ao altar-mor), cavaleiro da Casa Real e escrivão dos fornos de Vale do Zebro; 1653, 22 de Julho - determinação de D. João IV para a reconstituição do Almoxarifado dos fornos do Vale do Zebro e regulamentação oficial de fabrico com o Regimento para fornecimento de biscoito para as Armadas, Náos da India, Conquistas, e Fortalezas do Reino (Regimento dos Fornos de Valdezebro, 1653); 1776, 9 de Maio - alvará para extinção do Almoxarifado e passagem da administração dos fornos ora para os serviços da Secretaria da Guerra ora da Secretaria da Marinha; 1755 - grande ruína causada pelo Terramoto; séc. 18, 2ª metade - reconstrução do conjunto de edifícios; 1800 - descrição da Fábrica com pátio, Casa do Peso, Celeiro de trigo, Paiol para Farinha e outra para Farelos, Casa dos Fornos com duas cercas para lenhas, Casas dos Paióis do Biscoito, Oficinas, Residência do Administrador, Escriturário, Fiel e Serventes da Fábrica, bem como das casas para quem vai receber o biscoito; nove casas pequenas térreas ao serviço das pessoas pobres do serviço da mesma Fábrica; uma casa que serviu outrora de cadeia, e uma outra que servia de Palheiro (LEAL, VALEGAS, 1993); 1835, 1 de Março - entrega dos fornos à Intendência da Marinha; 1843, 31 de Janeiro - D. Maria II decreta que as instalações do almoxarifado sejam adaptadas a asilo de inválidos da Marinha, tendo-se adaptado o edifício às novas funções; 1906 - instalação da Escola Prática dos Serviços de Torpedos Navais e Electricidade do Ministério da Marinha, com adaptações à função; 1912 - na ala S., existência de alguns fornos; 1913 / 1919 - demolição dos fornos da ala S.; 1958 - demolição de fornos na ala E. e de uma escadaria de pedra da casa do almoxarifado, com construção de outra, em tijolo, nos moldes da que se mantém; 1924 - saída das instalações da fábrica da Escola Prática, com a sua extinção, e ocupação do espaço pela Brigada de Mecânicos da Armada; 1934 - ocupação do espaço pela Direcção de Artilharia Naval; 1961, 3 de Junho - ocupação do espaço pela Escola de Fuzileiros; séc. 20, finais dos anos 60 - restauros no núcleo histórico do local; 1986 - inauguração de Museu em parte do espaço que fora ocupado pelos fornos, agora remodelado.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, estruturas autónomas

Materiais

Cantaria, alvenaria de pedra e cal, madeira, ferro, tijolo, tijoleira, telhas

Bibliografia

Crónica de D. Pedro de Menezes, 1º Capitão Governador de Ceuta, Lisboa, 24 de Julho, 1470; Regimento Para a Feitoria da Telha, in Systema ou Collecção dos Regimentos Reaes, Tomo III, Lisboa, 1785; ALMEIDA, António Lopes da Costa e, Memória Histórica-Topográphica, in Annais Náuticos e Coloniais, Lisboa, 4ª série, n.º 10, 1844; SERRÃO, Joel, Biscoito, in Dicionário de História de Portugal, Volume I, 1971; LEAL, Ana de Sousa, VALEGAS, Augusto Pereira, Real Fábrica dos Fornos de vale do Zebro, Inventário das propriedades, móveis, alfaias e mantimentos no primeiro dia do ano de 1800, in Um Olhar sobre o Barreiro, n.º 2, III Série, 1993; LEAL, Ana de Sousa, A Igreja de Nossa Senhora da Graça na História de Palhais, in Um Olhar sobre o Barreiro, n.º 4, III Série, Barreiro, Junho, 1996.

Documentação Gráfica

DGEMN: DSID; E.F.N.

Documentação Fotográfica

DGEMN: DSID; E.F.

Documentação Administrativa

ANTT: Gaveta XXI, MÇ. 3, Doc. 55, Núcleo do Concelho da fazenda, n.º 3 - 1803; E. F.N..

Intervenção Realizada

EFN: 1986 - obras gerais de reparação, restauro e conservação para adaptação ao novo uso (Museu).

Observações

*1: A escadaria dava em tempos, à direita, serventia ao palacete e, à esquerda, pelo passadiço, às oficinas. *2: Antigamente formavam um único espaço, que era uma das 3 galeria de fornos existentes na fábrica. *3: Biscoito era uma espécie de bolacha de farinha de trigo, cozida duas ou mais vezes, a fim de ficar isenta de toda a humidade e assim se poder conservar muito tempo, para ser consumida nas viagens marítimas; era cozido em grandes placas redondas de barro, cujo fornecimento era assegurado pela olaria próxima da Mata da Machada. *4: O complexo era constituído por 27 fornos, dispostos em séries de nove, armazéns de trigo com capacidade para armazenar 8 a 9000 moios de cereais (cerca de sete milhões de litros), constituído, ainda, por armazém de balança, pela moagem, pelos fornos, pelos paióis do biscoito, pelas oficinas e dependências da lenha, por um poço com abundante água, pelo cais de embarque junto a um grande moinho de maré de 8 moendas, o maior que então laborava em Coina.

Autor e Data

Albertina Belo 1999

Actualização

 
 
 
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