Ermida de Nossa Senhora do Codeçal / Ermida de Nossa Senhora da Piedade

IPA.00006526
Portugal, Lisboa, Mafra, União das freguesias de Azueira e Sobral da Abelheira
 
Ermida rural de pequena dimensão e feição rustica, reconstruída no século 18, no período pós-terramoto apresenta características tardo-barrocas. Integra-se no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero e por um interior com um esquema planimétrico básico, nave única, sacristia e capela-mor. Assim, apresenta uma planta poligonal, resultante da articulação axial de dois retângulos, de dois registos, correspondentes aos dois corpos principais, a nave única e a capela-mor profunda, mais estreita, a que se adossa, lateralmente, do lado esquerdo, o retângulo da sacristia, precedido, neste caso, pelo de um anexo, com porta independente de acesso ao exterior com a mesma orientação do portal principal. Sobre o seu beirado encontra-se um pequeno pano sineiro. Fachadas rebocadas e caiadas a branco, muito sóbrias, percorrida por faixa pintada a azul-cobalto. Fachada principal, orientada a sul, em empena redonda encimada por cruz pétrea, apresentando dois pináculos boleados no prolongamento dos cunhais, rasgada axialmente por portal de verga reta e moldura de cantaria trabalhada encimado por pequena iluminante, a mediar ambos os vãos, uma cartucha joanina de azulejo azul e branco. Fachada posterior, em empena triangular, encimada por cruz pétrea. Cobertura telhada a duas águas. Interiormente, apresentam nave única com cobertura em abóbada de berço, arco triunfal precedido de teia balaustrada, capela-mor profunda com retábulo-mor em mármore com imagem de vulto do orago, coro com guarda plena adossado à parede fundeira. Embora mantenha o esquema planimétrico habitual, nesta ermida, alvo de grandes romarias logo desde a segunda metade do século 18, é caracterizada justamente a riqueza da sua decoração interior, onde prolifera a pintura mural, o trabalho em gesso, a imaginária, o azulejo, e, sobretudo, os seis painéis retabulares de alto-relevo em barro policromo, representando cenas do Novo Testamento. Ainda de referir a existência de um ex-voto alusivo ao terramoto de 1755, e o delicado trabalho de baixo-relevo do frontal de altar.
Número IPA Antigo: PT031109140018
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta poligonal, resultante da articulação axial e escalonada de dois retângulos, de dois registos, correspondentes aos dois corpos principais, a nave única e a capela-mor profunda, a que se adossam, a ocidente, o corpo retangular da sacristia, de um só piso, e um anexo que o precede, a sudoeste, de dois registos. Fachadas rebocadas e caiadas de branco, com soco, cunhais e remate percorridos por faixa azul-cobalto, rasgadas, na sua maioria, por janelas retilíneas com moldura de verga reta. As coberturas são telhadas, a duas águas nos corpos principais, a uma no corpo da sacristia e a três no pequeno anexo que, para ocidente, prolonga a fachada principal. Fachada principal em dois registos, orientada a sul, é composta por dois panos delimitados por cunhais e cornija saliente rebocados e pintados, sendo o primeiro correspondente ao do pequeno anexo, rasgado a eixo por portal de verga reta e moldura de cantaria simples, sobrepujado por janela de peitoril. Sobre o beirado encontra-se um pequeno pano sineiro. O segundo pano, corresponde à fachada principal do templo, é antecedido por breves degraus pétreos, e animado pela abertura, entre duas janelas inscritas em molduras em arcos abatidos e servidas de grades de ferro, do portal de verga reta e moldura de mármore decorada, encimado por painel de azulejos, em tons de azul e branco, em forma de cartela, com inscrição alusiva à reconstrução da ermida, sobrepujado por pequena janela iluminante com moldura decorada. A fachada termina em empena curva com beirado simples, encimado por cruz pétrea e reconhecendo-se dois pináculos bojudos no alinhamento dos cunhais. Fachada lateral esquerda com três panos, de um e dois registos. O primeiro pano respeita à abside e é rasgado por uma janela, o segundo corresponde ao corpo da sacristia, que antecede e encobre o corpo da nave, e apresenta três janelas, o terceiro pano, do anexo apresenta um janela semelhante às restantes junto ao cunhal. Fachada posterior de pano cego, em empena triangular, encimada por cruz pétrea. Fachada lateral direita com dois panos, o da nave, animado por janela com moldura de cantaria em arco abatido ladeada por porta travessa de verga reta, junto ao qual se adossa um pequeno fontanário, de espaldar revestido a azulejo de figura avulsa, e o segundo, da abside, animado por um vão retilíneo. INTERIOR: nave única coberta por abóbada de berço com pintura ornamental a fresco e painel central em baixo-relevo de estuque, pavimento em tijoleira, muros com decoração em três registos, sendo o primeiro percorrido por silhar de azulejo de padrão pombalino, o segundo por seis retábulos em gesso, quatro mísulas de baixo-relevo confrontantes e, ao centro, duas edículas confrontantes com imagética, sobre estas, seis painéis retabulares em alto-relevo de barro polícromo, tendo por temática a vida de Cristo, no lado do Evangelho, Cristo no Horto, Última Ceia, a Apresentação de Cristo na varanda de Pilatos, no lado da Epístola, Flagelação, Calvário, Crucificação *1. Animam ainda as paredes murárias da nave, medalhões ovais figurativos em gesso e pintura mural de temática floral. No lado da Epístola, sob a edícula abaixo do painel do Calvário encontra-se um ex-voto alusivo ao terramoto de 1755. Sensivelmente a meio da nave, do lado do Evangelho de notar, encrustado no muro, um púlpito de guarda plena sobre mísula de mármore, confronta com porta travessa. Arco triunfal de volta plena com decoração em gesso. A capela-mor, profunda, sobrelevada relativamente ao restante pavimento, apresenta um retábulo expositivo de planta reta, um só eixo e corpo único, limitado por duas colunas compósitas em mármore rosa que sustentam um frontão redondo, interrompido com medalhão em gesso alusivo ao patrocínio régio da reconstrução da ermida, na edícula figura uma imagem de vulto do orago, em madeira policroma. No altar figura o sacrário encimado por crucifixo dourado. De todo o conjunto destaca-se o frontal de altar, em mármore, o qual apresenta um baixo-relevo figurando uma cena protagonizada por frades franciscanos *2. À parede fundeira adossa-se um coro de estrutura de madeira em arco abatido e com guarda plena em mármore trabalhado

Acessos

Codeçal, Rua da Capela. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,96694, long. -9,307938

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 31/83, DR, 1.ª série, n.º 106 de 09 maio 1983

Enquadramento

Urbano, destacado, isolado. Situa-se a meia encosta, marcando o centro da pequena povoação do Codeçal, junto ao Celebredo, que se desenvolve em socalco, a sul do Sobral da Abelheira, rodeada por propriedades agrícolas. Confronta com a Casa de Nossa Senhora da Piedade (v. IPA.00006609). O adro da igreja constitui um pequeno promontório sobre a Tapada Nacional de Mafra (v. IPA.00023129), nas proximidades do portal do Codeçal.

Descrição Complementar

A encimar o portal de entrada encontra-se uma cartucha joanina com a seguinte inscrição: ESTA ERMIDA DE Nª Sª DA PIEDADE CONSANCRISTIA E MAIS CAZAS FOI FEITA A FUNDAMENTO DE NOVO. COM ESMOLAS DO SENHOR REI DOM JOZ. O PRIMEIR E DOS FIEIS NO ANNO DE 1756.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1755, 01 novembro - o terramoto destrói a primitiva ermida da invocação de Nossa Senhora da Piedade que aqui existia, conforme se pode aferir do texto de um ex-voto ainda hoje existente no interior do templo; 1756 - edificação da ermida atual, "feita de novo", à custa de esmolas dos fiéis e sob o patrocínio do rei D. José I (1714 - 1777), conforme inscrição na cartela que encima o portal principal da ermida; 1758 - de acordo com a informação recolhida na Memórias Paroquiais a ermida seria pertença de D. Bárbara de Matos moradora na real vila de Mafra; a freguesia de Nossa Senhora da Oliveira, ainda segundo informação recolhida nas Memórias Paroquiais, tem 139 vizinhos, 530 pessoas, sendo pertencente à Comarca de Torres Vedras, da apresentação dos priores de Santa Maria do Castelo, Patriarcado de Lisboa, concelho pertencente ao rei de Portugal; 1768 - construção de dependências anexas para albergar peregrinos; séc. 18, segunda metade - sendo local de grande romaria, esta ermida, erguida sob patrocínio real, recebeu um recheio particularmente rico, de que são exemplo os seis retábulos com painéis de barro polícromo que então se executam, provavelmente por escultores da Escola de Mafra, da imaginária e do retábulo-mor em mármore; 1820 - 1855 - durante este período o lugar do Codeçal, Sobral da Abelheira, pertence ao concelho da Azueira; 1868, 28 maio - de acordo com o inventário deste ano, tem de rendimentos 12$180 réis em foros e 7$500 réis de capitais em juro; 1877, 01 junho - segundo informação do presidente da Junta de Paróquia do Sobral da Abelheira, Manuel Fernandes de Oliveira, a ermida deverá ter sido erguida em cumprimento de algum voto ou a expensas da paróquia, não sendo "crível que ela fosse levantada à custa dos habitantes do lugar, que ainda hoje é insignificante", quanto à data da sua fundação, esta permanece desconhecida, mas julga-se "ser antiguíssima, visto, pela sua decrepitude, ter de ser reedificada por via dos reis de Portugal" em Setecentos; 1888 - 1889 - tem uma Irmandade de Nossa Senhora da Piedade; 1969, 28 fevereiro - tremor de terra provoca fenda na abóbada; 1981, 20 fevereiro - é elaborada proposta de classificação da ermida como IIP - Imóvel de Interesse Público, não obstante, o documento que instrui a proposta alerta para o mau estado de conservação em que o imóvel se encontra, em particular a sua abóbada, onde se verificam várias infiltrações que destroem telhados e estuques; 03 março - despacho do vice-presidente do Instituto Português do Património Cultural anuindo com a classificação; 11 setembro - por ofício enviado à Direção-Geral dos Edifício e Monumentos Nacionais, a Câmara Municipal de Mafra, de acordo com informação do Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, solicita a recuperação da ermida e apoio financeiro à mesma; 1983, 09 maio - é publicado no DR n.º 106, 1.ª série, o Decreto n.º 31/83 classificando o imóvel como IIP; 13 setembro - o Instituto José de Figueiredo envia uma equipa de conservação de pintura mural ao imóvel; 1984, 12 abril - decisão da DGEMN de avançar com a realização de obras exteriores à cobertura do imóvel, antes da recuperar os estuques da abóbada; 02 agosto - a demora no início da intervenção leva a que a autarquia inicie pequenas reparações; 10 setembro - obras da DGEMN prontas a iniciar, pela consolidação da abóbada e reconstrução do vigamento do telhado; 1986, 21 abril - encontram-se concluídas as obras consideradas mais urgentes; 1989, 03 maio - visita de um equipa da Divisão de Pintura Mural à ermida, informando ser urgente a intervenção no arco triunfal, reforçando-o, havendo desprendimento de algumas pedras que ameaçam a população de fieis; 1990, 08 agosto - o arquiteto Fernando Ferreira, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em visita a alguns imóveis do concelho de Mafra, alerta para o estado em que se encontra o arco triunfal, a ameaçar ruina, assim como para a fissura longitudinal que, desde o terramoto de 1969, atravessa a abóbada; 30 outubro - em resposta a DGEMN informa que a consolidação da abóbada foi feita em 1984; 1993, junho - decorrem novos trabalhos de consolidação dos tetos e paredes interiores.

Dados Técnicos

Estrutura mista

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, telha, cantaria de calcário, mármore, estuque, madeira pintada e dourada, pintura mural e azulejo.

Bibliografia

ASSUNÇÃO, Guilherme - Mafra. Efemérides do Concelho. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1967; AZEVEDO, Carlos de, GUSMÃO, Adriano de, FERRÃO, Julieta - Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa. Concelho de Mafra. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963; BATALHA, Rogério - “O interior da Igreja do Codeçal está a ser restaurado”. O Carrilhão. Mafra: 15 jun. 1994; FERNANDES, Paulo, Almeida; VILAR, Maria do Carmo - Identidades: património arquitectónico do Concelho de Mafra. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2009; GORJÃO, Sérgio - “Memórias Proquiais”. Boletim Cultural'96. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1997; LOPES, Flávio - Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado. Distrito de Lisboa. Lisboa: Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, 1993;; VILAR, Maria do Carmo - “Carta do património do concelho de Mafra. 1. Património Artístico e Religioso do Sobral da Abelheira”. Boletim Cultural'95. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 1996.

Documentação Gráfica

DGPC: PT DGEMN/DRML

Documentação Fotográfica

DGPC: PT DGEMN/DSID; PT DGEMN/DEML; CMM: PT AMM

Documentação Administrativa

DGPC: PT DGEMN/DSID; PT DGEMN/DEML; CMM: PT AMM; DGLAB: PT AN/TT, Memórias Paroquiais

Intervenção Realizada

DGEMN: 1994 - restauro dos estuques e pinturas decorativas, consolidação do arco triunfal, reformulação do sistema de iluminação.

Observações

*1: Estes painéis são atribuídos a escultores da Escola de Mafra, que se havia formado no início da década de 1750 no estaleiro do Palácio/Convento/Basílica de Mafra (v. IPA00006381), resultando de uma interpretação popular de modelos eruditos importados por Alessandro Giusti para a Real Obra de Mafra;*2: As três figuras em relevo que figuram no altar têm sido interpretadas como sendo três franciscanos que se encontravam no local aquando do sismo e que aí animaram a população que se havia refugiado no local, há também quem assegure tratar-se de três peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, por possuírem a simbólica concha das suas capas. Porém Manuel J. Gandra considera tratar-se dos santos mártires de Lisboa: Máxima, Veríssimo e Júlia.

Autor e Data

Paula Tereno 2018

Actualização

 
 
 
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