Solar da Cogula

IPA.00025276
Portugal, Guarda, Trancoso, Cogula
 
Casa abastada pombalina implantada no contexto do tecido urbano, ocupando um reduzido lote sobrecomprido, com logradouro para a parte posterior da habitação, de planta rectangular, evoluindo em dois pisos, com as áreas internas hierarquizadas, surgindo, no piso inferior, os apoios agrícolas e, no piso nobre, a habitação, sendo que neste as salas sociais dão para a frontaria e na parte posterior encontram-se as áreas de serviço, cozinhas e quartos. Fachada principal com disposição simétrica, rasgada por vãos em arco abatido, portas no piso inferior e janelas de peitoril no piso nobre, com molduras simples e avental. Fachadas circunscritas por cunhais apilastrados, da ordem colossal, rematadas por friso, cornija e beirada simples. Interior com vestíbulo que liga às dependências laterais e a escadaria de dois lanços, de acesso ao piso nobre, com coberturas de madeira em masseira e janelas com conversadeiras. Na fachada posterior, desenvolve-se logradouro e terraço. Apresenta características volumétricas, construtivas e de organização espacial, características das grandes casas nobres de "brasileiros" ou de ricos lavradores da Beira-Alta e Trás-os-Montes. Do ponto de vista estético e construtivo, esta casa integra-se num conjunto regional, no qual também se incluem o Solar dos Viscondes da Coriscada (v. PT020909050031), o Solar dos Morgados do Rabaçal (v. PT020909140060) datado de 1761, a Casa do Adro, em Espinhosa, São João da Pesqueira, datado de 1799, e os Paços do Concelho de São João da Pesqueira (v. PT011815080071). O edifício foi, eventualmente, construído sobre outro mais antigo, possivelmente do séc. 16 ou 17, atendendo à existência de marcas de antigos cunhais na zona da adega e lagar, sendo presumível que essa parte primitiva fosse acedida por uma escadaria alpendrada exterior, depois aproveitada e integrada na ampliação setecentista. Apresenta uma linha arquitectónica depurada, conforme o gosto desenvolvido no período pombalino. Serviu de habitação de ricos lavradores e pertenceu a diversas famílias nobres locais. Embora muito mais simples em termos decorativos e menos majestosa, aproxima-se da tipologia adoptada no Solar dos Sampaio e Melo (v. PT020909140060), na vizinha freguesia de Rabaçal, datável do mesmo período e eventualmente dos mesmos construtores, nomeadamente no que respeita ao sistema adoptado no pórtico da fachada, ladeado por óculos e janelas no piso superior, as quais dispõem de avental redondo no seu peitoril, ou o tipo de remate superior das mesmas janelas, em comparação com o acabamento dado ao lavabo da cozinha.
Número IPA Antigo: PT020913040166
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Casa abastada  

Descrição

Planta rectangular regular, de massa construtiva simples, compacta, disposta horizontalmente, assente em declive suave de E. para O., com cobertura homogénea em telhado de quatro águas em telha mourisca. Edifício de dois pisos, com fachadas em cantaria e alvenaria de granito aparente *1, flanqueadas por cunhais apilastrados, rematadas por friso, cornija e beirada simples, excepto na fachada posterior, onde remata apenas em beirada. Fachada principal, virada a N., com disposição simétrica, dividida em três panos separados por pilastras toscanas colossais, assentes em socos, cada um deles rasgado, no primeiro piso, por portal em arco abatido e moldura saliente de cantaria, protegidos por portas de duas folhas de madeira, pintadas de verde, o central flanqueado por dois óculos ovais guarnecidos a cantaria e gradeados. O piso superior tem, em cada pano, duas janelas de peitoril, em arco abatido, guarnecidas a cantaria lisa, com peitoris de avental e remate em pequeno friso toreado. A fachada lateral esquerda, virada a E., está parcialmente adossada, apenas revelando uma parte da parede, rasgada por janelão gradeado e marcada por um muro alto com pórtico guarnecido a cantaria rusticada, constituindo acesso ao logradouro. Fachada lateral direita, virada a O., de dois panos, o do lado direito saliente, rasgado por duas janelas de peitoril com modinatura semelhante às da fachada principal, surgindo uma terceira no pano do lado esquerdo. A fachada prolonga-se numa parede em alvenaria de granito e blocos de cimento, definindo o volume do terraço; mais alto, e muro no mesmo tipo de aparelho, com janela rectilínea, protegida por duas folhas metálicas. Fachada posterior de dois panos, um deles com paramento recuado e virado à via pública, onde se integra porta de verga recta, elevada e com acesso por escada *2. A zona voltada ao logradouro possui, no piso inferior, dois acessos a arrecadações baixas, com o piso alteado pelo desnível provocado pela existência de maciço rochoso; o piso superior abre para terraço voltado ao logradouro, sobre o qual se encontra um vão em arco abatido e moldura de cantaria lisa, a que se sucede um pequeno vão, uma porta de comunicação para o terraço e uma pequena janela de peitoril, ambas guarnecidas a cantaria rusticada. O logradouro desenvolve-se na fachada posterior, parcialmente tomado com terraço, disponde de piscina, um telheiro em vigas pré-esforçadas e telha lusa, uma divisão de apoio e uma área coberta com apetrechos de uma fábrica de velas. INTERIOR com janelas de vidros duplos simples*3, resguardadas por portadas, nas quais se abrem postigos interiores e que podem ser trancadas com recurso a ganchos de ferro ligados às cantarias. O acesso processa-se por vestíbulo, tendo, à esquerda, porta para uma loja, com acesso ao exterior; fronteiro ao portal de acesso, um corredor que liga a duas divisões contíguas de arrecadação; no lado direito, porta para o lagar, com porta para exterior, adega e divisão interior (tulha) com vão de comunicação entaipado para outra divisão de arrumos. A partir do vestíbulo, acede-se ao piso nobre por escadaria de granito, de dois lanços, o qual tem pavimentos em soalho de castanho e pinho, excepto na cozinha e instalações sanitárias com pavimentos em cimento e tijoleira. No topo das escadas, acede-se, à esquerda, a uma sala quadrangular, antigamente usada como sala de jantar, com pé direito alto e tecto de madeira de pinho, em masseira, iluminada por duas janelas com conversadeiras e, na parede oposta, armário embutido, de cantaria e protegido por portas em castanho. No lado direito, surge uma sala quadrangular, com tecto de madeira de castanho, em masseira, iluminada por três janelas de peitoril com conversadeiras (duas a N. e uma a O.), comunicando com um quarto interior e uma grande sala rectangular, com tecto de madeira de castanho, em masseira, subdividida a tabique, formando duas dependências. No topo das escadas, surge uma divisão de distribuição, com uma dependência fronteira, resultante da subdivisão do espaço a alvenaria de tijolo, e, fronteiro à porta de acesso a esta, umas instalações sanitárias. Nesta divisão de distribuição existe um armário de parede, quadrangular, guarnecido por portas almofadadas, de duas folhas, sendo o seu interior guarnecido por aplicação de talha dourada, formando um oratório. À esquerda, desenvolve-se um corredor que distribui para um quarto interior, duas arrecadações e uma cozinha, permitindo ainda o acesso ao exterior; em frente comunica com a cozinha velha (de fumeiro), na qual se pode aceder ao sótão através de uma escada de madeira; e ainda, à esquerda, acesso a um corredor de comunicação para o terraço e para uma segunda instalação sanitária. Na cozinha, iluminada por um grande janelão gradeado, existe uma lareira, um armário de parede em cantaria com portadas em castanho e um lavabo de parede com depósito e pia de drenagem também em cantaria. O sótão está subdividido por paredes de alvenaria e cantaria, suportando a estrutura do telhado em vigamento de madeira.

Acessos

Rua Direita; Largo Conselheiro Miguel Crespo Pacheco; Rua da Fonte

Protecção

Categoria: MIM - Monumento de Interesse Municipal, Edital n.º 618/2018, DR, 2.ª série, n.º 121/2018 de 26 junho 2018

Enquadramento

Peri-urbano, adossado a edifício de habitação, situado no limite da zona urbana com a zona rústica, na parte mais baixa da povoação, que se dispõe a meia-encosta. Confina a N. com largo fronteiro (R. Direita / Lg. Dr. Miguel Crespo Pacheco); a S. com propriedades privadas (edifícios residenciais e palheiros); a E. com via pública e edifício residencial unifamiliar e, a O., com via pública (R. da Fonte). O logradouro separa-se da via pública por muros altos. Os edifícios envolventes dispõem-se numa estreita várzea rebordada por uma linha de água. Nas imediações, encontram-se a Casa dos Crespos e a Casa dos Pachecos (actual residência paroquial), a cerca de 20m. de distância cada uma; e a Igreja Paroquial (v. PT020913040075), a cerca de 50m..

Descrição Complementar

Adossado ao logradouro, surge a FÁBRICA DAS VELAS, uma pequena oficina de fabrico de velas e ex-voto, construída para acolher a laboração e equipamentos que outrora se encontravam dentro da habitação (na zona da actual cozinha, arrecadações e quarto interior). A oficina compõe-se de uma bancada de cimento, iluminada por duas janelas de vidraças simples com caixilharia em ferro, e, num patamar superior, que constitui o aproveitamento do maciço rochoso, duas caldeiras com fornalha para derreter cera e duas rodas para pavios. No jardim conserva-se uma prensa de cera e uma fornalha com caldeiro de cobre, destinados à extracção de cera dos favos de abelha.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: António Mendes Coutinho

Cronologia

1761 - construção do edifício pela família Cardoso *4; séc. 19, meados - passa à posse da família Crespo; séc. 19, último quartel - venda à família Aguilar; 1885, 14 de Outubro - obras de reparação do teto da antiga sala de jantar, data assinalada no verso da porta de acesso a esta divisão; séc. 20, 1.ª metade - início da laboração da fábrica de velas; instalação da escola do ensino primário no local e subdivisão do salão grande em duas dependências, destinadas a salas de aula; 1970, década - construção dos anexos para acolher a nova fábrica de velas; 1980, década - remoção da cobertura vegetal das fachadas; 1985 - construção do terraço e instalação sanitária; 1990 - construção do telheiro, piscina e lavabo interior; 1997, 12 Fevereiro - escritura de doação da Casa por parte de Maria Teresa Galão Aguilar e Antínio da Silva Roque a seu filho Vírgilio Manuel Aguilar da Silva Roque; 2004 - substituição das janelas de guilhotina em madeira por janelas de duas folhas em alumínio lacado; 2006, 21 de Julho - venda ao actual proprietário; 2018, 21 de março - publicação de abertura do procedimento de classificação do imóvel, em Edital n.º 321/2018, DR, n.º 57/2018, 2.ª série.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante com paredes-mestras edificadas em cantaria e alvenaria granítica, sobre o qual se apoia o vigamento de madeira do telhado.

Materiais

Paredes-mestras em alvenaria e cantaria de granito; elementos estruturais, como cunhais, pilastras, cornija, molduras dos vãos (peitoris, aduelas e vergas) e degraus da escadaria principal em cantaria de granito; divisão dos pisos com soalhos de castanho e pinho apoiados em vigas mestras de castanho e carvalho; pavimentos lajeados e em terra batida; paredes de alvenaria granítica; vestígios de paramentos rebocados a cal hidráulica e caiadas (adega), ou rebocados a argamassa de cimento pintadas a tinta de água (vestíbulo); piso nobre com pavimentos em soalho de castanho e pinho (salas e quartos), tijoleiras hidráulicas assentes em laje de betão (lavabo e quarto interior da escada), ou assentes em lajeta de pré-esforçado (casa de banho, cozinha nova, arrecadações e quarto interior anexo), betonilha pigmentada a óxido de ferro vermelho (na passagem para o terraço); terraço construído sobre pilares e vigas de betão cofrado, sobre o qual assenta laje de pré-esforçado com acabamento em betonilha; compartimentação em alvenaria de aparelho granítico (paredes-mestras) e alvenaria de tijolo de 11, rebocados a argamassa de cimento e pintados a tinta de água (excepto cozinha velha parcialmente com alvenaria exposta e reboco de argamassa de cal hidráulica); tectos em madeira de pinho e castanho. Telhado com estrutura em madeira e cobertura em telha mourisca (habitação) e lusa (casa das velas e telheiro do jardim). Portas da habitação (exteriores e interiores), bem como portadas das janelas, em madeira de castanho, sendo que, as que dão para o exterior, pintadas com tintas plásticas e tintas de água. Janelas de vidros duplos simples com caixilhos em alumínio lacado.

Bibliografia

COSTA, Santos, Breve Monografia de Trancoso, Trancoso, Almanaque do Bandarra, 2001 (2.ª edição), pp.116-118; Cogula - Terra dos Castros, O Interior, 17 Agosto 2006; www.cm-trancoso.pt, 11 Setembro 2006 / Blog Trancoso, www.trancosocidade.no.sapo.pt, 11 Setembro 2006

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Conservatória do Registo Predial de Trancoso (número 218)

Intervenção Realizada

Nada a assinalar.

Observações

*1 - o edifício era integralmente rebocado exteriormente, com argamassas de cal hidráulica e caiado, que se degradou por acção do seu recobrimento com hera; quando a cobertura vegetal foi removida, a cal hidráulica estava bastante desagregada, tendo desaparecido por exposição aos elementos erosivos (chuva, sol e vento). *2 - este acesso foi outrora alpendrado, sendo ainda visíveis dois furos de encaixe do prumo de apoio do alpendre; por esta porta fazia-se a entrada para a primitiva fábrica das velas. *3 - substituíram as primitivas, de guilhotina, com folhas em caixilharia de madeira de castanho em quadrícula, com vidros simples. *4 - pela presença da família Cardoso, a casa é também conhecida por Solar das Cardosas, sendo de tradição que as Cardosas eram duas irmãs da nobreza local, de apelido Cardoso, família bastante disseminada na região, mas não consta que existisse neste solar qualquer pedra de armas desta família; posteriormente a família Crespo teve nesta casa o seu solar, sendo a pedra de armas igual à que se encontra na casa que têm em Viseu; não consta que, mesmo assim, tivessem aplicado pedra de armas; os Aguilar também não aplicaram as suas armas na habitação.

Autor e Data

Sérgio Gorjão 2006

Actualização

Sérgio Gorjão 2011
 
 
 
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