Igreja Paroquial de Açores / Igreja de Santa Maria de Açor

IPA.00001332
Portugal, Guarda, Celorico da Beira, União das freguesias de Açores e Velosa
 
Igreja paroquial de fundação medieval, construída sobre um antigo santuário de peregrinação, dando origem a um templo de três naves, totalmente reconstruída em meados do séc. 18, ganhando uma estrutura de corpo simples, com profusa decoração rococó. É de planta retangular composto por nave, capela-mor e anexos, com coberturas interiores em falsas abóbadas de berço abatido, ornadas com decoração perspetivada, a da nave assinada, iluminada uniformemente por janelas retilíneas, com remate em cornijas e avental, tipicamente setecentistas. Fachada principal rematada em empena, com os vãos rematados em eixo, composto por portal com remate oitocentista e janelão da mesma data. As fachadas rematam em frisos e cornijas, as laterais com portas travessas. Interior com coro-alto e púlpito no lado do Evangelho. Possui retábulos de talha rococó nas capelas colaterais, sendo de destacar o interessante retábulo-mor, de talha dourada e de marmoreados fingidos, de corpo côncavo, com várias colunas e mísulas no intercolúnio. As paredes interiores estão revestidas a azulejo de figura avulsa. No interior, existe uma lápide funerária, datada de 666, com o campo epigráfico corrigido em data mais recente. Separado do templo, um campanário de dois registos e com dupla sineira.
Número IPA Antigo: PT020903010014
 
Registo visualizado 109 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta por nave, capela-mor e anexos adossados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma (anexos) e duas águas, rematadas em beiradas simples. Fachadas em alvenaria rebocada e pintada de branco, percorridas por socos em cantaria de granito, flanqueadas por cunhais apilastrados, firmados por pináculos piramidais e com bola, e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal virada a oeste, rematada em empena coroada por uma cruz latina sobre plinto de faces côncavas. É rasgada por portal de verga reta, ladeado por pilastras com os fustes almofadados e encimado por duplo friso e frontão interrompido por janelão sobrepujado por cornija e frontão interrompido por mísula que sustenta a pomba do Espírito Santo. A fachada lateral esquerda é rasgada, no corpo da nave, por porta travessa de verga reta e remate em friso e cornija, centrada por duas janelas retilíneas com remate interrompido por concha e com avental terminado em borla. A capela-mor tem uma janela semelhante às anteriores e é marcada por um anexo adossado, rasgado por janela e tendo, na face oeste, porta de verga reta. A fachada lateral direita tem, no corpo da nave, porta travessa e duas janelas semelhantes às do lado oposto e, na capela-mor, uma terceira janela. A norte, situa-se, embutido num muro divisório de propriedade, o CAMPANÁRIO em cantaria de granito, de dois registos separados por cornija, o superior com duas ventanas encimadas por cornija contracurva e plinto no vértice, com cata-vento; têm acesso por escadas no lado direito a balcão de cantaria, sustentado por mísulas e com guarda metálica. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por silhares de azulejos de figura avulsa a azul e branco, circundados por barras de acantos, também azuis e brancas, e que envolvem as portas. Tem coberturas em falsas abóbadas de berço abatido, de madeira e com pinturas perspetivadas, ambas assentes em frisos e cornijas do mesmo material, a da nave reforçada por tirantes metálicos; pavimento em lajeado de granito. As portas travessas encontram-se ladeadas por pias de água benta embutidas no muro, em granito, ornadas por folhas e de bordos boleados. Estas e as janelas estão encimadas por sanefas de talha pintada de marmoreados fingidos, com cornijas e lambrequins, as da capela-mor mais elaboradas, encimadas por cornijas interrompidas por concha e sobrepujadas por anjos de vulto. No lado do Evangelho, o púlpito quadrangular com bacia em cantaria de granito, assente em mísula com várias volutas, tendo guarda plena, de talha pintada de marmoreados fingidos verdes e dourada, de perfil galbado, formando apainelados centrados por acantos e ligados por festões; tem acesso por porta de verga reta, sobrepujado por guarda-voz em pirâmide facetada, com a pomba do Espírito Santo pintada na cobertura interior. Confrontantes, surgem duas capelas embutidas no muro, envolvidas por arco e falsas pilastras em cantaria, que rematam em cornija curva, interrompida por vieira. São dedicadas a Santo António (Evangelho) e Santíssima Trindade (Epístola). Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, tendo fecho saliente com as iniciais "AM". Está ladeado por capelas retabulares colaterais, dedicadas a Nossa Senhora das Dores (Evangelho) e a Crucificação (Epístola). Sobre estes e em continuidade com a cobertura, uma pintura perspetivada. Capela-mor elevada por dois degraus, tendo, nas paredes laterais, sobre os silhares de azulejo, dois painéis pintados representando lendas associadas à fundação do Santuário de Santa Maria dos Açores. Sobre supedâneo de dois degraus, a mesa de altar em cantaria de granito, composta por pilares e tampo simples. Na parede testeira, o retábulo-mor, de talha pintada de marmoreados fingidos e dourada, de corpo côncavo e um eixo definido por seis colunas de fuste liso e decoradas por folhagem, e por quatro pilastras com fustes decorados por acantos, assentes em duas ordens de plintos paralelepipédicos, os superiores com as faces decoradas por acantos; nos intercolúnios, quatro mísulas com imaginária. Ao centro, ampla tribuna de volta perfeita e boca rendilhada, contendo trono expositivo de cinco degraus, os superiores galbados, com o fundo pintado. A estrutura remata em fragmentos de frontão, encimados por anjos de vulto encarnados, que enquadram espaldar recortado, sobrepujado por sanefa de enrolamentos e lambrequins. Altar paralelepipédico com frontal pintado a marcar sebastos e sanefa, com decoração de aves e flores, que centram reserva circular, envolvida por anjos e querubins, contendo albarrada com as flores alusivas a Maria (rosa e açucena).

Acessos

Rua da Igreja; Rua do Adro

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado em zona com ligeiro declive, vencido por plataforma artificial, que forma um adro fechado por muro em cantaria de granito, com acesso direto pelo lado esquerdo. No topo noroeste do muro, surge um cruzeiro em cruz latina, assente sobre dado; em redor do adro, surgem mais algumas cruzes, formando uma Via Sacra. Fronteiras ao adro, surgem duas árvores frondosas. O largo é conformado por casas de habitação unifamiliares.

Descrição Complementar

O PORTAL AXIAL tem no friso superior do remate, mais antigo, a inscrição: "SANTA MARIA DOS AÇORES" e, no inferior a inscrição "DOMINE DILEXI DECOREM DOMUS TUAE PS25 / ANNO 1755". A COBERTURA DA NAVE apresenta uma pintura perspetivada, sobre madeira, que centra uma enorme cúpula fingida, com caixotões e tambor formado por apainelados marmoreados e balaústres; a estrutura é sustentada por quartelões, colunas e mísulas, unidas por festões, integrando dois níveis de apainelados, os inferiores com açafates e profusa decoração de rocalhas, surgindo, no superior, alegorias à igreja e anjos, um deles com estandarte e a data "1749". Sobre o ARCO TRIUNFAL, forma uma falso arco, como criando uma antecâmara para o que representa sobre os retábulos e sobre o vão, um Juízo Final, com o Inferno no lado do Evangelho e o Paraíso no lado oposto, ambos em enormes conchas, que centram estrutura arquitetónica, onde aparece uma "Adoração do Santíssimo", em forma de escudo, envolvido por rocalhas e por drapeados a abrir em boca de cena. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, cada um deles de talha pintada de marmoreados fingidos e dourada, de corpo côncavo e um eixo definido por duas colunas ornadas por folhagem, assentes em plintos paralelepipédicos, decorados por acantos, em paraestática, com duas pilastras, tudo envolvido por moldura rendilhada, de enrolamentos e acantos. Ao centro, painel pintado e moldura saliente, representando "Nossa Senhora das Dores" (Evangelho) e a "Virgem e São João Evangelista do Pé da Cruz". A estrutura remate em entablamento, centrado por acantos relevados, e em frontão interrompido por espaldar curvo, encimado por resplendor e fogaréu. Altar paralelepipédico, com frontal apainelado e com sanefa marcada, pintado a imitar brocados, encimado por sacrário embutido na estrutura com moldura recortada de acantos, rocalhas e anjos de vulto, tendo, na porta, uma cruz. Num ARCOSÓLIO da capela-mor, lápide funerária com a inscrição latina, incisa e reavivada em época mais recente: "+ REQVIEVIT . FAMVULA . XPI. IN PACE. SVINTHI / LIVBA. SVB DIE. NON. / NOVEMBRES . ERA / DCCIIII [hédera]" (BARROCA: 514). A COBERTURA DA CAPELA-MOR possui pintura perspetivada, com o fundo azul, tendo, ao centro, painel recortado, profusamente ornado por rocalhas e acantos, a representar a "Assunção da Virgem", enquadrado por painéis ovalados, envolvidos por acantos, representando os Doutores da Igreja. Nas PAREDES DA CAPELA-MOR, quatro painéis pintados sobre tela, a representar quatro lendas que ilustram o caráter milagroso de Santa Maria dos Açores. O primeiro do lado do Evangelho representa o Milagre do Pastor, que se atirou à água para salvar uma vaca, ficando ambos em perigo, tendo sido salvos pela Virgem, cuja imagem terá aparecido num arbusto, dando origem à construção da antiga capela; tem a legenda: "Aparece a S(enho)r(a) enne hu(m) arvoredo a / este homem, livrando-o, ca hua vacca / em hua lagoa"; o segundo painel representa uma rainha, segundo a tradição, espanhola, com o filho deposto sobre o altar da Virgem, em oração, com a inscrição: "Resucita a S(enho)ra o filho do Rei, / e sem aleijam alga / das q(ue) tinha q(uan)do nasceo". No lado oposto, a Virgem impede o rei de cortar a mão a um seu caçador, que deixara fugir o açor com que caçava; tem a legenda: "Não permite a S(enho)ra / que se corte a mão ao / caçador do Rey p(ar)a o q(ue) a / parece o Açor, e fica a invo / cação da Senhora dos Açores"; no primeiro painel do lado da Epístola, a cena de uma batalha, que diz a tradição ter ocorrido no reinado de D. Sancho I, com a legenda: "Victoria alcançada / por interceção da S(enho)r(a) no campo da / Penhad(ei)ra de q(ue) resultarão os votos.".

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese da Guarda)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Frei Carlos (atr., séc. 16).

Cronologia

Época Goda - construção de uma igreja no local da antiga capela, sendo dedicada a Nossa Senhora dos Açores, e entregue à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, que, no local, construíram um mosteiro dúplice; 666, 05 novembro - falecimento de Suinthiliuba, sepultada no local; 711 - os monges e monjas fogem com a invasão muçulmana; Época medieval - construção do templo; ocorrência de uma batalha, tendo a Virgem intercedido pelas tropas portuguesas, pelo que foi feito um voto de agradecimento, com peregrinações anuais de Trancoso, Linhares e Guarda; 1260, 16 julho - no documento que divide as paróquias entre o bispado da Guarda e o Cabido da Egitânea, a igreja surge como pertencendo ao Bispado; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja taxada em 20 libras; pertence à Câmara do bispo da Guarda; integra o termo de Celorico da Beira e o bispado da Guarda; séc. 16 - pintura de painéis para o retábulo, executados no Convento do Espinheiro, em Évora, talvez por Frei Carlos, de que subiste um; 1512 - constituição do concelho de Açores, com a concessão do foral manuelino; séc. 17 - obras na igreja; construção do campanário; 1642 - 1656 - na Crónica dos Eremitas de Santo Agostinho, é referida a igreja, de três naves; no retábulo, as pinturas de uma rainha coroada a quem aparece a Virgem para ressuscitar um menino morto e um rei; séc. 18 - colocação dos azulejos de figura avulsa no interior; 1711 - segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a imagem está num retábulo, na tribuna acabada de executar; é de madeira e tem 2 palmos; 1749 - pintura das tábuas da cobertura da nave; feitura das estruturas retabulares; 1755 - a igreja é de três naves, mas encontra-se em reconstrução, ficando só com uma; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Francisco Antunes Dias, é referida a vila como estando no bispado da Guarda, comarca da Guarda, sendo pertencente ao rei, com 59 vizinhos; a igreja está no cimo da vila, dedicada a Santa Maria dos Açores, com cinco altares, o mor, com a Senhora, o colateral do Coração de Jesus, o do Coração de Maria e dois arcos nas paredes com a Senhora do Rosário e Santo António; tem a irmandade da Senhora dos Açores; o pároco é prior, apresentado pelo bispo e tem de renda com a anexa de Forno Tilheiro, 200$000: séc. 20 - substituição de alguns azulejos da capela-mor e aplicação de novas peças; 1941 - em resposta a uma solicitação do governador Civil da Guarda, Francisco Manuel Henriques Pereira, é efetuada uma visita de um arquiteto da Direção Regional do Centro, o qual não considera o edifício com valor para ser classificado como Monumento Nacional ou Imóvel de Interesse Público, valorizando os azulejos de figura avulsa; 1942 - a "Adoração dos Magos", atribuída a Frei Carlos sai da Igreja para uma exposição de Arte Sacra, a decorrer no Museu Regional da Guarda, onde permaneceu; 1959, 04 junho - o Governador Civil da Guarda, Augusto César de Carvalho, solicita o apoio técnico da DGEMN no acompanhamento das obras a efetuar no templo; 26 agosto - o arquiteto Madeira Portugal visita o templo e refere a necessidade de proceder ao restauro criterioso e oneroso do teto da nave, com algumas tábuas muito deterioradas; 1973, 10 maio - o pároco, António Salvador solicita parecer dos técnicos da DGEMN sobre o teto da nave, pois um dourador aconselhava a sua venda e feitura de nova cobertura; 05 novembro - a DGEMN é da opinião que o teto não deve ser vendido, mas simplesmente restaurado nas áreas mais afetadas e recuperar o que for possível.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria, rebocada e pintada; socos, cornijas, pilastras, frisos, pináculos, modinaturas, bacia do púlpito, pias de água benta, pavimentos e mesa de altar em cantaria de granito; portas, forros e mobiliário em madeira; silhares da nave em azulejo tradicional; retábulos e púlpito de talha pintada e dourada; coberturas em telha cerâmica.

Bibliografia

BARROCA, Mário Jorge - «A inscrição de Santa Maria dos Açores (666) in Revista da Faculdade de Letras. Porto: Universidade do Porto, 1999, n.º 9, pp. 507-516; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Officina de António Pedrozo Galrão, 1711, tomo 3; MARQUES, Monsenhor Pinheiro - Terras de Algodres (Concelho de Fornos). 3.ª ed. Fornos de Algodres: Câmara Municipal de Fornos de Algodres, 2001; MARTINS, Carla - Bibliografia Crítica sobre a Temática de Celorico da Beira. Covilhã: s.n., 2011. Texto policopiado. Dissertação de Mestrado em Ciências Documentais, apresentado à Universidade da Beira Interior; PEREIRA, Joana Pinheiro Lourenço - Do Projecto de Inventário do Património Religioso ao objetivo de criação de um museu na Diocese da Guarda - diagnóstico e proposta base para a sua programação museológica, ao nível do acervo. Lisboa: s.n., 2013, vol. 1. Texto policopiado. Trabalho de Projecto em Museologia apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DREMCentro/DM, SIPA; Diocese da Guarda: Departamento do Património Cultural

Documentação Administrativa

PT DGEMN:DSID-001/009-004-1064/12; DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 1, n.º 26, fls. 223 - 226

Intervenção Realizada

Nada a assinalar.

Observações

Autor e Data

Joana Pereira e Paula Figueiredo 2016 (no âmbito da parceria DGPC / Diocese da Guarda)

Actualização

 
 
 
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