Capela da Senhora da Piedade / Santuário da Senhora da Piedade

IPA.00011988
Portugal, Vila Real, Alijó, Sanfins do Douro
 
Arquitectura religiosa, revivalista. Santuário neobarroco, constituído por quatro oratórios, dedicados à vida de Cristo, de planta hexagonal cobertas por cúpula piramidal, e a capela principal no topo do monte, tendo vários anexos de apoio e a denominada Casa dos Milagres, sede da confraria. Capela principal de planta octogonal irregular, com fachadas terminadas em friso e cornija, a principal encimada por sineira, com rasgada por um eixo composto por portal de verga recta e nicho em arco de volta perfeita. Fachadas laterais com cunhais apilastrados, rasgadas por porta travessa igual à principal, encimado por nicho, e a posterior mais avançada e cega.
Número IPA Antigo: PT011701120062
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Santuário composto por cinco capelas, a principal dedicada a Nossa Senhora da Piedade, construída no topo do monte, e mais quatro dispostas junto à estrada de acesso ao topo, pavimentada a paralelos de granito e com baixo muro de protecção, a Casa dos Milagres e anexos de apoio às festividades. As quatro capelas apresentam estrutura semelhante, com planta hexagonal, e de massa simples, cobertas por cúpula piramidal de seis faces, rebocadas e pintadas de branco, com friso intermédio de cantaria e coroadas por pináculo com bola. Possuem fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento, com cunhais de cantaria e terminadas em friso e cornija, excepto a fachada principal que é de cantaria aparente, rasgada por portal de verga recta moldurado, encimado pela data de construção inscrita, com os algarismos individualmente inseridos em sulcos quadrados, e por óculo. Interiormente, as capelas são rebocadas e pintadas, com pavimento de lajes, cobertura facetada e representações escultóricas em tamanho natural. A primeira capela tem o portal ladeado por dois sulcos verticais côncavos, o óculo é muito pequeno e em cortina e a fachada é rematada por urna central. No interior possui a representação do Pretório de Pilatos, em que Cristo, de tronco semi-despido, segura a veste exterior junto ao corpo, enquanto um homem segura um alicate e um outro uma massa; no fundo surge a cruz. A segunda capela tem o portal envolvido por sulco côncavo, é encimado por óculo em cruz grega e a fachada é rematada por dois pináculos. No interior representa-se a Crucificação de Cristo, em que Cristo surge deitado sobre a cruz, enquadrado por três homens, um segurando-o, outro segurando um prego e um outro de martelo na mão. A terceira capela tem o portal encimado por óculo circular e a fachada é igualmente rematada por dois óculos piramidais. No interior tem a representação do Calvário, com Cristo na cruz, ladeado pela Virgem, São João, Maria Madalena e ainda um soldado romano. Na quarta capela, com portal ladeado por dois sulcos verticais côncavos e também encimado por óculo circular, representa-se a Descida da Cruz; a figura de Cristo surge sentada sobre um lençol e segura por dois homens, enquanto um terceiro segura uma das pontas do lençol; no chão, aguardam a Virgem, Maria Madalena e uma outra mulher. CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE de planta octogonal irregular, com a fachada posterior mais avançada, de massa simples e cobertura homogénea em cúpula piramidal de cantaria, pintada de branco, coroada por pináculo em bola, de cantaria. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com embasamento de cantaria, cunhais apilastrados, sobrepostas no topo por gárgulas de canhão, caneladas, e coroados por bolas sobre plintos, e terminadas em friso e cornija. Fachada principal rasgada por portal de verga recta com moldura terminada em cornija, encimada por espaldar de cantaria de cornija contracurvada, sobreposta por nicho, em arco de volta perfeita, com moldura percorrida por filete, interiormente concheado e albergando imagem pétrea de Santa Bárbara, flanqueado por aletas; sobre a cornija do remate, surge sineira em arco de volta perfeita, com chave sobreposta por estrelas, ladeada de pequenas volutas e encimada por cruz latina de cantaria albergando sino. Fachadas laterais semelhantes com portal igual ao principal, encimado por nicho desnudo e envidraçado. Fachada posterior mais avançada e cega. No adro da capela erguem-se dois coretos, um de planta circular com guarda de troncos e outro hexagonal com guarda em ferro; contígua ao adro, ergue-se ainda, a S. a CASA DOS MILAGRES, de planta rectangular e de um ou dois pisos, adaptado ao declive, de massa simples e cobertura em telhado de quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cunhais e embasamento de cantaria e terminadas em friso e cornija sobreposta por beirada simples. Fachada principal rasgada por três portais de verga recta, inscritos. Fachada lateral esquerda rasgada por portal de verga recta e janela de peitoril rectilínea e a posterior por dois portais no primeiro piso e por janelas de peitoril rectilíneas intercaladas por duas de sacada, com guarda de ferro. No interior, tem sala de recepção, um quarto e a sala dos milagres. Da terceira capela parte um caminho para o lado S., que sem ser o trajecto das capelas, vai dar a uma gruta, onde está exposta Nossa Senhora de Lourdes.

Acessos

Sanfins do Douro

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, a cerca de 100 m da povoação, ao longo da encosta e no topo de um monte, onde se implantava antigo castro, com muralhas já mal visíveis, mas ao que parece de planta concêntrica, e no topo do qual se desfruta ampla vista para a paisagem: a serra do Marão, a da Cabreira, a do Leomil e as povoações ao redor. A capela principal implanta-se no topo do monte, a 737 m de altitude, transformado em plataforma artificial, de planta circular, delimitada por balaustrada, interiormente percorrido por banco de pedra, e acedida por escada de três lanços, delimitados por pilares quadrangulares coroados por fogaréus; o adro possui pavimento de paralelos formando motivos geométricos.

Descrição Complementar

Na fachada principal da Casa dos Milagres existem três lápides de mármore, inscritas; 1) HOMENAGEM AO REVERENDO PADRE JOSÉ DANIEL FERREIRA REAL, POR OCASIÃO DO 50º ANIVERSÁRIO DA SUA ORDENAÇÃO SACERDOTAL. A PARÓQUIA DE SANFINS DO DOURO, AGRADECIDA 21-09-2003. 2) 1987 NO DIA 26 DE JULHO ESTEVE NESTE LUGAR A IMAGEM PEREGRINA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA PRESIDIU À CELEBRAÇÃO D. JOAQUIM GONÇALVES. 3) Sua Excelência o Chefe de Estado Almirante Américo Tomaz, dignou-se visitar este Santuário aquando da comemoração do 4º Centenário da morte do Ilustre missionário Sanfinense Padre Manuel da Nóbrega aos 12-X-1970. Numa plataforma inferior ao adro da Capela de Nossa Senhora da Piedade, existe jardim.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Vila Real)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 17 - construção de uma capela dedicada a Santa Bárbara no topo da colina; 1758, 20 Março - segundo o Pe. Vicente Ferreira, existia na colina da serra do Vilarelho, dentro de muralhas antigas a capela de Nossa Senhora do Pé da Cruz, a que estavam obrigados os moradores de Sanfins, sendo obra romana, com três altares e três portas, com sua lanterna tudo de cantaria lavrada, tendo romagem pela maior parte do ano; o castelo, chamado vulgarmente de Santa Margarida, tinha as muralhas antigas com os muros de 11 e 12 palmos de altura, em certas partes, e noutras estava raso à terra; tinha duas entradas para a fortaleza, uma do lado N. e outra do O.; a largura da muralha era de 9 a 10 palmos; além destes, tinha mais muros em circuito que ocupavam meio quarto de légua em redondo; a maior parte destes estavam arruinados; dentro da fortaleza principal está um monte de pedras que mostra ser o castelo; tem ainda junto aos muros alicerces de umas pequenas casas onde têm aparecido algumas medalhas de prata que pela inscrição tinham César Augusto; tem aparecido ainda muitos tijolos lavrados que mostravam serem de algumas oficinas e muitas medalhas de cobre; 1815 - manda-se fazer a imagem de Nossa Senhora da Piedade para a capela do topo da colina, a qual passou a ter essa designação; 1829 - sendo zelador da capela Francisco Malheiro, fez-se a primeira festividade em honra de Nossa Senhora da Piedade, com procissão, pela primeira vez, até à povoação; com o aumento de devoção à Senhora da Piedade, passou-se a fazer festividade anual no 2º domingo de Agosto, com pouca solenidade; 1833, 17 Janeiro - nascimento do que viria a ser conhecido como servo Sebastião Maria, ou designado o "servinho", na aldeia de Chã; viveu em Justes, Carvalho, Sanfins e em Braga; foi moleiro, daí também ser conhecido por Santo Moleiro *1; 1865 - construção da 4ª capela com representação da Descida da Cruz, a mais próxima do topo; aquando das escavações para os alicerces da capela, encontraram-se moedas antigas no local; 1879, 3 Abril - morre no hospital de São Marcos, em Braga, Sebastião Maria, ou o "servinho"; 1880 - data inscrita sobre o portal da 3ª capela, assinalando a sua conclusão e tendo interiormente a representação de Jesus Crucificado, ladeado por São João, Maria Madalena e Virgem; 1884 - artigo publicado no jornal de Alijó foi considerado injurioso para a dignidade de "Servinho"; 22 Fevereiro - grupo de 40 trabalhadores armados foram a Alijó e destruíram o jornal e documentação; Novembro - D. Ana Teresa Gomes Salosa, acompanhada de um dos seus filhos, foi de Braga a Sanfins, a casa de José Alves de Magalhães, para informar que o corpo de Sebastião Maria estava incorrupto; 10 Dezembro - José Alves de Magalhães, João Rodrigues Ferreira e José Maria Alves Pereira saíram de Sanfins para irem requisitar legalmente o corpo de Sebastião Maria e o levarem para Sanfins; 17 Dezembro - chegada dos "embaixadores" com o corpo de Sebastião, que foi levado para a casa de José Alves de Magalhães; 1885, 14 Fevereiro - até esta data, o corpo de Sebastião Maria ali esteve em exposição, com concorrência de muito povo, deixando-lhe em ofertas 450$000; construção da 1ª capela do santuário, representando o Pretório de Pilatos, designada de capela fundeira, porque é a do fundo e a mais próxima da povoação; 14 Dezembro - transferência do corpo de Sebastião Maria para a capela da Piedade e ali colocado para veneração do povo; a partir desta data aumentou grandemente a festividade; 1886 - data sobre o portal da 2ª capela, assinalando a sua construção, com representação no interior da crucificação de Cristo; 1887 - data da construção da Casa dos Milagres; 1952 - apresentação pública e solene na romaria do andor fixo de Nossa Senhora da Piedade, em talha dourada.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; embasamento, pináculos, frisos, cornijas, molduras dos vãos e sineira em cantaria de granito; portas de madeira e metálicas; vãos com vidros simples; cobertura de telha e de lajes de cantaria.

Bibliografia

LEITÃO, Fernando Rodrigues, Monografia do Concelho de Alijó, Lisboa, 1963; SOUSA, A.A.A. de, A vida e factos miraculosos do servo de Deus Sebastião Maria que se venera na capela da Virgem Nossa Senhora da Piedade, Sanfins do Douro, 1966; GRÁCIO, Joaquim, Monografia de Sanfins do Douro, Porto, 1990; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, 2006.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

EM ESTUDO. *1 - Maria Alves de Carvalho, natural da povoação de Carvalho, mãe solteira, tencionava, no momento de dar a luz, ir até à casa dos Alves e atirar o bebé para dentro do poço que ali exista. Porém, ao primeiro choro do bebé, aproximou-se o criado da casa, Álvaro de Sousa, que chamou por sua ama, Joaquina Ana, a qual impediu a concretização dos intentos de Maria Alves. Chamado em seguida Francisco Januário, operário da casa, entregou-se-lhe a criança que o levou para Vilarinho de São Romão e a deixou à porta de Águeda Correia, pelas 9H30 / 10H00 da noite. No dia 18, o bebé foi levado à roda de Vila Real e no dia 20 foi baptizado, na Igreja de São Pedro daquela cidade, com o nome de Sebastião, sendo sido seus padrinhos José Manuel de Azevedo, viúvo, e Marcelina Rosa, casada. Em 1833, a 23 de Janeiro, Maria de Figueiredo, mulher de José Correia Madalena levou Sebastião Maria para a sua casa de Justes, onde o criou até aos 7 anos. Por volta dos 7 anos, o menino teve uma visão da Virgem que lhe incutiu a necessidade de fazer penitência. Aos 15 anos, seu tio António Vitorino Alves, levou-o para Carvalho, pois Joaquina Alves de Magalhães irmã do pai incógnito de Sebastião Maria, sua protectora, assim como também Francisco Januário, tinham falecido. Foi para a casa de Manuel Campos, onde esteve até aos 17 anos, como pastor. A essa idade, o tio levou-o para a casa da outra sua irmã, Maria Alves de Magalhães e, ocultando-o ser o seu filho, disse para o receber e tratar como filho. Segundo consta, Sebastião Maria, "respirava santidade" nas vestes, andar e rezas; fazia rigorosas penitências e jejuava. Depois, querendo viver uma vida dedicada ao amor de Jesus e à Virgem, retirou-se para um lugar isolado, na margem direita da ribeira afluente do Pinhão. Paralelamente à vida de meditação dedicava-se ao cultivo da terra e moagem de farinha. Em 1876 e 1877 apareceu-lhe a Virgem, a primeira vez dando-lhe um sinal para identificar a sua mãe. Logo após 2 dias da sua morte, em 1879, começou a haver notícia de curas milagrosas. *2 - Ao longo dos anos fizeram-se várias modificações na romaria: passagem do arraial de sábado para domingo, a realização de apenas duas procissões no dia principal dos festejos (antigamente, a Senhora da Piedade, logo no final da procissão de gala era transportada para a ermida), a abolição do teatro nos dias de festa, etc. * 3 - A Casa dos Milagres destina-se a receber informações de "milagres" ou graças recebidas por intercessão do "servinho" e existe uma sala repleta de ex-votos.

Autor e Data

Paula Noé 2008

Actualização

 
 
 
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